𝟓𝟒 - 𝟑𝟎 𝐃𝐀𝐘𝐒 𝐖𝐈𝐓𝐇𝐎𝐔𝐓 𝐀𝐂𝐂𝐈𝐃𝐄𝐍𝐓
Mordo o ombro da Isobel com cautela, fazendo-a resmungar baixinho. A mulher está esparramada em nossa cama, com as pernas por cima de mim, enquanto os cabelos loiros cobrem seu rosto. Quando ela apareceu com essa tinta no cabelo, achei que tivesse pirado completamente; afinal, ela já é maluca, mas pensei que tivesse se superado na loucura. Porém, não. A Grimes continuou a mesma de sempre, talvez por já ser uma completa pirada, que eu amo.
Nunca pensei que fosse acabar me casando um dia; era uma ideia distante. Tampouco imaginava construir algum tipo de família, mas quando essa maluca cruzou o meu caminho, todo o meu pensamento se moldou ao que ela queria. Se ela pedir para que eu destrua o mundo, assim farei. Apenas Isobel Grimes Dixon tem o meu coração, mente e corpo. Farei de tudo por essa mulher; não imagino a minha vida sem ela. É como se não fosse possível eu existir em um universo sem ela, porque ela é o meu sol. Sou como os outros planetas, girando em torno da maior estrela de todas. Porra, eu sou completamente alucinado por ela.
Em uma parte da minha fodida infância, o desgraçado do meu genitor me castigava queimando ferro quente em minha pele. Uma boa parte das minhas cicatrizes é por causa daquela merda.
Ontem, enquanto a chuva caía e eu escutava o som dos galhos balançando, a única coisa que me importava era o rosto da minha esposa. A forma como ela ficou traumatizada dias depois daquele infeliz chegar perto dela foi desesperadora. Eu queria poder ajudar, mas sabia que não poderia fazer nada naquele momento. Agora estamos caçando-o como um maldito animal, e eu sinto familiaridade nisso, pois eu e o Merle saímos caçando nosso pai por toda aquela maldita cidade. Os olhares feios e repletos de dúvidas eram uma maldição.
Ser um Dixon era uma maldição.
Mas ali, vendo aquele ferro quente, não conseguia pensar em mais nada a não ser em Isobel. Queria tê-la sobre minha pele para sempre. Sem pensar muito, peguei aqueles pedaços e comecei a moldar o seu nome. Foi intenso, avassalador. Sentir a minha pele derretendo aos poucos, ser marcado de corpo e alma por aquela mulher. Eu nunca fiquei com tanto tesão em toda a minha vida. Meu pau estava explodindo naquela calça, o seu olhar amedrontado, o pavor dominando seu corpo e o receio de continuar; isso me deixou ainda mais em êxtase. Devorei o corpo da mulher com força naquele piso mofado, me enfiei fundo até ela gritar por mais, até ela desmaiar em meus braços.
Passo os meus braços ao redor da cintura da mais nova, puxando-a para cima de mim. Isobel dá um gritinho alto, espalmando as mãos em meu peitoral com força. A loira está com um dos sorrisos mais belos estampados em seus lábios e, caralho, apenas isso foi o suficiente para iluminar o meu dia. Foda-se o mundo! Se eu pudesse, ficaria para sempre aqui, nos braços dessa maluca.
Comecei a batucar meus dedos em sua bunda. A mulher rebola lentamente, aproximando os seus lábios dos meus, puxando o meu lábio inferior com os seus dentinhos. Em seguida, ela chupou-o com vigor, deixando uma pequena marquinha vermelha em minha pele.
— Bom dia, bela adormecida! Sonhando com os anjos? — murmurei, abraçando a sua cintura.
— Com anjos não, mas com um caçador forte, gostoso e delicioso… sim.
— Você é tão safada!
— É pra combinar com você, sabia? Pensa que não senti o seu olhar na minha bunda, senhor Dixon?
— É que também, com uma bunda desse tamanho, seria impossível não olhar. Parece que você engoliu duas melancias e elas foram parar diretamente na sua bunda. — Dou um tapa estalado, fazendo-a dar um sorriso contido. — Vamos começar o dia?
— Não podemos ficar de preguicinha?
— Até que sim, mas precisamos organizar nossas coisas. Hoje vou em uma busca; falei com a Sasha ontem, e parece que tem um lugar interessante.
A mulher se joga no colchão e solta uma lufada de ar alto. Ela odeia trabalhar de manhã; percebi isso faz algumas semanas. Nos dias em que ficamos fora da prisão, a mulher odiava se levantar cedo para fazer a primeira ronda ou ir fazer o perímetro, e aqui na prisão não é diferente. Ela sempre pega os turnos que cobrem a noite ou a parte da tarde; ela tem aversão a se acordar cedo.
— Sua mão não vai cair se começar a fazer as coisinhas de manhã, amorzinho.
— Minha mão não, mas a minha paciência sim. Fico de mau humor pela manhã e as pessoas se esforçam para fazer perguntas burras — afirmou, me encarando de rabo de olho.
— Ninguém mexe ou fala burrices perto de mim.
— Até porque você dá uma olhada fatal na pessoa, que ela sai correndo antes de perguntar, além de passar uma imagem de velho carrancudo — pontuou, batendo a mão em meu peitoral. — Hum, anda malhando?
— Levanta logo sua bunda da cama e vamos trabalhar. Vai querer ir comigo hoje?
— Você vai me encher a paciência com aquele papo de “não pega isso”?
— Pode pegar o que quiser, Isobel — revirei os olhos, pondo o braço sobre os meus olhos.
A mulher se levanta rapidamente da cama, mas antes de se afastar, deixa um pequeno beijinho em minha bochecha e parte para fora do nosso quarto. Isobel tem um sério problema de atenção, então, em todas as buscas que fazemos, ela começa a pegar as coisas mais inúteis possíveis e tenta me convencer de que podem ser úteis em alguns momentos, como a vez em que ela simplesmente pegou a foto de uma laranja e mandou levarmos, e a sua justificativa foi que, no futuro, talvez não existam mais laranjas e que a Judith precisaria saber como eram as frutas. Outra vez, ela tentou pegar um secador, disse que o cabelo estava muito feio e que precisava dar um trato, e assim se segue. Eu apenas falo que não; ela resmunga baixinho, às vezes me manda pastar, mas sempre devolve o item até onde pegou.
