Capítulo 12 - Hold on
"Amando e lutando, acusando, negando
Não consigo imaginar um mundo em que você não esteja
A alegria e o caos
Os demônios de que somos feitos
Eu estaria tão perdido se você me deixasse sozinho"
Hold on — Chord Overstreet
Ethan Johnson
Entrei na minha sala depois de uma cansativa reunião, sentindo meus músculos doerem. Era fim de expediente, finalmente, mas mesmo com a diminuição da carga horária, eu sentia que estava carregando o mundo nos ombros.
Tirei o paletó, joguei em qualquer lugar e caí sentado na minha cadeira. Minha cabeça latejava como o inferno.
Massageando as têmporas, eu só conseguia pensar em como havia deixado as coisas chegarem àquele ponto. Eu deveria estar feliz, tinha uma namorada incrível, uma filha a caminho e, finalmente, meus pais pareciam ter me dado um tempo. Eu estava tendo a independência que queria. Então por que caralhos eu não conseguia me sentir satisfeito? Como se fosse uma maldita máquina?
Respirei fundo e abri a gaveta da mesa, sabendo o que poderia me ajudar. Li o nome do medicamento, já acostumado a vê-lo todos os dias.
Diazepam. Um dos ansiolíticos mais famosos do mundo, capaz de frear o ritmo da massa cinzenta do cérebro. Eu era outra pessoa quando o tomava, uma pessoa mil vezes melhor. Meu corpo flutuava depois da dose, minha voz saía com leveza e rir nunca parecia ser um sacrifício. O Ethan depois desse medicamento era magnífico.
Tomei um comprimido e me encostei na cadeira, fechando os olhos. Precisava só de alguns minutos para então começar a ficar bem.
Fazia cerca de um mês desde que havia começado a tomar. A primeira vez que encontrei a caixa foi nas coisas da minha mãe, em seu banheiro, uma manhã em que fui almoçar na casa dos meus pais. A bula dizia várias merdas, mas só havia entendido que acalmava os ânimos, então peguei para mim sem que ela soubesse.
Hoje a vida era melhor.
De receita falsificada para outra, eu ia levando meus dias assim. Uma hora, talvez depois que Emerald nascesse, eu deixasse de lado, pois teria ela comigo. As coisas funcionariam de outra forma.
― Ethan!
Acordei em um pulo quando ouvi me chamarem.
Quanto tempo havia passado? Cinco minutos?
Franzi o cenho ao ver meu pai. Ele parecia preocupado, me olhando como se estivesse no meu pior estado. Talvez eu realmente estivesse.
― Há quanto tempo está aí? ― Perguntei, ajeitando minha postura.
― Cheguei agora. Faz meia hora que a reunião acabou.
Meia hora? Mas como? Eu havia acabado de sair, tinha apenas cinco minutos que eu tinha tomado o remédio e fechado os olhos para esperar o efeito.
Meu pai pigarreou, chamando minha atenção outra vez. Ele colocou as mãos nos bolsos da calça.
― Vim te parabenizar pela forma como se portou na reunião. Os meus colegas não pararam te elogiar.
― Obrigado.
― E também vim te convidar para jantar. Sua mãe está aflita, filho. ― Suspirei. Eu sentia meus músculos tão relaxados que nem tinha forças para rebater. ― Ela sente sua falta. Por favor, venha jantar conosco. Traga Emily.
― Não, não meta Emily nisso.
― Tudo bem. ― Ele ergueu os braços em redenção. ― Mas venha você. Está quase no fim do expediente, ela deve ter preparado algo legal.
― Ok.
― Ok? Mesmo?
Eu assenti. Na verdade, nem sabia direito o que responder, apenas fiz para que ele saísse dali mais rápido.
Um jantar com meus pais. É, eu poderia encarar.
...
Eu fui o caminho inteiro cantando em meu carro. Deus, a vida era maravilhosa. Queria rir porque tudo era engraçado, queria cantar, queria gritar. Não, eu queria correr para casa e ver minha mulher para mimá-la.
Eu estava insanamente feliz.
Mas por mais que eu quisesse ir para casa, prometi a meu pai que estaria na porra do jantar. Por isso estava aqui, de frente a mansão de milhões dos Johnsons, pensando em como eu havia sequer conseguido chegar ali.
― Senhor Ethan. ― O mordomo disse assim que entrei.
