Capítulo 16 - Heaven couldn't wait for you
Aviso!
O capítulo contém cenas com drogas explícitas e termos que falam sobre suicídio. Se você, leitor (a), não se sente bem lendo sobre tais assuntos, pule o capítulo.
Ethan Johnson
― Como isso foi acontecer? ― Minha mãe perguntou.
Eu engoli o café com tanta força que desceu rasgando como se fosse whisky puro. A minha vontade era de sair correndo dali.
― Mãe, por favor. ― Eloise falou.
― Talvez nós possamos conversar sobre isso em outra ocasião. ― Alex tentou conter os ânimos. Ele sabia que eu estava mal.
Hoje era o dia do velório de Emerald. O velório e enterro da minha filha. A minha filha que morreu por minha culpa.
Justamente hoje minha mãe quis que eu fosse tomar café lá.
― Eu só quero saber. ― Ela disse novamente, agora fungando. Eu a encarei, sem acreditar que ela estava chorando. ― Não entendi bem como as coisas aconteceram.
Eu respirei forte, cansado de toda aquela ladainha que vinha durando uns dez minutos.
― Quer saber mesmo, mãe? Seu filho é um assassino. Eu fui o responsável por isso. Na verdade, vocês têm a parcela de culpa, claro. Sempre colocando ideias na minha cabeça, querendo que eu vivesse a vida que queriam para mim, nunca parei para pensar realmente em Emily ou em nossa filha. ― Engoli em seco. ― Fui um influenciável idiota, parecia uma marionete. Me arrependo amargamente por ter ouvido as merdas de vocês. Agora eu não tenho Emily... e nem minha filha. ― Uma lágrima escorreu por meu rosto. ― Mas se você quer saber o termo médico, foi uma parada cardiorrespiratória causada por uma hipóxia.
Quando terminei de falar, recebi olhares de choque de meus pais e de tristeza de Alex e Eloise. Meu amigo pôs a mão em meu ombro e apertou, tentando me passar conforto. Eu não conseguiria estar ali senão fosse por ele.
Alex havia ficado comigo aqueles dias no apartamento, me ajudando, tentando me fazer levantar e me arrancando da escuridão sempre que eu colaborava.
― Ethan, eu... ― Minha mãe suspirou. ― Nós nunca quisemos causar mal a nenhum de vocês.
― Vocês sabiam bem o que estavam fazendo, mãe. É, eu sei que nunca quiseram que Emerald ou qualquer outra pessoa morresse, mas aconteceu. Mas, de qualquer forma, não os culpo. Já disse, eu fui a porra da marionete idiota. Deveria ter pensado mais.
― Nós só queríamos o seu melhor, filho. O melhor para você, Emily e nossa neta. Se tivesse realmente nos dado ouvidos, as coisas não teriam sido assim. ― Meu pai disse. Ele teve a ousadia de dizer.
Minha sobrancelha relaxou. Meu corpo enrijeceu. E uma raiva descomunal invadiu cada parte de mim.
― O que caralho você disse? ― Perguntei em um rosnado.
Alex apertou meu ombro com força, evitando que eu fizesse besteira. Minha mãe chorava baixinho para meu pai, enquanto Eloise assistia tudo com olhar de desaprovação.
― Eu só estou sendo coerente, Ethan. É a verdade.
― Como você pode dizer isso? Como pode não respeitar a minha dor, caralho?! ― Gritei.
― Eu estou respeitando! O único desrespeitoso e mal-agradecido aqui é você! Se tivesse feito as coisas certas desde o começo, não estaria assim, a caminho da morte! ― Ele cuspiu as palavras.
Eu me levantei de uma vez e virei a mesa. Eu não me importei com o peso, com quem estava perto ou não, apenas fiz. Precisava descontar a minha raiva em alguma coisa antes que fizesse algo pior.
O som do vidro se espalhando pelo chão se misturou com os gritos de minha mãe e minha irmã, junto aos palavrões de Alex e os empregados assistiam tudo, assustados. Meu pai era o único que estava na mesma posição, me encarando, cético.