Ela é muito mimada.
Fora isso, em todas as buscas, ela inventa algum tipo de desafio para que possa me vencer e eu, como um bobo, aceito sem contestar. A verdade é que quero fazer ela feliz de todos os jeitos possíveis. Seja topando as suas brincadeiras malucas ou rindo das suas piadas sem graça, Isobel é única; é a mulher que faz o meu coração bater de forma desenfreada. Sem ela, me sinto vazio e até mesmo volto a ser o Daryl fechado e que pouco se importa com o que os outros vão pensar. Ela me salvou da minha própria mente, quando estava me afundando em pensamentos destrutivos; a Grimes surgiu como uma luz na minha vida.
Eu a amo por completo: cada loucura, pensamento intrusivo, mania, falhas e acertos. Eu amo tudo que compõe Isobel Bertha Grimes Dixon. Ela é mais do que eu merecia e, se Deus me enviou essa mulher, eu vou fazer de tudo para tê-la. Não serei louco de perder minha Deusa por algo tão ralé.
Pareço um marica falando isso? Sim, provavelmente Merle deve estar rindo de mim no inferno, mas foda-se, me torno o maior marica do mundo quando se trata dela e pouco me importo com o que vão falar ou pensar.
— Esqueci de falar. — A garota põe a cabeça para a parte de dentro da cela, esboçando um sorriso meigo. — Eu te amo, Daryl Dixon.
— Eu também te amo, mais que tudo.
— Eu sei, é impossível não me amar. — A loira joga o cabelo para trás da orelha e sai desfilando pela prisão.
— Doida, completamente doida. — E o amor da minha vida. — Ai, Deus, podia ser menos maluca, né? Mas não tô reclamando, gosto assim, até quando me bate do nada ou chuta minha costela durante a noite, eu amo ela desse jeitinho.
•••
Estalo os meus dedos com força, fazendo um barulho agudo, ao mesmo tempo em que passo as minhas íris pelos novos rostos na fazenda. Não confio nessas pessoas; não sei o passado e a índole delas, mas agora estamos aceitando-as depois de fazer aquelas três malditas perguntas: quantos zumbis você matou, quantas pessoas você matou e por quê. É uma forma justa que o conselho encontrou de aceitar novos integrantes. O ponto é: eles podem mentir e depois foder com todo mundo nessa merda.
Eu estou odiando essa situação, diferente dos outros que estão adorando essa invasão permitida. Em algum momento, os suprimentos vão ficar escassos e eu já vi muito homem ficar louco com isso. Sem contar os zumbis que se aproximam cada vez mais das grades, que, por sinal, precisamos reforçar. Quanto mais de nós há aqui dentro, mais deles vão surgir. Isobel e Dianna tiveram um plano de colocar uma equipe em cada ponto de lotação deles para matá-los; tem funcionado. Há 30 dias, pelo que soube, conseguiram derrubar uma das grades, mas não foi algo que mudasse tudo.
O meu estômago revira tão alto que consigo escutá-lo com precisão. Isso é sinal de que preciso comer algo decente e não só a minha esposa.
Com passos firmes, aproximo-me de um amontoado de mesas onde, todos os dias, eles se reúnem para as refeições como se fosse um ritual. Eu, por outro lado, sigo minha rotina à parte. Pego minha parte e me afasto. A confiança não surge do nada; é construída aos poucos. Para mim, eles ainda são apenas rostos agrupados nessa maldita prisão. Isobel, Emília e Alicent até compartilham a refeição comigo às vezes, mas logo seguem para suas responsabilidades. Ally agora trabalha na horta com Carl, Sophia e Lincoln. Emília, por sua vez, tem se aventurado em algumas buscas com a namorada, mas prefere, na maior parte do tempo, ficar na distribuição de alimentos com Carol. Aos poucos, vejo que ela está se permitindo abrir mais espaço para os outros.
— Bom dia, Daryl. — O doutor S me tira do amontoado de pensamentos que invadia minha mente. Ergo o meu olhar na direção do homem, cumprimentando-o com um aceno rápido. Logo, um coro de vozes inicia com a mesma frase: “Bom dia, Daryl”, incrivelmente desconfortável.
Aproximo-me de Carol. A mulher esbanja um sorriso sacana em seus lábios enquanto serve uma pequena quantidade de comida em um bandeja azul. Levo a minha destra até a barbicha rala, que preciso raspar urgentemente, coçando-a intensamente, tentando disfarçar o incômodo. Odeio ter tantas pessoas ao meu redor; minha vida nunca foi dessa forma. Sempre gostei do silêncio, por isso parte da minha vontade de caçar era aproveitar o sossego da mata. Respiro fundo, absorvendo o aroma de carne que invade meu sistema como um vírus. Escuto mais uma vez a minha barriga roncar.
Preciso comer logo, ou como a Isobel faz seus dramas: vou partir dessa para uma pior.
— Cheirinho bom
— Fique sabendo que eu gostei de você primeiro — ralhou Carol com um tom enciumado na voz. Minha melhor amiga é boa em fingir as coisas; já reparei nisso há muito tempo.
— Para — enfiei um pedaço de carne na boca, tentando conter a vergonha de ter essa conversa. Não sou o melhor do mundo em manter relações decentes com as pessoas. — O Rick trouxe um monte deles também.
— Não recentemente.
Fixei meus olhos na grisalha, tentando entender até onde ela quer chegar com o assunto. Carol pode ser completamente enigmática quando quer; é até uma praga. Foi a mesma coisa com o início do meu relacionamento com Isobel; ela deixava pequenas pistas do que eu deveria fazer para assumir de vez que amo aquela maluca, e funcionou.
— Caça para estranhos, alimenta as pessoas. Tem de aprender a viver com amor — pontuou Carol, arrumando algo na comida. — Tenho que te mostrar uma coisa — afirmou, virando-se na direção de um garoto que limpava alguns dos bandejos de comida. — Patrick, você pode assumir?
— Sim, Senhora.
