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Vida e Morte - Por: Rahab

No fim do Universo, em uma zona neutra, há uma Biblioteca.

Uma Biblioteca de livros físicos, numerosos como as estrelas no céu.

Eu nunca a visitei. As lições que me são ensinadas, economia e leis, são de uso militar. E são inseridas diretamente em meu córtex cerebral.

Na Biblioteca, há um Bibliotecário. Os gliesinianos da constelação de Scorpius o chamam de O Um. Em TOI-700, na constelação de Dorado, chamam-no Colecionador de Ciências. Meu povo diz que ele é filho de Buracos Negros, que é feito de chamas e ventos furiosos.

Por isso, em uma manhã em que nossa anã-vermelha brilhava como nunca, eu escrevi para ele uma carta.

"Caro Bibliotecário,

Quem aqui escreve é a septuagésima princesa de Kepler Lyriae, da constelação de Lyra. Escrevo-lhe de próprio punho em respeito a sua profissão e porque uma mensagem virtual pode ser interceptada pelos programas dimidiunes, inimigos de meu povo. Eles não sabem ler nada que não sejam códigos.

Dias atrás, numa sessão de absorção de conhecimento, descobri que, na evolução da espécie homo sapiens, quando os humanos deixaram a Terra e se expandiram pelo Universo, dando origem às espécies homo titanus e homo prudens; desenvolveram um hormônio chamado Halesia, responsável pelo sentimento da Completude.

Halesia é expelida em nosso organismo apenas uma vez na vida, quando conseguimos alcançar nossos objetivos primordiais, quaisquer que sejam, dados a nós no nascimento. E então, nos sentimos completos. Depois, morremos. A maioria absoluta das pessoas morre sem nunca ter sentido Halesia. Dizem que há casos raríssimos (como as estrelas geladas) em que, se alguém sobrevive à Halesia, se torna sábio e triste.

Mas você já sabe disso, não é? Pergunto-me se há algo que você não saiba. E me pergunto se, tendo você vivido tanto tempo, ainda há algo que o surpreenda.

Sabe, eu me sento aqui, em meu trono maior que eu, mais pesado e mais antigo; e observo os dias, e estrelas queimam, e meus exércitos vencem guerras. E, enquanto eles exigem que eu saiba tudo e faça julgamentos apropriados no final de cada amanhã, eu decoro leis, faço discursos, julgo homens maiores, mais velhos e mais pesados, e dou-lhes uma sentença que mudará suas vidas; e eu sinto como se a cada dia eu estivesse mais longe de minha Halesia. O que eu teria que fazer? Ter mais escravos? Ter mais riquezas?

Eu acho que gostaria de morrer de Halesia. Mas temo que morrerei tão miserável como os homens que condenei.

Caro Colecionador de Ciências, espero sua resposta para me dar um pouco de luz.

Saudações,

Carinae Kepler

Ps: É verdade que você é feito de chama e vento?"

Hoje, eu julguei um soldado da tropa inimiga. Ele entrou em nossas naves, sabotou-as e tentou fugir. A sentença é fácil e rápida. Morte por Insolação. A carta de resposta do Bibliotecário chegou dois dias depois e foi o dia mais feliz da minha vida.

"Cara princesa Kepler,

Sim, eu já conhecia Halesia. Vi homens buscarem-na incansavelmente. Vi homens abrirem seus corpos, estilhaçarem suas carnes por ela. Os mais espertos tentaram comercializá-la e os mais estúpidos tentaram roubá-la. Vi guerras começarem e acabarem em pó. O que eu nunca vi foi um homem que atingiu a Completude por ter ido buscá-la.

Halesia é mais complexa do que uma resposta ou um resultado de cálculo. Não é encontrada nem no amor nem no ter, nem no parecer. Halesia é algo íntimo e pessoal.

Era uma vez, um homem da ciência que tentou encontrar sua Completude no amor. Quando perdeu sua amada, tentou trazê-la de volta usando a ciência e conhecimento. Suas tentativas resultaram em uma doença que devastou o mundo e aquela que ele amava não voltou. E ele não conseguiu reaver sua felicidade, apenas espalhar sua tristeza para os outros. Vossa Majestade encontrará uma cópia deste conto, O Mundo Que Morreu Com Elas, junto a esta correspondência.