― Geoffrey. Como vai? ― Entreguei o paletó para ele.
― Muito bem. Sua mãe está saltitante pela sua vinda.
Eu sorri abertamente para ele e dei dois tapinhas em seu ombro. Geoffrey me lançou um olhar desconfiado. Ele provavelmente sabia que eu não estava sendo eu, mas foda-se.
Fui caminhando pela sala até chegar à sala de jantar. Minha mãe estava lá, mais loira do que nunca, dando ordens aos empregados enquanto eles organizavam a mesa.
― Mamãe, cheguei. ― Falei, abrindo os braços. Ela se virou, emocionada, e sorriu.
― Meu amor!
Minha mãe me abraçou com força, enchendo meu rosto de beijos. Eu, pela primeira vez em meses na presença dela – ou do meu pai –, consegui sorrir.
― Meu Deus, você está ótimo. Olhe só. Corado, saudável ― Ela apertou minhas bochechas. ― O que vem tomado? Está malhando?
― Só muitas doses de alegria.
― Ah, claro que sim. Um bebê traz isso. Estou tão feliz por você, meu amor. Já está com fome?
― Faminto.
― Você chegou! ― Meu pai exclamou, entrando na sala de janta. Eu apertei a mão dele.
― Feliz em me ver?
― Muito. A casa é diferente sem você e Eloise, sabe disso.
― Além do mais, sentimos sua falta, filho. Não faz mal nos visitar de vez em quando. ― Minha mãe disse.
― Sim, sim, pode deixar. Então, vamos comer? Estou morrendo de fome.
― Sim! Vamos!
Como sempre, a cozinheira acertava na mão. Não sei se foi pelo medicamento, mas comi tudo o que tinha direito, o que agradou minha mãe profundamente.
Depois da comida, um bom vinho foi a melhor coisa. Aquilo pareceu intensificar mais ainda o relaxamento que sentia.
― Você parece bem, filho. ― Meu pai disse, depois de brindar. ― Está tudo do seu agrado?
― Tudo muito bom. Foi ótimo encontrar vocês.
― Venha mais, Ethan. ― Minha mãe falou. ― Olhe, eu sei que você e Emily decidiram ter mais privacidade, mas nós queremos ter contato com a nossa neta. Eu prometo que não vamos ser indelicados.
― Não sei, mãe. Essa escolha cabe mais a Emily do que a mim. Ela é quem está grávida afinal.
― Bobagem. ― Meu pai disse, terminando de encher minha taça novamente. ― Você é o homem da relação, Ethan, as escolhas são suas. O que você disser é o certo.
Eu engoli minha vontade de responde-lo a seco.
Nós fomos para a sala, tomar mais vinho. Meus pais pareciam tão relaxados quanto eu. Sorriam, conversavam sobre bons assuntos e, o mais importante, não se metiam na minha vida. Depois do comentário desnecessário de meu pai, passei a aproveitar da companhia deles.
― Mas me diga, filho ― Meu pai, sentado ao meu lado, pôs a mão em meu ombro. ― O que achou dos empresários de hoje?
― Empresários? ― Carolyn perguntou.
― É, querida. Tivemos uma reunião com os empresários donos de um novo clube aqui da cidade. Eles querem nosso patrocínio. Ethan deu um show.
― Não é para tanto, pai.
― Claro que é. Ouvi elogios depois que ele saiu. O que achou deles?
― Bem, eles sabem bem como convencer alguém que não tem a mínima noção das coisas. ― Falei. Meu pai riu. ― É preciso saber desenvolver bem para não cair na lábia dessas pessoas. Palavras bonitas, só isso eles usaram.
― Exatamente. Frases bem elaboradas mas, cá entre nós, bastante clichês.
― Muito. ― Eu ri e dei um gole no vinho. ― Me pergunto quantos pobres coitados eles não já enganaram.
― Mas vocês fecharam o negócio ou não? ― Minha mãe questionou, curiosa.
― Claro que fechamos, Carolyn. Que tipo de empresa acha que somos?
― Mas com algumas condições, claro. O maior lucro vem para nós, o que é nosso por direito, e eles não podem reclamar.
― E assim Ethan prova que é o perfeito sucessor. ― Meu pai sorriu. ― Deus, eu estou tão orgulhoso de você. Está se mostrando ser um bom empresário, é um bom filho e não tenho dúvidas de que será um ótimo pai para Emerald.
