White Desert!
A última coisa que desejava, ao menos naquele momento truculento, fosse receber uma intimação — a palavra adequada para tal — de David. Outra Chave havia sido localizada, nos confins de um local de difícil acesso de carro em meio a montanhas rochosas. Significava que além de nos embrenhar no frio inóspito que deve fazer nessa época do ano, teríamos que atuar novamente. Depois de algum tempo, certas obrigações tornam-se insustentáveis. Se eu tive a brilhante ideia de aceitar e, acima de qualquer senso de responsabilidade para com os Hunters, estava minha promessa com Vergil. Considerando o trabalho feito até agora, conclui que como as últimas Chaves, estaríamos livres... Ou quase, a segunda Chave ainda continuava em posse de Dante. Entretanto, a vantagem era nossa, apesar de poucos detalhes inacabados, e já bastava. Antes de partir, visitei Ezio para me despedir apropriadamente, acreditava que devia isso a ele com tudo que passamos no breve tempo que estivemos juntos. A próxima jornada exigia muito mais empenho, pois segundo David, a probabilidade de algo, eventualmente, se complicar seriam muito maiores comparadas às outras vezes. E as instruções iniciais seguiam de estudar o terreno — lugares assim poderiam ter inúmeras passagens e todo tipo de coisa anormal — à uma varredura completa para encontrar a Chave. Basicamente, chegaríamos lá e começaríamos as investigações. O adeus de Nana e Augustos foi bem melancólico, mas tentei o melhor possível para demonstrar um pouco de complacência e animação para acalentar a tristezas encravada em seus corações.
O percurso restante antes de chegarmos no aeroporto foi de silêncio fúnebre, parecia que qualquer mera tentativa de romper essa tensão não funcionaria. Ocupar minha mente com um assunto supérfluo me impedia de pensar demais e, consequentemente, questionar demais. Então o plano seria conversar com Vergil, porém a atmosfera ao redor dele me travava. Nem sabia como chamar sua atenção sem ser inconveniente, embora sempre que estou perto dele me sinta assim. Com um suspiro derrotado, me forcei a procurar um entretenimento sem incomodar o mestiço. As experiências tem me aproximado de Vergil e, para mim, cresceu uma inexplicável necessidade de envolver no mundo dele. Na verdade, tudo sobre ele — ou o mínimo que dava para descobrir — me interessava. Após um longo período de convivência, evoluiria a empatia, só que aparentemente eu era a única que realmente sentia.
Suspirei desanimada, dando um último adeus ao clima ameno e preparando-me psicologicamente para enfrentar o intenso frio. Ajeitei o grosso casaco e enrolei o macio cachecol ao redor do meu pescoço, ciente de que notaria a mudança na temperatura ao cruzar o portão de desembarque. Uma parte minha sentia a ansiedade crescente de ver a neve e me entreter o máximo que o tempo livre proporcionaria no local. A outra se preocupava com o que passaríamos em um território isolado. Na verdade, a primeira coisa que veio a mente, algo que foi um balde de água fria em meus planos, tinha sido os anúncios de fortes tempestades e que isso significaria uma queda de energia. E também por causa de Until Dawn.
Não que acreditasse na existência de Wendigos nas montanhas, embora as lendas em geral tivessem origens nesses locais, mas se analisasse o quanto de sobrenatural presenciei sendo meu parceiro de missão um meio-demônio, então podia tomar como uma precaução. Afundei o rosto no calor do cachecol, entorpecida. De certa maneira, me acostumei com as constantes idas e vindas de avião e o medo não era mais um problema — ainda que ele tivesse me acompanhando sempre. Ainda assim, foi bem tranquilo, o que era um alivio.
O motorista particular nos aguardava do lado de fora. Gostaria de saber o quão rica e influente é a organização de David, por que os gastos de tudo devem ser gigantes.
Os pensamentos e a euforia diminuíram gradativamente então entreguei-me ao mundo dos sonhos.
Estava no limiar do sono e da consciência. Minha cabeça doía pelo modo desconfortável e desleixado que pendeu contra a frieza do vidro. Cada tremor causado pelo deslizar desajeitado na estrada lisa e branca fazia com que, aos poucos, fosse trazida de volta. Ainda conseguia captar o que ocorria, embora estivesse mais interessada em dormir. O calor suave e acolhedor proporcionara uma sensação de segurança e embalaram-me serenamente para o mundo dos sonhos. Antes que pudesse cortar aquela linha de pensamentos, eles se desenrolaram irreparáveis. Era assim, apenas quando dormia, e a minha guarda baixava tudo que bloqueava durante o dia vinha com tudo para me atormentar. Cruzando minha mente como um filme, pensei na insanidade que minha vida se tornara e as coisas que vivi. E, mesmo sabendo o quão reais eram, não deixava de ser inacreditável. Não é todo dia que descobre segredos sobre si e que está encarregada de uma missão importante.