Espero que aprecie a leitura.

E, eu entendo que Vossa Majestade esteja em guerra, mas venha me visitar qualquer dia.

Saudações

O Bibliotecário

Ps: Tenho dois braços e duas pernas"

Devorei as páginas do conto enviado pelo Bibliotecário. Guardei-o perto de minha cabeça quando dormi e o mantive comigo sempre. Então, em uma noite de luas cheias, eu escrevi:

"Caro Bibliotecário,

Recebi seu conto. É maravilhoso. E melancólico. A princípio não entendi como é possível que algo tão triste me deixe tão feliz. E faça-me sentir como se eu tivesse vivido uma outra vida. Sinto-me como se pudesse apalpar toda a tristeza e fraqueza dos personagens. Seria esse o poder dos livros? Dar a você um sentimento que não é seu?

Acho que essa era a lição: às vezes, por buscarmos enlouquecidamente alguma coisa, destruímos o bem que temos.

Isso significa que devo parar de procurar Halesia? Devo focar-me somente em meus deveres como princesa de Kepler?

Aguardo ansiosa por sua resposta para me dar um pouco de luz.

Saudações,

Carinae Kepler.

Ps: Então você não voa?"

Hoje, julguei um desertor. A sentença demorou um pouco. O homem se debatia dizendo que não havia feito nada. De fato. Mas não fazer nada também é um crime. E eu o condenei à Morte no Vácuo. A carta do Bibliotecário demorou algum tempo para chegar.

"Cara princesa Carinae,

Fico feliz que tenha gostado do conto. E, sim, esse é o poder dos livros, pegar-nos e colocar-nos em outros corpos. É mais do que uma viagem, é uma transfiguração.

Vossa Alteza entendeu bem a lição. Às vezes, a busca cega por um objetivo turva nossas vistas para o bem que temos. Não quer dizer também que devemos parar de buscar. Em minha vida, nunca encontrei um homem que tenha alcançado Halesia por acomodar-se.

Era uma vez, um rapaz que foi lançado em uma floresta com seus melhores amigos para um jogo. Um dos membros da equipe quase foi morto e o rapaz precisou decidir entre seguir ou desistir. E ele decidiu seguir, mesmo que os outros fossem contrários. E graças à sua persistência, eles venceram.

Às vezes, insistir é uma escolha difícil. Às vezes, é preciso tomar o caminho menos usado.

Anexei a esta correspondência o conto Um Jogo de Reis, para que a senhora leia por si mesma. Espero que aprecie.

Visite-me qualquer dia desses, quando puder.

Saudações,

O Bibliotecário

Ps: Só em uma nave"

O conto enviado pelo Bibliotecário preencheu meus dias de ação e aventura, nos intervalos das reuniões e sessões de absorção de conhecimento. Então, numa madrugada de tempestades solares, escrevi:

"Querido Bibliotecário,

Outro conto maravilhoso, que me fez sentir aflita e emocionada. Acho que a lição é sobre saber fazer julgamentos. E entender que, sem sacrifícios, nada é alcançado.

Como princesa de inúmeras frotas estelares, fazer sacrifícios me é algo corriqueiro. Tomar decisões é como respirar para mim. Estou sempre ditando sentenças e dizendo a homens como eles devem morrer. Sentenciar é tremendamente fácil.

Tem um rosto e um crime e eu devo dizer como tal crime será pago.

Normalmente, é uma sentença de morte. Porque há muitas vidas neste Universo e uma a menos não faz diferença.

Mas sinto que fiquei boa demais nisso e sacrifícios se tornaram como bobagens.

Seria por isso que Halesia se esconde de mim? Seria minha sentença morrer pobre e vazia, sem nunca ter o prazer da Completude?

Espero ansiosa sua resposta para dar-me um pouco de luz.

Cumprimentos,

Carinae Kepler

Ps: É verdade que você nasceu de Buracos Negros?"

Hoje, condenei à Morte por Radiação um traidor, um homem de nosso povo que se aliou ao inimigo . Ele disse que não podia compactuar com nossa causa "estúpida e arrogante de expansão". Eu não queria condená-lo. Mas as leis são instransponíveis e fui ensinada que devo ser a personificação delas. E a carta do Bibliotecário demorou dois ciclos inteiros para chegar.

