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Texto 6

Cinco minutos de liberdade


Maya bocejou pela quarta vez desde que a aula começara. Assistir os seus professores por meio de uma tela nunca foi o ponto alto do seu dia, mesmo fazendo isso desde o jardim de infância. Sua mãe amava contar a história de quando tinha sete anos e desligou a internet para não ter que participar daquela chatice, como chamava. É engraçado como alguns sentimentos nunca mudam. 

Estava em uma sala virtual com mais vinte e cinco pessoa assistindo uma aula de biologia. Sua turma sempre foi composta com os mesmos vinte e cinco rostos e ali estabeleceu uma grande amizade com Alana, a garota loira com franja e Beto, o garoto viciado em jogos online. Beto era mais que seu amigo, na verdade. Eles nunca tinham se encontrado pessoalmente, mas sabiam que se fizessem isso seriam como os trios de excluídos como nos filmes antigos que assistiam. 

Pensar em ficar cara a cara com alguém era risível naquele tempo. Ninguém podia sair de casa, nunca. Não se via nem os entregadores que traziam as compras do mercado, tudo ali era pensado para ter menos contato possível. Quando Maya nasceu essa realidade já era aceita por toda a população, pelo menos, era isso que os jornais registravam, mas sua mãe contava sobre algumas rebeliões que ouviu falar no hospital. Os hospitais eram os únicos lugares em que pessoas de famílias diferentes ficavam juntas, mas isso tinha um preço: sua mãe não poderia encostar nela. Nunca. 

Talvez por isso ou por crescer ouvindo os relatos de sua avó tão saudosista, Maya se pegava pensando de vez em quando em quebrar as barreiras impostas pelo governo e poder abraçar os seus amigos. Principalmente Beto. Sonhava com o dia em que poderiam se beijar. 

Os relacionamentos sofreram muito com o cenário pós-pandemia. Agora não se podia sair para encontros, namorar e depois casar com a pessoa. Você tinha que ter certeza absoluta que gostaria de passar o resto da sua vida com alguém e basicamente ficava preso a essa pessoa para sempre. Vocês recebem uma casa, moram juntos, criam os filhos e o ciclo continua. Era tudo tão frio e sistemático que Maya tinha arrepios em pensar que só teria uma chance para amar alguém. 

Como saber que você gosta verdadeiramente de alguém sem nem ter contato com a pessoa antes?

— Maya, você poderia responder o exercício dois? — Rogério, seu professor, perguntou. A garota se espantou com o seu nome sendo pronunciado e saiu do transe assustada. 

— Claro — respondeu prontamente, tentando achar a porcaria do exercício no seu computador. — Só um minuto — sussurrou. 

Todos riram. Maya era sempre distraída demais, perdida em seus próprios pensamentos. Suas bochechas esquentaram com a vergonha dominando o seu corpo. O professor revirou os olhos e pigarreou. 

— Preste mais atenção da próxima vez, ok? — A garota assentiu. — Vamos continuar. 

Maya dedicou toda a sua atenção para a aula na próxima hora. Quando acabou se sentia extremamente cansada. Não parecia, mas estudar se parecia com correr uma marota às vezes, deixava o corpo da pessoa despreparada aos pedaços. Ela nunca esteve realmente pronta para nenhuma das duas atividades. 

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— Eu realmente queria poder te tocar — Beto afirmou sorrindo. — De verdade, as pessoas já deveriam ter inventado um modo de se teletransportar por meio dessas telas. — Bateu no vidro. 

Do outro lado, Maya suspirou. Eles estavam tendo aquele tipo de conversa há meses. Conversam desde crianças, sempre se deram muito bem e agora com os dezessete anos se aproximando e o fim da escola, gostariam de ter mais tempo juntos. Juntos de verdade. 

Ela sabia que, para isso, teriam que se casar e um relacionamento tão sério não estava nos seus planos. Sentia que tinha nascido com um defeito: não conseguir decidir as coisas sem antes viver um pouco. Isso significava que não sabia qual profissão era a certa ou qual faculdade iria escolher e estava disposta a errar. O erro costumava ser uma possibilidade antigamente. Maya gostaria muito de ter o direito de errar. 

— Nós podemos fazer isso — sussurrou depois de alguns minutos de silêncio. 

— Como é? — questionou sobressaltado. 

— Você se arriscaria por mim? — Ela olhava diretamente para os olhos dele. 

— Cada partícula do meu corpo. 

— Vamos nos encontrar. Amanhã. 

— Maya... — começou em tom de repreensão. — A gente vai ser preso ou vão nos matar. 

— E não vale a pena? — Sua voz estava cheia de excitação. — Morrer por alguns segundos de liberdade? Sentir que ninguém te prende e que você tem escolhas? Sair dessa merda de prisão que vivemos — desabafou o que guardava há anos. 

— Parece que estou falando com sua avó. — Beto riu com a constatação. 

Maya revirou os olhos. Todos gostavam de lembrar o quão ela tinha herdado o espírito livre de sua avó. 