O rapaz caminha em nossa direção, os óculos pretos caindo pelo seu nariz pontudo e os olhos escuros brilhando em um tipo de admiração maluca. Patrick respira fundo e ergue o queixo, tomando coragem para falar comigo. Que garoto esquisito!
— Senhor Dixon, eu só queria agradecer pelo veado que trouxe ontem. Foi um banquete, senhor… — o menino ergueu a mão, me encarando de forma esperançosa. — E será uma honra apertar a sua mão.
Retiro o meu dedo de dentro do pote, aproximando-o dos meus lábios e sugando os resquícios da comida ali. O garoto me encara atentamente, como se fosse ficar ali até que eu esperasse. Crispo os meus lábios, batendo a minha mão com força contra a do garoto. Um sorriso dança em seus lábios e ele dá um impulso para cima. Como disse: esquisito.
— Vamos, Carol.
Continuo mastigando a carne cozida, o gosto quase sem graça, mas é o que tem para hoje. Dou uns passos ao lado da Carol, que está com os braços cruzados e aquele jeito dela, calada, como sempre. Ela segue devagar até uma área que dá visão das cercas, sem pressa. Quando a gente chega mais perto, ela vira um pouco a cabeça para mim, dá um sorrisinho de canto e aponta com o queixo para os zumbis. Estão todos lá, amontoados na grade, empurrando com aqueles corpos podres e fedendo pra caramba. A cerca range com o peso deles, e o barulho... é como ouvir carne velha sendo espremida. O cheiro é um soco no nariz, aquela mistura de podridão e morte à qual a gente nunca se acostuma, por mais tempo que passe. Dá para ver a carne escorrendo dos ossos de alguns, como se eles fossem se desmanchar a qualquer momento, mas continuam ali, insistindo, empurrando, tentando alcançar algo que nem eles sabem o que é.
— Olha, hoje não sei se vai dar para dispensar muita gente para ajudar. — murmurou, pondo a mão no cós da calça.
— O lugar parece bom, vamos atacar e tomar. — sibilei, com a boca repleta de carne.
— É, eu sei. — suspirei, olhando na direção das cercas. — A questão é que teve um super ajuntamento de repente, mais dezenas indo para a torre três. Tá ficando tão mal quanto o mês passado; eles não estão se espalhando pela cerca.
— Mais nossos atrai mais deles. — pontuei, apontando na direção dos monstrengos. — Já tem uns deles grudados na cerca, estão começando a se juntar.
— Empurrando as cercas, dá para administrar, mas se a gente não se antecipar… não sei não. — a mais velha soltou um longo suspiro, me encarando de soslaio. — Desculpe, bebê.
Neguei com a cabeça, dando um pequeno empurrãozinho em seu ombro, afastando-me dela aos poucos. Preciso conversar com o Rick; se a cerca cair, vamos acabar completamente fodidos. Iremos perder as hortas e alguns dos animais; também podem invadir a parte de dentro e acabar com os idosos e crianças que não sabem lutar. Vai ser uma grande merda.
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Coloco um galão de gasolina na caminhonete, escutando o líquido balançar. Viro a minha cabeça para o lado e vejo o namoradinho da Beth segurando uma das armas e a posicionando com todo cuidado. Esse cara é legal; quando vou em algumas das buscas, prefiro ir com ele do que com os outros. Ele sempre sabe o momento de ficar calado e não me encher a porra da paciência, o que é um milagre. Glenn tem voltado a conversar comigo; parece que a raiva que tinha no coraçãozinho do coreano está passando. Acho que boa parte é influência da Isobel e da Maggie. Essas duas, quando se juntam, são piores que tudo. E, por incrível que pareça, a peguete não oficial do Rick é a mais tranquila quando não está enchendo o saco.
Ou seja, quase nunca.
Os irmãos Sasha e Tyreese também vão às buscas, mas é aquela coisa: não fede e não cheira. Não sou tão próximo deles ainda para ter uma opinião formada, e a minha mulher é psicopata; não me deixa chegar perto de outras, não que eu queira também. Afinal, quem olha para outras com aquele monumento? Difícil.
Por falar na diaba loira, nunca fui fã de mulheres loiras; sempre gostei das morenas. Mas quando essa mulher apareceu, cheia de marra e com o cabelo loiro, descobri que o meu fetiche, na verdade, é pela Isobel. Até se usasse um saco de batatas, continuaria completamente apaixonado por essa mulher. Ela é maluca, esquisita, meio doida, fica olhando para o nada como se estivesse em Nárnia, fala um monte de bobagem e é fã de Harry Potter, Draco Malfoy é bem melhor claramente, todos temos defeitos, mas amo ela do jeitinho que é.
A minha diaba loira passa por Beth, lhe dando um abraço apertado. Em seguida, caminha até mim com um sorriso malicioso estampado nessa boca carnuda. Desvio minha atenção por alguns segundos para a conversa do casal mirim.
— Isso aí parece namoro de novela — pensei alto demais, fazendo a Isobel dar um tapa em meu ombro. — Ai, sua maluca.
— Deixe o namoro deles em paz e vá cuidar das suas coisas, seu grosso — rosnou a minha esposa, apoiando o peso do seu corpo em uma das pernas. — Anda, Dixon, vai trabalhar.
A mulher virou-se de costas para mim e saiu rebolando a sua bunda gostosa. Céus, essa mulher me deixa com um parafuso a menos; um não, logo três, porque essa daí deixa é logo louco.
Após guardar o caixote de frutas na caminhonete, andei na direção do resto do pessoal que conversava com o Bob. Encontrei esse carinha há algumas semanas com o Glenn; ele estava sozinho e com uma cara péssima. Pensei em não chamá-lo, mas acabei mudando de ideia. Não sei se confio nesse careca; ele tem uma cara de panaca que me irrita pra caramba. Não sei se é de nascença ou se é trouxa assim mesmo. Escuto uma parte da conversa e viro o meu rosto para eles, dando uma opinião rápida:
— Não vamos tentar se não for fácil — falei, me afastando dos que estavam ali com um sorriso de canto. Isobel estava ao lado de Glenn, batucando seus dedos no teto do carro.
Não estou com paciência para tomar decisões hoje; eles que decidam se vão levar esse cara ou não.
