Dancing in a Twisted Fate!
A compressão pesada e rancorosa de ar arrebentou as vidraças do edifício abrindo uma sugestiva e igualmente insana rota de fuga. Atrás deles as chamas sedentas crepitavam e consumiam tudo, expelindo uma contínua chuva de destroços à medida que ganhava terreno e força propulsora. O cheiro picante e enjoativo de combustível e gás motivou-os a acelerar ainda mais nos corredores abandonados, indo a velocidade máxima apontada no hodômetro. Dante sentiu o deslocamento ardente em sua nuca e pensou no que Lyana estaria aguentando com a pressão em suas costas, agarrada persistentemente nele.
Cronometrou mentalmente os segundos que faltavam para alcançar a janela, desviando dos estilhaços de vidro e concreto que voavam na sua direção. Lyana guinchou em alarde, fincando as unhas no tecido do sobretudo vermelho. Sem perder o ritmo lançou-se, no último segundo, contra a fissura. A explosão devorou impiedosamente o que outrora deveria ter sido um monótono escritório. Dante empinou a moto o suficiente para sobrevoar um pequeno intervalo até o prédio mais próximo, aterrissando com truculência em uma distância segura para contemplar o violento espetáculo de fogo e fumaça negra. Aquilo traria problemas e atenções desnecessárias se permanecessem por mais tempo ali. Havia helicópteros militares rondando pela cidade em ruínas e o que menos queria era atraí-los.
Dante pisou firmemente no piso, retomando o equilíbrio e deu uma rápida olhada na construção devastada antes de seguir viagem. Cada músculo do seu corpo protestava enraivecido diante do extremo esforço de cinco horas percorrendo as ruas desertas — exceto por alguns sobreviventes que procuravam abrigo — da decadente cidade. Um cenário apocalíptico após uma série de bombardeios. Em breve seriam obrigados a verificar alguns dos veículos parcialmente inteiros em busca de combustível, embora o mestiço não estivesse muito satisfeito com a simples possibilidade de parar enquanto corriam contra o relógio. O sol do meio-dia jogava sua luz brandamente amarelada nos prédios altos o bastante para ter a impressão que tocavam o céu projetando sombras sobre eles, suavizando o desconforto gerado pelo calor que gradativamente aumentava. Ziguezagueando uma avenida cheia de carros tombados e distorcidos, Dante ocupou-se de manter-se incógnito e passar despercebidos para evitar encontros desagradáveis.
O ronco turbulento do motor parecia entrar em seus ossos, fazendo-o apertar mais o guidão quase o esmagando. Apesar da sua obstinação ferrenha, o cansaço psicológico não favorecia em nada seu humor e esgotava-o a um ponto crítico, realmente estava sendo muito mais difícil suportar toda carga de responsabilidade que designou a si mesmo. Eram raras as ocasiões que ficava verdadeiramente irritado, e que seu sangue fervilhava como se estivesse em ebulição, mas não pôde conter a injeção de frustração que corroia seus pensamentos. Talvez, meditando sobre a circunstância, fosse um exercício de paciência no qual não obteve sucesso. Não era seu estilo aguardar calmamente que a solução caísse em seus braços, fazia questão de procurar por ela onde quer que fosse. Dante sempre fora um homem de ação, muitas vezes inconsequentes, submetendo-se as mais variadas loucuras mortais. Gostava de se definir como alguém muito participativo e espirituoso, como de praxe, também havia um prazer incomparável em embarcar em missões perigosas e debochar da morte. Chamavam-no de infame por tal atitude.
Ele sorriu internamente.
Limitou-se a contornar um obstáculo: uma derrapagem em rombo no asfalto causado pelo impacto de um míssil. Naquela velocidade absurda se por um descuido viessem a sofrer um acidente, sem equipamento de proteção, provavelmente recolheriam seus restos com um rodo. Isso, no entanto, não o preocupava, sua experiência em condução e o fator essencial que tanto ele quanto Lyana não eram humanos lhe permitia ultrapassar restrições de segurança impostos. Os riscos, de repente, valeram a pena quando se lembrou do seu objetivo. Lyana resmungou baixinho sobre seu traseiro estar dolorido e que precisava, depois que tudo terminasse, urgentemente de longas férias.
Pelo espelho retrovisor, percebeu a aproximação de um helicóptero. A luz ofuscante sobreposta a eles serviu como um alerta óbvio que a temporada de caça iniciou-se, estimulando-os a avançar estrategicamente em curvas, esquivando do choro de tiros desenfreados. Não podia arriscar o único meio de transporte que conseguiram para locomoverem-se taciturnamente pelo caos. Dante jogou seu peso para o lado, guiando a moto para um beco e esbarrando em tonéis que comportam gasolina vazios. Por um momento, teve a impressão que fora o implacável helicóptero atrás de si, alguém também os seguia...
Lyana sinalizou para Dante, movendo-se rapidamente para frente dele e segurando Ebony e Ivory e retirando-as do coldre no interior do sobretudo. Mirou na aeronave que os monitorava sem perdê-los por um misero minuto. Lyana fixou as pernas em uma posição rente a Dante, assim tendo certeza de sua estabilidade, disparou consecutivamente sem titubear. As balas produziram estalidos na superfície metálica, que as ricocheteava. Sem se abater com a descoberta, Lyana não desistiu e descarregou mais e mais balas. Pelo seu conhecimento básico as armas gêmeas de Dante possuíam, teoricamente, munição infinita. Então não teria que ficar recarregando e aproveitaria horas incontáveis de tiros. Dante entrou em um estacionamento com a ridiculamente falsa sensação de ter despistado-os.