Eu sorri.
Por mais que eu pensasse que a opinião do meu pai não era mais tão necessária para mim, estaria mentindo se dissesse que aquelas palavras não haviam provocado nada. Ele estava orgulhoso de mim, do que eu havia me tornado. Esperava muito que ele se sentisse orgulhoso do pai que seria para minha filha.
― Nós estamos muito orgulhosos de você. ― Minha mãe disse, sentada no outro sofá, atraindo minha atenção.
― Obrigado. Isso significa muito para mim.
― Você merece o melhor, filho. Queríamos marcar esse jantar para dizer que ainda somos sua família, que ainda te apoiamos e te amamos independentemente de qualquer coisa. E é por esse motivo que venho reiterar o pedido de sua mãe, de que nos deixe participar da vida da nossa neta, nem que seja pouco. Estamos ansiosos, alegres, e acho que isso falou mais alto do que a nossa noção. ― Meu pai disse. Eu assenti.
― Sei também que fui mal-educada com Emily, que a desrespeitei várias vezes, mas estou disposta a começar do zero. Talvez a chegada de Emerald seja a oportunidade perfeita para isso.
― Eu realmente conto com isso. ― Falei. Carolyn sorriu.
― Além de que nossa neta, sua filha, merece a melhor vida que puder. ― Meu pai me olhou seriamente. ― Não me entenda mal, Ethan. Eu realmente gosto de você e Emily juntos, acho vocês um casal adorável, mas você acha mesmo que Emerald terá a melhor das condições vivendo em um apartamento pequeno? Não acha que ela merece a mesma vida que você teve, com tudo que tinha direito?
Suspirei. Eu pensava sobre aquilo todos os dias, desde o momento em que acordava até me deitar. Queria que Emerald tivesse a vida que eu tive, nunca a mesma criação, mas a mesma oportunidade.
― Acho. Sempre achei. ― Falei em um fio de voz. Era doloroso admitir.
― Pois então. Olhe, filho, você pode proporcionar isso a sua família. ― Franzi a testa. ― Sua herança, sua parte por direito daquela empresa será disponibilizada para você.
― E o que é?
― Você ganha a vaga como diretor de operações da empresa, que seria sua assim que ganhasse sua parte da herança, com direito a um salário inicial de vinte mil dólares, plano de saúde para suas meninas, que eu sei que Emily não tem, e uma casa, no melhor bairro da cidade. Não é perto da nossa casa, então pode ficar descansado quanto a isso.
Soltei a respiração que percebi estar prendendo. Puta merda.
― Isso é... ― Franzi a testa. ― Tem alguma condição? ― Perguntei, já conhecendo meu pai.
― Deixe-nos participar da vida de Emerald. Deixe que nós, seus pais, avós dela, sejamos um dos responsáveis pela boa vida que ela merece ter, Ethan.
― Não é muito. Queremos apenas exercer nosso dever. ― Minha mãe disse, sentando ao meu lado e segurando minha mão. ― Sem sermos invasivos, claro. É só que Emerald é uma Johnson, e você sabe a vida que uma Johnson merece.
― Sem contar que você também poderá dar uma boa vida a ela, veja seu salário. Eu e sua mãe seremos apenas um aditivo.
― E também queremos ajudar a família de Emily. ― Olhei rápido para minha mãe. ― Sabemos que a mãe dela se mata de trabalhar e não ganha muito.
― Elas nunca vão aceitar. ― Falei.
― Elas não precisam saber. ― Meu pai disse.
― Mas Emily precisa. Como vou dizer a ela que de repente ficamos ricos e vamos para uma casa melhor?
― Diga que é tudo por Emerald. Que mãe negaria o bem-estar de um filho? Aliás, creio que já está na hora de você se casar com Emily, de ela ter nosso sobrenome, assim as coisas ficarão mais fáceis.
Olhei para a lareira a minha frente, pensativo.
― Você não precisa decidir nada agora, querido. ― Minha mãe falou. ― Dê tempo ao tempo. Mas se quer um conselho, creio que já é bom que você, digamos, vá preparando o terreno com Emily. Ela é geniosa, mas como Ralph disse, não irá negar o que é melhor para filha.
― Acho que têm razão. ― Suspirei. ― Mas por que estão fazendo isso? A troco de que?
