2. A arte de provocar
Gatilhos do capítulo: conflito de relacionamentos.
Por favor, saiba que não foi isso que eu planejei, provavelmente não apostaria um centavo ou toda minha vida nisso, deve haver um motivo para isso — The Boy Is Mine (Ariana Grande).
Hermione Malfoy
Tudo em mim revirava, e eu já não sabia se era o pavor de entrar num avião, o caos que andava minha vida, ou a pura e fulminante cólera ao saber que aquela impostora estava a caminho da nossa cidade para se casar com um dos meus melhores amigos.
Olhei para o loiro à minha frente. Ele estava concentrado num tablet, mexendo a canetinha de um lado para o outro como se o mundo não estivesse desmoronando ao nosso redor. Draco não parecia tão abalado com a notícia, mas também não dava pra dizer que estava exatamente pulando de alegria.
— Se quer me admirar, tira uma foto, mas, por favor, não seca. Preciso do meu corpinho saudável para a nossa lua de mel — murmurou, sem desviar o olhar da tela.
— Você é tão sem noção — retruquei, desviando o olhar para a janela e me lembrando de que estávamos em pleno voo.
Já disse que odeio aviões? Pois é, meu ódio começou quando eu era bem nova. Meu pai tinha essa mania adorável de me levar para cima e para baixo nessa lata voadora, até que, um belo dia, quase caímos. Foi o pior dia da minha vida.
— Quer o remédio? — Draco perguntou, trazendo-me de volta para a realidade.
Sabia do que ele falava, mas apenas balancei a cabeça em negativa. Não era necessário me dopar para encerrar aquela viagem. Até que eu lidava bem com aviões... às vezes. Mas hoje, ah, hoje tudo estava à flor da pele.
Draco não voltou a falar comigo; manteve-se focado no trabalho. Eu também deveria estar, mas, como estava de licença, não havia muito o que fazer. Afinal, já havia adiantado todos os meus relatórios e arquivado tudo no sistema da empresa.
Eu até pensei em começar uma consultoria, mas, por ora, só queria aproveitar um pouco das Bahamas e relaxar enquanto planejava tomar a Gaunt para mim e mudar tudo por lá.
Provavelmente, vocês estão curiosos para saber como tudo começou, certo? Bom, ainda não é o momento de contar, mas prometo que logo revelo. Afinal, esse é o motivo de eu estar casada com o cara que mais odeio.
Ah, isso despertou a curiosidade de vocês? Certo, sobre isso eu posso falar. Como descrever meu ódio por Draco Malfoy em mil e seiscentas páginas? Sim, é esse o nível e eu nem estou brincando. Posso listar um motivo para cada página, mas, ao fim, só vou dizer que esse garoto foi meu carma por exatos vinte e seis anos. E isso é desde que éramos bebês. Esse nojento gofou no meu sapatinho de crochê, e acho que foi ali que tudo começou... mas, se não, foi com certeza no jardim de infância.
Eu tenho plena certeza de que esse cara nasceu só para me atormentar. Tínhamos três anos quando ele deliberadamente decidiu puxar minha Maria Chiquinha só para ter minha atenção, porque, claro, eu havia feito novos amiguinhos e o drama infantil dele não aguentava isso. E desde então, ele sempre deu um jeito de me irritar com brincadeiras infantis. Chiclete na minha camisa favorita? Confere. Geleia na mochila? Com certeza. E nem pense que isso é a pior parte do que ele fez. Tudo isso só alimentou, sem dúvida, o ódio eterno que eu tenho por ele.
Minha reação era xingar e gritar, e ele, óbvio, se divertia à beça com isso. Mas o ápice foi no ensino médio, quando esse idiota me roubou o que seria meu primeiro beijo. Com Viktor Krum, meu crush épico da época. Depois dessa, odiei Draco com ainda mais intensidade. Foi aí que a Ginny resolveu me dizer que ele fazia tudo isso para chamar minha atenção. Segundo ela, o Malfoy tinha sentimentos por mim – como se aquele tormento constante fosse prova de afeição. Mesmo nos momentos em que eu mais precisava, lá estava ele, com sua presença inconveniente.
Mas, mesmo notando isso, nunca me importei. E, ele nunca confirmou nada de verdade. Sempre que eu tentava perguntar, lá vinha ele com sacanagem para o meu lado, e a única coisa que eu queria fazer era socá-lo.
— É sério, Hermione, para — ele finalmente olhou para mim com uma intensidade que eu não sabia bem como decifrar, mas, vindo dele, certamente não era nada casto.
— Desculpa — dei de ombros e voltei os olhos para o livro no meu colo
Não voltei a falar com Draco, e ele logo retornou ao tablet, dessa vez sem perder o foco. Às vezes, eu realmente não entendo por que tudo que eu faço o deixa tão nervoso. Tá, pode ter algo a ver com esse suposto "sentimento" dele. Mas, sinceramente? Não tenho a menor curiosidade de descobrir.
Quando chegamos ao aeroporto das Bahamas, eu estava exausta e mal podia esperar por um banho e uma cama macia. Minha mãe, num surto de generosidade (ou crueldade), resolveu ceder a casa de praia dela para nós passarmos a lua de mel. Não que eu estivesse ansiosa por isso – até porque, transar com ele estava bem longe dos meus planos. Mas, ao menos, era um lugar conhecido e, graças a Deus, sem o clichê de "só tem uma cama".
