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Secrets And Lies!

Dante cruzou a tirânica e repressora escuridão.

Não havia nada ao seu redor que pudesse identificar com exatidão onde estava, nenhum ponto de referência. Questionou-se se essa alucinação teria sido gerada por algo que consumira antes de despencar na cama, mas quando puxava pela memória sobre o que, não vinha nada. Os dias anteriores sugaram suas forças, embora fosse meio demônio e possuísse uma grande resistência e capacidade física fora do comum, não era de ferro e depois de ficar um longo período sem descansar adequadamente merecia uma pausa para recuperação. E, certamente, com a guarda baixa os pesadelos — algo que não vinha tendo desde garoto, e após conhecer Diva — ficavam mais frequentes, praticamente pegando-o desprevenido e estilhaçando sua proteção. Às vezes enxergava através da ligação que o unia a Diva, algo que com o tempo se habituara. Entretanto, esse sonho não chegava a ser necessariamente um, pois se sentia alerta e bastante consciente de tudo a sua volta.

Dentro das trevas, uma trilha de postes de iluminação precária se distendeu, como se fosse um comando para ir em frente. A luz fraca e tremula dava forma as coisas, ruas desertas, casas de aspecto perturbador e carros largados ao relento e sob seus pés o indicativo de estar no meio da estrada, sendo o asfalto e desenhos delimitando-o. Dante prosseguiu em seu percurso, nada ali lhe despertava interesse para monopolizar sua atenção. Pareceu uma longa infindável caminhada, para chegar próximo ao objetivo: uma pequena figura prostrada sob a bruxuleante luz do último poste. Vê-la no mundo dos sonhos já fazia parte da sua rotina, há dois anos a idealizava com a imagem ingênua e infantil do primeiro encontro, e conforme se passavam os meses sua aparência alternava dentre eles. Agora ela mudará muito: seus antigos cabelos curtos já caiam em ondulações pelos ombros, sua pele impecável e mais pálida quanto se recordava e os olhos castanhos reluzia a pouca luz existente. O que, de fato, lhe intrigou tenha sido quão mudada ela estava no sonho: de castanhos suas longas madeixas tingidas com o mais sombrio negro iguais asas de corvo que reluzia o quase imperceptível brilho do arco íris e seus olhos transmitindo o vazio na tonalidade escarlate e seus lábios rosados repuxados num fino sorriso falso.

Na distância, conseguia ver nitidamente mais detalhes: a camisola azul claro moldado às curvas do corpo dela, os fios escuros que graciosamente balançavam ao vento e não pode ignorar a expressão tranquila, pressentira que por trás daquele gesto singular guardava os mais terríveis segredos. Ela permaneceu imóvel e Dante fez questão de se aproximar impetuosamente dela, se houvesse algo de errado descobriria naquele instante. E ele percebeu enquanto andava, o cenário transformando-se, tudo desaparecera e restara exclusivamente a garota aguardando-o em silêncio parcialmente engolida nas sombras. E no chão um símbolo que não soube o significado desenhou-se sob os pés dela: as formas que o contornava recendia uma pesada aura vermelha e preta. Dante apertou o passo, cauteloso e desconfiado para desvendar o que tudo aquilo representava além, obviamente, de um devaneio sem sentido. A jovem tombou a cabeça para o lado, sua boca abriu-se sem escapar nenhum som, o semblante de deboche ingênuo. Ela estendeu a mão e uma força invisível o lançou abruptamente para trás, fazendo-o colidir com grades enferrujadas. Diva não mais sorria, seu rosto mantinha a inexpressividade e as duas gemas rubis opacas e sem vida. Ela lhe virou as costas, andando vagarosamente para longe e adentrando a escuridão. Dante se restabeleceu de imediato como se o impulso psíquico não tivesse causado dano, e a seguiu nessa corrida. Diva acelerou e Dante também, porém uma grande distância ainda os separava.

Aquele lugar deveria ser o reino dos pesadelos e medos mais íntimos. Não era como se alguém como Dante, em seu perigoso ramo trabalho no qual se acostumara a ver todo tipo de coisa, temesse. Pelo contrário, estava bastante interessado no rumo que a situação tomava. Diva ia, aos poucos, sumindo no sou campo de visão até não estar mais visível. Seu objetivo de alcança-la teria sido em vão, pois não havia nenhum rastro sequer dela para prosseguir. Ele precisava encontrá-la, ver que mal pairava sobre a garota e cumprir sua missão de protegê-la, embora a única maneira de fazê-lo fosse em sonhos.