― Como assim? Queremos a nossa família de volta, queremos você aqui perto de nós e, obviamente, a nossa neta. Tudo isso é por Emerald. ― Meu pai falou. ― Emerald é uma Johnson legítima e nós faremos questão de ela saber disso, ouviu?
Ele sorriu, de uma maneira reconfortante, e eu assenti. Minha mãe me abraçou e ficamos os três, ali, como se o tempo nunca tivesse passado – e as coisas fossem totalmente diferentes agora.
...
Cheguei em casa tarde cansado, tenso, e a primeira coisa que fiz foi ir até a cozinha, pegar o envelope de remédio do bolso e tomar. A bebida que ajudou a fazer o comprimido descer por minha garganta foi tequila, rasgando como uma faca em minha pele. Eu sabia que aquilo era um erro, mas precisava de uma coisa forte e que me acalmasse ao mesmo tempo.
Dois minutos depois de ter tomado o remédio, eu saí cambaleando até a sala. Três copos cheios pela metade de tequila que virei como se fosse água mais um remédio que me deixava passeando nas nuvens, não era de esperar menos que eu estivesse daquele jeito.
Caí deitado no sofá, sentindo meu coração acelerado e as mãos formigando. Precisava só fechar os olhos por alguns minutos.
Só...
― Ethan!
Só cinco minutos.
― Ethan, acorde!
Não, mãe, ainda não.
― Ethan, caralho! Acorde! Vamos para a cama!
Me levantei num pulo, puxando o ar como se tivesse me afogado. Minha visão estava turva, eu estava suado e demorou um pouco até que eu visse Emily na minha frente. Ela usava uma camisola de seda branca, extremamente justo na sua barriga de sete meses, quase oito.
Emerald já era uma bebê pesada, que gostava de mexer e abrir as mãozinhas. Emily estava mais linda do que nunca.
Apesar de agora parecer chocada.
― O que aconteceu? ― Perguntei, me sentando melhor, apoiando os pés no chão.
― Você estava aí desacordado. Há quanto tempo chegou?
― Não sei, dois minutos?
― Impossível. Aposto que faz uma meia-hora. ― Ela se sentou ao meu lado. ― Como foi o jantar?
Suspirei. Havia mandado uma mensagem para ela contando sobre o convite. Por sorte ela não se chateou.
― Ah, normal. Você sabe como é.
― Eles foram indelicados? Intrometidos? ― Eu ri, negando com a cabeça. Eu estava caindo de sono.
― Não, não foram. Pelo contrário, se quer saber.
Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa.
― Sério? Uau, isso sim é uma grande revelação.
― Eles estão tentando, Emily. Acho que a forma brusca como cortamos laços foi boa o suficiente para que eles caíssem na real.
― Bem, se você diz...
― Me diga como você está. Como foi o seu dia?
― Ah, normal. ― Ela sorriu. ― Emmie fez questão de se mexer hoje, ela queria dizer que está aqui. ― Eu ri. ― Camila e eu fomos ao shopping, compramos algumas roupas para Emerald, almoçamos e viemos para cá. Faz pouco tempo que ela foi embora.
― Que bom. Camila está sendo uma companhia e tanto, não é?
― Eu estou tão feliz que ela está aqui, Ethan. É uma pena que ela vai voltar na semana que vem para Nova York, mas ela garantiu que estará aqui quando Emerald nascer.
― Você sabe que quero Alex como padrinho, não é?
Emily bufou e encostou as costas no encosto do sofá.
― Eu não concordo com essa ideia.
― Em, ele é o meu melhor amigo. Sua melhor amiga não será a madrinha da nossa filha? Pois então.
― Tudo bem, tudo bem. Mas não falei nada para Camila ainda. Ela ainda está muito machucada com tudo que aconteceu, e eu ainda odeio ele.
― Fale quando achar melhor. Ele também virá nos visitar em breve.
Ela revirou os olhos e cruzou os braços.
― Temos consulta na segunda-feira.
― Consulta? Mas já?
― Sim. Venho sentindo umas dores na lombar e cólicas.
― Por que isso?
― Contrações de treinamento. A médica falou que poderia acontecer, mas estou achando elas fortes demais em alguns momentos.
― Teve sangramento?
― Não. Minha mãe deu uma olhada também, mas disse que somente a médica poderia realmente explicar, então marquei logo.
