Muito antes dessa época que chamamos hoje, antes do tempo que chamamos de ontem e antes da hora de dar corda em seu relógio e começar a correr atrás do amanhã, que eu não consigo pegar, o mundo não era o que é agora...

Tudo aconteceu em Novo Poder, uma das cidades com maior taxa de mortes do planeta, pela pandemia de COVID-19, doença ocasionada pelo novo coronavírus. Os números só aumentavam e causavam pânico em casa, pois meus avós não resistiram aos sintomas e passaram desta para o plano divino. Parecia mais a cidade do medo. 

Minha irmãzinha gêmea - Yasmin, era bem fantasiosa, gostava demais de aventuras. E eu também era desses, afinal éramos crianças e sonhar era muito gostoso, construindo uma realidade própria, fugindo daquele abismo que nos afrontava.  

Certo dia, ainda no café, Yasmin questionou ao meu pai se acreditava em superpoderes, pois estava criando o antídoto para doença do mundo, mas o mesmo nem deu importância. Era até compreensível pela situação dele depois de ter ficado órfão. 

Eu sempre fui tímido e minha irmãzinha muito comunicativa, sagaz, sonhava ser uma princesa, a que pudesse salvar a humanidade. Ela herdou um amuleto mágico de nossa avó. Era algo bem místico e algumas vezes não nego, tinha medo. Ela conseguia falar com a natureza e estava muito confiante na luta pela cura das enfermidades. Era diferente e sabia disso.

Tive a ideia de voltarmos no tempo para estudar toda situação e minha irmã disse que era melhor irmos ao encontro com a natureza porque ela queria fazer uns pedidos. Fiquei sem entender, porém, ela explicou que poderíamos sair depois da refeição. 

Estava sentado à mesa de jantar. Percebi minha mãe muito triste. Enquanto pai estava preocupado com o país e disse: 

- Agora mesmo, ouvi uma conversa que o prefeito está fazendo uma embarcação e pretende sair escondido levando toda família dele. É um louco! Ele não vai conseguir.

- Não fale assim, papai. Ele quer salvar a família. Poderíamos ir juntos também, caso ele permita! – defendeu Yasmin.

- e quem disse que tem vaga? Ele vai levar a família dele!

Meu pai não queria acreditar no que estava acontecendo e minha mãe só chorava de remorsos. Ele achava que aquilo poderia ser uma ilusão. Já minha irmã disse que não era isso e começou arquitetar planos. 

Sugeriu irmos com o comandante, assim estaríamos bem próximos da natureza nessa embarcação.  

Yasmin estava certa que era hora de agirmos e tínhamos o poder de Deus nas mãos, o amuleto. Mesmo sem falar muito, mas estava nítido que o prefeito tocou o terror na cidade, não deu a devida importância aos serviços emergenciais e medidas para prevenção - evitando propagação do vírus e agora quer fugir. Assim não dá!  

Era um domingo. A população não obedecia a ideia do isolamento social e estava circulando normalmente, mesmo sofrendo o pico da pandemia. A temperatura era muito alta, tempestade agitando e formando pequenos arco- íris destacando ainda mais a cidade.

Sabendo do quadro da mortes, a multidão se movia e eu, aos poucos, me sentia arrebatado pela dor, preocupado com a humanidade. 

Minha princesinha me chamou para planejarmos a ida com a família e eu disse logo que não ia dar certo porque nossos pais não iriam permitir e não faria sentido irmos e deixá-los aqui esperando pela morte.

Outra questão que não tínhamos pensado era como chegar até embarcação, pois o capitão não iria permitir nossa estadia com eles, principalmente por sermos crianças.

Mesmo Yasmin recebendo orientações para seguir e cumprir missão, buscar o novo poder e salvar o mundo, minhas mãos ainda transpiravam e meu coração vivia descontrolado...

Nossos pais não iriam permitir nossa ação arrojada, principalmente por saberem que seria algo escondido. Senti que seria uma aventura bem louca, mas vale a pena, pois minha protetora vai comigo e vamos vencer. 

Mãe ainda desconfiou algo e desejou boa sorte. Disse que nossa avó materna também era uma pessoa que apresentava dons mágicos e protegia a natureza.  Pediu cuidado com os precipícios da vida. 

Diferentemente, nosso pai só briga e chama a princesa de fantasiosa demais. Ainda frisou que esse tipo de viagem é algo muito perigoso. 

Mamãe confirma ideia de pai e ficamos só astuciando ação... 

Comecei investigar a tal viagem do gestor da cidade com sua comitiva e descobri o dia e suposto local de saída. 

Tudo pronto para fuga. A noite foi longa e vi Yasmin tentando obter magia do amuleto, mas não conseguiu. Isso me deixou mais ansioso. Tinha medo de dar tudo errado. Providenciamos nossa pequena bagagem e fomos em busca da aventura...

Perdidos, Yasmin pede orientação ao além e consegue. De longe, percebemos o local da sonhada embarcação e está quase tudo pronto para viagem. As caravelas prontas para seguir e ainda estamos fora de tudo, só observando como chegar dentro desse passeio... Então, Yasmin pede firmemente:

- Senhor, permita-nos entrar naquela embarcação agora! É para o bem geral! E num passe mágico tudo deu certo. Já estávamos acomodados e livres dos olhos deles. Local bem secreto e aconchegante. 