A temperatura baixou bruscamente, a respiração entrecortada de Dante saía em vapor. A brisa que trazia consigo o denso nevoeiro: soprara em seu ouvido lamentos longínquos. Ele concentrou-se em apurar sua audição para escutar mais, o triste choramingo que se dissipava no ar. Dante encaminhou para uma estreita passagem semelhante a um beco, e sentiu a presença de Diva ali. Chegando num terreno aberto, vislumbrou a figura feminina no centro e corpos espalhados em diferentes cantos. Reconheceu grande parte dos rostos distorcidos; Lyana, Eryna, Maya, Trish, Lady, Nero e até mesmo seu irmão. Todos possivelmente mortos.

Ele enfim pôde vê-lo, a presença quase oculta atrás da garota. No ângulo em se encontrava, não oferecia perigo a ninguém: o corpo semi coberto por espécies de ataduras pretas estava seguramente preso, correntes seguravam firme e estrategicamente seus braços e pernas posicionando-os de forma que nem ao menos possa mexê-los, havia também cadavéricas mãos o imobilizando. Ele já vira algo assim antes, um campo de contenção poderoso suficiente para prender exércitos inteiros. Aquele, no entanto, era muito mais familiar. Há alguns anos presenciara um evento que demonstrava a força desse estilo de selamento, Dante o reconheceu. Ele não estava realmente presente ali, somente influenciando seu sonho e mostrando sua superior capacidade de manipulação, o estranho era usar a imagem da Diva. Até onde supôs, ele a odiava profundamente.

— Nossos encontros, independe de onde, prometem sempre ser dos mais estranhos possíveis. — disse em descaso, cruzando os braços. Diva não respondeu a provocação, porém Dante sentiu a pulsante dor na cabeça que o obrigou a massagear o local para aplacá-la. Ele curvou-se à medida que a maldita dor progredia, o atordoando e o paralisando.

— Quando a última centelha de luz for extinta, o sonho dessa vida terminará tal como os sonhadores dentro dela...  — a voz angelical e melódica da Diva anunciou sem emoção, indiferente e carregada de crueldade contida. — O mundo nasceu da escuridão e para ela retornará. Nem você poderá impedir, filho de Sparda.

— Ora, não é que você fala? — riu, ainda sem fôlego pelas pontadas vertiginosas na cabeça. — Aliás, uma conversa bem interessante, nunca pensei que ouviria algo assim da sua boca, doçura.

O sorriso sumiu do semblante de Dante.

— Quem é você? — perguntou direto, sem rodeios. — O que é esse seu joguinho de predomínio?

Ela nada disse, apenas aumentou seu poder sobre Dante para confundi-lo e, progressivamente, destruir sua mente. Não era sempre que encontrava com adversários com grande habilidade psíquica, então não tinha muita experiência e nem sabia como agir para se libertar da influência dela. A sua visão se enevoou enquanto a garota rumava para longe, ignorando a existência do mestiço.

Dante acordou com a cabeça doendo como se o pesadelo o tivesse afetado, o que de fato, ocorreu. Durante um bom tempo ponderou sobre o que viu, estava ciente que era uma visão premonitória ou mesmo um aviso. Está para acontecer algo de proporções inimagináveis e Dante já se preparava. Seja o que for, ele não permitiria que se concretizasse. O mestiço pegou seu sobretudo vermelho vivo e armas, ajustando-as no lugar que pertenciam e partiu. As coisas nunca mudariam: diferentes dimensões, contudo o trabalho é o mesmo.

Por um último momento pensou em Diva e no que fazia, se preocupava com o destino dela e mais ainda junto ao seu irmão — e que se comportava de uma maneira estranha como se não o conhecesse muito bem. Talvez no fundo, o nome desse sentimento que nunca admitiria por orgulho, fosse ciúmes de Diva estar dividindo sua companhia com o irmão. Como se ele, o melhor e mais sexy caçador, tivesse ciúmes. Nunca.

***

Eu só transpareci calma por fora.

