Excaliburs Awakening!
A quietude e as sombras que restringiam nosso campo de visão se equiparavam, ambas eram inimigas ardilosas que poderiam ocultar armadilhas mortais. Apesar das circunstâncias adversas, não tínhamos o luxo de simplesmente regressar sem trazer conosco o prêmio principal, se viemos até aqui e é nossa prioridade manter o foco sem se intimidar com absolutamente nada. A travessia seria um verdadeiro desafio estimulante, embora largura fosse bastante considerável para se passar tranquilamente, para mim era quase que uma minúscula e frágil ponte de cordas e madeira desgastada que cederia num movimento brusco — uma versão imaginativa e exagerada da realidade.
O confortador e melódico clamor do outro lado me embalava, querendo mais velocidade e urgência na nossa procissão. Vergil me firmou na passarela quando decidi ir por conta própria, já seria um abuso ele me carregar mais e sem um dos braços, embora não tivesse totalmente recuperada já não necessitava disso. Meus primeiros passos foram cambaleantes como de uma criança que aprendia a andar, estabeleci o equilíbrio adequado e junto a Vergil reiniciamos o percurso. Havia tantas coisas rondando minha mente, inclusive sobre o poder convidativo e energizante que aos poucos nos aproximávamos mais. A ausência de tudo que descreveria de relativamente normal era estressante: a luminosidade precária, os únicos sons que irrompiam o silêncio eram das nossas respirações irregulares que se propagavam e a temperatura neutra, nem mesmo ventava. A corrida incansável pareceu não ter um fim, jurava que quanto mais furiosamente quebrávamos a distância para chegar a meta, mais a pista se distendia-se para nos retardar.
Utilizava sabiamente a conexão energética que possuía com o alvo, a aura prateada ganhou mais vibração à medida que avançávamos, tornando-a tangível. Paramos diante de outra porta metálica enferrujada que emitiu um som estridente quando se espaçaram, muito incômodo e dolorido. Olhei de soslaio para Vergil, ele fez gesto positivo para entrasse confiante e foi justamente o que fiz. Fomos recebidos por um intenso e ofuscante fulgor que nos cegou momentaneamente, para alguns minutos dentro da penumbra completa ser recepcionados por uma poderosa fonte de luz, de certa maneira, é acolhedor. Pisquei inúmeras vezes para me acostumar com a iluminação, apesar da tentativa não ser uma tarefa fácil; minha visão estava muito turva.
Gradativamente consegui distinguir nitidamente as formas e o que tinha ao redor o suficiente para me deslumbrar com o magnífico local. A estrutura lembrava espécie de templos antigos: pilares sustentavam o teto alto, o chão revestido de cerâmica impecavelmente polida, no centro do vasto salão uma piscina rasa de águas puras e cristalinas, por fim e o mais incrível a gigantesca estátua de um jovem homem de cabelos longos que portava elegantemente uma bela espada e aos seus pés a mesma espada encravada em uma pedra, uma grandiosa aura prateada envolvia a arma. Impressionada estendi a mão na direção dela, sentindo o poder se alastrando por todas as células do meu corpo, dançando em harmonia e revigorando-me. Não tinha dúvidas que aquela era a lendária Excalibur, a terceira Chave. E exatamente como na lenda do rei Arthur, selada a uma rocha. Meu corpo começou a mover-se sozinho, fortemente atraído pelo poder existente naquele artefato. Vergil seguiu-me atravessando comigo o obstáculo esdrúxulo que formava a águas calmas e rasas da piscina.
A fugaz luz do sol que ali adentrava produzia um efeito majestoso e perfeito ao ambiente como se fizesse parte de cenário de um conto fantástico, belo demais para ser real. Estagnamos poucos centímetros próximos da Excalibur, vendo-a conseguia ver todos os detalhes e seu contorno inigualável, mesmo sem tocar diretamente notava que a lâmina era detentora de grande poder e que seria capaz de cortar tudo. Antes que cogitasse tirá-la, Vergil se adiantou colocando-se frente à espada. Ele a observou, estudando-a por poucos minutos, talvez montando uma estratégia para retirá-la da pedra. Sem perder tempo, ele depositou a mão no cabo para desembainhá-la, porém uma forte estática o impediu de findar sua ação, repelindo-o. A expressão de Vergil ficou tensa e visivelmente insatisfeito com a falha, provando que a questão não fosse por força física, possivelmente teria uma equivalência a história de Arthur e somente alguém bondoso e de coração puro a pudesse tirá-la.
— Essa espada está me rejeitando... — Vergil declarou em irritação contida. — Como se, de alguma forma, ela tivesse vida e me dissesse que não sou digno de portá-la.