Eu apontei o dedo para ele.
― Você é o filho da puta mais arrogante e egoísta que já conheci em toda porra da minha vida. Eu gostaria de ter percebido isso antes, gostaria de ter dado ouvidos à Emily, porque ela sempre tentou me alertar sobre você e sua perversidade, mas eu estava cego para caralho para perceber. Fale da minha filha de novo com esse tom de egocentrismo de merda e eu juro por Deus que te forçarei a ficar calado.
Ele apenas deu um sorriso presunçoso de lado. Meu sangue ferveu.
― Agora você está falando como um verdadeiro Johnson.
― SEU BASTARDO! ― Gritei e tentei avançar nele, mas fui impedindo por Alex.
Meu amigo me segurou com força e foi me arrastando para fora dali. Meu pai continuou da mesma forma, apenas sorrindo como um psicopata fodido.
― EU VOU TE MATAR, PORRA! ― Eu gritava à medida que era tirado da sala de jantar.
No canto, minha mãe chorava e Eloise dizia coisas para o meu pai. Os empregados foram ajudando Alex a me tirar dali, e a única coisa que se passava por minha cabeça era que nunca desejei tanto dar um soco em meu próprio pai.
Alex me levou para o meu antigo quarto e me jogou na cama. Eu tentei sair pela porta, movido pelo ódio, mas ele me segurou novamente.
― Ethan, porra, calma! ― Gritou, me empurrando na cama outra vez. Eu caí sentado.
Eu tentei falar, tentei gritar e dizer o quanto odiava aquela família, aquela casa. Porra, eu odiava carregar o Johnson como sobrenome. Era como Emily havia dito, era uma maldição.
Consegui apenas chorar.
O choro saiu com um soluço e eu não tive mais controle. Gritei e chorei como a porra de um bebê. Enterrei meu rosto entre os travesseiros, chorando.
Alex se aproximou, provavelmente com pena, e tentou me consolar. Mas nada sararia a dor que eu carregava em meu peito. Nada era suficiente para me fazer acreditar que as coisas ficariam bem outra vez. Eu parecia estar para sempre fadado àquele sofrimento.
E merecia.
...
Tomei dois comprimidos. Clonazepam e diazepam. Não me perguntem como eu conseguia, era apenas uma necessidade. Tomei um gole de água grande, sentindo-os doer em minha garganta.
Só assim para que eu conseguisse ir para o enterro de Emerald, para que eu conseguisse ver Emily, mesmo que de longe. Eu jamais ousaria chegar perto delas.
― Está pronto? ― Alex perguntou, entrando na cozinha.
O apartamento nunca pareceu tão triste.
Eu apenas assenti com a cabeça, sem energia, sentindo minha cabeça latejar.
Nós fomos no antigo carro de Alex, carro esse que ele nunca teve coragem de vender e sempre guardou aqui, em Jacksonville. A igreja estava cheia de amigos e conhecidos. De dentro do carro, do outro lado da rua, eu assistia as cenas com uma dor no peito.
Eu tive que segurar minha histeria quando vi Emily chegar sendo amparada pela mãe. Ela usava preto, assim como sua aura. Cansada, acabada, destruída. Eu me culparia eternamente por ter tirado sua felicidade, seu brilho, por ter sido egoísta a esse ponto. Ela nunca mais seria aquela Emily outra vez.
Quando a missa começou, depois de alguns minutos, meus pais e Eloise chegaram. Eu tive que me manter firme para não sair do carro e manda-los embora dali. Ainda mais depois de ouvir as merdas do meu pai.
― Meu Deus, eu fui tão burro. ― Resmunguei. Meu corpo já começava a entrar em um estado de sonolência.
― Você não pode se tratar assim, Ethan.
Me virei para Alex.
