Numa serena noite de primavera numa pacata cidade do interior dos EUA, em Northern Hope, a família Lincoln teve mais um jantar maravilhoso e, logo após, Scarlett e Bruce anunciaram que a família estava prestes a crescer, pois estavam esperando seu primogênito. 

— Que bênção, filha! Você não imagina a felicidade que estou por saber que vou ser avó. – disse sua mãe Emma. 

Nesse momento, o pai de Scarlett passa mal e desmaia, causando total alvoroço.

No mesmo instante ligaram para enfermeira Ashley que presta os primeiros socorros e tudo volta ao normal.

— Foi apenas um susto — afirma Ashley — Ele se emocionou com a notícia da gravidez.

— Vocês querem me matar com tanta emoção, meus amores?!, comentou aos risos.

Apesar da crise pandêmica mundial, a família segue os cuidados necessários para evitar contaminação, principalmente com a grávida, que agora é grupo de risco.

Emma sempre foi uma mãe preocupada, principalmente por ter tido apenas uma filha, Scarlett, pessoa que era tudo em sua vida. Na sua gestação passou por diversos problemas, teve muitos abortos e tinha medo que o prior acontece com sua filha. Assim, acompanhou lado a lado todo o processo nos primeiros meses de sua gravidinha.

A ansiedade era grande, mas só foi possível saber o sexo no quarto mês.

— É menina!!!  — informou o médico. 

Durante a consulta de pré-natal com seu obstétra foi notado algo estranho enquanto o doutor realizava o exame clínico das mamas e pediu para fazer uns exames com urgência e isso preocupou toda familia, que tentou esconder de Scarlett, mas sem sucesso. 

Escondendo o choro, Bruce vivia amargurado com medo de sua esposa ser portadora de uma doença grave e perder o bebê.

Na hora de dar o resultado, os profissionais de saúde Oliver Brown e Hilary Smitt, mastologista e psicóloga, respectivamente, convocaram os pais e o esposo para uma sala, mas Scarlett fez questão de entrar para acabar todo o suspense.

— É mentira? Não sinto nada de anormal na minha mama.

— Agora não, Deus! Não deixe ser verdade agora não. Diga que o resultado está errado.

O que mais quero é ter minha Stephany. Dou minha vida, se for o caso.

A sala se transformou num rio. O especialista tentou acalmar disse que precisava da assinatura de um responsável para dar entrada no encaminhmento. Disse ainda tinha que ser tão cedo possível, pois os dois nódulos estavam localmente avançados.

— Há possibilidade de salvar meu filho, Dr.? — questionou Bruce. 

— Sei do sonho da família, mas vejo uma série de complicações que possam surgir. Entendam que o câncer se espalhou para os nódulos linfáticos e podem ter atingido tecidos da mama. Assim, acredito ser delicado dizer que podemos salvar os dois.

— Sei que eles querem que eu faça o tratamento, mas não irei fazer. Quero ser mãe! Por favor, deixem minha decisão. 

O sonho da jovem era ser mãe, independente do que pudesse acontecer. O médico explicou possibilidades dentro dessa decisão dela, porém, nada a fazia mudar de ideia.

— Por que você vive se escondendo de mim, amor? — questionou Scarlett.

— Não irei esconder nada, meu bem. A tempestade vai passar. Acreditemos!!!

Passou mal à noite, com problemas respiratórios, febril e foi atendida pela emergência, mas testou negativo para COVID. 

— Gratidão, meu Deus! Ainda bem que não o COVID desapareceu de vez da nossa família! Bradou o esperançoso vovô. 

Tudo estava seguindo... As dores nas mamas sempre aumentando. Foram dias de solidão, tristeza profunda, sem apetite e já não queria realizar os exames de pré-natal regularmente, pois a proposta da família era para retirada do bebê a fim de salvar a vida dela. A ansiedade era sua maior companheira. Não queria sair do quarto com medo de querem tirar o filho precocemente. Vivia na escuridão profunda.

Os pais dela tentaram convencê-la para retirada da bebê, a doce Stephany, pois era para o bem dela. Que não se preocupasse que todos iriam entender e queriam o bem dela.