Vou em direção à minha moto, subindo em cima dela sem qualquer resquício de paciência. Acho que ela acabou quando aquele garoto veio encher a paciência pedindo para apertar minha mão. Foi uma das coisas mais aleatórias que já vivenciei na minha vida. Sempre fui rejeitado e julgado durante toda a minha existência; era alvo de piadinhas sem graça e comentários maldosos por ser um Dixon. Mas agora, de alguma forma, estou sendo exaltado por pessoas que nunca vi antes em minha vida. Talvez seja a tal da gratidão por eu estar caçando e buscando por suprimentos, mas ainda assim é estranho pra caralho.
Sou tirado dos meus pensamentos confusos por braços. Retribuo de imediato, pensando ser Isobel; afinal, os fios louros taparam por completo a minha visão. Retiro uma parte da cabeleira loira e recebo a visão de Ambry, Arley, Arlet... quem é essa menina mesmo? Não consigo lembrar o nome, mas sei que resgatei ela e a família no meio da floresta. A garota, desde então, tem se tornado um chiclete meu e do Rick, prepara algumas comidas e entrega desenhos. Tenho evitado contar isso para Isobel porque a minha mulher é surtada, e a pobre menina só está tentando ser gentil.
Para evitar confusão, me afasto da garota. Seu cenho ficou franzido; mais nova, põe a mão na cintura, tombando a cabeça para o lado. Ela tenta encostar meu corpo novamente, mas prontamente desvio. Qual é o nome dessa garota, céus?
— Senhor Dixon, o senhor pode conseguir uma coisa para mim? — crispando os lábios, coçando a minha barba. — Hum, pode?
— O que?
Quando o diabo não vem, manda o assistente para acabar com a pouca paciência que me resta.
— Camisinhas.
— O que? — encaro a garota por alguns segundos; não é possível que virei motoboy de preservativo. Devo ter feito alguma merda em uma vida passada, como esse povo fala. — Não.
— É ciúmes?
— Ciúmes do que, garota?
— De mim, oras. Se você quiser, pode pegar para usarmos juntos. — simplificou, olhando para trás de mim; um sorrisinho malicioso estampava seus lábios. — Eu quero agradecer a você e ao senhor Grimes.
Ela. Tem. Algum. Problema. Na. Cabeça.
Só pode ser isso. Nunca vi alguém despejar tanta bosta pela boca como essa garota. Ela deve ter sérios problemas. Viro a cabeça para o lado e vejo minha esposa observando minha interação com a maluca de pedra. Isobel está de braços cruzados, e sua língua desliza pela parte interna da bochecha como se estivesse se segurando para não ir até lá e dar uma lição na garota. Ao lado dela, Glenn exibe um sorriso malicioso, mexendo os lábios para formar um claro "se fodeu". Suspiro, balançando a cabeça negativamente, antes de voltar minha atenção para a menina cujo nome sequer consigo lembrar.
— Escuta aqui, projeto de ser humano, nunca mais fale ou sequer pense em mim. Vá direto para o inferno e não volte. Eu amo minha esposa e nunca, na porra da vida, eu trairia ela com... — travei a mandíbula, segurando a vontade de xingar mais do que devia. A garota me olhava com os olhos marejados, mas não me importei. — Você fala muita merda, sua problemática do caralho. Agora desapareça da minha frente. E pare de comer merda, porque isso está afetando o jeito que você pensa, sua maluca do caralho.
Não esperei respostas da Annabeth. O que mais odeio em minha vida é traição e pessoas se fingindo de cordeiros do Senhor Jesus, e essa menina consegue ser os dois. Jamais daria liberdade para tal coisa; respeito e amo a minha esposa mais do que tudo nesse mundo e espero, do fundo do meu coração, que essa vadia — afinal, quem dá em cima de casado é vadia — se ferre muito nessa bosta de vida pós-apocalíptica. Eu não dou chance para pessoas entrarem na minha vida por isso. É difícil saber quando ela está sendo honesta ou apenas mais uma filha da puta desgraçada.
Prefiro evitar e ser o grosseirão que não conversa com ninguém. Compensa demais.
— Vai ficar flertando com ninfeta ou vai tomar partido, Dixon? — A voz de Isobel me puxou dos meus pensamentos. A mulher estava sentada em sua Ducati, seu tronco inclinado para frente, amassando os seios contra uma blusinha branca. — Meus olhos estão aqui em cima.
— Eu sei, mas os seus peitos são deliciosos. — brinquei, batucando os meus dedos no ferro da moto.
Um tapa, óbvio que eu ia receber um tapa bem na nuca. É de foder, viu? A loira se arruma na Ducati, ajustando os melões que ela chama de peitos. Os piercings estão marcando pra caralho; minha vontade é de arrancar essa blusa e mandar ela vestir uma burca. Ninguém pode olhar o que me pertence; cresci dessa forma. Uma vez, um moleque tentou pegar um carrinho e eu quebrei o nariz. O fato é: sou ciumento pra caralho e a minha mulher é gostosa. Porra, gostosa é pouco para descrever a beleza dela; não posso dar bobeira com esses gaviões.
E eu ainda vou matar aquele idiota que sorriu para ela, quem ele pensa que é?
— O que aquela garota queria?
— Honestamente? Estava oferecendo a boceta, pensando que eu iria comer ela. Não achei meu pau no lixo para enfiar em qualquer bueiro. — dei de ombros, tombando a cabeça para o lado. Isobel sorriu em satisfação, jogando uma parte do cabelo para trás; seus olhinhos verdes brilhavam.
Eu sou apaixonado por tudo nessa mulher: seus olhinhos brilhando, os cabelos longos e macios, as bochechas redondinhas e uma covinha que se forma toda vez que ela sorri. Ah, e o seu sorriso! Quando ela sorri, parece que todo o universo congela e tudo se torna somente sobre ela. Nunca gostei de abraços, mas quando Isobel passa os braços sobre o meu tronco, me sinto acolhido, algo que nunca senti em toda a minha vida. Ela é capaz de transformar dias tempestuosos em alegria e paz. Se fosse para escolher o meu lugar favorito no mundo, seria nos braços dela. E, para ser mais honesto ainda, eu amo os peitos dela; poderia sugar eles até deixar a pele branquinha marcada. Adoro passar minha língua pelos biquinhos e brincar com aquele maldito piercing que me deixa louco.
