Texto 4
Agente imunogênico IGG23
A humanidade foi contaminada por um vírus chamado ZT-23. O vírus não mata, mas desperta na pessoa contaminada instintos primitivos, eliminando empatia, moral e ética da personalidade da pessoa contaminada. Os contaminados atacam os imunes das formas mais vis possíveis para satisfazer seus instintos mais primitivos e sórdidos.
Neste cenário desesperador encontramos pessoas que não medem esforços para salvar o que resta da humanidade. Na tentativa de conter o avanço da infecção, o cientista, Dr. Soares reúne-se com sua equipe para a criação do projeto IGG23. O objetivo desse projeto é criar um agente imunogênico capaz de imunizar os que ainda não foram infectados e impedir a evolução completa do vírus. Após a pessoa ser mordida ou infectada o vírus demora uma semana até se estabelecer totalmente. Se a equipe de cientistas lograr êxito nesse projeto será o primeiro passo para vencer o inimigo invisível.
O Dr. Soares verifica as análises com seu maior colaborador e amigo o Dr. Tavares.
– Esses resultados não podem estar certos.
– Estava tudo indo tão bem. Será que você não está enganado? – questiona o Dr. Tavares coçando repentinamente o antebraço.
O Dr. Soares nota que o amigo está com o incomodo no antebraço há dias.
– O que aconteceu com seu antebraço?
– Isso aqui? – Olha para o ferimento e nota que está sagrando um pouco e responde ao amigo procurando ataduras em sua gaveta para cuidar do ferimento – não é nada. Meu cachorro me mordeu há uns dias. O ferimento ainda não fechou pois descobri uma diabetes.
– Isso pode ficar grave se você não procurar ajuda médica.
– Não se preocupe. Estou cuidando em casa. Vamos esquecer esse pequeno contra tempo e salvar o mundo.
Os cientistas se concentram em descobrir o porquê da pesquisa do agente imunogênico apresentar retrocessos na evolução se as pesquisas anteriores apontavam avanços.
– Isso não está certo... – comenta inconformado o Dr. Soares. A sua pesquisa além de estar regredindo seu imunogênico está amplificando o potencial viral do vírus ZT-23. As preocupações do cientista aumentam a cada verificação do seu projeto. O Dr. Tavares entra na sala e o questiona.
– O que está te preocupando tanto?
– Olha isso!
Soares mostra a última análise da interação do vírus com seu antídoto e a curva de multiplicação viral aumentando drasticamente depois do contato com o IGG23. Tavares se mostra muito preocupado e confidencia algo ao amigo.
– Descobri qual é o nosso problema.
– Então diga logo.
Quando Tavares ia falar o que descobriu sobre o projeto um dos cientistas que trabalha no projeto entra na sala e ele responde aos sussurros:
– Alguém está sabotando o projeto IGG23. Não posso dar detalhes aqui. Vá a minha casa hoje para jantar que revelarei quem é o sabotador.
Aquela informação disparou um sinal de alerta na mente de Soares. Agora tudo faz sentido. Ele aceita o convite.
Durante todo o dia o Dr. Soares ficou cismado com a informação e preocupado em descobrir o sabotador e por que está arruinando seu projeto. Soares acessa sua cópia de segurança. Secretamente ele faz cópias do projeto IGG23 a cada semana. Seu projeto estava quase concluído. Faltava muito pouco usar o IGG23 em forma de aerossol e pulverizar cidades inteiras com o imunogênico.
Comparando as alterações no projeto ele descobre que a sabotagem começou um tempo depois que o seu amigo se feriu e uma série de perguntas inundou sua mente. Será que o Dr. Tavares é o sabotador? Não pode ser. Ele sempre foi um grande incentivador e colaborador. E se estivesse infectado? Mesmo assim não faria sentido. Pois ele teria mais gana para terminar o projeto. E como fizeram o IGG23 interagir daquela forma com o vírus? É preciso muito mais tempo que apenas os poucos dias de sabotagem. Quem fez isso não está sozinho. Ou será que viu uma falha no projeto e apenas amplificou essa falha e chegou nesse resultado em tão pouco tempo?
Acessando a rotina do laboratório gravada pelas câmeras de segurança a lista de suspeitos só aumenta. Toda a equipe ajudou de alguma forma a pesquisa no período que foi sabotada, todos são suspeitos. Essa constatação quase leva o cientista a loucura. Exausto e temeroso de não encontrar o sabotador a tempo, Soares faz uma ligação para um laboratório colaborador que ninguém sabe da parceria. Ele tomou essas precauções pensando em salvar sua pesquisa caso infectados descobrissem a localização de seu laboratório, invadissem e destruíssem tudo. Naquele dia ele dispensa a equipe mais cedo e liga para o laboratório parceiro.
– Alô? – atende a voz no outro lado da linha num tom levemente preocupado. Pois esse número só seria usado em caso de emergência.
– Alerta! Protocolo H32 em andamento! Não posso mais enviar minhas atualizações do projeto.
– Lamentamos muito Dr. Soares. Felizmente o projeto está em fase final de conclusão com a colaboração de sua equipe.
Um alívio indescritível ameniza as preocupações do cientista que permanece alguns segundos emudecido ao telefone, apreciando o momento de bem estar. Até que a voz do outro lado da linha quer saber mais detalhes.