Um novo chacoalhar me empurrou para consciência, estilhaçando meu monólogo mental. Queria aproveitar o pouco tempo para descansar mais, nem que fosse por alguns — preciosos — minutos, pois a outra parte do trajeto teria que ser feito à pé. De olhos fechados, me remexi procurando uma posição mais agradável, principalmente devido a dor em meu pescoço. O silêncio aconchegante parecia surtir um efeito maior para relaxar, os únicos sons audíveis eram do esmagar dos pneus no chão e as respirações tranquilas. Um novo balançar fora suficiente para me despertar de vez. Contragosto, abri os olhos e observei o mundo coberto de branco pela janela embaçada. Havia um verdadeiro mar de neve, mal dava para ver o que supus serem arbustos e as árvores de aparência morta, igualmente manchadas. Enjoaria muito rapidamente da ausência de cores. Inúmeras filas de pinheiros circundavam toda a extensão do local, indo mais além do que meus olhos poderiam vislumbrar. Imaginei o quão difícil seria para nós prosseguir em um terreno assim, e para complicar minha experiência nula.
Com o rosto parcialmente escondido no cachecol, discretamente, virei-me na direção de Vergil. Ele absorvido em seus pensamentos, olhava desinteressadamente para a paisagem. Por ter passado boa parte do trajeto cochilando, não sabia dizer ao certo quanto tempo de viagem até o momento. E não quis incomodar Vergil questionando sobre o assunto. Se deduzisse, poderiam ter durado duas horas. Verifiquei o celular, constando o evidente: não tinha sinal. Entretanto duas mensagens enviadas por David foram recebidas há exatas duas horas, li o conteúdo referente a missão. O motorista sinalizou para que nos aprontássemos, visto que já estávamos quase no destino final.
Respirei fundo incontáveis vezes, preparando-me para o choque de temperatura entre o calor de dentro e o frio nada hospitaleiro do lado de fora. Afugentando a ansiedade, sai do carro e logo senti a rajada impiedosa de vento jogar-se em mim, agitando meus cabelos revoltos e pinicando minha pele desprotegida. Instintivamente, encolhi-me e soquei as mãos no bolso do casaco desejando ter incluído mais peças de roupa para vestir, ao invés, do vestido preto de mangas longas e os dois grossos casacos — uma cinza e bege — mais a meia calça preta e botas. Nenhuma delas parecia adequada para o ambiente invernal. Ajeitei a mochila nas costas enquanto Vergil examinava os arredores com olhos ávidos, semelhante a um falcão buscando alguma anormalidade. O plano deveria ser nos ausentar no fim de semana no chalé da montanha, portanto o que levávamos era o bastante. A escuridão somada à fraca neblina formando-se, deu ao cenário uma atmosfera sombria e medonha. Após a partida do motorista, os sons restantes eram de nossos pés afundando na neve.
Paramos frente à estrutura de madeira projetada como uma entrada ao lado de uma cabana cuja falta de iluminação indicava que não havia ninguém ali. Adentramos pelo portão enferrujado e seguimos viagem em uma estradinha de terra batida. Sem dúvida, a escuridão da noite não era uma companheira muito generosa. Corvos observavam-nos com os brilhantes olhos negros, em seguida, lançando-se em voo. Com agudos grasnidos sobrevoaram nossas cabeças antes de desaparecerem em meio aos pinheiros. Deparamos com uma placa de madeira gasta que estava disposta próxima a uma escadaria; avisos e informações antigas ainda permaneciam pregados nela. Vergil seguiu na frente, subindo degrau por degrau com cuidado e destreza e eu fui atrás, meio intrigada. Nunca disse a ninguém o quão empolgada me sentia diante da possibilidade de além de explorar uma infinidade de caminhos da montanha, ver neve de perto. Convenci-me de não demonstrar abertamente, sabendo que meu único objetivo era a Chave. Focando nisso, subi as escadas de pedras irregulares. Elas não tinham uma estrutura que denominaria segura e a umidade deixava-as lisas e com isso uma propensão maior a quedas nada gentis. Julgando minha capacidade de perder o equilíbrio em qualquer obstáculo, os riscos para mim eram dobrados.