Obcecado por ela, desde que a vi naquele hospital, sabia que tomaria aquela garota para mim. Naquela época, até pensei em sequestrar a doce e inocente menina que veio conversar comigo, mas o Merle me infernizou para nós mudarmos de cidade.
Observo Isobel levar a tampa da caneta até os lábios, deslizando o objeto por sua boca carnuda. Ela encara atentamente Sasha e Glenn, que instruem como vamos agir. Quando estou sem paciência, deixo os dois trabalharem nessa parte e, no momento, estou mais focado na minha esposa. Meu membro está pulsando dentro da calça, tá doendo pra caralho; parece que o tecido do jeans está rasgando-o lentamente a cada espasmo. Penso seriamente em deixar toda essa merda de busca, levar Isobel até a nossa cela e enfiar o meu cacete duro dentro dessa boquinha gostosa.
— Você está escutando?
— Não.
— Hoje é você quem está no mundo da lua, Baby Dix — estalou a língua, lambendo os lábios carnudos. — Ei, tive uma ideia.
— Fala.
— O que você acha de um racha ?
— Nem fodendo, não de competir com garotinhas mimadas. — ralhei, puxando uma parte do cabelo loiro dela.
— Há, já entendi. — suspirou, cruzando os braços. — Tá com medinho de perder pra uma mulher, né frouxo?
Frouxo, Isobel?? Ah, ela vai ver o frouxo.
— Quando eu te vencer, não quero você chorando falando que roubei, sua mimadinha.
— Combinado, grandão.
Giro o pulso na manopla direita, e o ronco ensurdecedor do motor da minha moto ecoa pelo pátio da prisão, fazendo até mesmo alguns corvos voarem assustados. Isobel não demora a responder. Ela inclina o corpo para frente, com os olhos fixos na estrada de terra à nossa frente, e acelera, arrancando quase ao mesmo tempo que eu. O vento corta o rosto como uma lâmina enquanto descemos na direção do portão. Isobel me ultrapassa, e o som do motor dela grita ao meu lado, provocando a sensação de que a moto também faz parte do jogo. Aperto os dentes; não vou deixar isso barato, nem fodendo. Acelero mais, e as rodas derrapam levemente na curva, levantando poeira atrás de mim. Ultrapasso-a em um movimento preciso e começo a traçar um zigue-zague, bloqueando qualquer tentativa dela de passar por mim.
— Você vai ter que fazer mais do que isso, Docinho. — gritei por cima do rugido dos motores, sentindo a adrenalina pulsar como fogo nas veias. Ela sorri de canto, aquele sorriso desafiador que me faz saber que ela não vai recuar.
Essa pilantra está armando alguma coisa para passar na frente; essa ratinha não é boba.
A pista de terra estreita entre as árvores e o portão da prisão já está à vista. Rick estava ao lado de Carl conversando sobre algo. Cerrei os olhos para o sol baixo, o reflexo quase me cegando, e foi aí que vi Michonne e Jensen. Eles se aproximavam a cavalo, rindo de algo, completamente alheios à nossa corrida. Virei o rosto rapidamente para o lado, erguendo a mão e sinalizando para que Isobel parasse. Ainda podia ouvir o motor dela roncar atrás de mim, mas sabia que ela tinha visto o mesmo que eu. O jogo tinha acabado, pelo menos por enquanto.
— Olha só quem voltou. — bradei, desligando a moto com a chave na ignição. Jensen caminhou até mim, batendo a mão no meu ombro e dando um sorriso.
— Por ela, ficaríamos vivendo igual àquele seriado "Largados e Pelados". Tive que convencê-la a voltar.
— Quem está viva sempre aparece, não é? — minha esposa desceu da sua Ducati e correu na direção de Michonne, dando-lhe um abraço apertado.
— Me acharam.
— Pelo menos estão inteiros. — brinquei, desviando meu olhar para o meu sogro.
— Queria dar uma olhada em Macon — a mulher de dreads falou, cruzando os braços enquanto Jensen suspirava a contragosto. — Vale a tentativa.
— São 100 km de zumbis.
— Sem contar os malucos que podemos encontrar — Isobel complementou, apoiando o braço em meu ombro. — Não é?
Michonne permaneceu calada; parecia que sua mente iria consumir toda a sua sanidade, assim como Bel. A mulher estava louca para encontrar o governador e acabar com a vida daquele desgraçado de uma vez.
— Eu vou checar aquele outro lugar, aquele que eu falei — comuniquei a Rick. O homem desviou o olhar para o chão.
— Eu vou sair e checar as armadilhas; não quero perder nada para esses monstros desgraçados.
— Eu vou — após longos minutos em silêncio, Michonne pronunciou, caminhando em direção à caminhonete. Carl, que estava cuidando da cela, virou o rosto na direção dela com o cenho franzido.
— Acabou de chegar!
— Eu volto — a mulher acenou para o garoto com um sorriso no rosto.
— Ei, cara, vou conferir as armadilhas com você — Jensen pontuou, indo na direção de Rick.
A Grimes, não consigo me acostumar a chamá-la de Dixon. Isobel é muito perfeita para um sobrenome com um legado tão fodido. Prontamente, a garota com os cabelos tingidos de loiro passou os braços ao redor de Rick, abraçando-o com força. O homem retribuiu, apertando-a com força enquanto beijava os cabelos dourados.
— Se cuida, filha.
— Cuidado é o meu nome do meio.
— Na verdade é Bertha — Carl zombou, franzindo os lábios.
— E o seu é Alberth
Deus tenha piedade da Judith, ou esse homem vai colar o nome dela de Margarete ou coisa pior.
•••
Isobel me ultrapassa depois de quase meia hora lutando para tentar me alcançar. Essa garota nem nasceu direito e acha que consegue competir comigo; é de foder o rabo sem lubrificante. Estacionei a moto de qualquer jeito, o som dos freios ainda ecoando enquanto eu descia, com a adrenalina pulsando nas veias. Antes mesmo de me recuperar totalmente, lá vem minha loira, com aquele sorriso vitorioso que iluminava qualquer ambiente. Ela corre até mim, os olhos brilhando de empolgação, e se joga nos meus braços como se aquele momento fosse uma celebração digna de troféu.
