When the Boys Meet the Girl!
Amon estudou o comportamento distante e calado da jovem Diva durante todo percurso para o aeroporto. O perpétuo silêncio estendia-se mais a cada minuto, entretanto respeitando a serenidade ali presente, ninguém ousou quebrá-lo. Diva distraidamente acariciava entre os dedos delgados os Lírios do Vale do ramalhete que retiraram da estufa a seu pedido, pareciam combinar perfeitamente com aquela que os carregava, simbolizando a pureza. Amon com seu vago conhecimento botânico, sabia que essas flores em especial eram valorizadas por suas propriedades medicinais, embora fossem letais na flora selvagem. Exatamente como Ele e Diva, que detinham a posse da mesma casca.
Ela os trouxe para próximo de seu rosto para aspirar o seu perfume, gentilmente roçando-as em sua pele levemente rosada como se estivesse apreciando o contato. Quando um tímido sorriso iluminou o semblante da garota, realçando a inocência infantil que ela inconscientemente emanava, Amon relaxou com a certeza de que tudo ocorreria como planejou sem incidentes. O motorista estacionou o luxuoso veículo, fazendo um breve meneio avisando-os da chegada. Ele saiu e com impecável cortesia abriu a porta do lado onde Diva estava, Amon contornou o caminho e pegou a mão dela e guiando-a para fora com cuidado. Conduziu-a para o local de embarque, como previsto atraíram atenção indesejada no instante que pisaram ali, as pessoas não eram discretas ao repousarem seus olhares curiosos sob ambos. Diva desvencilhou dos seus braços e andou até a vidraça pelo qual podia ter um amplo vislumbre dos aviões partindo e desembarcando. Uma brisa suave e gélida bastante comum nessa época do ano varreu o ambiente, fazendo-a ajustar o xale para que a protegesse da variação instável do clima. Ela trajava um vestido que lembrava uma camisola de cintura alta, o decote não muito profundo devido a compressão no busto e os detalhes pregados que quase os ocultava, a saia era longa e o tecido fluído que adaptava-se, conforme ela mexia-se, as suas curvas. Ainda trazia o ramalhete consigo. O cabelo negro preso por pequenos adereços em um penteado elegante, tinha poucas mechas soltas que fluíam por suas costas. Ela era a imagem perfeita de uma donzela inocente contemplando o mundo novo. Interrompendo o monólogo mental que a entretinha, Amon orientou-a para a zona onde estaria seu jato particular em uma área mais restrita.
— Você está linda Diva.
— Obrigada — sussurrou indiferente. Seu olhar estava opaco e desinteressado, uma imensidão vermelha fosca e sem vida. Aquilo era um indício claro da oscilação de humor tal como da impaciência que encobria com a máscara de amabilidade. Essa versão de Diva formou uma personalidade instável, naturalmente infantil e maliciosa. E também cheia de violência sádica, um apelo massivo ao lado mais cruel e selvagem de todo ser. Ponderando esses traços distintos e pondo-os numa balança, ela possuía um equilíbrio formidável entre elas que algumas vezes era facilmente abalado por um estímulo externo — que em geral envolvia os mestiços —, e por consequência desencadeava sua fúria.
— Em breve seu desejo será realizado.
Ao perceber que logo iria ver o garoto, o vazio em seu olhar deu lugar a excitação. Diva exprimiu um júbilo visível, rindo. Amon pensou no que ela poderia estar planejando para o tal garoto, mas não duvidava que fosse algo que só agradaria uma das partes.
No caso só a Diva.
— Isso será interessante de ver. — Amon admitiu, sorrindo.
***
Holy trocou os curativos do jovem mestiço que ainda sofria constantes dores devido a perda do braço e o efeito devastador dos poderes daquele que possuía o corpo de Diva. O garoto pendia entre a consciência e o limbo, ocasionalmente abria os olhos, mas não estava plenamente bem para esboçar uma ação. Sem tratamento ele morreria como um humano, mas por respeito a Dante e Lyana que o deixou sob seus cuidados daria o possível para que ele recuperasse suas forças e sobrevivesse por si mesmo. Através de sua magia conseguia evitar um dano mais grave e assim impedir que a carne aberta gangrene por alguma infecção. O nível de melhora nos últimos dias fora um grande avanço em comparação ao começo, quando o trouxeram completamente acabado que mal podia locomover-se sozinho. Nero já tinha energia para conversar, inclusive reclamava sobre ficar ocioso demais e que precisam de muita ajuda para deter Diva.