― Tenho certeza de que não é nada demais.
― É, eu também. ― Ela suspirou. ― Eu sinto que estamos acabando com nosso dinheiro esse mês com as consultas e compras.
Eu travei o maxilar.
― Vinte mil dólares e planos de saúde resolveriam os nosso problemas, não é? ― Falei, descontraído. Ela riu.
― Ah, e como. Isso seria realmente o paraíso. ― Ela ria tanto que chegou a pôr a mão na barriga, segurando-a.
Eu a encarei, sem dar risada. Aos poucos ela foi ficando séria.
― Por que falou isso? ― Perguntou. ― Por acaso você... seu pai falou algo sobre?
Eu desviei o olhar, encarando a parede a minha frente.
― Ele disse. O que isso significa?
― Nada demais, esqueça isso. Não é algo que precisa ser discutido agora. ― Eu me levantei e dei um beijo em sua cabeça. ― Pode gastar com o que precisar, Em.
Fui caminhando até a cozinha, precisando urgentemente de uma bebida. Meu corpo estava funcionando no modo automático – e eu ainda não conseguia sentir direito minhas pernas e minha língua.
― Ele te ofereceu isso? ― Ela chegou na cozinha, perguntando.
Eu tinha acabado de dar o primeiro gole, mas já precisava de mais um copo.
― Emily, esquece isso.
― Não tem como, Ethan. Você começou esse assunto, então termina.
Apoiei minha lombar na bancada atrás de mim. Dei um último gole na bebida e pigarreei, pronto para falar. Eu sabia que ela não desistiria até que eu falasse.
― Meu pai me ofereceu o cargo de diretor de operações na empresa. O salário inicial é de vinte mil dólares e entre as regalias você e Emerald têm direito a um plano de saúde.
― Em troca de que?
― O que?
― Isso tudo é em troca de que? Seu pai não ofereceu isso sem querer algo em troca, você sabe bem.
Suspirei. Era sempre difícil conversar com ela, especialmente agora, com seus hormônios da gravidez fazendo companhia.
― Eles querem participar da vida de Emerald.
Ela soltou um suspiro que saiu como uma risada, extremamente desdenhosa.
― Claro que querem. É impressionante.
― O que?
― Como sua família é podre! ― Ela cruzou os braços. ― O que mais te ofereceram, Ethan? Uma casa? Cartão de crédito ilimitado? Férias nas Maldivas?
― Por que está dizendo isso?
― Porque você é manipulado com pouco! Não vê que é isso que seu pai quer?
― Você está louca.
― Louca? Tem certeza? Por favor, me diga o que mais te ofereceram.
― Nada demais! Eles só querem dar a Emmie a boa vida que eu tive. É pedir muito, Emily?! ― Exclamei.
― Eles... o que?! Eu ouvi direito essa porra?!
― Sim, ouviu. Eles querem nos ajudar com o que for preciso.
― Pois diga a eles que negamos a ajuda. ― Ela disse, virou de costas e saiu.
Você é o homem da relação.
As palavras de meu pai ecoavam em minha cabeça. Foi isso que me fez ir atrás dela, furioso.
― Eu digo que vamos aceitar! ― Gritei. Ela parou de caminhar, já na sala, e se virou para mim.
― Pare de ser burro! Eles só querem te ganhar usando a nossa filha! Não vê que a única coisa que seu pai enxerga quando te vê é dinheiro e a sua mãe é uma mimada que quer controlar todos? Acorda, Ethan!
Segurei seu braço com força, impedindo-a de caminhar.
― Não fale assim deles!
― Eu falo como bem entender. Eu sei que não temos a melhor vida, que não somos as pessoas mais ricas do mundo, mas não quero nada que venha dos seus pais! Pare de mamar nas tetas deles, caralho!
Ela me empurrou, espalmando as mãos em meu peito. Eu cambaleei para trás.
― É de lá que você mama também, porra. Quem você acha que paga meu salário?
― Eu já disse para você sair desse maldito emprego! ― Ela gritou.
― E quem vai pagar as coisas? Quem vai encher seu rabo sedentário de comida?
Nós estávamos cara a cara, jogando nossas raivas um no outro, prestes a nos atacarmos como dois animais.
― Eu não preciso disso, seu filho da puta! Eu posso muito bem ir embora daqui.