— Viu só? Te deixei comendo poeira! — ela provoca, batendo no meu peito com as mãos, como se estivesse marcando o ritmo de uma música invisível. Seu riso era contagiante, e era impossível não sorrir de volta. Ela estava radiante, como se a vitória fosse a melhor coisa do mundo – e talvez, naquele momento, realmente fosse. — Gostou de perder, velhote?
Pra te ver sorrindo assim? Com toda a certeza do mundo sim.
— Ainda tem a volta, sua ratinha
— Ratinha? aí, cale-se seu gambá.
— Os outros estão chegando — murmurei, antes que isso virasse uma competição de apelidos.
A caminhonete branca se aproxima, o motor rugindo alto e levantando poeira por todo lado. Meus olhos seguem o veículo, sem desviar, até ele parar de vez. Bob é o primeiro a descer e, como sempre, alguma coisa nele me deixa inquieto. Nunca confiei nesse cara. Solto um grunhido baixo, mais para mim mesmo, e viro de costas, encostando-me na grade enquanto observo tudo que sobrou com atenção. Logo sinto a presença de Isobel ao meu lado, sem cerimônia, como de costume. Ela cruza o braço no meu e, antes que eu diga qualquer coisa, dá um beijo leve no meu ombro. Fico imóvel, apenas deixando que ela fique ali, do jeito que gosta. Seus olhos seguem na mesma direção que os meus, encarando o mercado destroçado à nossa frente. Por algum motivo, com ela por perto, o peso nas minhas costas parece um pouco mais fácil de carregar.
— O mundo está sucumbindo aos pouquinhos; isso é uma merda — sibilou, mordiscando o lábio inferior.
— O exército levantou essas cercas e criou um lugar para as pessoas. Na semana passada, quando descobrimos esse lugar, havia um monte de zumbis acorrentados, afastando as pessoas como se fossem cães de guarda.
— E eles foram embora? — Bob perguntou, entrando no assunto com um ar sério.
— Escuta — Sasha falou, confiante.
— Você os atraiu — Michonne pontuou, com a mão posicionada na cintura e o olhar fixo em Sasha.
— Ligado na bateria de dois carros.
— Que legal, glennzico! — Isobel fez um sinal de positivo para o asiático; em resposta, ele sorriu para a amiga.
— Certo, vamos logo com isso. — Tomo a dianteira, segurando minha crossbow com firmeza. Meus olhos varrem o acampamento destruído, cada canto contando uma história de desgraça. Parece que um furacão passou por aqui. Sangue espalhado pelo chão, cabanas rasgadas, tudo um caos. O ar está pesado, sufocante, como se o sofrimento ainda estivesse preso nesse lugar. Dá para sentir... gente sofreu aqui, e feio. — Peguem o que puderem. Amanhã a gente volta com mais gente para acabar o trabalho. — Minha voz sai baixa, direta. Não há espaço para enrolação, só precisamos sair daqui antes que o inferno resolva aparecer de novo.
A cada passo que dou, um corpo morto me segue, como uma sombra grotesca. As mandíbulas escancaradas, os dentes expostos e sujos mostram o que restou de algo que um dia foi humano. Os olhos vazios e arregalados parecem me observar, como se estivessem esperando o menor deslize. Não há espaço para erro aqui. Basta uma coisa sair do controle para tudo ir direto para o inferno e ferrar com o pouco que ainda temos. Não podemos vacilar. Temos que ser rápidos, precisos e acabar com isso antes que vire um problema maior.
Chego perto da janela do mercado, sem perder tempo. Dou uma cotovelada forte contra o vidro temperado, e o som ecoa na rua silenciosa. Só resta esperar. Sei que essas coisas estão lá dentro, vagando pelos corredores como ratos presos em uma armadilha. Não posso depender da sorte agora. Se algo der errado, estamos ferrados.
— É melhor esperar!
— Beleza, acho que consegui. — O namorado da Beth murmurou, se desencostando de uma das pilastras e vindo até mim.
— Conseguiu o quê? — Michonne se aproximou junto com a minha esposa, ambas com os braços cruzados e os olhos atentos.
— Eu estou tentando adivinhar o que o Daryl fazia antes.
— É, ele está tentando adivinhar há seis semanas — murmurei, encostando a minha mão na coxa.
— Eu tô sendo paciente, um palpite por dia.
— Tá, diz aí.
— Bom, pelo jeito que você é na prisão, é do conselho e sabe seguir rastros… ainda ajuda as pessoas, mas continua sendo meio — o garoto crispou os lábios. — sombrio. Trabalhava em homicídios!
Michonne caiu na gargalhada, tombando a cabeça um pouco para o lado. Eu encaro a mulher com as sobrancelhas erguidas, entendendo exatamente o motivo da risada dela.
— Qual a graça?
— Nada, faz todo sentido. — deu de ombros, contendo a risada.
— É, mas o cara tá certo, era disfarçado.
— Tá falando sério? — os olhinhos do garoto brilharam em satisfação por ter “acertado”.
— Aí, para de graça, Daryl. — Isobel se meteu, pondo as mãos na cintura. — Ele está mentindo, Zach. Na verdade, o Daryl era gogoboy, por isso é todo misterioso; ele dança pra mim toda noite — a mulher pisca para mim, dando um sorrisinho malicioso. — Até poderia falar “você deveria ver”, mas o Daryl de sunguinha dançando Ragatanga é uma visão feita apenas para mim.
A Grimes falou com tanta convicção que até eu poderia acreditar nessa mentira.
— É sério?
— Claro que não, garoto! — a loira deu um tapa na nuca dele com cuidado. — Acho que está na hora! — falou, apontando para um zumbi que esbarra no vidro.