— Ah, tem algo relacionado à história antiga sobre um garoto que se tornou rei ao conseguir o feito de remover Excalibur de uma pedra, ninguém tivera sucesso, pois, segundo a lenda, aquele que tem espírito e coração puro poderia fazê-lo. — expliquei, rodeando a pedra em busca de algo para nos auxiliar.
— Em outras palavras, não possuo nenhum desses atributos para sequer tocá-la.
De maneira cautelosa, optei por também arriscar. Não custava nada ir uma vez para ver se teria êxito ou um fracasso, o importante era usar todas as opções possíveis, portanto se nada der certo não me arrependerei sem ter tentado. A aura prateada ressoou e moldou-se a dourada que manava de mim com enorme intensidade, permitindo que tateasse o cabo e segurando-o sem hesitar. Encarei extasiada meu progresso, então ousei repetir o processo com a outra mão e assim uni-las nessa investida. Eu pude senti-la desencaixando enquanto realizava movimentos contínuos de um lado para outro, nem seu peso era insuportável como imaginei. Entretanto, um sutil tremor interrompeu minha concentração, obrigando-me a olhar a estátua cujos olhos ocos brilhavam resplandecentes. O calor e a dor na minha testa foram instantâneos, toquei o ponto dormente. E, de repente, não havia nem espada e tampouco a estátua imponente se sobrepondo perante nós, tudo que ali se encontrava era duas figuras: a feminina usando um longo vestido de cor cinza coberto em determinadas partes por couraças de material semelhante à armadura, os longos cabelos castanhos caindo em delicadas ondas sobre seus ombros, mas o que me surpreendeu de fato, quão idêntica a mim era; o segundo ajoelhado em sinal de respeito enquanto a mulher lhe oferecera o que reconheci sendo a legítima Excalibur. Ambos eram os guardiões que enfrentamos anteriormente. Muitas pessoas se reuniam no entorno, elas admiravam a cena com entusiasmo e maravilhados.
Ela sorriu e o homem retribuiu.
— Eis a Excalibur, uma das espadas sagradas que resplandece como o sol, penetra a mais resistente muralha e corta o mal. — a mulher recitou serenamente, todos os presentes se puseram de joelhos. — Empunhada somente pelo escolhido, e cujo poder deveria servir unicamente ao Bem e a justiça universal. Desde os primórdios pertencestes a minha família e a minha pessoa, mas como meu leal guerreiro e amigo entrego-lhe, pois creio em seu bom coração e seu empenho em proteger a justiça, com o juramento em reinar e proteger o mundo, nunca o empunhando para benefício próprio e sim para proteger os mais fracos.
— Agradeço por honrar-me, minha senhora. Prometo cumprir cada juramento imposto e servir, não só como vosso guerreiro, mas seu amigo como tem sido, Arya.
— Oh, Sparda — suas feições iluminaram em plenitude. — Muito obrigada.
Consciente, pressionei minha compressão no cabo, sentindo-o brandir em mãos. Puxei com minha força máxima, ainda visualizando o desenrolar da cena como se assistisse a um filme no qual eu participava. A mulher proferiu uma pequena frase e, num impulso potente, extraí a espada da rocha gritando:
— Ei que optmus! (Ao mais digno)
Automaticamente elevei a espada liberta com glória e exultação, o poder rugiu ecoante pelo espaço naquele templo. A explosão de energias e após a visão muito estranha, esgotou minhas forças, de modo que, desabei no chão. Excalibur se retorceu na própria aura prata, modificando-se até que se adornou no meu pescoço no formato de um colar e a pequenina espada como pingente. Dedilhei-o e em resposta, o poder dela renovou-me.
Naquele momento, assimilando o ocorrido e apertando o pingente para demonstrar que aquilo era real, percebi que minhas roupas mudaram e era exatamente igual a da mulher da visão. Sinceramente, não me assustou esse relevante detalhe, a similaridade em si não julgava com estranheza ou descaso. O incomodo mesmo surgiu ao peso da couraça dourada que protegia meus ombros e peito, para alguém que nunca nem vira de perto, gerava uma sensação de estar prestes a entrar em combate, só faltava as armas. Delicados enfeites se ornamentavam em meus cabelos e um fino véu se prendia a ele. Com dificuldade, levantei-me ainda fitando a escultura, o nome dele soou feito uma singela melodia repetidamente em minha mente: Sparda. O homem que recebera a lendária Excalibur, o antigo dono. Embora não lembrasse onde tinha ouvido, seu nome me foi familiar como se realmente o conhecesse. Talvez tivesse, as peças se encaixando fez todo sentido: eu devo ser a reencarnação dessa mulher, ainda que a possibilidade me corroesse por dentro. Não concebia algo assim, pois nunca fui do tipo cegamente crédula em antigas ideologia ou crendices. Quando pensava em tudo que aconteceu nesse tempo, de todas as preocupações, essa não seria a menos importante. Eu vivo num mundo que praticamente entrará em colapso por conta de fenômenos decorrentes a distorções dimensionais, demônios apareceram nesse plano e muitas outras situações bizarras que se englobava nela, não são terríveis.