Precisava ter uma postura tranquila diante do que ocorrerá nos próximos instantes, embora não tivesse convencendo a mim mesma a administrar o turbilhão que rondava meus pensamentos. Fiquei quieta, sem tomar coragem para formular algo coerente para dizer. Naturalmente culparia minha mente embriagada, fazia pouco tempo que acordara e ainda estava em estado letárgico, processando todos os acontecimentos sem filtrá-la como deveria em sã consciência para realmente entendê-la. Intercalei minha atenção para David e Vergil, ambos convictos de seus próprios argumentos.

Chegamos num ponto crucial no qual as cartas seriam postas na mesa, sem truques ou complicações. Desde o começo muitas coisas foram omitidas a nós, e ainda cientes disso continuamos a nos aprofundar na tarefa empregada, visando somente interesses pessoais sem nos comprometermos inteiramente nesse grupo. No entanto, as circunstâncias exigem mais do que fatos superficiais e de índole duvidosa. Inerte em minha linha de raciocínio, não notei a jovem médica entrar o quarto e me examinar silenciosamente, anotando particularidades sobre meu estado físico. Ela me receitava coisas que, em geral, são corriqueiras em exames independente do grau de enfermidade. Eu não tinha muitas queixas a respeito da minha saúde, após um intervalo de descanso já me sentia revitalizada, levemente sonolenta, mas muito melhor em comparação a antes.

A médica alertou sobre eu estar anêmica e precisar tomar medicamentos para repor o ferro e algumas vitaminas, e seguindo sua orientação estaria plenamente recuperada em algumas semanas. David dispensou-a quando esta concluído o trabalho, deixando novamente a quietude. Livrei-me dos finos cobertores que me prendiam à cama, meu corpo protestou pelo deslocamento impensado, coloquei meus pés para fora sem me deter com o esgotamento muscular devido à falta de exercícios e o longo repouso. A roupa hospitalar que usava não era reveladora como deveria, daquelas que deixam sua retaguarda à mostra, parecia um vestido de tecido macio e solto para ter mais liberdade para me mexer. Assim não teria necessidade de me trocar para sair sem estar desconfortável. Obviamente, não iríamos tratar de assuntos estritamente importantes num quarto onde a qualquer momento surgirá alguém para, consequentemente, nos atrasar. David nos direcionou a um amplo escritório: uma escrivaninha posta frente a uma grande janela coberta com a delicada cortina branca, quadros dos mais variados modelos decoravam proporcionalmente as paredes de tons pastéis e a suave fragrância de lavanda exalava no ar. David num gesto brusco, afastou o cortinado dando abertura para a luz solar adentrar a recinto.

— Agora que temos privacidade direi tudo que precisam saber. — David elucidou visivelmente sereno. — Vocês devem estar bastante ansiosos, não é para menos se tratando de personagens lendários na história da humanidade. E, pelo nosso acordo como preço aos serviços prestados e por terem achado duas das seis Chaves, posso dar mais detalhes do que querem saber.

Engoli em seco.

— Bem, não pretendo estender um discurso desnecessariamente, irei direto ao ponto. Sentem-se. — David indicou as duas cadeiras próximas, tanto eu quanto Vergil preferimos ficar de pé. — Arya é descendente de uma linhagem muito antiga, nomeados Peregrinos ou Unchants. Eles são responsáveis por manter a ordem natural do mundo e de outras dimensões, basicamente são a balança que equilibra o bem e o mal – luz e escuridão. — David levantou-se e circulou pela sala. — E você, Ivy Marie Valentine é a reencarnação dela, sendo a remanescente deste clã. Por isso, pedi para que trabalhasse para mim, somente você conseguiria encontrar as Chaves. Acima de tudo, prezamos e seguimos as leis denominadas por Arya.

Sentia-me como se estivesse a deriva, incapaz de tudo que não fosse estar estagnada e perdida no meio de um extenso oceano de dúvidas. E ele não demonstrava apreensão, na verdade, a impressão que tive era que seu objetivo meramente fosse me confundir, por que o que me contava servia mais como inibidor. Minhas condições não favoreceram o entendimento das novas informações, a custo assimilava cada palavra buscando uma lógica plausível. Embora tenha me preparado psicologicamente para ouvir coisas bombásticas, não conseguia coordenar adequadamente o ocorrido, pois para mim era uma série de loucuras inacreditáveis. Se ainda vivesse ignorante de toda essa bagunça, no qual não tivesse um grau de experiência com o inexplicável nunca perderia meu tempo cheia de questões tampouco seria tola para cair naquela conversa.

