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Texto 3

Exôdo


Moisés olhou para o alto da torre dos Lorscheitter, vestindo a máscara com filtros de ar que todos eram obrigados a usar quando estavam fora de casa. Já sabia que não precisava mais daquilo, mas usava assim mesmo para o caso de alguém reparar nele, já que sempre havia guardas por todos os lados, em todos os cantos. Também estava vestindo a roupa de proteção, feita de lona amarela, e tentava, mesmo assim, passar o mais despercebido possível. Era tudo ou nada aquela noite.

Desde que a cidade fora sitiada por aquelas sete famílias, sob o pretexto de proteger a todos da grande doença, a vida das pessoas dali vinha sendo ditada por aqueles homens e mulheres que carregavam nomes imponentes e que, num primeiro momento, conseguiram disfarçar bem seu despotismo como boa-vontade, mas que agora escancaravam sua sanha do poder pelo poder. Era evidente que as pessoas buscavam alguém que as pudesse proteger, que pudessem desfiar do meio daquele emaranhado de tristeza e dor algum fiapo de esperança, e as famílias pareciam saber o que fazer, naquele momento em que os corpos de pais, mães e filhos se empilhavam em monturos funestos em cada esquina: uma nova ordem social e econômica, baseada exclusivamente na vida dentro da cidade, longe da influência do restante do mundo que também morria, e um muro fortificado por sete torres, onde viveriam as sete famílias que colocariam a vida de todos nós longe daquela ameaça invisível.

E assim foi, muro e torres erguidas, vida determinada por decretos e mais decretos, que determinavam completamente o fluxo da vida de todos e de cada um, indo e vindo sob o som terrível das sirenes e a força truculenta de uns poucos que serviam à segurança das torres.

Olhando para o alto da torre dos Lorscheitter, a principal daqueles sete famílias, debaixo da máscara com filtros de ar Moisés chorava, duas grossas lágrimas fervendo a sua raiva num rosto afogueado. Lembrou-se de Fredo, sendo levado para ser enforcado no meio da praça da cidade, muito machucado e ferido, acusado de ter roubado comida da casa dos Dev, que moravam na torre da ala norte da cidade.

Por mais que nossa vida fosse miserável, recebendo como única paga de nossos trabalhos um saco de farelo de cereais, que geralmente comiam cozinhado numa sopa inssosa ou, quando com muita sorte, assavam alguns pães, Fredo seria incapaz de roubar de quem quer que fosse; seu raciocínio era simplório demais, não havia nele qualquer espaço para sequer arquitetar um ato de revolta que certamente seria (como de fato foi) castigado com severidade por aqueles que tinham muito mais que farelo de cereais para comer.

Moisés desobedecera o toque da sirene que mandava que todos serrassem as cortinas de suas casas para que a execução acontecesse sem que ninguém a observasse. Estava lá, com os olhos entre uma pequena fresta que abrira no blackout obrigatório instalado em todas as casas da cidade, quando viu Fredo sendo conduzido com um saco preto na cabeça por dois guardas, seus gritos sendo abafados pelo tecido que lhe cobria o rosto. Sentados em frente ao patíbulo, em sete cadeiras, os patriarcas e matriarcas das sete famílias, entre os três de lá e os três de cá, numa cadeira mais bem entalhada que as outras, Dario Lorscheitter.

A execução não demorou muito, mas antes de colocarem a corda em volta do pescoço de Fredo, tiraram o saco preto que envolvia sua cabeça, ao que ele começou a gritar, e Moisés conseguiu ouvir, mesmo em meio aos toques ensurdecedores das sirenes:

- Vejam por trás dos muros! Vejam por trás dos muros!

Mas antes que ele pudesse continuar gritando, o guarda abriu o alçapão sob os pés de Fredo e seu corpo ficou ali pendurado, debaixo dos olhares impiedosos de seus juízes.

Sentado com a cabeça colada no vidro de minha janela, as palavras de Fredo não saíam dela. Era uma ordem muito explícita, vinda de um homem que não era de formular grandes ideias: era preciso olhar para além do muro. Mas o que ele queria dizer com aquilo?

A única maneira de olhar para além do muro, era pelas torres das famílias. Moisés era só um trabalhador das fábricas, seria impossível ter acesso a uma das torres, fortemente vigiadas pelos guardas. Seria morto antes que conseguisse colocar o pé em frente à porta de uma delas.

Era óbvio que precisava de ajuda, mas quem poderia escutá-lo? Quem teria a coragem ou mesmo a loucura que Fredo tivera para poder olhar do outro lado, correndo o risco de ter o mesmo fim que ele?

Era algo que ele precisava iniciar sozinho.

Agora, olhando para o alto da torre dos Lorscheitter, naquela fria madrugada de junho, Moisés fez o que planejara durante algum tempo: depois de extrair álcool de parte da ração de cereais que recebia, usando um velho instrumento de cobre que servira a um alambique no passado e que ele encontrara num ferro-velho próximo da torre dos Ferat (e que lhe custara dois sacos de ração), encheu com ele uma garrafa de vidro, na boca da qual encaixou um pedaço de pano velho e o acendeu, jogando-a com toda a força que pôde dentro de uma das janelas abertas da torre.

