Capítulo 39 - Said I'm heartless
Emily Broussard
― Não é o que parece, Alisha! ― Exclamei.
Quando vi ela parada de frente àquele elevador, com o semblante de choque e decepção, empurrei Ethan com força e saí correndo atrás dela, tentando me explicar.
― Não precisa dizer nada, eu vi.
Estávamos chegando nos dormitórios e cada pessoa nos olhava, curiosa, e eu fazia questão de lançar um olhar assassino.
Ela magoada, muito mais do que com raiva. Era um pesadelo para mim também. Sabia que a chegada repentina de Ethan só traria coisas ruins, principalmente para o meu relacionamento.
Tive que segurar a porta para que não fechasse em minha cara depois de ela entrar, ignorando que eu vinha logo atrás.
― Ali, por favor.
Ela se virou para mim, jogando a mochila no chão. Só agora eu via seu rosto molhado pelas lágrimas.
― Você... ― Respirou fundo. ― Você me machucou, Emily.
― Me deixe explicar!
― Explicar o que? Você e Ethan estavam quase se comendo naquele elevador. Eu vi!
― Não é para tanto.
Ela deu uma risada, como quem desacreditasse das minhas palavras.
― Meu Deus, quando penso que você vai falar algo que possa me deixar melhor, você solta uma dessas.
― Ele chegou aqui de repente, ok?
Ela semicerrou os olhos para mim.
― Você sabia que ele estava aqui?
Cocei a nuca, nervosa, agoniada. Puta merda, só queria que aquela porra de pesadelo acabasse.
― Foi há dois dias, eu acho. Vi ele perto do meu prédio, mas ele veio ver Alex, nos encontramos por acaso.
― Ah, claro que foi. Ethan Johnson, o maior articulador de todos, veio aqui para ver o amiguinho. Muita coincidência ele ter ido parar no mesmo elevador que o seu.
Engoli em seco. Não tinha como refutá-la.
― Sabe o que é o pior, Emily? ― Disse, enxugando o rosto. ― É que apesar de tudo, de todas as dores, de todas as coisas que já passou, que nós já passamos, você ainda insiste em voltar para os mesmos lugares que te quebraram.
― Não estou... voltando para nada. Alisha, aquilo foi...
― Um deslize? Um erro? Por favor, você está mentindo para si, não para mim. Sabe que ele veio aqui atrás de você, que veio tentar fazer as coisas serem diferentes. Ele disse isso, não disse?
― Não importa o que ele disse. ― Me aproximei, tocando seu rosto. ― Estou com você. Eu te amo, ok?
Ela me olhou como quem pudesse me matar ali mesmo. Não tinha aquele brilho, o desejo, o olhar de quem me venerava e era capaz de fazer tudo por mim. E então eu senti medo.
― Você diz que me ama, mas no momento em que ele volta repensa sobre o que temos.
― Não, isso nunca aconteceu.
Assisti ela tirar minhas mãos de seu rosto, anda com seu olhar gélido.
― Seja honesta, Emily ― Pediu. ― Você se sentiu abalada com a chegada dele aqui?
― Claro que sim. ― Ri, nervosa. ― Quem não ficaria com um ex, o qual você viveu vários momentos ruins, aparecendo?
― Sabe o que quis dizer. ― Ela se aproximou dessa vez, com o rosto pairando sobre o meu. ― Você. Se. Sentiu. Abalada. Por. Ele?
Cada palavra era uma facada.
Ela sabia.
Eu sabia.
A questão é que nada podia ser feito.
― Não faça isso. ― Dessa vez, eu quem pedi. ― O que quer que esteja tentando arrancar de mim, do meu passado, sabe que vai nos machucar.
― Você já me machucou, Emily. Como acha que me sinto tendo visto há poucos minutos minha namorada quase beijando o ex?
Suspirei, triste. Não queria nem imaginar.
― Me desculpa. Não queria isso. ― Foi a única coisa que consegui dizer.
― Claro que não. Sabe de uma coisa, Emily? Estou começando a achar que você é realmente uma vadia sem coração, que usa sua dor para justificar os próprios erros. Eu não serei sua escrava.
Dei dois passos para trás, desacreditada do que havia acabado de escutar.
Não, ela não falaria aquilo. Ela não queria.
Pelo menos tentei acreditar nisso, mas em seu olhar vi que era realmente genuíno. Não falei nada, saí do quarto batendo a porta com força e fui chorando, sem conseguir pensar direito.
...
Tatiana quem me acolheu. Nem sei direito como fui parar em seu dormitório, que ficava em outro prédio, porque chorei tanto, mais tanto, como nunca achei que fosse novamente.
Eram vários sentimentos, dúvidas e dores vindo à tona.
Ela me abraçou sem dizer nada e me permitiu passar a noite em seu quarto já que sua colega havia viajado. Pensei em Camila naquele momento, em como queria seu abraço. Pensei em minha mãe, a quem poderia correr cada vez que as coisas ficassem difíceis, mas aquilo era a parte ruim sobre amadurecer: nem sempre as pessoas que você mais se sente acolhida estarão ali por você.