— Sério. Você fica muito melhor calado. — Holy ironizou.
— Ei! — Nero grunhiu ao sentir uma queimação no braço. Holy disfarçou a vontade de rir.
— Tente descansar, garoto.
— É a única coisa que faço... — replicou mordaz.
Na questão de temperamento, Holy observou, era um pouco parecido com Dante: rebelde e impaciente. Nem mesmo Gael, o viajante do tempo, filho biológico de Dante tinha tantas semelhança. Terminando a sutura, fechou o ferimento com uma faixa verificando se a colocara adequadamente. Com a mão sobre o curativo novo, envolvido por um fulgor arroxeado, usou uma pequena quantidade de magia para acelerar o processo de adaptação e cicatrização. Nero permaneceu em silêncio, o que era um progresso considerando sua lista de protestos de minutos atrás. Holy impaciente estava pronto para fazê-lo ficar mudo pelo resto da vida. Com um aceno de agradecimento mudo, o feiticeiro retirou-se do cômodo guardando os itens médicos em uma dispensa com o aroma de éter. Ele tinha muito tempo livre para refletir, e isso não era um bom sinal. Significava que não teria controle sobre seus pensamentos, seria complicado expulsar certos receios indesejáveis.
Buscou afinco em seus livros mais antigos informações do inimigo que lidavam, embora tenha vivido muito mais que Dante e os outros, havia um limite de tudo que conhecia. Aparentemente era alguém muito mais antigo que presumiu. Sua frustração em topar com o muro impenetrável da ignorância esgotava sua calma, fazia chegar ao extremo da impotência e tornava seus esforços cada vez mais inúteis. As areias do tempo corriam contra eles e se não se apressassem o fim seria inevitável. E a resposta para esse mistério não seria encontrada, duvidava se um dia fosse. Ignorando a dor florescendo em sua têmpora, atravessou o corredor e desceu as escadas, distraído em seu monólogo mental e repassando o que Lyana relatara, desde o desaparecimento de Diva ao terrível reencontro. Ela enfatizava a mudança na aparência, mas principalmente na maneira como os olhava: como se eles fossem brinquedos feitos para seu divertimento, uma fera em pele de cordeiro pronta para cercar as presas. Uma definição bastante especifica.
Tentou vasculhar em fragmentos empoeirados de conhecimento adquirido com a experiência e tudo que lera e não associava a ninguém, não se tratava de um demônio ou qualquer outra criatura. Então nunca chegara a ponto algum nessa eterna briga para solucionar aquilo e, finalmente, saber a verdadeira identidade de quem enfrentariam. Lyana e Dante passariam dias investigando e Vergil não dava o ar de sua graça desde a discussão com a mestiça ruiva, chegando a simples conclusão que o largaram a própria sorte. A única coisa que tinha total e absoluta certeza, além do fato de que aquele local viraria o epicentro do caos, era que escondiam algo. Há dois dias, com uma palidez cadavérica Lyana, tempestuosamente, adentrou sua casa e partiu logo em seguida, dizendo apenas que passaria um curto período fora junto com Dante. Ela abandonou uma sacola as presas, que descobriu mais tarde que seu conteúdo era uma caixinha de música, como se sua velocidade não fosse suficiente para acompanhar a alta sobrecarga de adrenalina. O pequeno objeto continuava sob a escrivaninha, intocado.
Releu um trecho do livro de capa desgastada e frágeis páginas amareladas, vendo se, em meio ao frenesi, não lhe escapara nada. Mordeu o lábio inferior, contendo sua fúria crescente. Seus olhos capturaram letra por letra, sem êxito. Sem querer, com uma explosão, derrubou metade dos livros jogados na mesa. Bufando, recolheu um por um, até parar nos diários de Alexander e Diva. Imediatamente pegou o do antecessor de Diva, Lyana havia liberado o acesso ao diário dele já que era a única que conseguia burlar o encanto conjurado nele. Realizando a mesma tarefa de busca, estudou o que lia com profunda atenção, mentalmente satisfeito com a clareza de detalhes e avaliações importantes narrados sob um ponto de vista maduro e inteligente. Em outras circunstâncias, se ainda estivesse vivo, adoraria conversar com um homem tão minucioso e ligeiramente pragmático como Alexander. Uma página em particular mencionava um tipo de premonição a respeito de uma força sombria que rondava a mãe de Diva, esta ainda na barriga, em determinadas partes citava uma mulher chamada Galateia, sendo ela que lhe forneceu tudo que precisava saber da nova vida gerada. Alexander sentia o perigo aproximar das duas, optando por ficar nessa dimensão protegendo-as de longe. Prosseguiu a leitura sem nenhum grande evento registrado, entretanto obtivera uma relativa ideia do que esse ser queria. Ele seguia Diva antes mesmo dela nascer, de acordo com Lyana, Alexander morreu ao enfrentar, provavelmente essa entidade. Holy suspirou com um impulso alto e perseverante. Sentia-se mais perto da história por trás de tudo aquilo.
