QUANDO MAYSILEE passou pelas portas da casa na vila, percebeu que o pai já não estava mais perambulando pela cozinha, ou nenhum outro cômodo do lugar. Provavelmente o mais velho havia recebido alguma mensagem de Effie e foi para a prefeitura mais cedo, receber a mulher da capital, seu pai e a mulher conviviam constantemente juntos e mesmo que de vez em quando eles parecessem se odiar, não conseguiam ficar longe um do outro por muito tempo, era até engraçado os observar.

Mesmo que não fosse escolhida como tributo, suas coisas estavam arrumadas, assim como todo ano, ela acompanharia a equipe e o mentor do distrito doze até a capital para mais um jogos vorazes. Onde observaria os ricos apostarem em crianças que matariam umas as outras até restar uma única viva entre eles.  Como filha de um mentor, seu nome sempre era citado em um ou outro programa, seu pai odiava a atenção que ela recebia dos abutres da capital.

O vestido laranja claro estava em cima de sua cama, a garota o colocou logo em seguida e tentou reproduzir um dos muitos penteados tortos que seu pai havia aprendido a fazer em seus cabelos, mas a sua tentativa ficou ainda pior que as tentativas do Abernathy mais velho, então ela só resolveu prender a trança mal feita em um coque, deixando o rosto livre. Maysilee calçou os sapatos e saiu da casa, rumo à praça da cidade. Muitas outras crianças e adolescentes saiam da rua do comércio, assim como vinham da costura, todos vestidos em suas melhores roupas. Semblantes de pesar e passos vagarosos, como se quisessem fazer os segundos se arrastarem pelo maior tempo que conseguissem. Os pais apertavam as mãos e olhavam para a crianças como se fosse a última vez que as veriam e, para duas daquelas famílias, seria realmente a última vez, a não ser que um deles vencesse, o que era realmente uma probalidade tão baixa que doía só em pensar. O distrito doze só havia tido dois ganhadores desde o início dos jogos, e só um deles estava vivo, seu pai.

Quando chegou a praça, ela se colocou na fila para a triagem, como sempre. O pacificador espetou seu dedo e o colocou no papel com seu nome. Ela viu Katniss mais atrás dela, seus olhos procuravam alguém, provavelmente Prim, seria a primeira colheita da mais nova. Gale a encara do outro lado do lugar, um semblante de preocupação no rosto. Maysilee abre um sorriso que era para ser encorajador, mas sai mais como uma careta de pesar, ela estava apreensiva por ele e por Katniss. Maysilee sabe que não conseguiria os ver nos jogos se um deles fosse sorteado como tributo, seria doloroso demais.

Seu pai não estava a vista, ela imaginou que ele deveria estar ao lado de Effie dentro da prefeitura, esperando o prefeito chamar os vitoriosos do distrito. Depois de alguns minutos de tensão, a cerimônia teve início. A irritante música do vídeo de abertura ressoa por toda a praça, mas uma coisa incomum o acompanha dessa vez. O burburinho de vozes cada vez mais alto se junta ao coro do hino de Panem, todas se perguntando uma única coisa "onde estava Effie Trinket?"

A mulher designada a apresentar a colheita do distrito 12 não estava no palco. O prefeito olha de forma perdida para dentro da prefeitura, assim como alguns dos pacificadores, todos em busca de Effie. Maysilee encontra o olhar de Katniss sobre si, aquele atraso as deixando muito mais nervosas do que o habitual para o dia da colheita, havia acontecido alguma coisa com a mulher, ou com seu pai?

O vídeo para e Effie sai da prefeitura, seu salto parece se prender no chão e ela cambaleia e se apoia na bola de vidro, onde os nomes femininos estavam, a urna treme e amaça tombar para o lado, todos ofegam ao mesmo tempo. Effie levanta o olhar ruborizada ou aparentava estar, Maysilee não conseguia distinguir com toda a maquiagem que ela usava, sua peruca cor de rosa estava torta e a Abernathy podia escutar os risos que deveriam estar ecoando por toda a capital naquele momento. 

—— Me desculpem! — ela diz.

Seu pai sai da sede da prefeitura, um sorrisinho torto nos lábios e Maysilee se pergunta se iria realmente querer saber o que havia acontecido dentro daquele prédio.

—— Agora vamos sortear o nome do tributo feminino. — Effie caminha até a urna.

E a tensão que havia se dissipado minimamente com o showzinho, volta a preencher todo o ar. Por favor que não seja Prim e Katniss, Maysilee sussurrava, apertando as mãos contra o vestido que usava. Effie pega um dos muitos papéis, cada segundo parecendo uma eternidade, cada movimento da mulher era como uma lenta tortura. Os olhos de Effie se arregalam enquanto ela lê o papel e os joelhos de Haymitch fraquejam, só um nome faria a mulher agir daquele modo.

—— E o tributo feminino do distrito doze é Maysilee Abernathy.

Todos os olhos se viram para a garota, que ainda segurava a barra do vestido com força, seu estômago se retorce, ela consegue escutar a voz de Katniss, mas parece tão distante, seu pai se levanta e ela não tem coragem de o olhar nos olhos. Gale abre caminho entre os garotos e tenta segurar sua mão quando ela passa em direção ao palco. O que aconteceria com seu pai depois de ter que assistir a sua morte? Katniss, Prim, Gale... eles iriam superar com o tempo, talvez seu pai pudesse fazer isso também, certo? Quando se dá conta, ela já está em cima do palco e todos os olhares ainda estão sobre si. Effie parece realmente abalada e Maysilee estranha aquele fato.

Maysilee busca o olhar do pai, que está parado, ainda em choque. Ela quer dizer que sente muito, que queria que ele não sofresse com tudo aquilo, mas sua garganta arranha. Ela só queria voltar para casa e comer o máximo de biscoitos queimados feitos pelo pai que ela conseguisse aguentar.

Effie balança os ombros e caminha até a urna com os nomes masculinos. Maysilee arrisca o olhar para Gale, que está com os olhos fixos nela. O garoto de cabelos escuros desvia os olhos para Katniss, que estava agarrada a uma Prim chorosa, Gale então suspira aliviado e Maysilee sente outra pancada em seu estômago. Em um único momento o seu mundo desmorona por completo e ela se sente de volta a cinco anos atrás, quando estava presa dentro de um rio lamacento, prestes a morrer afogada, mas daquela vez, ela não teria ajuda, daquela vez, ela realmente se afogaria.

—— O tributo masculino do distrito doze é Peeta Mellark. — a voz de Effie volta a soar no microfone.

O garoto loiro olha para o palco, assustado, Maysilee o olha e é invadida por lembranças e aquela droga de dia não poderia ficar pior.

᳝ ʿ🍂ꜝꜞ ᳝ Peço perdão desde já por qualquer erro ortográfico, eu tento ao máximo revisar, mas sempre escapa um ou outro, caso achem, me avisem para que eu possa arrumar. Não se esqueçam de deixarem suas opiniões sobre o capítulo. Eu amo ler os comentários. Beijos da Thay ♡