Todos os homens trabalhando certinho para que a viagem fosse tranquila. 

Eu já estava quase morrendo de agonia quando ouvi Yasmin falar que precisava sair para deixar o clamor à natureza e precisava ser bem visível possível, de preferência no meio do navio. Minha alma chorava. 

De repente, os comandantes perceberam que existiam pessoas estranhas na viagem. O capitão pediu vistoria... 

Meu trauma era sermos encontrados e jogados no mar. A frota partia e os serviços de busca estavam atentos... Tudo foi ficando difícil e me bateu arrependimento de ter embarcado... O comandante percebeu que o navio estava entrando muita água e tentaram resolver. Esqueceram da gente naquele momento. Foi um pânico total! 

Os marinheiros estavam muito atônitos e reclamando com Deus... Cada vez mais chovia e o navio encharcado. 

Naquele exato momento o amuleto funcionou para nossa alegria! Yasmin foi ao centro do navio e se ajoelhou, pedindo interseção a Deus, que pudesse controlar toda aquela situação e curasse a planeta de tantas maldades, retirando as enfermidades do seu povo.

Nesse momento conseguiram me amarrar e eu tentava sair, falava que estava ali para o bem do mundo, éramos pessoas guiadas para o bem da nação. Mas nada resolveu!

Ninguém se aproximava da princesa Yasmin que proferiu todo ritual e nada abalava o local que a mesma estava. Tudo foi pairando e eu só assistindo dentro daquela turbulenta embarcação. 

Lembrei de nossos pais que pediram para pararmos de ideia louca, mas mesmo assim insistimos, pois tínhamos uma missão, ou melhor, minha princesa tinha orientação do além para fazer o bem e tinha que na hora certa.

Aos poucos, toda dor foi pairando e uma luz tomou conta do centro do navio, algo inacreditável. 

O capitão sem entender o que estava acontecendo, mas sentindo tamanho resultado, pediu para me soltarem e fizeram interrogatórios a mim e procurei responder conforme víamos tudo e sobre missão.  

Todo a água do navio foi extinta, toda a paz foi reestabelecida. 

O que vimos naquela embarcação foi algo novo, divino, servindo de lição para todos. 

Tudo me deixou tonto o tempo inteiro, mas pude enxergar esperança e  acreditar na luz mesmo na escuridão... 

Tantas pessoas morrendo no mundo e não podemos desistir de lutar e nada de fugir da nossa missão. 

Yasmin cumpriu a missão de acalmar e pedir paz para o mundo. Não podia nem acreditar que tudo ali era verdade, que a saúde iria voltar aos necessitados, mas aconteceu. 

Algumas vezes pensei em desistir, já não me reconhecia, mas acredito que tudo em mim fazia pensar assim porque ainda era uma criança ao lado de minha irmãzinha querida, abençoada demais por Deus. 

Somos todos importantes nessa missão no mundo. Não podemos deixar essa força acabar. A força maior está na gente querer fazer o bem e procurar fazer o mundo entender isso.

A vida sempre continua e temos que procurar ser melhores diariamente, extinguindo a fome, a sede e trazendo o amor aos que estão ao nosso redor.

Precisamos orar mais...

Somos peças fundamentais para resolver situação caótica que nos encontramos. Vejo que a chave para o bem é o bem, a união.

Não foi fácil soltar meus pais para uma aventura dessa, mas víamos a necessidade. 

Depois de todas as provações, constatei que em tudo há lições. Tudo vivido deixou estampada a importância de ouvir a Deus, estar junto na solidão e poder buscar o poder no além, minimizando-as as dores aos poucos até eliminá-las do caminho e, assim, recomeçar. O amor é fundamental no processo de mudança, oportunizando novos caminhos, estar aberto à vida.

O mar me ensinou que devemos limpar nossa alma, escutar os segredos que a Natureza nos traz. Nunca mais serei o mesmo e meus pais devem ter pensado que morremos, há algum tempo, mas estamos aqui tentando ressuscitar a mente de outros.

Outra lição que tirei foi que o amanhã só existe se tivermos aqui para senti-lo. Temos que acordar e lutar, curtir o que temos e ser felizes. Essa é a primeira atitude que todos temos que ter para os momentos mais críticos. 

Falamos aos tripulantes que fizemos tudo isso porque queremos ajudar e precisamos da  compreensão de todos.  

Mas, de repente, senti que tudo foi resolvido, já estávamos em terra firme, daquela imensa viagem do bem e tudo foi da forma como Deus permitiu. A população acenava e sorria nas para nós.

Os dias voltaram a sorrir e a população mundial foi salva do mal. 

A feira que antes era fazia tornou-se repleta de barracas, pessoas se abraçando, curadas.

Mesmo sendo menino e a menina, muito jovens, conseguimos dar uma lição para o mundo, para olharem um para o outro e que possam pensar no que estão fazendo de bom para melhorar a sociedade que tanto precisa de amor. Vejo que os adultos não estavam prestando muita atenção, na realidade e às vezes só culpam gestores, órgãos e tal, mas não se deixam fazer, não buscar ajudar da melhorma os menos favorecidos, os que esperam um pouco mais de nós, mais atitudes.  Precisamos de amor e muita gratidão para poder fazer o bem e propagar a verdade nessa missão que Deus nos deu.