— Só em engravidar, você já é mãe, minha filha! E também Deus me fez vó com sua gestação, mesmo que nasça. Quero você com saúde me ajudando nos meus últimos dias aqui ao lado de seu pai.

Já irritada disse:

— Faz-te bem sair de perto de mim, mãe.

— Não diga isso, filha!

— Eu quero a vida da minha filha — Embora eu tenha quase a certeza de que não resistirei.

A enfermeira Ashley tentou acalmar ânimos, pedindo minuto de conversa com Scarlett e os demais familiares concederam.

— Estou aqui para te apoiar no que for preciso — digo suavemente — porque quero te ajudar e preciso da sua compreensão.  Seu isolamento dessa forma só atrapalha, dificulta sua gestação e tudo pode ficar pior. Vejo que você quer muito essa filha, então, aceite minha boa vontade e cuide de você mesma. Sua família vem tentando te ajudar e vejo que você vem como um vento distante.

— Então, Ashley, você acha que está sendo fácil para mim estar aqui trancada, sentindo dores em todo corpo, sabendo que minha bebê está crescendo no meu ventre e ouvir  pedidos para eu aceitar tirá-la de mim assim?

— Não é fácil, eu sei — mas você faz ideia do quanto sua filha precisa de você bem alimentada e cuidada? Sei também que Deus vem agindo na sua vida e você vai superar tudo, vai vencer. Ele não te abandoraria assim. Acredite e faça sua parte também. Acha que é fácil para sua mãe também? Seu esposo está só o palito de tanta preocupação com sua saúde.

No meio dos sermões, Scarlett pousa nos ombros da enfermeira e chora, pede ajuda: 

— É que não estou conseguindo controlar toda minha ansiedade, meu medo é tanto que ando trêmula.

— Pode ficar tranquila que não vou sair daqui, amiga — abraçou-a.

Depois disso, Ashley procurou Emma e Tomas, pais de Scarlett, e Bruce, o esposo, para falar do trabalho de cooperação que iria fazer para ajudar no tratamento da amiga. 

No primeiro momento, dona Emma não entendeu o porquê de uma enfermeira se preocupar em ajudar daquela forma. 

— Vejo que você é uma profissional excelente e tem um coração gigante. De todos especialistas que conheço, você entrou de vez em nossas vidas.

— De tudo que já vivi, do trabalho desempenhei até aqui, cuidando de vidas, nessa área de constante humanização e amor, ajudar sua filha será a mais sublime missão, porque já passei por uma doença dessa e superei. Imagina a história dessa grande filha, prestes a perder tudo... É o mínimo que posso fazer aqui no plano terreno.

Com os olhos repletos de lágrimas e soluçando, dona Emma abraçou fortemente aquela nobre e nova filha que estava chegando em sua humilde família.

— Agradeço demais por sua atenção, filha querida! Vou orar muito para que possamos ter êxito nessa árdua tarefa.

Scarlett não é apenas uma pessoa maravilhosa, é o exemplo de mãe que o mundo precisa. 

Naquele momento, Bruce e o sogro apenas choravam, desmanchavam-se em água diante da atitude da jovem. Como morava próximo da família, Ashley sempre estava presente na casa, principalmente nas refeições para acompanhar e dar apoio, orientar direitinho o que era necessário para que amenizassem as dores de Scarlett. Cumpria plantões e seguia direto para missão, sendo que boa parte do tempo passava lendo e escrevendo. Sentia que sua paciente não estava bem e que poderia ter crise séria, até tendo que retirar o bebê. 

À noite, Scarlett sentiu dores muito fortes no corpo todo e o algo inesperado começou a surgir... Gritou e pediu ajuda. Estava apenas com 26 semanas de gestação. A bolsa amniótica rompeu antes. Naquele momento o desespero foi geral. Ao chegar ao hospital já estava com 5 dedos de dilatação, o parto prematuro era inevitável. A futura mamãe gritava pedindo para Ashley ajudar cuidar da sua filha, que estava sentindo que a hora dela estava no final.  

Foi realizado o parto prematuro em regime de urgência. Bateu a aflição. Passando um filme na cabecinha de todos os envolvidos. 

— Stephany nasceu!!! — disse o obstétra — aos prantos naquele momento de comoção. 