Não iriam desistir de capturá-los ou matá-los se essa fosse as ordens. A súbita epifania restaurou sua esperança quebrantada. O fato de uma unidade de segurança de elite a mando da coisa que habitava o corpo de Diva estar em seu encalço, reforçava a certeza dela também estar naquele lugar, como previra. Sua localização inquestionavelmente misteriosa, ainda mais por não existir razões fortes para estar ali, sugerida pelos dados coletados de um repórter que acompanhava e realizava uma investigação por conta própria — que só liberou as informações sob intensa ameaça persuasiva da mestiça ruiva —, Diva estava em uma das sedes de um dos vários centros de comando militar em uma área mais isolada e restrita. Desde que declarou guerra, ocasionalmente comparecia nos locais dominados como um modo de perpetrar o terror psicológico e promover sua autoridade.
O estacionamento chacoalhou. Pedaços de concreto e projétil arremetido neles formavam uma cortina de poeira que Dante deliberadamente usou a seu favor como camuflagem. Refreou-se trocando de curso sob feixes de um holofote que o seguia insandecidamente, perseguindo-o através dos espaços abertos, ensurdecendo-o com os disparos ininterruptos da metralhadora do helicóptero do lado de fora. Praguejou ao ver o medidor quase zerado e a velocidade reduzindo-se em resposta. Eles estavam cercados e sem nenhuma forma de escapar.
— Algum plano? — Lyana perguntou vagamente curiosa.
— Eu sempre tenho um plano — sorriu presunçosamente. Lyana revirou os olhos com a visível demonstração de arrogância do mestiço.
— Pronta?
Lyana fez um muxoxo.
— Eu nasci pronta.
Enquanto a névoa de poeira assentava-se Dante girou sob as rodas dianteiras deixando um rastro de fumaça e atirou-se com eloquência para dentro da cabine no qual dois soldados — fora o piloto — aguardavam em seus postos. A reação de pânico com a presença dele culminou em uma desesperada e desajeitada sequência de tiros. Dante bocejou entediado. Lyana tomou a frente utilizando suas habilidades de encantamento nos soldados assustados. Totalmente hipnotizados sob a influência da mestiça, puderam restabelecer comodamente um novo transporte que os levaria direto para o alvo.
A base ficava a oeste, bem afastada da civilização. Mesmo de longe, em um o campo de visão amplo, distinguiram a figura vestida de cinza e longos cabelos escuros. Fileiras de combatentes separados por esquadrão posicionavam para recepcioná-la, batendo continência. Dante sentindo o jato potente de adrenalina aquecendo as células de seu corpo e agitando todas as suas terminações nervosas, pulou em queda livre. Lyana seguiu o exemplo. Diva olhou-os com usual indiferença gesticulando para os grupos abrirem fogo. Ela não aparentava estar surpresa com sua ousada e impensada empreitada.
Dante deslocou-se com destreza que olhos humanos não captariam, o único indício de sua presença era a vibração suave do ar em rajadas quase imperceptíveis. Sem a necessidade de empunhar Rebellion que trazia, ele golpeou os soldados que corajosamente arriscavam confrontá-lo na vã intenção de atrasá-lo, poupando sem matá-los. Eles tinham, de certa maneira, vantagem numérica graças à quantidade significativa de agentes fortemente armados, com as nítidas e precisas ordens de eliminar todos aqueles que invadissem o espaço privado da área de decolagem. Esquivou dos projéteis que passavam por ele, deixando no pavimento buracos fumegantes. Sons de fuzis que nunca atingiam o alvo enchiam o ambiente, nenhum daqueles homens podia acompanhá-lo. Muitas vezes, em meio a frenéticos disparos no desconcertante conflito, abatiam membros do próprio grupo. Cegos pela fúria desmedida e a incapacidade física e mental. Dante não teve alternativa: em um movimento tirou todos que atrapalhavam de seu caminho, ouvindo-os caírem pesadamente.
Prosseguindo em seu caminho para embarcar na aeronave, Diva recuou agilmente antes que espadas espectrais azuis lhe tocassem. Elas criaram uma barreira para bloquear seu acesso. Dante reconheceu aquele poder em especial.
— Não me admira que novamente estrague meu show com uma entrada dramática, irmão.
Vergil alinhou-se ao gêmeo mais novo, juntamente com Nero e Holy. Diva ajeitou uma mecha de cabelo rebelde balançando com a brisa calorosa. Lyana jogou Ebony para Dante, que imediatamente apontou para a garota cuja expressão vazia fazia-o compará-la a uma boneca de porcelana. Seus dedos pressionaram o gatilho, mas não foi dele que partiu o disparo que penetrou o casaco e estourou no peito dela e esguichando o denso liquido escarlate.
— A cavalaria chegou — riu do próprio comentário. As duas silhuetas femininas pondo-se em posição defensiva.
O corpo inclinou-se para trás retrocedendo devido ao choque abrupto, imóvel de uma forma pouco natural. Diva aprumou-se, colocando os dedos na ferida, vasculhando a carne rígida embebendo sua mão de sangue, afundando mais até alcançar o projétil preso na parte mais profunda da musculatura fibrosa do pulmão. Lyana sufocou um gemido horrorizado. Diva pegou-o, olhando-o e identificando o porte da arma. Lady e Trish dispararam sem parar, as balas transformaram-se em cinzas antes de invadir o espaço pessoal da garota.
— Sete contra uma? — os olhos vermelhos faiscaram em selvageria, mais sombrios. — Isso será interessante.
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