"Querida princesa,

Há homens cujo único objetivo de vida é atravessar uma esquina. Há outros que precisam subir alpes. Outros têm que passar por uma grande tristeza para alcançar a felicidade e outros que necessitam livrar-se de um amor para achar outro.

Houve uma vez um homem, velho e abatido, que viveu sozinho toda a sua vida. Mas tinha a companhia de devaneios e via o mundo cheio de poesia. E mesmo em sua melancolia, existia plenitude.

Halesia não tem forma ou definição, ela muda de pessoa para pessoa. A sua Halesia pode ser encontrada em um julgamento ou na última página de um livro. Talvez você precise fazer cem sacrifícios antes que ela venha, talvez tenha que pedir perdão para alcançá-la. Talvez você a encontre no final de amanhã, no fim do mundo ou em casa. O importante, cara princesa, é que a tenha sempre em mente.

Deixo para você um exemplar do conto Confissões De Um Velho Louco, para que você saiba apreciar a melancolia também como forma de ser completo.

Venha me visitar quando puder.

Até mais,

O Bibliotecário

Ps: Meus pais eram feitos de carne e osso"

Juntei uma tropa inteira, com meus melhores generais e minhas naves mais velozes para escolta. A Biblioteca ficava a cerca de 20.000 anos-luz, distância que percorremos em três ciclos, pois tivemos de dar a volta na constelação de Pegasus, que é território Dimidiune.

A Biblioteca era coisa mais linda que eu já vira. Maior que eu e meu trono, iluminada com pó de estrelas e nebulosas, com três anéis em seu entorno e sete luas para iluminar as noites.

Encontrei o Bibliotecário no centro dela, sentado em uma mesa bagunçada, rodeado de pilhas livros.

O Bibliotecário era muito diferente do que contavam as histórias. Ele tinha dois braços e duas pernas, ossos e sangue, rugas e cabelos brancos. Um homem perfeitamente normal, muito díspar da lenda de vento e chamas. Ainda assim, sua aparência me pareceu perfeitamente adequada.

O Bibliotecário, vendo minhas tropas e eu, quase caiu da cadeira.

— O senhor seria... — introduzi. — Seria o Bibliotecário?

O Bibliotecário arrumou seu casaco desajeitadamente.

— Sim, sim — respondeu com um sorriso amarelo. — O primeiro e único. Digo, não único, há outros bibliotecários também, é um Universo grande, não é? Mas aqui está você, então o Universo não é tão grande assim, eu acabei de lhe mandar uma carta e você...

O Bibliotecário parou de tagarelar quando viu que não podíamos acompanhá-lo. Tão diferente do eloquente Bibliotecário das cartas. Ainda assim, isso também me pareceu adequado.

— Com uma tropa — ele suspirou, confuso. — Uma tropa inteira kepleriana em minha Biblioteca...

— Eles o incomodam? — perguntei. — Mandarei que saiam ent...

— Não, não há necessidade. — O Bibliotecário gesticulou. — Vão ler, vão, vão todos ler, isso aqui é uma Biblioteca, afinal, não é? São todos bem-vindos.

Meus soldados pareceram confusos, mas eu... eu ri. Um louco em uma biblioteca.

— Eu vim porque pode ser talvez não haja outra oportunidade — expliquei. — Estamos em guerra, sabe? Bibliotecário, eu gostaria de conversar com você um pouco... a sós.

— É claro. Embora eu ache que ninguém nunca está a sós realmente em uma biblioteca. Mas venha, me acompanhe.

O Bibliotecário me levou por corredores de estantes infinitas, apontou livros que ele gostava.

— Você sabia que houve uma serial killer que só matava pessoas com distúrbios mentais? — perguntou. — Foi há muito tempo, antes da pandemia de Anvid. Ela era uma escritora, a serial killer. Ah! Aqui está: Foram As Vozes Que Escreveram Este Conto, escrito por ela. — Ele gesticulou. — Ela estudou na mesma Universidade das autoras daqueles ali: Meus Muitos Talentos Bobos e Monumento. E as autoras desses dois contos eram amigas, sabia? Como o universo literário é pequeno, não é?