A explosão foi instantânea e as labaredas logo lambiam a parte externa da torre, que agora parecia uma tocha fumegando. Foi grande a quantidade de guardas que escorreram até a torre dos Lorscheitter, que agora estavam todos na praça, homens, mulheres e crianças, Dario gritando a plenos pulmões para que fizessem alguma coisa para conter o fogo.

Na correria dos guardas para fazer algo para impedir que o fogo consumisse por inteiro a torre, passou despercebido a quantidade de pessoas que agora acorriam para o meio da praça, entre sonolentas e alertas, apesar de não ser obviamente a hora para estar de pé. E enquanto tentavam resolver isso, Moisés entrou no meio daqueles que já estavam dentro da torre, tentando abafar as chamas, e subiu na altura do muro da cidade.

A visão que Moisés teve era simplesmente inacreditável: para além dos muros cinzentos que encobriam a visão de todos ali, aquela fuligem e aquele medo da doença que penetravam o ar, para além da morte e da desesperança, iluminado pelos primeiros raios de sol da manhã um mundo de verde, algo que Moisés ouvira falar que existia antes da grande doença, mas que agora era algo inexistente. Mas estava ali!

Moisés, andando um pouco mais sobre o muro, tirou a máscara de sobre o rosto e olhou para as pessoas na praça à frente. Eram todas as pessoas que ele mesmo conhecia, pessoas como ele e Fredo, que viviam sob o jugo daquelas famílias e que viviam amedrontadas, sem esperança de nada. E ali, atrás daqueles muros, estava o segredo daquelas pérfidas famílias, o seu paraíso particular, escondido de todos para alimentar o seu império de dor e de submissão.

A sua imagem recortada pelo sol que despontava, a torre pegando fogo como numa figura viva de uma carta de tarô, Moisés gritou com toda a força que pôde:

- Vocês todos! Não precisam mais viver obedecendo as ordens terríveis que tiraram todo o gosto de nossas vidas!

E conforme a sua mensagem captava ainda mais a atenção das pessoas, Moisés encontrava ainda mais forças para gritar:

- A grande doença passou e o mundo aqui fora dos muros ainda existe! Chega de mentiras!

Súbito, antes que pudesse continuar falando, Moisés sentiu uma mão, grande e grossa, apertar-lhe a boca, um braço passando sobre seu pescoço.

Era Dario Lorscheitter, completamente ameaçador:

- Vocês acham que têm o poder de decidir as coisas nesse mundo, mas esse tempo já passou, seu verme!

Moisés sentia que seu rosto ia se desfigurar com a falta de ar e, por mais que fizesse força, as duas mãos se esforçando para tirar o braço de Dario de seu pescoço, sentia que a qualquer momento cairia morto.

Mas antes que pudesse fazer qualquer outra coisa para defender sua vida, caiu com Dario dos trinta e cinco metros que compunham o grande muro da cidade, batendo no chão com o som opaco e dilacerante de uma queda que deixou a todos de bocas e olhos abertos.

Por um instante, Moisés ainda ficou estático, mas em seguida se levantou, o corpanzil de Dario Lorscheitter sob o seu, a cabeça no chão de paralelepípedos ensopada de sangue.

Assim que se levantou, apesar da presença dos guardas por todo lado, Moisés gritou mais uma vez ao povo:

- A hora é agora!

Todos os homens, mulheres e crianças, os que estavam na praça e os que estavam ainda nas casas, saíram de onde estavam e, enquanto uns tentavam deter os poucos guardas que ainda tentavam impedir a entrada das pessoas não só na torre dos Lorscheitter, mas das outras seis torres da cidade, todos iam subindo nos muros a partir das torres e, ajudando-se uns aos outros, aproveitando falhas nas partes externas dos muros, iam descendo e correndo para o meio da mata, tão fresca e iluminada pelo sol da manhã.

Já no fim daquela tarde, reunido com um grupo de pessoas no meio de uma clareira na mata recém-descoberta por todos, Moisés olhava em direção à cidade, onde sete torres agora fumegavam, lançando rolos de cinzas em direção ao céu, consumindo o medo de anos e levando para lá um sopro de esperança.

Sentado à beira de uma fogueira, naquela primeira noite, remexendo as cinzas no meio das pedras, enquanto centenas de pessoas dormiam ali na clareira, amontoados umas nas outras, Moisés jogou no meio dela a máscara e o macacão de lona amarela.

Não sabia ao certo o que viria depois, agora que já não precisavam viver com medo da morte e lutando para viver com um saco de farelo de cereais, e observava com apreensão para todas aquelas famílias ali em volta.

Olhou então para a máscara que derretia com o macacão na fogueira, o visor refletindo a cidade em chamas lá atrás.

Então soube que, por mais dificuldades que pudessem surgir, a liberdade de um homem é a sua vida, e isso lhe bastava certamente.

Duas grossas lágrimas surgiram nas faces de Moisés.

Mas não eram de raiva ou de medo.

Eram de alegria.

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