Não tive tanto êxito ao subir — apesar do esforço colossal —, pisadas em falsos e ocasionais escorregões fecharam a humilhante cota de acidentes e nem sequer tínhamos alcançado o topo. Praguejando mentalmente ao tropeçar em uma pedra bem camuflada, pisei com firmeza para garantir não acontecer novamente. A trilha íngreme desdobrou-se a nossa frente, e a névoa que adquirira mais densidade, fechou nosso campo de visão. A impressão era de que as nuvens tivessem descido e repousaram na terra, criando uma nebulosa passagem de filme de terror bem elaborado e cheio de gelo seco. Se tivemos alguma esperança de que, diferente de outras localidades já investigadas, essa seria mais acessível e com um nível de dificuldade razoável, ela esvaneceu por completo. Além de atravessar uma rota estreita, de praxe, mergulharíamos naquela imensidão esbranquiçada gélida. Apreensiva, arrumei o cachecol de modo que deixasse somente meus olhos descobertos, uma proteção para minhas bochechas sem sensibilidade. Queria encontrar rapidamente a estação do teleférico para escapar desse frio úmido que se impregnava em minhas roupas. Acelerei o passo para acompanhar Vergil mais de perto, e segurei em seu braço para ter certeza que não nos separaríamos dependendo das circunstâncias e evitar cair. No começo, a pontada de receio atingiu meu estômago, mas fora substituída pelo rubor intenso no segundo em que ele retribuiu o gesto.
Entrelacei os dedos nos de Vergil, apertando-os e pegando-o de guarda baixa.
As folhas que resistiam ao rigoroso inverno, farfalhavam com o vento, derrubando uma parcela de neve sobre nossas cabeças. Cada som pareceu, repentinamente, assustadoramente ampliado; mesmo o ritmo de nossos passos contra a neve soava abafado e tenso. Via o perigo nos mais sutis movimentos, sem contar que o fato de estarmos sozinhos no meio do nada não ajudou a melhorar minha paranoia.
— Fim da linha — Vergil anunciou sem emoção, os olhos fixos no velho e corroído carvalho e pedras que eram o dobro de mim interpôs em nosso caminho. Seu tamanho deveras impressionante ocupou todo o espaço, limitando o acesso ao outro lado.
— Hã, pretende destruí-la? — perguntei curiosa. Vergil ergueu uma sobrancelha em resposta, a sombra de um sorriso desenhou-se em seu belo rosto.
— Não teria necessidade. Destruir uma árvore por nos atrapalhar não seria uma atitude prudente. Um pouco estúpido, talvez — suas palavras me fizeram sentir como uma criança, por consequência, o calor familiar subiu pelo meu pescoço e, por sorte, graças ao cachecol ele não viu meu rosto tingido no mais puro vermelho..
— Se subirmos pelas raízes evitaremos dar a volta, assim pouparíamos tempo que, no caso, é mais prático e sensato de ser feito — Vergil aventurou-se primeiro, com exímia habilidade, escalou sem complicações. — Venha, eu puxo você!
Ele estendeu a mão para mim. Estiquei-me para alcançá-la, levantando na ponta dos pés no máximo que a bota me permitia. O ruído de algo próximo sendo partido chamou minha atenção e, corajosamente, encarei a massa espessa acinzentada que criava uma penumbra fantasmagórica por onde viemos. Meus pensamentos que mantive sob controle, começaram a pulsar inquietos. A neblina arrastava-se preguiçosamente um pouco acima do chão, como se tivesse sido trazida pela brisa gelada e serpenteando tudo em nosso entorno. Olhei mais fixamente em alarde, tentando ver através dela.
— Algum problema? — Vergil questionou com uma expressão pouco amigável, com ligeira atitude ofensiva. Intercalei o olhar entre ele e o nevoeiro, minha boca se abriu, porém não emiti nada. Vendo a tensão emanar fortemente dele com a mera possibilidade de ter uma ameaça a espreita, dei um sorriso amarelo.
— Não é nada. Não se preocupe. É que fiquei imaginando coisas — iniciei uma sessão gratuita de uma longa lista de explicações para meu estranho comportamento anterior. — E lembrei-me de um jogo e me perguntei se não existiria Wendigos.
Vergil franziu o cenho, com toda certeza querendo entender minha lógica.
— Temos que ir. Espero que delírios não estejam adicionados no seu perfil psicológico.
— Não, mas se quer saber, sou hipocondríaca* — prontamente segurei a mão de Vergil, que me içou para cima. Pouco antes de continuarmos, ajudou-me a descer, levantando-me como se eu não pesasse nada.
— Hm, então... Você não se incomoda com o frio? — foi o melhor que puder para ter um assunto e não ficar no silêncio sepulcral. — Estou quase congelando e você... Bem, aparentemente não se importa tanto.
— De fato, mas não quer dizer que não o sinta — informou sem tirar os olhos da trilha — apenas não tenho tanta sensibilidade a ele quanto um ser humano.
— Quer dizer que o frio não te afeta com a mesma força?
— Basicamente.
— Se eu chegar bem perto de você será que me esquentaria mais rápido? — indaguei, aproximando-me dele. — Igual aos lobisomens?
— Gostaria de saber de onde tira essas ideias... Ah, claro, daqueles seus livros fantasiosos... — anuiu com desdém. — Não sou como essas criaturas que você encontra nesse tipo de história. Não tenho a pele quente. Não me transformo em lobo. Não bebo sangue. Não brilho no sol, como já deve estar ciente.
Meu corpo tremeu com a risada iminente que a custo sufocava.
— Você é um mestiço, o que dá na mesma, por que pertence a histórias também... Embora não condizem com a realidade. — engoli a vontade de rir — Eu também nunca pensaria na ínfima chance de você brilhar na luz.
— Que bom que estamos esclarecidos — retrucou, impassível e cheio de sarcasmo.
Deliberadamente andei mais devagar, deixando uma pequena distância entre mim e Vergil no qual a quietude absoluta restou do diálogo de outrora. Minhas pernas já não suportavam mais o interminável percurso, aos poucos, tornaram-se pesadas como se fossem feitas de chumbo. Pensei em pedir uma pausa para descansar, mas nos atrasaríamos e não queria ficar nem mais um minuto no frio. E isso por si só já me motivou a não parar.
Sorri maliciosamente ao ver uma boa quantidade de neve amontoada em uma pedra. Sem levantar suspeita e o mais discreta que podia, peguei parte dela amassando-a entre as mãos enluvadas.
— Trinta e cinco minutos de silêncio, deve ser um recorde para você. Conhecendo-a é surpreendente que esteja quieta todo esse tempo... — no instante que ele virou-se, atirei o projétil do que deveria ser uma bola de neve — nunca seria uma boa escultora —, pegando-o desprevenido a ponto de acertar em seu rosto e interrompendo-o. Abismada com minha mira, levando em conta os reflexos sobre-humanos de Vergil, tinha sido bem sucedida. Até demais. Coloquei as mãos sobre a boca, contendo uma gargalhada desesperada. A expressão de Vergil era ilegível, um misto de surpresa e confusão disfarçada.
— O que... — a frase morreu em seus lábios — De certa forma, não deveria me surpreender não é a primeira vez que joga algo em mim.
— Tinha algo no seu rosto! — brinquei, disparando freneticamente para frente e juntando mais outro punhado de neve. — Eu te desafio, Sir Vergil
— Não vou entrar no seu jogo — disse categórico. — Pare de brincadeira.
Atirei novamente nele, porém ele desviou. Seus olhos azuis demonstraram uma centelha de divertimento por trás da máscara de seriedade. Algo me dizia que atiçá-lo desencadearia uma reação mais impulsiva dele. E seria também uma tarefa muito complicada, Vergil é o tipo de homem que não age por instinto, ele pensa em tudo antes. Uma das suas maiores qualidade e, ao mesmo tempo, o mais chato dos defeitos.
— Vamos lá, garoto demônio! — com uma postura atrevida, sorri. — Não me diga que está com medo de uma garota?
— O que está tentando ganhar com essa brincadeira?
— Hm, um pouco de diversão ao lado do meu "namorado" — fiz aspas com os dedos enfaticamente. — Seja mais natural Vergil. Faça um esforço para não ficar sempre sério...
Alguma coisa gelada atingiu meu rosto em cheio, fazendo com que cambaleasse.
— Satisfeita? — Vergil perguntou pulverizando uma bola de neve com a mão. Limpei-me planejando uma forma de contra-atacá-lo. Girei em meus calcanhares e corri, ignorando o alerta que meu cérebro enviava para ser cautelosa e não escorregar.
— Quero ver se consegue ser tão ágil para me enfrentar — falei em audácia.
— Não seja imprudente, vai acabar...
Um cervo — ou o que acredito ser um — cruzou meu caminho, o susto culminou em uma queda violenta. Joguei-me com tudo para trás, esbarrando em meus próprios pés. Meu traseiro latejou dolorosamente devido ao impacto brusco.
— Avise para ter cuidado, mas ter se assustado com um cervo...? — disse, seu tom meio sério e irônico.
— Não me assustei... Só fiquei surpresa. E cai. Fim.
— Em vez de perdemos tempo, vamos continuar. — Vergil ajudou-me a levantar, bati em minhas roupas para me livrar da terra e neve que cobria a parte traseira. — Já teve o suficiente de emoção por uma noite.
— Tem razão, melhor irmos.
Tecemos pela pequena estrada, os altos pinheiros criavam sombras assustadora com a pouca luminosidade, passando próximos a um estabelecimento abandonado do que supus ser uma loja de esqui. Sem desacelerar, pegamos um atalho através da construção que nos permitia uma nova passagem — possivelmente mais fácil em comparação ao atual —, contanto que tivéssemos paciência para dar a volta nele. Decidi ficar quieta absorvendo tudo que acontecia ao redor, com a nítida impressão era de que tudo estava abandonado. Como um set de filme de terror vazio. Guardei essa observação para mim, nossa missão exigia foco e pensar em problemas que não tinham uma ligação com ela deveriam ser esquecidas. Todos os meus membros pediam descanso prolongado, se dependesse da força — ou o pouco que sobrou — de minhas pernas para me sustentar, já teria sido nocauteada. Chegar ao teleférico foi um verdadeiro divisor de águas, assim pude relaxar um pouco.
***
A estranha calmaria pairava no ar enquanto nos encaminhamos para o belo chalé, lufadas de vento espalhavam folhas secas e flocos por todo lado. Fiquei imóvel, contemplando a construção. O luxo estampava e traçava cada parede de madeira impecavelmente conservada, apesar de a neve ter parcialmente invadido a varanda da entrada, podia-se ver claramente o piso também de madeira polida. Talvez o arquiteto que projetou tivesse se inspirado nas lindas e clássicas mansões vitorianas. Pelo extraordinário tamanho, julguei ter no máximo três andares. Durante todo final de semana teríamos o chalé exclusivamente para nós, de certa forma, os meios valeriam a pena usufruir.
Vergil simplesmente foi até a porta e, sem ao menos tocá-la, abriu-se. E no encalço dele, entrei. Uma moça um pouco mais velha que eu, nos recepcionou com cortesia e falou um pouco sobre tudo que precisávamos saber da hospedagem. Apresentou alguns outros empregados e nos designou a nossas acomodações. O ambiente era de tirar o fôlego, todos os tipos de arranjos pareciam ter sido feitos para suprir nossas necessidades. Desde decoração não muito extravagante, à organização de tudo. Ainda exausta, não pude reparar tanto nos detalhes, somente no que atraiu minha atenção.
Tirei as camadas de roupas, refletindo se seria melhor tomar um longo e relaxante banho quente, ou apenas deitar e dormir logo. Meu cansaço me deixou a opção mais razoável no momento, ficando unicamente com o vestido afundei-me nos cobertores. A cama king-size que dividiria com Vergil, outra parte do nossa missão é interpretar um casal de namorados — consequentemente agiríamos como tal —, era grande o bastante para me perder nela. Olhei sonolenta para Vergil, que se preocupou mais que eu em arrumar o que trouxera. Pegou o celular e deu uma olhada nele, fixo e descontente.
— Parece que em breve uma nevasca vai começar — alertou, sem tirar os olhos do dispositivo. — Fiquei aqui e descanse. Vou explorar o perímetro e procurar pela entrada da mina.
— Tudo bem, eu posso ir com você — afirmei, saindo do conforto da cama.
— Não há necessidade. Exausta desse jeito só vai nos atrasar. Aproveite para se recuperar. Finja, dessa vez, ser sensata o bastante para me ouvir. — sem me dar chance de defesa, ele se retirou fechando a porta atrás de si.
— Se não tenho outra opção. Tome cuidado, Vergil — sussurrei, ajeitando-me e esperei que o sono viesse.
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