— E ao mesmo tempo tão grande — completei. — Como uma coisa pode ser diminuta e infinita ao mesmo tempo?

— Os humanos são assim também. Pequenos pontos de carne que guardam uma infinidade dentro de si.

Eu encarei meus próprios pés.

— Você parece aflita, princesa.

— Quando eu voltar para casa, terei que julgar um ladrão. A lei diz que devo dar-lhe uma Morte Por Fuzilamento, mas o homem alega ter roubado para alimentar a família. Eu não quero julgá-lo. Eu não quero definir que fim a vida dele terá, quando eu sequer o conheço.

— Então, não julgue.

— Eu não posso fazer isso. Eu devo ser a personificação da lei.

— Princesa... — O Bibliotecário suspirou. — Quando você julga homens como se fossem objetos, você se torna um objeto. E você perde sua humanidade. E, perdendo sua humanidade, você também perde Halesia.

Estremeci.

— Eu sei que você quer alcançar Halesia, princesa. Como alguém que já a alcançou, digo que não é se despindo de sentimentos que ela virá.

— O senhor? Alcançou Halesia... e sobreviveu?

— Foi há muito tempo, quando sobrevoei os anéis de Saturno e depois pousei em nossa antiga casa, a Terra, e então... fui contemplado com Halesia. Achei que morreria, mas não... sobrevivi. Alguém que já alcançou a Completude e continuou vivo.

— E como é? — perguntei, curiosa. — Halesia.

— Não é como euforia. É mais como... alívio.

Eu pensei por um longo tempo.

— Acho que eu não posso encontrar Halesia, se eu nem sei quais meus objetivos — divaguei.

O Bibliotecário tateou a lombada de um volume dos casos de Augusto de Aragão: Um Caso Breve e Quase Perfeito.

— Perdida no nada — ele recitou. — No nada me encontro. Desencontrada ando. É um poema chamado Elegia ao Riso. Sabe, uma vez li a história de uma menina que queria deixar de ser criança. Quando sua infância foi roubada dela, foi que entendeu o quanto era preciosa.

— O que isso significa?

— Significa que, às vezes, perder é ganhar. Às vezes, princesa, você tem que se perder para se achar.

Ouço um barulho. Algumas de minhas tropas avançam. Elas parecem urgentes e trazem prisioneiros que desconheço.

— Encontramos essas coisinhas dimidiunes escondidas aqui, Majestade — diz um de meus generais. — O Bibliotecário está abrigando inimigos.

Encaro o Bibliotecário, abismada. E temo que entendo o que ele quis dizer sobre perder.

...

Hoje, sentada de meu trono, eu julgo um homem que deu abrigo a algumas crianças refugiadas dimidiunes.

— A lei é clara — dizem os conselheiros. — Uma zona neutra que der abrigo a um dos lados deixa de ser neutra. O Bibliotecário é agora nosso inimigo.

A sentença é fácil. Uma vida a menos... que diferença fará? No entanto, a vida diante de mim é a de um amigo. E ele me olha como se nossa amizade não pudesse ser desfeita nunca.

— Você não vai se defender? — eu pergunto.

O Bibliotecário sorri.

— Abriguei crianças dimidiunes. Se isso for um crime, princesa, então dite a sentença.

— Por quê fez isso?

— Por bondade.

Bondade. Isso... parece adequado a ele também.

Lembro das lições que o Bibliotecário me deu e uma delas diz que sacrifícios são necessários. Mas ela se digladia com a que diz que destruir o bem que temos nunca vale a pena.

Os outros esperam que eu julgue, eu sou a Lei em pessoa. E eu espero ser capaz de alcançar Halesia.

A sentença é dolorida. Morte Por Desintegração. E as cartas do Bibliotecário nunca mais chegaram.

Mas eu entendo. Nenhum homem alcançou Halesia por buscá-la e menos ainda por esquecê-la. Halesia... é um alívio. Halesia é sentir tudo o que se pode sentir no curso de uma vida. Amor. Tristeza. Paixão. E Culpa. Dor. Ódio. Alegria. Perdão.

Vivo o resto de meus dias a colecionar sentimentos, desejando que no final de amanhã, eu morra. Mas morra bem.

Morte por Halesia. 

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