O caminho do aeroporto até a casa foi rápido. Os seguranças de Draco levaram nossas malas, e eu fui direto para o quarto de casal, sabendo que tinham deixado tudo exatamente no mesmo lugar.
Todo mundo acha que nos casamos por amor – até o bastardo do meu pai acha que temos sentimentos um pelo outro. Porque, quando ele sugeriu que eu casasse com Draco, eu não resisti, nem discordei. Apenas fiz minha melhor cara de "feliz" e corri para contar ao loiro. Mal sabia ele que, na primeira oportunidade, eu enforcaria o Malfoy com as próprias gravatas de seda dele.
Depois de um bom banho, coloquei um vestidinho folgado e fui até a sala, irritada com o fato de que minhas lingeries haviam sido todas trocadas. Culpa daquelas najas que eu chamo de amiga. Achei que elas estavam brincando quando falaram sobre isso, mas só ignorei, porque, bem... vocês sabem, eu...
Avistei o loiro cochilando no sofá, com aquela roupa super desconfortável. Por um segundo, tive vontade de acordá-lo para que fosse se trocar, mas, sinceramente, deixá-lo ali com uma possível dor no pescoço me pareceu muito mais satisfatório. E daí que ele acordaria irritado? Ninguém se importa.
Fui para a cozinha e olhei os armários, abastecidos para pelo menos um mês – o caseiro fez um bom trabalho. Tirei alguns ingredientes básicos para fazer um jantar leve e digno. Eu até poderia deixá-lo desconfortável no sofá, mas jamais o mataria de fome. Jesus não me perdoaria.
Ouvi um toque vindo da sala e logo percebi que era o celular de Draco, já que a voz dele ecoou em algum lugar do cômodo. Eu não podia vê-lo de onde estava, embora a cozinha tivesse uma visão livre da sala de estar, mas os cômodos eram separados por um arco. Então, só ouvi seus passos enquanto ele se distanciava. Apenas dei de ombros.
Logo em seguida, foi o meu celular que tocou. Semicerrei os olhos e atendi a chamada em grupo, sorrindo para minhas amigas diabólicas.
— Curtindo a lua de mel? — Ginna perguntou com um sorriso malicioso. Juro que teria arremessado uma panela quente nela se não estivéssemos tão longe.
— Não acredito que trocou mesmo minhas lingeries. Ginna, você colocou um baby doll transparente na minha mala. Como acha que vou usar aquilo em casa? — retruquei, irritada, ouvindo-as rirem do outro lado. Claro, rir da desgraça alheia sempre é mais divertido.
— Mione, você está com o cara mais cobiçado de Nova York. Todas as americanas querem o Draco — disse Ginna, provocadora.
— Ah, então já sei qual é o problema. Eu sou britânica — cruzei os braços, mas logo descruzei para colocar o macarrão na panela. — Além do mais, não está nos meus planos transar com ele.
— Deveria, amiga! Isso pode te ajudar a relaxar — comentou Pansy, empolgada. — Vai que você gosta da pegada?
— Mais fácil burro voar — revirei os olhos e mirei a câmera da Luna, que estava pausada. — Cadê a loira?
— Falando com seu marido, onde mais? — Ginna deu de ombros. — E já que estamos nesse assunto, vocês dois ficaram lindos na capa da Vogue. Todo mundo elogiou seu vestido.
Revirei os olhos, sem vontade nenhuma de comentar. Eu não queria estar na capa de absolutamente nada. Odiava a mídia e, pior ainda, aqueles paparazzi inconvenientes que sempre encontravam uma forma de invadir a privacidade alheia.
— Ah, e cuidado! Blas disse que tem repórteres e paparazzi atrás de vocês, então, qualquer coisa que fizerem, que seja longe de olhares curiosos — avisou Pansy, com um sorrisinho que só podia ser alguma piada interna.
— Eu não vou transar com o Malfoy na varanda, nem em lugar nenhum desta casa, Pansy.
— Já disse que a farei implorar por mim — a voz de Draco soou atrás de mim, me fazendo pular e me virar. Ele sorria, e agora usava uma camisa com três botões abertos. Tentei evitar, mas foi impossível não notar. Ele definitivamente malha – já tinha sentido isso, mas ver só confirmava toda a imagem. — Minha cara fica um pouco mais para cima, Malfoy.
Eu sabia que ele estava me imitando e, por isso, o ignorei, voltando ao que estava fazendo. As meninas riam divertidas de alguma coisa que a Luna havia dito, mas eu mal conseguia prestar atenção. Via a boca delas se mexer, mas estava alheia, com o foco na movimentação atrás de mim.
— Vamos deixar os pombinhos namorarem — Luna disse animada, mandando um beijo. — Ah, Mione, a Pansy colocou aquele negócio na sua mala.
— Que negócio? — perguntei, franzindo o cenho.
— O lubrificante de morango que você adora.
Minha boca se abriu em incredulidade, e eu não consegui nem xingá-la, pois a chamada foi encerrada no segundo seguinte.
Eu sabia que ele me encarava com aquele sorriso cafajeste, mas, dessa vez, não tive coragem de olhá-lo. Pra quê inimigos, quando se tem Ginna, Pansy e Luna como amigas?
— Nem ouse dizer uma palavra sobre isso — disse irritada, ainda sem olhá-lo.
— Eu não pretendia mesmo — ele riu e deixou a cozinha.
Fechei os olhos, frustrada, e voltei a fazer o jantar, tentando não pensar nas minhas roupas trocadas e que eu definitivamente não as usaria com alguém como o Malfoy.
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