Mas eu era sortuda por ter Tati.
Passei a tarde inteira chorando, deitada em sua cama, enquanto ela preparava lanches para mim. Tentei comer e até falar um pouco o que aconteceu, mas não conseguia. Apenas consegui dizer que Alisha e eu havíamos brigado.
Você usa sua dor para justificar seus erros.
Chorava cada vez que me lembrava disso, chegando em um ponto em que adormeci de tanto cansaço nos olhos.
A noite, Tati insistiu que eu saísse para comer algo com ela, o namorado e alguns amigos. Disse que não várias vezes, mas se tinha algo que ela era, até mais do que eu, era teimosa.
— Não vou te deixar aqui sozinha, ainda mais desse jeito. — Foi o que ela disse, deixando claro seu ponto.
Por sorte a lanchonete era dentro do campus. Tati me emprestou algumas roupas, acessórios, perfumes, tudo para que eu não voltasse para o meu dormitório e visse Alisha.
No entanto, me arrependi de ter saído do quarto no exato momento em que vi os tais amigos do namorado de Tati, que eram ninguém menos que Ethan e Alex.
— Isso só pode ser a porra de uma brincadeira. — Resmunguei. Tati me olhou, confusa.
— O que aconteceu?
Ainda tinha isso. Amava Tati e sua companhia, mas ela não sabia sobre o meu passado, não sabia sobre Ethan.
— Nada. Só acho que não devia estar aqui, não me sinto bem e... — Ela me interrompeu na mesma hora.
— Ah, não, Emily, nada disso. Eu disse que você viria, que não te deixaria só, então você vai ficar aqui. Vai ser legal.
Ela saiu me levando pelo braço até a mesa onde os meninos estavam. Eles estavam conversando, rindo, mas todo o brilho pareceu sumir, especialmente o de Alex e Ethan.
Meu olhar foi direto de encontro ao dele e todas as lembranças da manhã vieram com força. Se eu soubesse o que aquilo causaria, jamais permitiria que ele tivesse chegado perto de mim.
— Você deve ser a famosa Emily. Sou o Nate.
Olhei para o namorado de Tati, voltando a realidade.
— Oi. Prazer em conhecê-lo.
— Esse é Alex, meu colega de quarto, e esse é Ethan, amigo dele.
Nós três nós entreolhamos, sem saber bem como reagir.
— Perdemos alguma coisa? — Nate perguntou.
— Nós somos da mesma cidade. Estudamos na mesma escola também. — Alex disse.
— Nos conhecemos muito bem. — Ethan falou com os olhos nos meus.
— Isso que eu chamo de mundo pequeno. — Tati quem falou dessa vez, olhando para mim, como se entendesse meu desconforto de minutos atrás.
Sentamos os cinco e ficamos em silêncio por algum tempo. Na verdade, Tati e Nate socializavam romanticamente escolhendo o que pediriam, enquanto Alex e eu sentíamos a tensão, enquanto Ethan parecia... se divertir com isso?
Lancei um olhar assassino para ele. Minha vontade era de voar em seu pescoço e perguntar o porquê de tudo aquilo.
— Então, falem como se conheceram. — Tati disse, tentando puxar assunto.
Nós parecemos acordar de um devaneio.
— Na escola. — Falamos ao mesmo tempo.
— Na verdade, Alex e eu somos amigos de infância. Já Emily nós conhecemos na Fayron.
— Fayron? — Nate perguntou.
— A escola. Lugar bom, mas insano. — Alex respondeu.
— Os piores alunos já foram embora, pode acreditar. — Falei.
Ethan deu um sorrisinho de lado.
— Você também não está para trás, Broussard.
Eu juro por Deus que daria um soco na cara dele.
— Vocês deveriam visitar a cidade, tem uma ótima praia. — Alex logo disse, tentando evitar uma briga.
Eu e Ethan continuamos em uma batalha silenciosa para os outros, mas extremamente tensa e barulhenta para nós. Apenas no olhar nós conseguíamos saber o quanto aquela situação era inusitada, louca e intensa. Ele parecia querer levar as coisas com leveza, como sempre fazia. Já eu queria voltar para o conforto de antes, de quando ele não fazia mais parte da minha vida.
Ethan [21:28]: Não ache que seus olhares me causam medo, muito pelo contrário.
Li sua mensagem na mesma hora em que chegou. Cheguei a respirar com dificuldade de tanta raiva.
Emily [21:28]: Não estou no humor pra essas suas piadinhas.
Ethan [21:28]: Estou vendo que está triste mesmo. Aconteceu alguma coisa com Alisha depois daquilo?
Levantei o olhar para encara-ló e ele já estava me olhando. Senti um arrepio na espinha.
Emily [21:29]: Você sabia que daria problemas. Por que pergunta?
Ethan [21:29]: Não queria isso, Emily. Sei que está triste.
Emily [21:29]: Muito tarde para se lamentar.
Bloqueei o celular e levantei, chamando a atenção de todos na mesa.