Nunca cogitaria que eu possuísse tamanha capacidade e ainda originário de um clã ancestral, isso ia muito além de tudo que imaginei. E sabendo tanto, já temi o que seria o meu futuro dali por diante.

— Assim como aqueles pertencentes ao clã: seu poder provém de manipulação dimensional. Uma espécie de dobradora, então o que você acha que pode fazer não é absolutamente nada comparado com o que, de fato, pode fazer. Sendo mais específico: você é uma deusa entre meros mortais.

O sorriso dele gelou minha espinha e um brilho diabólico cruzou seus olhos.

Coloquei minhas mãos sobre meus lábios impedindo que qualquer som fosse emitido, o grito de assombro ameaçava escapar. Nunca lidei muito bem com excessos de novidades, um tanto quanto impressionantemente surreal. Queria aparentar ter o controle da situação, mas algumas coisas exigem nervos de aço e eu não me enquadro nesse quesito.

— Sua existência é importante na manutenção dos mundos — David prosseguiu ignorando minha reação. — Apesar de ter nascido de pais humanos, sendo a reencarnação de Arya você é uma puro-sangue, enquanto você viver a barreira que separa esses mundos não se rompera. Caso contrário, quando essa linha sumir... Na melhor das hipóteses, o caos reinara absoluto.

Minha cabeça doía pelo esforço monumental para resgatar as memórias ou significativos dados para, no mínimo, compreender tudo que David dizia. A dor era indescritível a um extremo que parecia querer explodir. Levei as mãos à cabeça querendo loucamente amenizar a dor, cuja forte pressão ia comprimindo meu cérebro.

— Quanto a Sparda, ele foi o fiel guerreiro dela e seu pai Vergil. Durante muitos anos, apesar de ser um demônio, Sparda viveu entre os humanos, com nomes diferentes é claro, sendo: pseudônimo do famoso rei Arthur que recebeu a Excalibur e reinou nesse mundo.

— Se essa espada pertenceu ao meu pai, por que me rejeitou? — Vergil indagou tomando uma postura dura e impassível. Para ele, ao menos, já era um progresso saber, além de ter um irmão gêmeo, um pouco do pai que desconhecia — e sendo um demônio.  Sempre desconfiei que Vergil não fosse realmente humano.

— Uma espada sacra como a Excalibur tem sua própria alma, ela não pode ser empunhada por alguém que visa o próprio bem acima de outros. Convenhamos Vergil, você tem suas metas firmes, mas não tem o necessário para Excalibur.

O rumo daquele diálogo me atraía, ela aflorava a vontade de desvendar mais sobre essa insana história. De tudo que já ouvi, nada me assustava — ou surpreendia — como outrora sendo que, nesse intervalo, tenha adquirido uma proteção eficaz para preservar minha sanidade. No entanto, estava dividida entre ficar ali, ouvir tudo que David teria para falar ou me retirar para não enlouquecer. Escolhi a mais sensata e conveniente para mim, sem anunciar cruzei a porta para que Vergil e David tenham privacidade para continuar conversando. Eu, decididamente, tive minha cota do que precisava saber. Vaguei meio perdida pelas instalações do grande navio — classificaria como iate devido o largo comprimento e a magnificência —, descobri algumas alas que iam desde recreativas a salões de reunião. O espaço era sofisticado e bem equipado com o que tinha de mais moderno em tecnologia, os móveis e adereços de decoração eram suntuosos e belíssimos. Teria apreciado mais se não estivesse com a mente cheia e bastante desorientada, coisa que tem incidido com grande frequência já que minha vida deu uma guinada que desestruturou o meu mundo normal e seguro. Não poderia voltar atrás com minha escolha, então tenho que ser forte para arcar com as consequências. Experimentei a paz quando a brisa tocou gentilmente meu rosto como um gostoso e confortador afago enquanto me encaminhava para o popa do iate. A visão do mar e o ar puro eram relaxantes e me proporcionaram a calma de espírito para refletir. Escorada na amurada, olhei para minhas mãos na expectativa de encontrar uma singularidade, ainda que não soubesse ao certo o que desejava ver. Talvez um padrão esquisito de tatuagens, uma deformação que se destacasse ou mesmo o brilho dourado que provinha das minhas habilidades latentes. Eu queria ter certeza de que aquela era a minha realidade imutável, uma prova. Observei a formação das ondas conforme a embarcação as atravessava, a água azul e misteriosa fluía em seu próprio curso quebrando-se uma ondulação na outra, esse processo se repetiu incontáveis vezes.