A criança estava com olhos abertos, ainda tentou chorar..., mas o silêncio tomou conta. O choro foi da nossa equipe que não se conteve ao episódio. Com tamanho e peso normais para sua idade, a recém-nascida foi levada para a unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal. Nesse momento, mais do que nunca, Bruce passou a acompanhar seus dois diamantes num mesmo hospital. 

A tristeza assolava a família Lincoln — num vale de muita dor, mas a esperança continua. Uma bênção já tiveram com o inacreditável parto do tesouro. Restava acreditar, buscar um novo horizonte. Atônitos, de repente, chega Ashley e diz:

—  Nossa heroína teve umas arritmias cardíacas muito graves no momento do parto, perdeu muito sangue, mas vamos continuar a luta, pensando positivo. 

Dona Emma nem conseguia falar. Tinha uma série de dúvidas, incertezas que tormentavam sua mente, muito ansiosa para ter notícia da filha. E para resolver isso, a mesma queria entender melhor o que estava acontecendo.

— Sua filha está sedada por uns dias... Depois vamos iniciar o tão sonhado tratamento dela, confessou a diretora do hospital. Tudo seguia. 

Após 4 dias Scarlett acorda e a primeira coisa que faz é perguntar pela filha e seu esposo Bruce responde que Stephany está na UTI neonatal, mas está bem.  

Scarlett não se aguenta de alegria por saber que sua filha está viva e bem, e só fica tranquila quando convence a todos para deixar vê-la. Quando ver sua filha tão pequena e linda, ela se enche de força e esperança para então começar o seu tratamento. Vez por outra Bruce tirava foto de sua filhota e mostrava para sua guerreira antes de cada procedimento invasivo realizado.  

Ela sabia que na área oncológica em que se encontrava, só iam os casos de estágios 3 e 4, que estavam muito acometidos e todos eram graves e era necessário estar ali para tratamento e depois reconstituir seu castelo. Ela precisava insistir pela vida antes que o câncer entrasse em metástase e isso poderia custar sua vida. Sendo assim, aprendeu que a quimioterapia era violenta e poderia deixá-la mais doente, e que a radiação era muito forte e poderia crestar sua pele — mas tudo isso era para o bem. 

Atravessou um turbilhão de terapias, com excessivas náuseas e dores irrisórias, procurando ler para relaxar. Os fármacos foram bem administrados e, de alguma forma, excretados pelo corpo, cumprindo sua função de cura.

Recebeu alta médica no mesmo dia que sua princesa. A partir daquele momento, tudo era novo para aquela família... 

Emma, sem acreditar no resultado, chora, agradeceu a Deus e lançou:

— De tudo que nossa família passou — a beleza de sua alma, Senhor, fez-me chorar um rio de lágrimas. Pensei muitas vezes que não teríamos a bênção de seu fôlego aqui do nosso lado. Parecia que tudo estava acabando dentro de mim... Mas, na hora, silenciosamente, tudo foi se fixando, a luz foi ousava descortinar nosso lar.

Já exausto de tanto soluçar e olhando fixo para o céu, Tomas só enviou seus agradecimentos ao além. Era momento de reconhecimento pela dádiva alcançada, fortalecimento, um novo caminho estava pedindo passagem, restauração no sentido mais profundo.

A psicóloga Hilary discorreu — Você é luz não apenas para nossa cidade Northern Hope — que significa Esperança do Norte, mas para todo o mundo! Mesmo estando na escuridão, você enxergou o brilho e continuou em ação, concedendo esperança a quem estava fora dessa trajetória. 

Sua fiel companheira Ashley proferiu:

— O amanhã só existe se tivermos aqui para senti-lo. Temos que acordar e lutar, curtir o que temos e ser felizes. Essa é a primeira atitude que todos temos que ter para os momentos mais críticos. 

Depois de todas as provações, constatou-se que em tudo há lições. Toda trama vivida deixou estampada a importância de ouvir o paciente, estar junto na solidão e poder fisgar suas dores, minimizando-as aos poucos até eliminá-las do caminho e, assim, recomeçar. O amor foi fundamental no processo de mudança, oportunizando novos caminhos, estar aberto à vida.