— Vou ao banheiro. — Saí depois que Tatiana assentiu.
Fiquei alguns minutos no banheiro, tentando disfarçar o meu desconforto para as outras pessoas. Usei o toalete, depois voltei para a pia, notando que havia apenas eu agora.
Me assustei quando a porta se abriu e Ethan entrou, trancando-nos ali.
— Você ficou maluco?! Saia agora! — Gritei, revoltada.
— Calma, Emily. Só quero entender o que aconteceu.
— Vai a merda! Abra a porta!
Fui até ele na tentativa de tirá-lo dali, mas falhei miseravelmente, nos deixando, inclusive, cara a cara, em uma proximidade nada segura.
— O que aconteceu? — Perguntou, sério.
— Por que se importa?
— Por que não me importar? Você está triste, todo mundo vê isso.
Suspirei, tentando novamente segurar o choro.
— Você não deveria estar aqui. Isso é errado, me machuca. Aquilo no elevador nunca deveria ter acontecido.
— Errei feio, eu sei. Deveria ter tentado me aproximar de outra forma, mas sabia que você só me veria se fosse daquela forma.
— Não pode querer me forçar!
— Não te forcei a nada.
— Meio que fez isso.
— Eu estou desesperado, ok? Além do mais, eu te conheço. Existe algo aí ainda.
— Vai se foder! Você está acabando com uma das melhores coisas que já me aconteceu, sabia?
— Então vocês brigaram.
Parei de andar de um lado para o outro e o olhei, ainda calmo, como se nada o abalasse. Como ele conseguia?
— Sim, brigamos. Feliz?
— Não, na verdade. Ela foi cruel?
Suas palavras vieram em minha mente novamente, com o som da sua voz vivido e toda aquela aspereza. Era impressionante como palavras machucavam — e em certas vezes mais do que armas.
— Estou cansada. — Senti uma lágrima escorrer por minha bochecha. — Por favor, Ethan, facilite a minha vida. Não quero viver a mercê das suas vontades, dos seus caprichos. Eu tenho uma vida agora e eu gosto dela. Se quis voltar e me ouvir, tudo bem, seu direito, mas não pode esperar que eu mude o que construí para te satisfazer.
Ele se desencostou da porta e se aproximou.
— Tem razão. Me desculpa novamente. Sabe que quando estou desesperado ajo como um inconsequente e esqueci dos sentimentos dos outros. — Disse. — Apenas me peça para ir embora.
— O que?
Ele se aproximou mais ainda, deixando que nenhum espaço sobrasse. Eu também não me movi.
— Diga que não me quer aqui. Me peça agora para ir embora, para me esquecer de você e do que vivemos e irei de bom grado. Pego o primeiro voo de volta para Jacksonville. — Quando achei que ele não podia mais se aproximar, ele fez. Estávamos novamente com as bocas pairando uma na outra. — Me diga que não me ama mais e nunca mais me verá.
Não pensei, então não consegui dizer.
Na verdade, a única coisa que veio em minha mente foi um grande não. Meu corpo, meu coração não o queiram longe. Ainda existia aquela energia entre nós, uma chama que nem a maior das dores poderia apagar. E também havia um elo, que mesmo não estando entre nós, sempre nos ligaria, não importava onde estivéssemos.
Eu quem tomei a iniciativa e o puxei, beijando sua boca. Era como viajar para outro universo. Universo esse que tinha gosto, intensidade e toques conhecidos. Ele trouxe suas mãos para as minhas costas, descendo para a minha cintura, em uma mistura de delicadeza e tensão. Ele queria aquilo mais do que eu — pelo menos era isso que eu achava.
De repente o banheiro estava quente demais, tudo era muito intenso e forte. Suspirei, controlando um gemido, quando ele me levantou no colo, rodeando minhas pernas em sua cintura. Eu voltei a beija-lo, querendo sentir tudo aquilo de novo. Era algo único, que só Ethan conseguia me fazer sentir. Ele me sentou na bancada, fazendo nossos corpos se roçarem.
Ele desceu os beijos por meu pescoço e eu apoiei minha mão no espelho embaçado pelo calor, deixando a marca. Meu corpo inteiro reagia e pedia, gritando, para que ele me possuísse e me fizesse sua outra vez.
Eu me desconfortei quando escutei meu celular vibrar no bolso da minha calça. Abri os olhos, agoniada, imaginando que poderia ser Alisha. Até tentei pega-lo, mas Ethan colocou a mão sobre a minha, me impedindo de forma sútil.
Mesmo depois de parar de vibrar, ainda fiquei curiosa. Uma única vibração veio depois, como uma mensagem, e eu o empurrei, estourando a bolha. Ele me olhou, frustrado, provavelmente furioso com o celular e a pessoa que estava tentando falar comigo.
E era ela.
Alisha [21:42]: Não consigo parar de pensar em você. Por favor, me dê uma oportunidade para me desculpar. Vamos conversar sobre tudo e nos ouvir.
Olhei para Ethan depois de ler a mensagem e ele pareceu entender o que significava.
Eu precisava fazer a minha escolha.
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