— Você devia aproveitar melhor seu tempo, ao invés, de ficar lamentando.

— Não estou lamentando, Vergil — virei-me para poder encara-lo. — Estou divagando em tudo que houve comigo – ou conosco. Já deveria estar acostumada com esse mundo novo, mas tem assuntos que são difíceis de engolir.

Vergil não se pronunciou após meu desabafo, apenas depositou no chão a fina caixa que trazia nas costas, em seguida, removeu do encaixou duas katanas. Na velocidade de um raio, desembainhou uma delas com desenvoltura e graça e empregando uma mão para tal. Ele analisou-me com olhar superior de causar arrepios, sugestionando que se armava para um confronto. E entendi onde ele queria chegar.

— É isso que deduz ser mais produtivo? — perguntei corajosamente, algo que estranhei um pouco, perto de Vergil sentia insegurança feito uma menina tímida de colegial perto do garoto que gosta. Agora agia com audácia para um embate.

— Se tiver um plano melhor, estou aberto a sugestões. Caso contrário, limite-se a ouvir antes de expressar sua opinião. — proferiu insensível, eu não pude deixar de rir com o comentário nada amigável dele. Ele precisa urgentemente aprender muito sobre tratamento com as pessoas, a despeito de não estar ofendida com o corte dele já era parte da nossa convivência. Vergil não manifestava amabilidade — por isso o apelidei de cubo de gelo ambulante —, são raras as oportunidades que surgem e justamente consigo presenciar todas, grande parte é em relação a mim o que considerava um privilégio.

— Fui designado como seu mentor na esgrima. Além disso, nós dois precisamos de uma pausa para limpar a mente. — vi o rígido e estoico guerreiro desvanecer — por preciosos segundos — para ser substituído por alguém tão confuso quanto eu, de certa forma, me confortou perceber que não estava sozinha. Assim como, para mim, não era fácil lidar com esses imprevistos, para Vergil não seria diferente, porém ele mascarava seus sentimentos, pondo uma expressão de indiferença. Não que fosse uma válvula de escape, mas era parte essencial da sua personalidade reservada e frígida, não tendo motivos para mostrar espontaneamente. Questiono-me o que teria moldado seu caráter para ter se tornado tão distante.

— Treinamento intensivo é uma boa forma de equilibrar seus pensamentos entre formular defesa e investir em ataque, sem brecha para nada que não fosse desses dois fundamentos. — Vergil explicou casualmente, atirou uma das katanas na minha direção e ela despenhou-se taticamente com a ponta afiada fixada na superfície de madeira, quicando em pé.

— Acho que não será ruim tentar — confessei desencaixando a katana da quase imperceptível fenda que ela criara no chão, brandindo-a. — Pega leve comigo, por que faz pouco tempo que acordei e não estou com muita energia. — acrescentei em tom de brincadeira.

— Referente a não ser muito rigoroso com seu treinamento, vou considerar seu caso. Mas não prometo ser condescendente ou agradável. — ele tomou em mãos a katana que reservou para si, fazendo movimentos elegantes e precisos. O vislumbre de algo — possivelmente divertimento ou exultação — brilhou nos seus olhos azuis. — Faça com que meu tempo perdido valha a pena.

Fingi uma expressão solene.

— Ora, essas não são o que chamaria de palavras de motivação.

— Não faço o gênero instrutor motivador empenhado para levantar a estima do aluno. Quero resultados, chamam isso de "profissionalismo".

— Na verdade, tem outro nome para isso. — dei de ombros. — Como vai ser a primeira etapa desse treinamento improvisado?

— Mostre-me o que sabe fazer e vou ver onde vamos começar. — respondeu sem emoção.

— E onde aprendeu a manusear uma espada? — questionei, descendo a katana devagar e repetindo esse procedimento algumas vezes como se retalhasse um objeto em pleno ar. — Geralmente quando se perde a memória, é pouco provável que possa conservar aptidões natas de luta ou mesmo hábitos comuns. Você parece uma exceção a essa regra.

— Da mesma forma que você, para uma garota, — arqueei as sobrancelhas, consciente de sua posição para incluir um substantivo que, coerentemente, se adapte a minha condição sem soar rude. — peculiar, usar com notável prática armas de fogo sem nunca tê-las feito anteriormente.

— Xeque mate! — sorri cortando o ar em linhas transversais.

— Sua postura é equilibrada, o modo que manipula a lâmina é sucinta e mortal. Não acho que seja simplesmente talento sua destreza em empunhar uma espada.

— Talvez eu tenha herdado habilidades na minha antecessora.

Vergil estudou meus movimentos. Sentindo os olhos dele sobre mim agitou algo por dentro, não que tivesse medo da reprovação de Vergil ou o fato dele ser indiscutivelmente bonito demais para o próprio bem, mas sim por essa vigia constante ser mais intimidadora que benéfica. Para todos os efeitos, a meta oficial de esquecer o que David dissera dera certo. Agora quando o assunto percorria pela minha mente não causava o mesmo temor, estou me conformando e adaptando a tudo aquilo — estou decidida a abraçar meu destino não importa o que reservasse pra mim. Havia tantos mistérios na vida, essa não seria a última a ser desvendada. Insolentemente, projetei meu corpo para um ataque mais direto com a finalidade de surpreendê-lo o suficiente para avistar um ponto cego na sua postura, ele previu minha investida e inibiu o golpe. Enquanto dirigia toda força na pressão para romper seu bloqueio, ele, num ponderado mexer de braço arremessou minha katana longe. Ficava claro o abismo dos nossos padrões de força, uma novata comparada a um veterano. Corri em direção a minha arma, mas Vergil se interpôs no caminho com a lâmina perigosamente próxima da minha jugular.

— Nunca baixe a guarda na frente do adversário, se estiver em desvantagem crie uma oportunidade para desarmá-lo. — instruiu ameno, então retrocedeu para alcançar minha espada largada no piso e a lançou para mim. — Se não me atacar para matar, não acusará dano algum. Quando se combate com armas brancas não conta unicamente o quão habilidoso seja o oponente, mas sua ambição. A lâmina é uma extensão do seu braço, então se não tiver disposta, pronta para matar será morta.

Olhei meu reflexo na lâmina, compreendendo a preleção estabelecida por Vergil.

— É bem esclarecedor — sussurrei enchendo-me de entusiasmo.

— Espero que tenha entendido, e advirto não pretendo pegar leve — Vergil iniciou uma sequência de movimentos de cortes contra mim, porém acompanhando meu ritmo brando e atrapalhado de defesa. Até que tropecei, exausta e titubeante, no chão. Vergil estendeu a mão para me ajudar e imediatamente a peguei, sentindo-o me elevar.

— E pensar que isso é só o começo, ainda faltam mais Chaves para encontrar... Mais treinamentos. Ainda bem que David nos deu uma folga... — exclamei pesarosa, ajeitando minha roupa abarrotada. — Ei, Vergil você vai... — respirei fundo, sentindo o rosto queimar e pigarreei para recobrar o controle. Estava brincando com fogo, algo além do meu limitado conhecimento, argumentei mentalmente. E, para minha infelicidade, percebi que estava extremamente aterrorizada. Meu coração batia violentamente no peito. Era como se seus olhos azuis chamativos gritassem para uma parte dentro de mim, alertando – gritando “perigo” sem parar, o instinto enterrado e mais primitivo dos seres humanos, o da auto preservação. Entretanto, não era medo propriamente dito, e sim receio para não desenvolver uma ligação com ele, que seria algo proibido. — Bem, para a reunião que David programou?

— Eu não...

— Por favor! — o interrompi, meu rosto deveria estar mais vermelho que tomate. — Eu queria que fosse comigo. Eu não quero ficar sozinha, aqui não conheço muita gente.

Vergil me encarou e eu desviei o olhar para outro ponto, constrangida demais para confronta-lo. Ele suspirou designado.

— Não serei uma companhia agradável, mas minhas opções são escassas... — ele não concluiu, ainda assim entendi o que queria expor.

— Obrigada — sorri grata.

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