Somente confuso.
Vergil estava com uma feição ilegível e franziu a testa contemplando meticulosamente a gigantesca imagem masculina, pelo modo que o fazia ficava óbvio que buscava particularidades, da mesma forma que eu, tendo a impressão de já tê-lo visto.
— A componente fundamental da missão teve êxito — exclamei, tirando seu foco do monumento. — A Excalibur está em nossa posse. Agora precisamos encontrar uma maneira de sair desse lugar. Considerando que não podemos utilizar o mesmo caminho, não temos muitas opções.
— Segundo as informações passadas por David, há variações dimensionais que podem abrir portais, elas podem nos levar para localidades próximas a costa e ao centro do triângulo, porém são aleatórias e podemos não ter a sorte de vê-las. Também que você mesma criasse um portal, algo que em hipótese suas habilidades lhe concedem. — explicou analista, minha boca abriu-se em um "O" de espanto.
— Eu? Posso ter certas facilidades graças a esses poderes, mas isso vai muito além do que jamais sonhei. Não sei se poderia!
— Em pouco tempo habituou-se de maneira extraordinária a poderes que até então, eram desconhecidos. — Vergil prendeu seu olhar ao meu, nos dele via a destemida fortaleza que existia ali. — Sei que não ira me decepcionar, Diva. Tenho confiança em você e no que pode fazer.
Nunca imaginaria tais palavras vindas de Vergil, ele apresentava uma personalidade séria e compenetrada, em certas ocasiões, severo e insensível. No entanto, pude ver um lado mais humano nele, no qual reconhece as capacidades e qualidades daqueles que lhe são próximos. Sentia-me lisonjeada pela fé que depositara em mim, meu esforço e treinamento sendo merecidos. Fiquei envergonhada em permanecer encarando-o, o calor subiu nas contrações dos meus batimentos cardíacos tingindo meu rosto no mais intenso vermelho. Meu coração estava aquecido como nunca esteve. Determinada e segura, persuadi o tórrido poder para se transfundir para minhas mãos e tornando-o maleável à minha conveniência. Diferente de outras vezes, não houve a dor ou fraqueza, e a aura pulsante da Excalibur contribuiu muito no acúmulo de energia sem que me prejudicasse. Não sabia como iria moldar um portal, contudo confiava na voz interior que me regia e amparava, uma força experiente que proporcionava incomparáveis emoções e sabedoria para me adaptar a quaisquer complicações. O radiante poder deslocou-se das minhas mãos e se contorceu num espiral: sua sucção repuxava o ar e distorcia vagamente a imagem atrás de si, girando continuamente.
— Vamos? — sorri satisfeita com meu sucesso. Tremendo de ansiedade após a nova e bem sucedida tentativa, repentinamente, veio uma força inigualável apossando-se de mim. Uma vida mais antiga que essa — possivelmente a evidência —, ela possuía a natureza de guerreira acostumada a lidar com tais poderes, como se fizessem parte de quem era. A percepção me fascinou. Este dia eu tinha envelhecido mais do que em uma passagem de tempo propriamente dita, mas a sensação despertava uma profunda e poderosa força dentro de mim. E era além dos efeitos da experiência desgastante das últimas horas. Simplesmente estava ciente de como lidaria com isso, tendo o suporte psicológico e físico. Essas habilidades deram-me uma perspectiva nova da minha vida e o que poderei ser.
— Daqui em diante, vou torcer para pararmos em um local acessível e que a equipe de buscadores possam nos achar. — argumentei nervosa.
— Estamos equipados com dispositivos de localização para eventuais buscas, não terá erros. Não se preocupe. — Vergil afirmou casualmente, tranqüilizando-me.