― E ir depender de outra pessoa?
― É isso que sou para você, Ethan? Um fardo? Alguém que não faz nada, apenas usa do seu dinheiro? ― Ela riu. ― Agora entendo porque queria tanta distância dos seus pais. Não era pelas coisas horríveis que eles fazem, mas pela forma como você age depois de conversar com eles.
― Você não sabe de nada. Não entende nada, Emily.
― Talvez. Talvez eu não entenda mesmo. Mas a única coisa que tenho a absoluta certeza, e é algo que eu entendo de verdade, é que você nunca vai ser verdadeiramente feliz enquanto deixar seu pai de merda te controlar.
Eu a agarrei novamente, com força. Ela não abaixou a cabeça nenhuma vez, pronta para me foder e acabar comigo se fosse preciso.
― Nunca. Mais. Fale. Isso. ― Rosnei cada palavra.
― Ou o que? Vai me tratar do mesmo jeito que seu pai trata sua mãe? Como mero objeto? Eu não creio que isso vá acontecer, porque eu nunca vou me submeter a isso.
― Emerald é uma Johnson.
Ela riu, sem humor, apenas escárnio.
― Sim, mas apenas no sobrenome. Minha filha não terá nada de vocês, isso eu garanto. Sua família é uma desgraça.
― É isso, não é, Emily? O problema sempre será minha família.
― Talvez porque realmente seja.
― Você sempre coloca a culpa nos outros. ― Dei uma risada. Ela franziu a testa. ― A perfeita Emily Broussard, a irresistível e maravilhosa. Você nunca errou.
― Eu errei quando dei outra chance a você.
― Vê? Você é perfeita. ― Me afastei dela alguns centímetros, a soltando. ― Se é tão perfeita assim, Emily, por que não faz as coisas por si só? Por que não para de depender dos outros, levanta sua bunda do sofá e toma um pouco de coragem? Pelo menos para ser uma boa mãe, que é algo que realmente desejo. Já morro de trabalhar, não tenho tanto tempo assim para cuidar de uma criança.
Ela me deu um soco.
Eu cambaleei para trás, sentindo todo meu rosto doer. O remédio voltou a fazer efeito naquela hora.
Com a visão turva, vi Emily com os olhos marejados. Ela estava decepcionada, magoada, carregando uma feição de quem nunca me perdoaria.
Dizem que minutos antes de a maior desgraça da sua vida acontecer uma forte energia passa por seu corpo, como se te alertasse e deixasse seu subconsciente preparado para o baque que está prestes a vir ou então você morre na mesma hora. Eu soube que aquele era o momento. Senti a energia correr como fogo por minhas veias, vi as cenas mais lindas e importantes da minha vida – todas com Emily – passarem por minha visão, como um filme.
Ela não falou nada – e aquilo era algo terrível para alguém como ela, que sempre tinha algo para falar. Apenas se virou e correu pelo corredor, batendo a porta do banheiro com força.
Eu tentei me levantar do sofá, o qual havia caído sentado, mas minhas pernas pareciam não responder aos meus comandos. O ar chegava com dificuldade ao meu pulmão. Minha voz parecia ter desaparecido, e por mais que eu gritasse em minha cabeça pelo nome dela, eu não conseguia. Nada funcionava.
Então ela gritou. Um grito rouco e doloroso.
Eu saí me arrastando pelo chão, sentindo todo meu corpo formigar e tudo girar. De frente a porta do banheiro, onde ela estava, eu me segurei na maçaneta para conseguir me levantar. A maldita porta não abria.
― Emily, abra a porta. ― Comecei a forçar, mas nada. ― Abra a porta!
Ela havia parado de gritar.
Não havia nada.
― Abra! Abra!
Com força – que nem sabia de onde havia tirado –, consegui arrebentá-la.
Tive que me apoiar na parede, sentindo todos os meus instintos voltarem. Meu coração acelerou tão rapidamente, como se tivesse tomado uma injeção de adrenalina, que achei que estivesse enfartando.
A cena chegava a ser utópica de tão horrenda.
Emily estava caída no chão, desmaiada, e a camisola que usava, agora era de uma cor vermelha viva.
Nada a declarar. É isso. O que vocês acham que vem por aí?
Instagram: @sweetwriter8
Vejo vocês em breve! ♥️
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro