Capítulo 11 - Verde
Emily Broussard
Seis meses. Seis cansativos meses e um bebê que começava a pesar em meu ventre. Não era nada de exagerado ou que eu não pudesse aguentar, mas a diferença já era notória. Inclusive, minha barriga já dava para ser vista – e eu já podia ir para a fila prioritária sem receber cara feia.
Eu tinha medo de como ficaria, de que não me animasse muito quando o bebê começasse a crescer, mas a verdade é que estava amando. A barriga redonda me dava alegria e eu fazia questão de usar roupas que dessem para mostrar melhor as minhas novas curvas.
A parte ruim de tudo isso era que ele ou ela não queria abrir as pernas. Ou seja, não sabíamos o sexo.
Eu, novamente enganada, achando que não me importaria com isso, só faltava morrer de ansiedade por não saber se teria um filho ou uma filha. Cada ultrassom, todas as vezes que a médica disse que não dava para ver, eu murchava. Meus hormônios estavam tão à flor da pele que acabava chorando quando chegava em casa.
― Esse bebê precisa abrir as pernas hoje. Eu preciso saber ou então morrerei de ansiedade. ― Falei, andando de um lado para o outro.
Ethan e eu estávamos na clínica, para mais um ultrassom, e eu simplesmente não conseguia ficar quieta.
― Se você continuar andando é capaz de esse bebê escorregar.
Parei, lançando um olhar assassino para ele.
― Calma, foi só uma piada. Estou tentando quebrar o clima.
― Você não está ansioso para saber?
― Claro que estou, Em. Mas me importo mais em saber se ele ou ela está com saúde, o que felizmente tem de sobra. O sexo não importa.
― Eu também quero que venha com saúde, é só que, não sei, eu tive esse sonho e...
― Emily Broussard? ― Nós olhamos ao mesmo tempo para a enfermeira. ― Pode entrar.
Ethan se levantou, segurou minha mão e fomos juntos até a sala.
O processo de meses já era bem conhecido por mim. Conversei com a médica, verifiquei meu coração e pressão, então fui para a sala do ultrassom. Na cama, ansiosa, Ethan segurava minha mão, como sempre fazia. Suspirei quando o gel gélido tocou minha barriga, fazendo o bebê mexer um pouco.
― Alguém está animado. ― A médica riu, referindo-se ao bebê.
― Enquanto a mãe está ansiosa. Não tem como dar um jeitinho de ele ou ela abrir as pernas?
― Bem, vamos tentar. ― Ela espalhou o gel com o aparelho e a imagem começou a surgir na tela. ― Imagino que não tenham comprado o enxoval ainda.
― Não. ― Resmunguei.
― Nós ganhamos alguns presentes, mas Emily fez questão de esperar.
― Se bem que eu não quero nada rosa ou azul, acho ultrapassado, mas também não quero comprar nada sem saber do sexo. Quero algo bem feito.
― Uma mãe cuidadosa. ― A médica disse. ― Ok, vejam o seu bebê.
Ethan e eu suspiramos ao mesmo tempo. Ele – ou ela – parecia maior. Estava maior. Suas pernas, como de costume, continuavam fechadas, e dormia tranquilamente.
― 35 centímetros. 740 gramas. Perfeitamente bem.
― E o sexo? ― Perguntei.
― Emily... ― Ethan tentou me acalmar.
― Vamos tentar ver agora. Deite de lado. ― Eu fiz.
A doutora continuou a mexer, usando o aparelho, e nada. Depois, deitei para o outro lado, fingi tossir, ela deu umas batidinhas, mas nada.
― Ele não abre! ― Rosnei, frustrada. ― Esse bebê quer mesmo me matar de ansiedade.
― Ele pareceu gostar do gel. Vamos ver se vai mexer agora. ― A médica disse.
Foi certeiro.
No momento em que o gel gelado tocou minha barriga, arrepiando toda minha pele, eu senti o bebê mexer. Quando a médica colocou o aparelho novamente em meu ventre, senti que havia dado certo.
― Ok, mamãe e papai, consegui ver. ― Ela sorriu. ― Querem saber?
― Claro! ― Eu e Ethan exclamamos, juntos.
― Não tenho sombra de dúvidas. Vocês terão uma menina.
Eu senti as lágrimas acumularem em meus olhos, vendo a imagem na tela. Uma menina. Uma linda e doce menina. Exatamente como havia sonhado, como havia sentido. Nunca imaginei ter filhos, mas se tivesse um dia, me via como mãe de uma menina. Nós seríamos melhores amigas, confidentes. Eu daria tudo de mim para que ela fosse feliz, para que nunca passasse pelo que passei.
E que eu pudesse ser um terço do que minha mãe havia sido para mim.
Seríamos nós duas para a eternidade.
― Uma menina, Emily. Uma menina, meu amor. ― Ethan beijou minha cabeça várias vezes. Ele exalava felicidade. ― Nossa menina.
― A menina que sempre sonhei. ― Suspirei, vendo a pequena bebê pela tela.
...
Alguns dias depois, o quarto já estava ganhado forma. Ethan e eu estávamos ansiosos e felizes em saber que teríamos uma menina. Uma garotinha brilhante e teimosa para completar nossa família.
A notícia foi compartilhada com alegria. Minha mãe chorou vinte minutos sem parar e distribuindo abraços entre nós. Era uma alegria incomparável. Enquanto com os Johnson, quando dissemos que teria uma menina, Carolyn sorriu abertamente e Ralph também, mas eu o senti vacilar. Era mais do que óbvio que ele queria um menino como neto, mas nada disso importava. Eu tinha a minha garotinha, então eu estava feliz.
Sentada no carpete do quarto dela, eu admirava as coisas sobre um berço de cor branca, já montado, com todos os presentes dentro. Eu ainda tinha uma cadeira de amamentar da mesma cor. Presente dos Johnsons e da minha avó, respectivamente.
Quando estava estressada, triste, preocupada, me sentava ali e pensava em todos os momentos bons que ela traria. A ansiedade que nunca imaginei sentir, já batia forte, e o amor, aquele amor que tanto falavam, não era mito. Eu amava uma garotinha que não conhecia, apenas sentia. Sentíamos uma a outra. Éramos uma só.
Foi então que o sonho de noites atrás veio a minha mente...
― Aqui de novo? ― Ethan perguntou, chamando minha atenção. Ele estava encostado no batente da porta, com um sorriso no rosto, me admirando. ― Já é tarde, venha dormir.
Eu não disse nada, apenas estendi a mão para ele. Ethan rapidamente segurou e sentou-se ao meu lado.
― Sabe que eu sonhei com ela uma noite antes de saber? ― Ethan ergueu as sobrancelhas, surpreso. ― Juro. Não sei se foi pela ansiedade de saber que no dia seguinte a veríamos, mas o sonho era... um completo verde.
― Verde?
― Verde. ― Suspirei, sentindo algo bom ao lembrar do sonho. ― Era um campo vasto de flores verdes, cheirosas, as mais lindas que já havia visto em toda vida. Eu andava livremente, não havia barriga, mas eu sabia que tinha um bebê. E então eu a vi, correndo, livre, feliz, saudável. Era a garotinha mais linda que já havia visto. Ela sorriu brilhantemente quando me viu, se aproximou e me deu um presente.
― O que era?
Encarei Ethan e sorri.
― Uma esmeralda.
― Uma esmeralda? A pedra?
― Sim. Ela me entregou, acenou com a cabeça, então voltou a correr. Eu sabia que aquela era nossa filha e sabia mais ainda qual seria seu nome. ― Respirei fundo. ― Emerald. O verde que cresce nas coisas. A pedra preciosa que nasceu para nós e que sempre carregarei comigo.
Segurei a mão dele.
― Quero que esse seja o nome dela, Ethan. O que acha?
Ele franziu a testa, pensando por alguns segundos. Eu já podia imaginar que ele não havia gostado, então entraríamos em uma discussão – a primeira desde o começo da gravidez. Mas me surpreendi quando ele sorriu de lado.
― Eu amei. Emerald Caroline Johnson Broussard. ― Sorri, emocionada. ― Ela carregar o mesmo segundo nome da mãe forte que tem, não acha?
Eu não consegui dizer nada, apenas pulei em seus braços e o beijei com força. Ethan me apertou contra si, devolvendo os beijos com todo amor.
― Quero o quarto dela verde. Quero o enxoval todo verde. Ah, estou feliz! É um sonho de tornando realidade! ― Exclamei, feliz.
― Tudo o que quiser. Ela terá muito mais. Terá amor de sobra. Nós a amaremos muito.
― Sim, amaremos. ― Sorri quando ele pegou na minha barriga. ― Tenho certeza de que seremos bons pais.
― Bem, ela tem Ethan Johnson e Emily Broussard como pais, quem terá coragem de dizer que seremos ruins?
Gargalhei. Ele era perfeito.
― Tem certeza. Não tem como sermos ruins. Somos o melhor dos times.
― Isso. ― Ele se levantou, me carregando. Eu soltei um gritinho. ― Agora vamos dormir, mamãe. Deixe eu cuidar de você um pouco.
― Ok. Estou nas suas mãos, papai.
Ethan sorriu e me levou para o quarto, enquanto me beijava com força.
...
Resmunguei, me virando na cama, quando a campainha tocou. Eram nove horas da manhã, sabia que não era tão cedo assim, mas hoje era um dia que planejava apenas ficar na cama. Talvez se fingisse não ter ninguém em casa a pessoa iria embora.
Mas não foi isso que aconteceu.
Vendo que quem quer que estivesse tocando não iria desistir, vesti um robe por cima da camisola folgada e fui abrir.
A cara feia que carregava evaporou como água quando vi quem era ali.
― Surpresa! ― Camila exclamou, abrindo os braços.
Eu a abracei com força, sem acreditar mesmo que ela estava ali.
― O que? Como? Quando? ― Perguntei, me afastando o suficiente para encará-la.
― Eu estou de férias, sempre passo esse tempo aqui, esqueceu? E eu queria lhe fazer uma surpresa.
― E conseguiu. Garota, eu poderia parir aqui mesmo de tanta felicidade.
Ela riu e olhou para minha barriga.
― Ah, Em, já está tão grande. ― Sorri quando ela tocou meu ventre. ― De quanto tempo está?
― 25 semanas.
― Você ainda não percebeu que não sou de exatas? Me diga os meses.
Ri, negando com a cabeça.
― Seis. Quase sete. Venha, vamos entrar.
Nos acomodamos no sofá da sala. Era tão bom tê-la ali comigo. Camila era, sem dúvidas, a companhia que mais me fazia falta. Não ouvi-la todos os dias, não sair com ela para lanchar no The Preston e causar problemas na Fayron, era doloroso.
Tudo sobre crescer era doloroso.
― Quando chegou? ― Perguntei.
― Ontem de noite. Passei um tempo com Margie. Ela cresce cada dia mais.
― Verdade. Acho que a última vez que te vi foi no aniversário de um ano dela.
― Foi. Deus, essa faculdade é maravilhosa, mas estou cheia de coisas para fazer.
― Quero saber tudo. Quer tomar ou comer algo? Desculpa pela recepção péssima.
― Não precisa, acabei de tomar café. ― Ela tirou as sandálias e se acomodou melhor no sofá. Eu fiz o mesmo, animada em ter minha melhor amiga comigo. ― Ah, Emily, cada dia que passa tenho mais certeza de que Nova York foi feita para mim. Sério, eu adoro aquela cidade.
― Ainda está morando no mesmo lugar?
― Sim, mas estou sozinha, como já deve saber. ― Assenti. ― Desde que Meghan se bandeou para a fraternidade.
― E tem sido ruim ficar só?
― Não. Eu adoro. ― Ela riu. ― Acho que sou uma loba solitária, gosto de ter o meu espaço. Mas não é como se ela simplesmente tivesse sumido, nós mantemos bastante contato.
― E garotos? Tem saído com alguns?
Ela ruborizou.
― Você tem! ― Exclamei, comemorando. ― Eu sabia! Me conte tudo.
― Tiveram dois, na verdade. Nick, meu amigo, que foi apenas um caso de uma noite ― Ela sorriu. ― E tem esse cara, ele estuda na NYU, faz direito.
― Vocês têm saído?
― Sim, já faz um tempo. Nós estamos nos vendo... e feito bastante sexo. ― Soltei um grito.
― Quem diria? Meu Deus! Isso é música para os meus ouvidos! Como ele é?
― Ele é doce, gentil, amoroso. Nós nos damos muito bem. Aqui, deixa eu mostrar uma foto dele. ― Ela pegou o celular e mostrou. Eram os dois na foto. ― O nome dele é Viktor.
― Nome de idiota. ― Ela arregalou os olhos. ― O que? É verdade. Ele é até bonito, mas tem cara mesmo de idiota. Por acaso é aquele garoto de uma tal fraternidade que Meghan contou uma vez?
― Não seja rude, Emily. E é ele mesmo.
― Pensei que já estivessem namorando.
― Não estamos. Só saímos algumas vezes. Eu nem quero pensar em namoro agora.
Assenti.
Camila havia conhecido o amor e entregado todo seu coração para Alex Lawson, um dos maiores babacas que já havia conhecido. Mas ele a amava, no fim das contas. Era lindo ver como os dois se gostavam, como eram felizes, mas ambos não estava dispostos a arriscar seus sonhos para ficarem juntos – especialmente Camila.
― Quer ver o quarto dela?
― Dela? É uma menina? ― O olhar de Camila brilhava. Eu sorri, assentindo.
― Sim, uma menina. Emerald será o nome dela.
― Emerald. É lindo.
Me levantei e estendi a mão para ela. Fomos juntas até o quarto.
― Não está nada montado, mas já dá para ver algumas coisas. Será verde, para combinar com o nome dela.
― Ficará lindo, Em. ― Camila disse, olhando para as roupinhas dentro do berço.
― Sabe que será a madrinha dela, não é?
Camila me olhou de uma vez, emocionada. Eu continuei de braços cruzados, tentando ficar séria.
― Isso foi um convite?
Dei de ombros.
― Se for, você aceitaria?
― Claro que sim! ― Ela se aproximou e segurou minhas mãos. ― Um dos meus maiores sonhos era que seríamos madrinhas uma do filho da outra.
Eu sorri.
― Então vamos torna-lo real. Camila, você aceita ser madrinha da minha Emerald?
― Não haveria alegria maior.
Nós nos abraçamos, emocionadas.
― Você sabe que terá que cuidar dela quando eu não puder, que será uma segunda mãe. Merda, até de mim você precisará cuidar, sabia?
Ela se afastou, o suficiente para me encarar, e enxugou minhas lágrimas. Malditos hormônios.
― Eu sempre cuidarei de vocês, não importa o que aconteça. Vocês sempre terão a mim, ouviu? ― Assenti.
Abraçada com Camila novamente, só conseguia pensar em como minha garotinha era sortuda por já tem alguém como minha melhor amiga na vida dela. Não via a hora de elas se conhecerem.
Meu coração se enche de um sentimento que nem dá pra descrever quando escreve/leio esses capítulos. O que acham que vem por aí?! ♥️
Instagram: @sweetwriter8
Vejo vocês em breve! ♥️
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