Capítulo 19 - When I R.I.P.
Aviso!
O capítulo contém cenas com drogas explícitas. Se você, leitor (a), não se sente bem lendo sobre tais assuntos, pule o capítulo.
"Sinto a manhã em meu rosto
Não há uma pílula que eu não tenha tomado
Apenas vivo tentando, porque tem sido um longo dia
Porque eu só vou dormir quando descansar em paz"
When I R.I.P. ― Labrinth
Ethan Johnson
Abri os olhos com dificuldade. A luz branca ainda era a única coisa que eu enxergava. A diferença era que agora eu sentia cada parte de meu corpo doer e ouvia um bip, bip, bip.
― Você está vivo. ― Um sussurro.
Eu franzi o cenho quando uma imagem surgiu a minha frente. Cabelos loiros e a feição de um anjo.
― Isso é... o céu? ― Falei, com dificuldade, sentindo minha garganta seca.
― Não, Ethan. Você não morreu. Sou eu, mamãe.
Então a imagem de minha mãe começou a focar. Eu fiz careta.
― Estou no inferno, então. ― Resmunguei. Houve uma risada feminina ao fundo.
― Ele está bem. Até piadas está fazendo. ― Era a voz da minha irmã. Ela logo surgiu ao lado da minha mãe. ― Como está se sentindo, Ethan?
― Acabado. Parece que levei uma surra. Eu levei uma surra?
― Não. ― Eloise respondeu, rindo.
― Pare de rir, Eloise! Você sofreu um acidente, meu amor. No centro.
― Perda total no carro. ― Dessa vez foi uma voz masculina. Meu pai surgiu do outro lado da cama, me olhando com indiferença. ― Os médicos acham que você é um milagre só por estar vivo.
― Você quebrou um braço e teve alguns arranhões pelo corpo. Fora isso, está bem. Mas não tinham certeza se você tinha levado pancadas na cabeça ou não, por isso ficamos com tanto medo. ― Minha mãe disse, chorando.
― Por quanto tempo eu dormi?
― Dois dias. Vim correndo assim que soube. ― Eloise disse.
― Não deveria ter vindo por minha causa. ― Resmunguei.
― O que você tinha na cabeça em sair embriagado àquela hora? ― Minha mãe perguntou.
Então os momentos voltaram a minha mente.
Emily e Emerald.
Meus olhos instantaneamente se encheram de lágrimas e uma sensação de esperança, que há tanto tempo não sentia, voltou como uma avalanche.
― Emily. Ela me ligou. ― Eu disse, sorrindo. ― Nossa filha está viva. Eu vim a caminho do hospital para busca-las.
Eles se entreolharam, preocupados.
― Isso explica porque a batida foi há alguns quarteirões do hospital. ― Meu pai disse.
― Ethan, você não está falando sério. ― Minha mãe falou.
― Estou! Emily me ligou e eu vim. Eu jamais sairia de casa do jeito que estava a não ser por ela.
― Ethan... ― Eloise tocou meu ombro. ― O seu celular não estava no carro.
Eu dei uma risada.
― Claro que estava. De qualquer forma, pode ter se perdido depois da batida.
― Não, Ethan. Eu fui ao seu apartamento pegar suas roupas e o achei lá. ― Vi ela pegar algo dentro de sua bolsa e me mostrar. Era meu celular, intacto. ― Você não estava com ele.
Eu franzi o cenho, confuso. Olhei para minha mãe que chorava, como quem não quisesse acreditar. Meu pai bufou, dando uma risada.
― Ele estava sob efeito de drogas. O médico bem que avisou, os exames não mentem. ― Ele disse.
― Era álcool! ― Minha mãe exclamou, chorando.
― Acorda pra vida, Carolyn! Seu filho é um viciado! O que mais explica ele dizer que estava conversando com a ex-namorada no telefone sendo que o maldito aparelho nem estava com ele? Eu digo: drogas. E das mais pesadas. Olhe para o braço dele, merda.