― E de que jeito eu deveria me tratar? Eu fui manipulável, Alex. Uma marionete nas mãos dos meus pais. Isso fez com que eu perdesse as coisas mais valiosas da minha vida. Eu poderia ter tudo, poderia estar com Emily e nossa filha, as coisas poderiam ter sido diferentes se eu não tivesse sido tão idiota ― Olhei novamente para a igreja. Eles entraram a sentaram no último banco. ― Eu não os odeio, odeio a mim mesmo por ter sido tão controlável.
As horas seguintes foram de pura tortura.
Alex e eu esperamos todos os carros saírem a caminho do cemitério e então fomos atrás. Vi Emily entrar em um dos carros, cansada, como se estivesse funcionando em modo automático. Eu sabia que se ela pudesse explodiria, porque eu me sentia da mesma forma.
No cemitério, nós ficamos no local mais distante, mas onde eu poderia ter uma breve visão da cerimônia. O caixão minúsculo, de cor branca, era revestido de flores verdes. Fora do carro, eu tive que me apoiar no capô quando vi. Chorei em silêncio por saber que dentro daquela caixa de madeira estava minha filha, minha Emerald, tão minúscula e frágil. Ela poderia ter tido tudo, mas eu tirei isso dela.
Era minha culpa.
Alex passou a cerimônia inteira com o braço ao redor do meu pescoço, me dando forças, permitindo que eu chorasse em seu peito. Nunca chorei tanto como naqueles últimos dias. Chorei mais ainda quando Emily leu a carta que havia escrito para Emerald. Era a despedida mais dolorosa de todas.
Da mãe que você nunca conheceu, apenas sentiu.
Deus, isso doía pra caralho.
Alex e eu esperamos todos irem embora para que então eu tivesse a chance de ver o túmulo dela.
Eu me ajoelhei perto, chorando, sem forças. As flores verdes revestiam tudo. Ela era o verde das nossas vidas, como Emily costumava dizer. Ela era a fonte de esperança que estava para chegar. E eu tirei isso.
Li o epitáfio como se fosse uma facada em meu peito.
"Sua passagem foi breve, mas jamais será esquecida. O céu não podia esperar por você.
Saudades. Mamãe."
― Papai também sente muito sua falta, Emmie. ― Falei, triste. ― Eu sei que não fui um bom pai, que falhei várias vezes e que fui o responsável por sua ida repentina, mas eu te amava. Esperei por você com alegria, estava ansioso para sua chegada e nunca, jamais vou me perdoar pelo que fiz. Deveria ser eu, não você.
Chorei, agarrado ao túmulo. Devo ter ficado assim por uns bons minutos, chorando e sussurrando me perdoe diversas vezes.
Por fim, peguei uma flor que estava solta pelo chão, a beijei e coloquei sobre seu túmulo, junto a várias outras.
― Vá em paz, meu amor. Eu sempre te amarei.
E dei o último beijo em Emmie.
...
Alex só saiu do meu apartamento, já a noite, depois que teve a certeza de que eu estava bem e a ponto de dormir. Assim que ele foi embora, eu me levantei e troquei de roupa, pronto para sair. Apesar da sonolência causada pelo remédio para dormir, minha cabeça não parava, eram milhões de pensamentos – principalmente suicidas – e eu sabia que só existia uma coisa que me faria parar.
Me lembrei imediatamente da Fayron, da época em que nós, jogadores de futebol, íamos atrás das drogas mais loucas para colocarmos no nosso famoso Champion's Drink. Aqueles eram bons tempos. Apesar de nunca ter usado nenhum tipo de droga, eu sabia quem as vendia. Eu sempre estava perto dos garotos quando eles iam atrás dessas coisas.
Ficava em um dos bairros de classe alta da cidade. Saí com meu carro pelas ruas, cansado, esperando apenas que o fim daquela noite valesse a pena. Em uma das casas, estacionei de frente, lembrando de um dia, quando estávamos no primeiro ano do ensino médio, quando Seth, Ben e eu viemos aqui. Seth era quem sabia de tudo.
Eu toquei a campainha da casa, com o dedo trêmulo. O homem adulto, quase da idade de meu pai, com barba por fazer, abriu a porta. Ele me olhou dos pés à cabeça.