Uma pressão gigantesca, subitamente, abateu-se sobre Holy. Ele engasgou sufocando com o próprio ar, que parecia escasso e pesado. Seus músculos pesavam como chumbo e não pôde movê-los tampouco manter-se de pé, caindo em seus joelhos. Ele ofegou, temendo sucumbir à forte e incapacitante vibração. Era como se um imenso poder destrutivo estivesse prestes a chegar. Lutou para se recompor, lentamente voltando a postura reta e alerta. Escovou os sedosos cabelos com a mãos, fazendo o melhor para acalmar sua inquietação diante do susto que o pegara tão desprevenido que sentiu-se extremamente envergonhado. Com passos largos e rápidos, marchou para a cozinha e bebeu uma xícara de café puro.
— Isso foi... Estranho — resmungou para si, massageando a têmpora. Uma imagem projetou em sua mente: uma jovem com um sorriso perverso e os olhos escarlates resplandecentes cheios de escuridão e travessura. Uma combinação explosiva e letal. Abriu os olhos num rompante, arfando e tremulo. Sua mente assimilava o que vira e quis saber por quanto tempo apagara.
— Aquela era... Diva? — questionou-se exasperado. — O que ela...
Uma canção o despertou, interrompendo sua linha de raciocínio. Engolindo em seco, percebeu, com desgosto, que a melodia vinha da casa. Alguém havia invadido. Mas como? Quando?
Disparou para a escadaria, preparando-se física e psicologicamente pelo que presenciaria, segurando em punho um revolver colt python. Embora não aderisse ao uso de armas de fogo — e sendo sua especialidade magia —, julgando a necessidade e seu habilidoso manuseio seria lógico levá-la consigo. Melhor prevenir que remediar. Ele correu para o quarto no qual Nero repousava.
— Eu vim aqui para te ver — ouviu a voz feminina anuir, aveludada e gentil. — Você me lembra alguém do passado... Embora quisesse que ele estivesse morto e enterrado. Mas não me importo, agora que eu tenho você nas minhas mãos, vou terminar o que comecei...
Abruptamente abriu a porta, testemunhando por si só a personificação da beleza sombria. Diva estava sentada sobre um Nero imóvel e incapacitado, quase debruçada sobre ele como se estivesse a ponto de beijá-lo. O brilho de vermelho vivo o paralisou, seus olhares encontraram-se: nos dela via algo que não tinha palavras para descrever, era cruel e dissimulado. Ela sorriu diabolicamente, uma fina linha de sangue escorria de sua boca. Deduziu que ela pretendia dar a Nero seu sangue, ou talvez somente tenha ferido sem motivo. Seja qual fosse seu objetivo, não permitiria que terminasse. Sem demonstrar hesitação, apertou o gatilho e atirou nela. O projétil atravessou seu peito e espirrou um pouco de sangue antes dela cair pesadamente para fora da cama com um baque alto, sua expressão branca e vazia ao colidir com o chão. Praguejando mentalmente, ajudou Nero a se firmar enquanto o apoiava indo em direção a saída o mais rápido que podiam. Obviamente não a matou, mas conferiu a eles sagrados minutos de falsa segurança para que fugissem.
Diva passivamente aguardou o momento que eles não estivessem mais no cômodo e levantou-se, batendo em suas roupas para afastar a poeira. Concentrou-se no seu alvo, aguçando sua audição para ouvir aonde eles iam. Sua gargalhada ribombou pelo ar, então posicionou a mão próxima da orelha, gritando:
— Eu já posso ir atrás de vocês? — sem ouvir uma resposta, ela andou calmante para fora. — Tudo bem, faremos do jeito difícil, então se escondam quanto puderem... Ainda os acharei.
Rindo festivamente, Diva começou a caçada.
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