Eu olhei, vendo as enormes manchas roxas.
― Nem sequer sabe furar o braço. ― Ele disse, por fim.
― Ralph, pare! ― Minha mãe gritou.
Eles continuaram uma discussão a qual não dei a mínima. Eu estava atônito, tentando saber como os momentos de ontem não haviam sido reais. Eu havia falado com Emily, sei disso. Não eram as drogas. Elas jamais tinham me deixado daquela forma, não tinham me feito viver momentos tão... reais.
Nem sei quanto tempo eles ficaram no quarto, me desliguei totalmente e acabei caindo no sono. Acordei já era noite, mas as luzes ainda estavam acesas.
Como não tinha ninguém no quarto, tentei me levantar para ir ao banheiro. Fui levando o soro. Me olhar no espelho foi como levar um tapa no rosto. Meu olho esquerdo estava extremamente roxo, com algumas manchas vermelhas, haviam arranhões por minhas bochechas e meu lábio inferior estava cortado. Nos pescoços haviam poucas marcas e no braço esquerdo a tipoia.
Depois de fazer minhas necessidades quis voltar para a cama, mas parei ao ouvir vozes do outro lado da porta. Me aproximei para escutar melhor.
― Ele estava sob efeito de anfetamina. Pelos exames foi comprovado de que ele fez uso de metanfetamina.
Eu fechei os olhos com força quando minha mãe soltou um grito de surpresa.
― Eu deveria imaginar. ― Meu pai disse.
― Por acaso o filho de vocês já teve histórico com drogas?
― Não. Quero dizer, ele bebe, mas usar drogas ilícitas? Não. ― Minha mãe falou.
― Bem, acho que vocês devem se mobilizar agora. Foi encontrada uma grande quantidade do estimulante no organismo dele. Uma dose maior e poderia ter sido fatal. Não sei se é certo dizer isso, mas creio que o acidente o salvou de algo pior acontecer.
Minha mãe chorou.
― E o que deveríamos fazer? ― Dessa vez meu pai perguntou.
― Nosso hospital tem coligação com as melhores clínicas de reabilitação do estado. Posso passar alguns nomes para vocês.
― Sim, por favor. ― Minha mãe disse.
Eu dei alguns passos para trás, sentindo meu coração acelerar.
Aquilo só podia ser brincadeira. Eu me recusava ir para qualquer clínica que fosse.
Senti minha respiração descompassada e uma vontade imensa de sair correndo me invadir. Olhei para cada canto do quarto, esperando que a solução mágica fosse, literalmente, aparecer, até ver a janela. Era isso.
Tranquei a porta do quarto vagarosamente e fui até o peitoril. Estava aberta. Eram apenas dois andares, eu conseguiria.
Arranquei a agulha do meu braço, grunhindo de dor quando o sangue respingou. Eu estava com uma bata do hospital, mas de roupas intimas. Gostaria de me trocar, mas se esperasse mais um minuto e acabasse sendo levado para uma maldita clínica, não sei o que faria.
Me sentei no peitoril, sentindo o vento gélido bater em meu rosto e respirei fundo.
― É agora ou nunca, Ethan. ― Falei para mim mesmo.
Então pulei.
Senti minhas costelas doerem quando meu corpo se chocou contra a grama. Isso era tão fodido.
Ainda assim, não poderia me dar o gosto de sentir dor. Fui me arrastando, tentando não ser notado por ninguém, e acabei de frente ao hospital. Estava movimentado, mas as pessoas pareciam mais preocupadas consigo mesmas do que com pacientes fugitivos. Justo.
― Táxi! ― Gritei, me levantando do chão, quando vi o carro parar de frente ao local.
Só tinha um lugar onde eu poderia ir.
...
― Por Deus. O que aconteceu com você, garoto? ― Lars perguntou, fazendo careta, quando abriu a porta e deu de cara comigo.
― Sem perguntas agora, por favor. Você poderia pagar o táxi? Prometo que te devolvo.