– Como aconteceu o comprometimento em seu laboratório?
– Ainda não sei quem foi e como isso aconteceu. Apenas desconfiei dos resultados e o Dr. Tavares me alertou, informando que há mesmo uma sabotagem em curso.
O cientista analisa o último arquivo enviado pelo Dr. Soares.
– Isso é muito grave Dr. Soares. – sentencia a voz do outro lado da linha e acrescenta – Sua pesquisa não só mostra alterações drásticas como evidencia que alguém alterou o IGG23 para amplificar o vírus. O que pretende fazer quando a isso?
– Meu amigo e colaborador disse que sabe quem sabotou o projeto. Vou me reunir na casa dele essa noite para encontrarmos uma solução.
– Certo. Antes de ir à casa do Dr. Tavares destrua todos os arquivos dos últimos resultados. Depois me avise o que descobriu.
– Farei isso.
Mais tarde, o Dr. Soares chega no horário combinado. As luzes estão apagadas e a porta está destrancada. Ele estranha e entra na casa do amigo alerta, empunhando uma arma teaser que sempre leva consigo por precaução. Tranca a porta e anda cauteloso pela casa sem causar alarde. Ao entrar na sala de jantar avista a esposa do amigo sentada à mesa junto do filho. A sala está com as luzes apagadas.
– Valquíria? Gustavo? Vocês estão bem? – pergunta antes de acender a luz e após tem uma desagradável surpresa.
– Meus Deus! O que houve? – o cientista se desespera ao ver que os dois estão mortos.
A primeira vista, parece que ambos morreram por envenenamento. O cientista grita pelo amigo que logo surge na sala de jantar.
– Calma. Por que está gritando desse jeito em minha cassa? Você pode atrair a atenção de algum infectado.
– Sua esposa e seu filho estão mortos!
– Eu sei. Eu os matei – comenta com um sorriso débil no rosto.
Soares olha para o amigo em choque.
– Agora vamos falar de negócios – diz tirando uma arma de um coldre debaixo do casaco.
– Calma! Você me chamou aqui para me matar? E por que matou sua esposa e filho?
– Bem... Valquíria já estava ficando velha pra mim e o fedelho era imbecil demais pra ser meu filho.
Pelo jeito frio de falar e agir Soares logo deduziu o óbvio.
– Você foi infectado!
Tavares revira os olhos e suspira de tédio.
– Elementar meu caro Sherlock. Agora vamos parar com a ladainha. Recebi uma proposta muito boa de nações que ainda não tiveram sua população maciça infectada.
– Proposta?
– Sim... Alguns de seus ex-líderes querem voltar a seus cargos. E para isso querem espalhar o caos e culpar seus atuais oponentes políticos os retirando do poder. Eles já tinham avançado em suas pesquisas e eu só dei um empurrãozinho para fazer o nosso projeto multiplicar o vírus e depois espalhá-lo. O que me diz de participar dessa comigo, já que, infelizmente, não posso fazer isso sozinho. Você tem parte da pesquisa consigo.
– Nunca vou me aliar a você!
– Imaginei que diria isso – comenta engatilhando a arma de dardos.
– Vai me matar se não corroborar com você?
– Não. Vou infectar você – ri antes de mirar.
Pra ganhar tempo, Soares atira com a teaser para tentar derrubá-lo. Mas Tavares é mais rápido e o acerta com um dardo contaminado antes de cair ao chão.
– Será inútil resistir agora.
Desesperado, Soares toma uma decisão desesperada. Ele pega uma faca em cima da mesa e corta a própria jugular. Em questão de minutos o cadáver do cientista jaz sobre o tapete.
– Não!!!! – grita em desespero se recuperando do disparo da arma de choque – Seu idiota! Vai manchar meu tapete novo com sangue! Idiota!!!
No dia seguinte Tavares aparece no laboratório como se nada tivesse acontecido. Ao acessar a pesquisa desespera-se. Alguns governantes já adiantaram algumas parcelas pelo pagamento. E agora toda a pesquisa tinha sumido. Como se nada houvesse. Em meio ao seu desespero e raiva o som de uma chamada telefônica desperta sua atenção. Ele olha para todos os lados e não acha telefone nenhum.
– Estou ficando louco. De onde vem essa chamada?
Ele deixa seus ouvidos o conduzir até a misteriosa chamada e se surpreende ao descobrir que o brasão do clube de futebol do Dr. Soares é um telefone camuflado.
– Alô? – saúda Tavares.
– Quem está falando?
– Eu que pergunto: quem está falando.
– Dr. Tavares? – deduz a voz do outro lado da linha.
– Ele mesmo. Quem está falando?
A voz fica em silêncio por alguns minutos imaginando que o Dr. Soares pudesse estar morto.
– Onde está o Dr. Soares?
– Ele foi remanejado para um laboratório muito, muito distante.
A pessoa do outro lado da linha desliga. O cientista jamais trocaria de laboratório sem avisar. Tavares tenta retornar a ligação sem sucesso. A linha foi desativada. O cientista tenta enrolar seus compradores, em vão. E logo tem que fugir para não ser morto por seus clientes.
O laboratório secreto continua avançando com suas pesquisas. Em menos de uma semana eles conseguem liberar o agente imunogênico IGG23 com total eficácia para controle de novas infecções.
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