Caminhamos em direção à porta com cuidado. Me escoro no vidro, girando a maçaneta devagar, tentando não fazer barulho. Mas, antes que eu consiga abrir totalmente, um rosnado cortante rompe o silêncio. Uma daquelas coisas surge de repente, com os dentes à mostra e pedaços de carne podre escorrendo pela boca. Sem pensar, enfio minha faca na cabeça do maldito, o som do impacto seco enquanto ele desaba no chão, como um saco de batatas. Tyreese, rápido, puxa o corpo para fora do mercado, deixando o caminho livre. Sasha, que estava com uma das armas pesadas, já começa a traçar o que fazer. Sua voz é firme e prática. Ela designa as tarefas e nos avisa para ficarmos alerta, já sabendo que o tempo é nosso maior inimigo ali dentro.
— A gente entra e faz formação de varredura; depois, todos sabem o que têm que procurar. Alguma pergunta?
— Não mesmo, chefe — Isobel fez uma espécie de continência para Sasha. Ela tem um poder de fazer amizade com todos, está sempre com um sorriso gentil e sendo brincalhona, como se o mundo não estivesse ferrado. Eu gosto disso.
— Vem.
Em passos pesados, adentrei o estabelecimento. O odor de carne podre misturava-se com o sangue seco grudado nas paredes. A pouca iluminação chega a arrepiar; é como se estivesse sendo levado para um filme de terror sem escapatória. A minha esposa toma a frente, indo na direção de alguns enlatados. Em suas costas, uma bolsa vermelha com pequenas estrelas e, nas mãos, o seu taco de baseball inseparável. Logo, separei-me dos outros, indo buscar suprimentos em uma área mais afastada.
Isso aqui é uma mina de ouro – pensei, jogando tudo o que fosse possível dentro de uma bolsa de couro antiga. Vi de relance um dos pacotes de biscoito favoritos de Emília; sem pensar duas vezes, peguei-o. A garota ainda se nega a entrar em nossa família. Eu e Isobel estamos tentando ao máximo, mas será difícil, afinal, não nos conhecíamos antes. Continuo a pegar os outros suprimentos e, como se eu estivesse adivinhando, o som estridente de uma das prateleiras caindo ao chão rompe o silêncio ensurdecedor. Movi minha cabeça para o lado, tentando adivinhar de onde vinham os gritos de desespero. Bob.
Ajusto a mochila nas costas, apertando as alças com força, e corro na direção do barulho. Meu coração dispara enquanto o som dos gritos de Bob ecoa pelo corredor. Ao chegar lá, dou de cara com um caos absoluto. O chão está coberto por algum líquido escorrendo, refletindo a luz fraca da lanterna, enquanto o desespero de Bob preenche o ambiente. Pisco algumas vezes, tentando processar a cena e decidir meu próximo movimento. Sem perder tempo, inclino-me para frente, apontando a lanterna direto no rosto dele. Que diabos está acontecendo aqui? — penso, enquanto meus olhos tentam identificar qualquer ameaça ao redor.
— Tudo bem aí? Você se cortou?
— Não cara, mas o meu pé está preso!
— Tá legal, ele não se cortou, me ajudem aqui! — murmurei algo baixo, quase inaudível, enquanto me curvava na direção da prateleira. Minhas mãos agarraram a estrutura enferrujada e, com a ajuda dos outros caras, começamos a levantá-la, o esforço fazendo meus músculos queimarem. O metal rangia sob o peso, mas a gente não podia parar, ou Bob poderia perder o pé.
— Eu passei rápido pela bebida — se justificou. A voz estava trêmula e os olhos arregalados; o pavor era visível, quase palpável.
— Ei, você deu sorte. Se tivesse caído de um jeito errado… — isso era pra ser uma forma de tranquilizar ele? Se falasse isso pra mim, ia mandar pro inferno. Quer ajudar ou atrapalhar?
De súbito, como um presságio do mal, uma daquelas coisas nojentas caiu do telhado. Toda a estrutura do mercado estava caindo aos poucos – literalmente, os restos daquele errante se espalharam por todo o piso. O caos foi instaurado em poucos segundos; várias daquelas coisas começaram a cair do teto, alguns morriam com a queda e outros começavam a se espalhar e atacar. Vi-me cercado por essas coisas; o pânico e a adrenalina tomaram meu ser por completo e, embora devesse estar preocupado com a minha segurança, meus olhos buscavam pelo meu amor. Isobel havia sumido do mapa; o que restara agora eram os gritos apavorados e instruções ditas ao vento.
Sabe aquele filme “tá chovendo hambúrguer?” aqui tá mais pra tá chovendo um monte de merda, e eu não tô com um guarda chuva.
Balançava o meu rosto de um lado para o outro em busca da minha loira. "Bora, Isobel, aparece! Não, ninguém some assim do nada." Quando me dei conta, estava cercado por aqueles monstros. Notei que ao meu lado havia uma pilha de coisas. Cravei uma flecha em uma daquelas coisas e corri na direção daquela pilha, subindo em cima das coisas, com o medo instaurado em cada célula do meu corpo. Atirava naquelas coisas com toda a pressa que tinha, mas a cada bala disparada, mais cinco deles surgiam como malditas pragas. O cheiro da pólvora e o sangue podre dominavam minhas narinas.
Eu estou preso nessa merda – conclui. Erguendo a minha pistola, com agilidade, troquei o pente de balas e voltei a atirar naquelas merdas. Um suspiro sôfrego escapou de meus lábios; meus ombros pesavam bem mais do que antes e, então, a minha loira surge como um anjo, os cabelos batendo em seus ombros enquanto corre em minha direção. A garota puxa uma katana, que não sei de onde arrumou, e começa a matar os zumbis com pressa. Logo, Glenn aparece com um sorriso confiante, ajudando a amiga a eliminar cada uma dessas pragas.
Desci a pilha de amontoados, corri até a mais nova, puxando seu corpo para o meu. Inalei o seu perfume, impregnando minha alma com tudo que posso ter dela. Não damos tempo para o azar e, logo, estamos correndo para longe daqueles zumbis. Antes que pudéssemos sair, o grito de Zach ecoou por todo o mercado. Merda, esquecemos de Bob. Sinalizei para que Isobel saísse; a mulher se negou. Óbvio que ela faria isso, mas, como se estivesse conectada com Glenn, o asiático puxou a minha esposa para longe daquele caos instaurado.