— Então...? — estendeu a última vogal, com o coração batendo rapidamente. 

— Eu topo. 

As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Maya. Suspirou de alívio por sua ideia maluca ser aceita, mas sentia seu estômago se revirar com o medo de tudo dar errado. Estavam arriscando tudo e poderia dar errado. Terrivelmente errado. 

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— Tchau, meu amor, tenha um bom dia — Sua mãe gritou já fechando a porta. 

— Tchau — Maya murmurou. 

A relação entre as duas era assim, tão distante e fria quanto o protocolo mandava. Isso sempre doía. Quando ficava triste e queria colo tinha que se contentar em dormir em um colchão ao lado da cama de casal em que as duas cabiam perfeitamente. 

Se fosse presa nem isso teria. E provavelmente seria presa na próxima meia hora. Estava tudo perfeitamente planejado com Beto. Ele morava na mesma rua que ela, por isso, só precisavam destrancar a porta e sair correndo. 

A facilidade com que podiam se encontrar a fez questionar o motivo das pessoas não tentarem isso antes e a imagem de sua avó inundou sua mente. 

— Querida — começou ela tocando a tela como se tocasse o rosto da neta. — As pessoas se acostumam, não deveriam, mas se acostumam. Então quando elas menos percebem estão presas nas próprias convicções. Por que aceitamos nos comunicar só com telas? Por que não começamos uma rebelião agora que tudo acabou? Por que os jornais ficam repassando notícias de tantos anos atrás sobre quando tudo aconteceu? 

Maya, com seus quinze anos, sentada no balcão da cozinha, coçava a cabeça enquanto comia brigadeiro. Ela queria que sua avó desse respostas e não enchesse sua cabeça com questionamentos infundados. 

— Eu não sei — respondeu dando de ombros. 

— Porque quando algo ruim acontece não queremos que se repita, então preferimos ficar trancados, escolher com quem casar aos dezesseis anos e viver em uma casa com alguém para sempre do que tentar voltar ao normal. Esse é o nosso normal, querida. E ninguém vai se rebelar. Nem eu. 

Ninguém vai se rebelar. Maya quis rir da lembrança. Ah, vovó, se pudesse me ver agora, pensou, estaria orgulhosa. 

O celular de Maya tocou. Estava na hora. Seu coração parecia querer subir pela sua garganta e sair pela sua boca. Suas mãos tremiam e não sabia se teria força para correr o suficiente. Decidiu não pensar muito, se pensasse iria desistir. 

Pegou um casaco, não sabia como estava o tempo lá fora. Nunca sabia, na verdade, as casas equipadas com ar condicionado e aquecedor eram sempre confortáveis. Andou até a porta e a abriu. 

Um alarme começou a soar como todas as vezes que alguém saia sem autorização. Os médicos, por exemplo, tinham um código para digitar no painel que ficava ao lado da porta e só podiam utilizar nos horários programados para sair e quando fossem liberados para voltar. Ela cogitou roubar o tempo da sua mãe, mas isso seria terrível para ela e poderia colocá-la no meio de um grande problema. 

Maya não sabia quanto tempo demoraria para uma patrulha aparecer e te colocar de volta para dentro de casa, então começou correr. Escutou seu nome ser chamado por uma voz distante e um novo alarme começar a soar. Beto. Era ele. 

A adrenalina em seu corpo alcançou um nível inimaginável e sua corrida se tornou ainda mais rápida. Podia ver ele indo em sua direção, mais rápido do que ela. Os dois completamente ofegantes, mas tentando aproveitar ao máximo aquele momento de jovens rebeldes que poderia ser o último de suas vidas. 

As sirenes ecoaram distantes. Eles estavam chegando. Precisava ser mais rápida. Os dois apertaram os passos ao mesmo tempo e acabaram com a distância colidindo os seus corpos em um abraço desajeitado. 

— Eu não acredito — sussurrou Beto em seu ouvido. 

— Eu te amo — respondeu tendo certeza. 

Ele encostou sua testa na dela e observou seus rosto atentamente. Maya fazia o mesmo tentando guardar cada detalhe em sua memória. Quando suas bocas se encontraram o seu peito explodiu em felicidade. A emoção do primeiro beijo junto com a adrenalina fez aquele momento ser mais especial ainda. 

— Parados! — O grito de alguém há poucos metros de distância os fez se separar. 

— O que pensam que estou fazendo? — Questionou outra voz do outro lado. 

Maya e Beto ficaram de costas um para o outro. Deram as mãos, entrelaçando os dedos. Seus peitos subiam e desciam no mesmo ritmo frenético. 

— Arrependida? — Beto perguntou baixinho. 

Maya pensou por um segundo. Estava prestes a ser presa, sua vida poderia estar arruinada, mas tinha respirado o ar puro, visto o céu e beijado o seu melhor amigo. 

— Não — falou sorrindo. 

Mesmo com a possibilidade de ficar presa pelo resto da vida ela agradeceu pelos cinco minutos de liberdade. 

Foi o ponto alto da sua vida.

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