Ele olhou para o carro atrás de mim e assentiu.
― Vai lá pra dentro, moleque.
Na sala, já conhecendo bem aquele lugar, peguei um pouco de whisky sobre a mesa de centro e virei metade do copo de uma vez, sentindo meu corpo aquecer. Era daquilo que eu estava precisando.
― Por que porra você está assim? ― Ele chegou perguntando e se sentou na sua poltrona. ― Isso é uma roupa de hospital?
― Eu sofri um acidente.
― Você o que? Quando?
― Não sei ao certo. Dois dias atrás?
― Como?
― Não precisamos falar sobre isso. ― Me sentei, ficando de frente a ele.
― Claro que precisamos. Por acaso você estava chapado?
Suspirei, cansado. Ele não ia desistir.
― Sim.
― Cacete, Ethan.
― Eu juro que não costumo dirigir quando estou assim, ok? É só que eu recebi... ― Respirei fundo. ― Eu achei ter recebido uma ligação da minha ex. Ela pediu para que eu fosse ao hospital buscar ela e nossa filha. O resto você já deve imaginar.
― E o que está fazendo aqui? Não deveria estar no hospital?
― Sim, deveria. Acontece que a porra do hospital detectou algo suspeito no meu sangue e agora o médico enfiou na cabeça dos meus pais que eu devo ir para uma clínica de reabilitação.
― Bem...
― Lars, qual é? ― Gritei. ― Você é um traficante! Por que me aconselharia a fazer algo assim?
― Sim, Ethan, eu sou um traficante. Mas eu também conheço jovens como você. Já vi muitos deles morrerem por conta disso, várias vezes pelas minhas custas, e não quero mais ver isso acontecer.
― Então por que aceitou me vender desde o início?
Ele deu de ombros e pegou a bebida sobre a mesa de centro, dando um gole grande.
― Porque sua dor era grande demais, e eu sabia que nada poderia sará-la a não ser isso. Mas também sabia que isso te mataria aos poucos. Era uma faca de dois gumes.
― Eu irei morrer de qualquer jeito...
― Sim, você vai. Todos nós vamos. ― Ele suspirou. ― Olhe, eu só acho que você deveria ouvir seus pais, considerar o que eles têm a dizer. A clínica pode te ajudar, eles trabalham em várias coisas além de ser contra as drogas. Uma ajuda psicológica seria boa.
― Ok. Eu posso pensar sobre isso. ― Eu não iria pensar. ― Mas agora, você poderia me ajudar?
― Não, Ethan. Só posso te ajudar te levando de volta para o hospital.
― Vamos lá, cara! ― Exclamei.
― Você precisa voltar.
Bati as pernas, impaciente, ansioso, querendo socar a cara dele. Até ver a gaveta onde ele sempre pegava as bolsas que me vendia. Poderia estar trancada, mas a chave estava lá.
― O que me diz? Posso te deixar no hospital? ― Ele perguntou, atraindo minha atenção.
― Sim. Sim, pode.
Ele assentiu, sorrindo leve.
― Você vai ficar bem, garoto. Volto logo.
Lars terminou sua bebida e entrou na casa, indo, provavelmente, para o segundo andar. Eu tinha pouco tempo.
Corri até a gaveta, virei a chave e voilà. Peguei a primeira bolsa, de várias, e a abri com rapidez.
Morfina.
Nunca havia usado, mas sabia que servia para tratar de dores intensas. Eu precisava daquilo.
Peguei uma grande quantidade e injetei na veia sem pensar duas vezes. O efeito foi imediato. Eu tive que deitar no chão de tão forte que senti-a invadir meu corpo.
Eu estava cansando aos poucos, mas estava em paz. Sorri com a sensação.
No entanto, poucos segundos depois, o que era paz se tornou caos. Meu coração começou a acelerar, como se fosse explodir, minhas mãos suaram, meu corpo tremeu, o ar faltou em meus pulmões. Eu estava dentro do mar, me afogando, morrendo. Algo começou a sair de minha boca. Eu tossia, desesperado. Estava sozinho. Aquilo era morrer.
― Ethan! Meu Deus! Ethan! ― Ouvi gritos.
Foi a última coisa que ouvi por dias.
Emily Broussard
Depois de feita a inscrição para a FIU, eu me dediquei cem por cento a estudar. A prova aconteceria aqui mesmo e me daria a chance de concorrer a uma vaga na faculdade de enfermagem com bolsa integral.
Eu queria isso. Realmente queria. Sei que era algo que antes eu odiasse só pensar, mas depois que aconteceu, que pensei em todos os prós, senti que eu poderia voltar a fazer alguma coisa que fizesse sentido para mim.
Queria ajudar outras crianças, outras mães, levar para os outros a esperança que foi arrancada de mim. Talvez assim eu pudesse, um dia, superar o luto que havia ficado em meu coração.
A prova aconteceria em algumas semanas. Como eu havia me inscrito faltando pouco para acabar o prazo, então meu tempo de estudo havia sido menor. Eu não estava confiante de que fosse ter uma boa colocação assim, mas minha mãe insistia em dizer que independentemente do resultado, nós faríamos acontecer.
Eu iria para a FIU então. Estava decidido.
― Em, está em casa?
Ouvi o grito de minha mãe. Eu estava na cozinha, comendo, quando a escutei chegar.
― Sim! ― Exclamei.
Ela veio até onde eu estava e sorriu leve. Era noite, bem tarde, e ela usava as roupas do hospital. Desde a morte de Emerald seus turnos haviam diminuído, tudo para cuidar de mim, e só agora ela estava voltando a sua rotina.
― Como foi o trabalho? ― Perguntei.
Ela sorriu leve e deu de ombros. Eu semicerrei o olhar enquanto a assistia beber água.
― Tudo bem. E por aqui? Estudou? Cadê sua avó?
― Sim, estudei. A vovó saiu para o bingo. Todas as terças-feiras, esqueceu?
― Que cabeça minha. ― Ela riu.
― Ok, mãe, fale. O que aconteceu?
Ela deixou a ruga de preocupação aparecer em sua testa e se sentou à mesa, ficando de frente para mim.
― Eu vi os Johnsons hoje no hospital.
Enrijeci o maxilar.
― Não me importo. ― Falei, seca.
― Emily, é sério. Eles estavam lá.
― Por que?
― Foi o Ethan. Ele sofreu um acidente.
Eu petrifiquei e senti minha boca secar.
Por que eu ainda reagia assim?
― Acidente de que? ― Perguntei, tentando parecer indiferente.
― Carro. Não sei bem, só soube por outra enfermeira. Ele está bem, mas ficou mais de um dia desacordado.
Eu dei de ombros e desviei o olhar.
― Bom para ele.
Senti ela tocar minha mão.
― Não estou dizendo isso para que se preocupe ou se martirize, apenas quis que soubesse. Querendo ou não vocês...
― Pare, mãe. Pare aí mesmo, ok? Eu não quero que fale sobre isso. Ethan sofreu um acidente, mas já está bem. Se a família dele está lá, que bom, eles que cuidem. Eu não tenho nada a ver com isso.
Ela assentiu, sem questionar. Seria melhor assim.
Depois que comi, subi para o meu quarto. Precisava deitar. Eu ainda odiava Ethan, ainda queria que ele se fodesse, mas não conseguia desejar sua morte. Pelo menos não assim tão rápida.
Deitada na cama, fui acordada de meus pensamentos com a notificação de uma mensagem. Senti meu coração parar ao ver de quem era.
Eloise [22:32]: Sei q isso não é da sua conta e q vc nem quer saber, mas vou falar msm assim. Ethan teve uma overdose.
Puro caos, isso que esse livro é...
Instagram: @sweetwriter8
Vejo vocês em breve! ♥️
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