— Ajudem o Bob. — Zach ordena, atirando contra o enxame de zumbis que surge como uma praga.
Aceno para o garoto, indo em direção ao monstrengo que estava prestes a cravar seus dentes no rosto de Bob. Seguro as pernas daquele errante, puxando-o para longe e, logo em seguida, piso em seu crânio, fazendo com que seus miolos melassem a minha bota. O loirinho, Zach, correu em direção à prateleira que prendia Bob, fazendo força para tirá-lo dali. Então, o homem saiu como um ratinho, os olhos arregalados e o suor escorrendo por seu pescoço. Começamos a correr na direção oposta, até que os gritos agonizantes de Zach tomaram o ambiente; um zumbi estava devorando o garoto, arrancando sua carne lentamente.
Meus olhos não ficaram presos por muito tempo naquela imagem, pois um estrondo alto tomou conta do ambiente. Não sabia o que estava caindo daquele telhado agora, mas sabia que precisava correr.
Correr para minha esposa.
Correr para as minhas filhas.
Correr por mim.
Correr para que o sacrifício de Zach tenha valido de alguma forma.
༺ ••• ༻
I
sobel passa seus dedos pelo meu tronco nu; a mulher não ousou falar nada, e seu silêncio era a prova de que tudo o que vivenciamos naquela manhã era real. Ainda consigo escutar os gritos de Zach ecoando em minha mente como uma canção infernal, ou até mesmo os sons daqueles zumbis. Tudo parecia mais fixo em minha mente; se fechasse os meus olhos, ainda conseguiria sentir o odor podre e a vontade inebriante de morrer.
Após sairmos daquela enrascada, tudo tornou-se um grande borrão em minha mente. Lembro-me vagamente da minha esposa me guiando para um bom banho e conversando sobre algumas coisas que conseguimos pegar, tentando aliviar o clima. Depois dali, fui até Beth contar o que havia acontecido. A garota apenas me abraçou com força; talvez essa seja a sua forma de lidar com o luto. Bom, ela perdeu seus dois namorados para essas merdas. Às vezes, me pego pensando se existe uma cura ou se iremos passar o resto das nossas vidas fugindo dessas coisas e agindo como animais selvagens. Mas parece que esse é o nosso futuro.
— Beth está bem?
— Bem? Como ficar bem com uma merda dessas, Isobel? — rosnei, sentindo uma fúria latente em meu âmago. — NÃO TEM COMO FICAR BEM NESSA PORRA! — gritei, afastando-me dos toques dela. — Você não consegue ver? Estamos fodidos nessa merda. Sai dessa sua fantasia e piadas sem graça, para de agir como uma garota mimada. Porra, você tem vinte e oito anos, não é mais a menina que encontrei naquele maldito hospital. NÃO ESTAMOS EM UM CONTO DE FADAS, PESSOAS MORREM E NÃO TEM COMO FICAR BEM. — Peguei um dos copos de vidro e atirei contra a parede ao lado da Grimes; ela permaneceu imóvel, o olhar distante, como se não desse a mínima. — VOCÊ PODE OLHAR PARA MIM??? PODE RESPONDER? PODE BRIGAR?
— É isso que você quer? Descontar sua raiva em mim, Dixon? Você quer que eu brigue de volta como antes? — falou calmamente, deslizando seus dedos pela coberta. — Pode gritar, pode quebrar as coisas, vai em frente.
Fecho os meus olhos, passando as mãos pela minha cabeça. Eu sou um cuzão; não deveria estar descontando a minha raiva nela. Suspiro fundo, coçando a minha barba com força.
— Desculpa, eu estou com raiva; não é você, sou eu. — Ralhei, quase puxando os fios da minha cabeça. — Eu vou para a torre de vigia; não posso descontar minhas frustrações em você.
— Você que sabe, Dixon. — Ela se levantou da nossa cama com uma rapidez que me fez perceber que o clima estava tenso. Veio até mim e, antes que eu pudesse reagir, um tapa forte explodiu na minha bochecha. A dor queimou, mas antes que eu pudesse sequer pensar em dizer algo, ela colocou um beijo bem no mesmo lugar onde me agrediu, um gesto quase cruel, mas ao mesmo tempo cheio de significado. — Eu sei que você está com raiva, também tô — ela continuou, a voz firme e controlada, mas com um toque de ameaça na ponta das palavras. — Mas se você ousar levantar o tom de voz para mim ou tentar jogar qualquer coisinha na minha direção... Eu vou cortar o seu pau fora e depois vou te matar. Não vou abaixar minha cabeça para nenhum surto, entendeu, amorzinho?
O silêncio que se seguiu foi denso e, apesar de suas palavras duras, sabia que ela não estava brincando. Eu sou um imbecil, desgraçado de merda; não deveria ter descontado minhas frustrações nela. Isobel é a mulher da minha vida, a pessoa que mais amo; morreria por ela. Preciso aprender a controlar minha raiva; essa impulsividade não é boa. Jamais tocaria em um fio de cabelo dela, mas não quero que ela tenha medo de mim ou desista de nós. Eu morreria se isso acontecesse; perder Isobel seria a minha ruína.
— Não sou nem louco, você é a minha razão, Isobel.
— Eu te amo, Daryl, mas não estou brincando. Agora, vai beber com o Rick, me deixa sozinha; esse cheiro de whisky velho tá me dando nos nervos.
— Eu pensei em…
— Você tem fetiche em apanhar? — perguntou, cruzando os braços.
— Se for de você, sim.
Voltei com as minhas notinhas finais, e eu gostaria de pontuar muitas coisas sobre esse capítulo.
•1• Daryl e sua obsessão por Isobel >>>
Eu amo escrever na visão dele, porque esse homem passa 100% do tempo dele falando da esposa, um divo.
•2• Daryl que surto é esse querido? Pois acorde pra vida, ou a Isobel vai agir mesmo! 🔪🍌
•3• Esse capítulo não tivemos migalhas de Ally e Carll & Dianna e Rick, chorem (kisses)
•4• Qual a parte favorita de vocês nesse capítulo?
META: 80 ESTRELINHAS & 200 COMENTÁRIOS.
@ AURZTWD 🌶️
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