Capítulo 41 - A escolha
Emily Broussard
― O que está fazendo aqui, Alisha? ― Perguntei, ainda desacreditada da sua presença ali.
Enquanto eu e ela nos olhávamos confusas, Ethan parecia se divertir com a situação.
― Vim para falar com ele.
― Com Ethan? E o que vocês têm para falar um com o outro?
Ele deu uma risada leve.
― Do que está rindo, idiota? ― Rosnei, prestes a voar em seu pescoço.
― É só que essa situação é muito ridícula. As duas vindo falar comigo no mesmo dia, o destino quer nos reunir, só pode.
Ele deu espaço para Alisha entrar e ela fez, ainda insegura e me olhando.
― Vocês estão de conversinha? ― Perguntei, cruzando os braços.
― Não! ― Os dois responderam ao mesmo tempo. Alisha nervosa e Ethan calmo.
― Eu vim aqui para... falar sobre você. ― Ela disse.
― Existe algo chamado celular, sabia? ― Ethan ironizou.
― Você é a porra de um bastardo, Ethan.
― E ainda me insulta na minha própria casa.
― Na verdade, talvez seja bom que estejamos os três juntos. Vocês têm algo para falar sobre mim, não é? Então vão em frente, falem. ― Cruzei os braços, encarando-os seriamente.
Eles se entreolharam, inseguros, e por mais que eu estivesse odiando aquele momento, estava odiando os olhares desconfiados.
― Não consigo mais esperar. Faz tempos que não durmo, que não como...
― Está errado, então. Isso se chama dependência emocional, nada saudável para você, Raisman. Ou seja, pode ir embora.
Ela respirou fundo, tentando ignorar Ethan.
― Por favor, Em. Isso não faz sentido algum.
― É a escolha dela, você prometeu esperar.
― Mas eu estou sofrendo! ― Ela gritou para ele, impaciente.
― E quantos anos você tem para agir assim? Doze?
― Não fale como se fosse o cara mais maduro e consciente do mundo, sei bem das suas intenções, Ethan.
― E quais são as suas, Alisha? Que tal contar tudo o que fez para Emily?
Franzi a testa. Ela me olhou, nervosa.
― O que você tem para me contar?
― Isso não é o ponto da conversa.
― Ah, mas é claro que é. Você fez merda também. Eu lembro de tudo. ― Ethan falou.
― Cala a boca! ― Ela gritou. ― Eu tenho péssimas coisas a falar sobre você também! Por que não conta a ela como está se mantendo aqui?
Ele enrijeceu o maxilar, cara a cara com ela, ambos prestes a se matarem.
― Chega vocês dois! ― Eu gritei, mais alto do que eles. ― Eu estou cansada. Boa parte da minha juventude foi dedicada ao que senti por você, Ethan, e agora me dedico a você, Alisha. Vocês não podem achar que isso é um jogo, que simplesmente escolherei um dos dois e o outro sai perdendo. Tenho sentimentos. Tenho... ― Engoli em seco, tentando não chorar. ― Tenho a dor de perdas que creio que nunca sararão. E uma coisa eu sei: não posso viver em função de vocês. Me contem o que sabem, eu mereço saber.
Ethan olhou rapidamente para Alisha e então me encarou, despejando tudo sobre mim:
― Ela me procurou anos atrás, quando estávamos juntos, quando você estava grávida.
Franzi o cenho e a olhei. Alisha estava com o olhar vazio, sem me olhar, como quem estivesse prestes a chorar.
― O que? O que você queria? Achei que estava viajando.
― E estava, mas pelo que descobri foi por um breve período. Ela me procurou na empresa, mas eu não estava, então deixou o contato pedindo para que eu retornasse. Fiz isso, achando que teria sido uma merda muito grande para que ela me procurasse, então descubro que ela queria saber sobre nós, nossa vida. Na verdade, sobre mim. ― Falou. ― Ela quis uma... aproximação.
― Você... você deu em cima dele? ― Perguntei, indignada.
― Ele não mentiu, realmente o procurei. Mas não o procurei querendo algo com ele, eu queria saber de você.
― E por que não falou comigo?
― Você teria dado abertura a ela estando comigo?
― Cala a boca, Ethan. ― Rosnei, voltando minha atenção para Alisha. ― Você não tinha esse direito.
― Eu fui embora no momento em que soube da sua gravidez. Jamais dei em cima de Ethan, apenas usei minha tática para arrancar algo dele. Ele é um garoto idiota, no fim das contas.
― Ainda estou aqui, ok? ― Ele falou.
― E o que esperava com tudo isso?
― Não sei. ― Deu de ombros. ― Sabia que aquela não era vida para você, pensei que talvez... quisesse algo melhor.
― Você tantas oportunidades...
― E me arrependo eternamente por não ter as aproveitado.
― Alisha sempre quis brincar de ser Deus. ― Ethan disse, rindo. Ela enrijeceu o maxilar.
― Sabia que Ethan fez um acordo com o pai praticamente entregando a filha de vocês?
― O que?! ― Gritei, extremamente assustada.
― Ralph, querendo ou não, se importa com essa família. Na verdade, ele se importa com a reputação da família. Emerald viria como fruto de um não-casamento, nada formalizado entre vocês. Ethan assinou o contrato. Ele dizia que Ralph seria o representante da neta, e a treinaria para ser a herdeira principal das empresas, não Ethan.
As lágrimas escorriam sem controle pelo meu rosto. Eu olhei para Ethan quando ela terminou de falar, ele estava assustado, negando com a cabeça, e eu não pensei em nada. Um ódio profundo me invadiu, capaz de me fazer explodi, e de repente eu estava em cima dele, enchendo-o de tapas.
Eu gritava, furiosa, pensando em como ele poderia ser capaz. Ele me segurou em um determinado momento, me fazendo encará-lo.
― Não foi assim! Não foi! ― Gritou, me sacudindo. ― Eu assinei o acordo porque ele iria garantir tudo para Emerald! Eu não tinha a porra de dinheiro nenhum, Emily! Ela merecia uma vida boa!
― Você vendeu nossa filha!
― Nunca! Esse acordo me tirava a obrigação de trabalhar na empresa.
― Você pensou apenas em si!
Me soltei dele, soluçando.
― Eu estava perdendo a porra da minha cabeça naquele lugar. Esse acordo me permitiria voltar para a nossa vida, me permitiria participar da criação de Emerald.
― Você não podia ter feito isso... ― Olhei para Alisha, chorando. ― Como descobriu isso?
― Meu pai foi o advogado responsável por isso.
― E desde quando soube disso?
Ela engoliu em seco.
― Desde quando?! ― Gritei, fazendo-a se assustar.
― Desde que fui até Jacksonville atrás de vocês.
― Por que não me disse? Se me amava tanto, por que não me avisou? Eu teria ido embora dali na mesma hora e, quem sabe, Emmie estaria viva.
Alisha ficou boquiaberta, chorando.
― Desde então ela me chantageia. Emily, você não pode acreditar que as coisas foram assim.
― Foram assim sim! Em, me escute... ― Alisha tentou me tocar, mas eu me afastei dos dois.
― Vocês dois são egoístas. Meu Deus, como pude ser tão burra para perceber.
Eles ficaram confusos e então se calaram.
― Eu não mereço ficar aqui, ouvindo todas as vezes que cada um mentiu para mim. Querem se ameaçar? Querem se chantagear? Então façam. Enquanto isso for uma competição, eu não farei parte. Cansei disso.
― O que isso quer dizer? ― Alisha perguntou, chorando.
― Eu estou fora! Cansei dessa porra! Não escolho ninguém, escolho eu mesma.
Peguei minha bolsa no sofá e fui caminhando até a porta. Os dois vieram atrás, se empurrando, tentando me alcançar.
― Está cometendo um erro, Emily! ― Ethan gritou.
― Se eu ficar assim sim, estarei cometendo um grande erro.
Parei já do lado de fora, no corredor, e os olhei pela última vez:
― Isso vai ser, provavelmente, uma das coisas mais dolorosas que poderei dizer ― Falei, tentando segurar o choro. ― Mas não quero ver nenhum dos dois. Pelo menos não agora. Talvez por um bom tempo.
― O que isso significa? ― Alisha perguntou, assustada.
― Significa que me escolhi, e peço que respeitem isso.
Eu dei alguns passos para trás, então fui embora, sem olhar para trás ― ou então não teria coragem.
Amava os dois, queria os dois. Seria uma vadia egoísta se ficasse nesse jogo, se alimentasse um triângulo amoroso que terminaria com todos machucados.
A verdade é que havia passado minha vida inteira me dedicando a outras pessoas, querendo que elas me notassem e me amassem, algo que começou desde o meu pai e hoje refletia nos meus relacionamentos amorosos. Olhar para mim agora parecia estranho. Quando precisei ser a cura para os meus machucados estava tão ocupada que cicatrizaram sozinhos, e hoje só me restavam as marcas. Marcas e dores que nunca foram totalmente respeitadas por aqueles que amei.
Virar as costas para as duas pessoas que mais amei na vida foi doloroso. Mas sabia que ficar lá seria pior, bem pior.
Fui direto para o dormitório de Tati, não encontrando-a por lá, por sorte. Chorei sozinha, querendo aquele momento, mas não durou muito porque minha mãe ligou. Respirei fundo e atendi, fingindo estar bem.
― Oi, mãe. ― Falei, tentando parecer feliz.
― Oi, bebê. Está bem?
― Sim, tudo bem. E você?
― Também estou. Olha, estou ligando para falar de algo não muito bom.
Fechei os olhos com força. Mais um problema.
― O que aconteceu?
― Seu pai. Ele foi internado em uma clínica de reabilitação depois de um coma alcoolico. Seu tio ligou e pediu para te avisar, porque seu pai não para de chamar por você. É sua escolha vir ou não, querida. Sei como ele te afeta e como já te machucou.
E um dos momentos que mais temi havia chegado: a redenção de meu pai. Era hora de enfrentar mais um trauma.
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