Juntos cruzamos o portal. O que, sem dúvidas, não fazia parte do plano de escape é o encontro nada agradável dentro do oceano e ainda mais a profundidade. Nós estávamos protetoramente cobertos por uma frágil película enquanto o portal fechou-se, deixando-nos momentaneamente imunes a água ou a pressão oceânica. Detínhamos poucos minutos para agilizarmos e nadar para superfície. O medo atravessou meu peito. Contei mentalmente até o três e a forte pressão arrebatou-me. A recepção nada amistosa das águas geladas tornou tudo pior, pois a temperatura superava o mais gélida de tudo que já experimentara antes. As correntes jogavam-me violentamente de um lado para outro, impedindo que me estabilizasse corretamente e a força exercida por elas pareceram dispostas a me partir ao meio. As águas raivosas e congelantes surtiram um doloroso efeito, como milhares de facas penetrando meu corpo. Pude sentir ser puxada para baixo e afundar na escuridão, debatendo-me contra a força que me levava para alguma direção desconhecida. A árdua tarefa fora preservar minha reserva de oxigênio, desorientada e fraca. Era terrivelmente dolorida a água adentrando minha boca e nariz, invadindo meus pulmões. O desespero tomou conta de mim e não pude raciocinar para achar uma saída, para mim naquele momento não havia mais nada a ser feito. Nem havia uma luz para me orientar, indicar se a superfície estava próxima ou não. Eu morreria afogada e nem tinha mais vontade de lutar contra esse destino. Algo, de súbito, agarrou minha mão e me guiava para longe daquele caos. Atordoada e entorpecida, senti algo delicado e quente roçar nos meus lábios, praticamente me forçando a abrir a boca para receber um pouco de oxigênio. Arregalei os olhos quando vi meu salvador e respirei fundo, permitindo compartilhar o ar que Vergil me dava para que não sucumbisse. Recuperada do susto, Vergil me trouxe a superfície e tossi para liberar a água acumulada nos pulmões, o sono lentamente me chamava. O mundo desabava em nosso entorno numa avassaladora tempestade. As ondas queriam nos arrastar com elas, porém conseguimos evitá-las.
— Obrigada — sussurrei sonolenta. As imagens seguintes pareceram confusas e borradas, mal pude distinguir o que elas formavam: os ventos frios vergastando minha pele, sons de barco ou navio, queimação nos meus pulmões, dores no corpo, luzes fortes que insistiam em ficarem no meu rosto, pessoas falando sobre um assunto que nem quis acompanhar, alguém me chamando e por fim a escuridão pacífica.
***
O despertar fora esquisito.
Meu corpo pesava feito chumbo e meus pensamentos bastante incoerentes e aturdidos. Escutei ruídos irritantes e deduzi ser medidor de batimentos cardíacos, vinculados em meu corpo. Havia tubos intravenosos conectados a meu braço que interligavam a bolsa de soro. Demorei a identificar o lugar: um quarto arejado de cores claras entre branco e creme, cortinas de tecido leve que balançavam a brisa, alguns aparelhos hospitalares ao meu redor e o leito baixo que se reclinava para frente. Era um hospital, ao menos acho ser. Vergil estava sentado em uma poltrona folheando um livro e percebendo que acordara, fechou-o. Ele fazia tudo graciosa e elegantemente com um braço do que eu conseguiria com dois. Brandamente aproximou-se da cama com um semblante suave.
— Onde estou? — inquiri rouca, minha garganta ardendo.
— No navio da equipe de David. Você ficou dois dias dormindo depois de resgatados. — informou sem emoção. Tateei meu pescoço a procura da Excalibur, Vergil notou isso e pôs em minha mão a corrente com a Excalibur e a outra com meu precioso anel.
— Oh, muito obrigada! — murmurei contente. Leves batidas na porta me alertaram da nova presença, David entrou no quarto.
— Como se sente, Srta. Valentine? — questionou gentilmente.
— Bem, apenas confusa, mas muito bem. — dei meu melhor sorriso.
— Queria parabenizá-los pelo êxito. E convidá-los a uma pequena pausa para descansar, digamos, uma reunião.
— Reunião? Ou seja, uma festa? — perguntei atrapalhada.
— Sim, sim. Vocês merecem isso depois de tanto trabalho, considerem uma folga.
— Ah, muito obrigada David. — disse alegremente apesar de estar meio abatida.
— Não agradeça. — sorriu ternamente.
— Temos que esclarecer algumas coisas importantes. — Vergil interrompeu intransigente.
— Bem, Vergil tem razão, antes de tudo, David... — suspirei exaurida. — Nós temos um assunto para tratar com você. É uma dúvida que precisamos expor, enquanto tivemos na incansável busca da Excalibur soubemos de coisas que, creio eu, você deve conhecer.
— E o que seria?
— Quem são Sparda e... Arya?
David intercalou seu olhar entre mim e Vergil, e então cruzou os braços e dignou-se em uma postura reservada.
— Está certa, eu sei muitas coisas sobre eles. E essas informações estão estritamente conectadas as Chaves.
— Diga! E dessa vez chega de jogos enigmáticos. — Vergil concluiu impassível.
David sorriu.
— Pois bem, está na hora de saberem a verdade.
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