― Posso ajudar, jovem?
― Você é Lars?
― Quem quer saber?
― Um cara que precisa desesperadamente da sua ajuda. ― Puxei algumas notas de dólar do bolso, mostrando a ele rapidamente. ― E eu pago à vista.
Ele deu uma risadinha e abriu a porta.
― Sinta-se em casa.
Diferente do que eu imaginava, a casa era luxuosa e bem decorada. Nunca havia entrado, nas vezes em que vinha ficava apenas no carro, mas tinha na cabeça de que era infestada de lixos e coisas ilícitas.
― Vamos, me acompanhe. ― Ele disse, me fazendo tirar os olhos do quadro da parede.
Caminhei atrás dele, nervoso. Nós fomos até uma espécie de sala que talvez funcionasse como o seu escritório.
Ele se sentou em uma poltrona e indiciou que eu me sentasse no sofá a frente.
― É raro as pessoas virem me procurar em minha casa. Costumo receber apenas os que pagam bem.
― Eu irei.
Ele deu uma risada.
― Como soube de mim?
― Eu costumava vir com uns colegas. Nunca usei nada do tipo, apenas acompanhava. Estudávamos na Fayron.
― Ah, sim. Os garotos da Fayron. Vocês costumavam compras coisas bem loucas. ― Ele bebericou o whisky que estava na mesa de centro. ― Como se chama?
― Ethan.
― E o que quer, Ethan? Olhe, eu sei o que vendo, muitas vezes nem pergunto porque as pessoas querem, mas quando vejo garotos jovens como você vindo até mim, preciso saber os motivos. Não quero que jogue sua vida fora assim.
Eu respirei fundo, nervoso sob seu olhar.
― Eu matei a minha filha. Não a assassinei, não é nada disso. A mãe dela, minha namorada, estava grávida. Em uma noite eu fui jantar com meus pais, pais esses que tinham problemas com minha namorada, e deixei que eles entrassem em minha cabeça com ideias que ela nunca concordou. Quando cheguei em casa nós conversamos, acabamos brigando e ela se trancou no banheiro. Eu estava sob efeito de remédios fortes. Voltei a real quando a escutei gritar. ― A cena passava por minha cabeça como uma memória vívida. ― Arrombei a porta e quando vi ela estava caída sobre uma poça de sangue. Nem sei como cheguei no hospital, apenas me lembro de entrar com ela nos braços, gritando, implorando para que a ajudassem. Ela foi induzida ao parto. Nossa filha nasceu morta e ela nunca me perdoou, me acusou de assassiná-la. E eu sei que fiz. ― Funguei, sentindo a garganta arder. ― Então, por favor, se você tiver algo que tire essa dor do meu peito, que não me faça querer me matar agora mesmo, me dê.
Lars apenas assentiu. Parecia mesmo concentrado e compadecido com a minha história.
Ele se levantou, foi até uma das estantes de madeira embutidas na parede e pegou, em uma das gavetas, uma pequena bolsa preta. Ele sentou-se novamente de frente para mim e a abriu. Assisti ele tirar a seringa e o frasco e colocar uma quantidade considerável na injeção.
― Estenda o braço.
Assim eu fiz.
Em uma furada rápida e certeira, Lars acertou minha veia. O alívio da dor foi quase imediato.
Me encostei no sofá e encarei o teto. Vi estrelas.
― Você merece um pouco de paz, Ethan. Você não é um assassino.
Eu sorri e assenti.
― O que é isso que me deu? ― Perguntei.
― Alguns chamam de diamorfina. É só isso que precisa saber agora. Depois conversaremos. Apenas aproveite alguns minutos sem dor.
Eu concordei novamente.
A vida era melhor sob aquela óptica. Fazia tempo que não me sentia assim, sem dor alguma.
Eu disse que as coisas iriam ser nesse nível...
Instagram: @sweetwriter8
Vejo vocês em breve! ♥️
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro