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Texto 15

CIDADE DAS SOMBRAS


Hades, milionário da indústria têxtil, construiu uma cidade subterrânea na sua fazenda. Contratou renomados profissionais que executaram a obra e a transformaram em uma fortaleza secreta. Os envolvidos assinaram um contrato de confidencialidade que, em caso de descumprimento, levaria à morte o delator e a sua família. Os "pesados" termos do acordo não os assustaram. A ganância humana não tem limites, e a maioria dos homens têm um preço. 

A cidade levou doze anos para ser construída. No dia 10 de setembro de 2009, ela foi inaugurada. O momento foi registrado por uma foto do magnata com toda a equipe. Ele fez um breve discurso exaltando o trabalho de todos. Hades deu um jeito de garantir que o segredo fosse levado para os túmulos. Ele ofereceu uma generosa quantia, mantida até o fim da vida, e um seguro de vida para cada participante. 

Três meses depois, as primeiras famílias foram chegando na cidade. Vários ônibus entraram na Fazenda Jacarandá. As pessoas foram autorizadas a tirar as vendas quando chegaram na igreja. Ficaram maravilhadas com a beleza do local, com a vegetação exuberante e com o rio de águas cristalinas. Passaram pela entrada, desceram várias escadas, percorreram um túnel de pedra, e viram várias máquinas têxteis: fiação, bobinadeiras, texturização, tecelagem, de costura e de bordar. 

Em uma sala ao lado, duas pessoas eram responsáveis pela identificação dos habitantes. Os documentos eram confiscados e incinerados, e os indivíduos eram chamados pelo primeiro nome. Depois disso, as famílias recebiam uniformes e eram levadas para as suas "baias". Todas eram padronizadas, com oito metros quadrados, e iam da numeração de 1 a 1000. O interior era simples com beliches dos dois lados. Os banheiros eram coletivos, com poucos chuveiros e havia um rodízio para a higiene pessoal: baias pares - segundas, quartas e sextas – e as ímpares - terças, quintas e sábados. Os domingos eram destinados para a limpeza. 

A população, de cinco mil habitantes, foi recrutada nas ruas e nas favelas. Viviam em regime de escravidão. Tinham à sua disposição animais (porcos, codornas, galinhas, perus e ovelhas), horta e pomar para a sua sobrevivência. As idosas e as crianças mais velhas eram responsáveis pelas refeições. 

No começo de 2020, uma pandemia, a Covid-19, se instalou no mundo e chegou até à Cidade das Sombras. Metade da população foi infectada e abandonada à própria sorte, num parque florestal de um Estado distante. O resto das pessoas continuou trabalhando dezoito horas por dia. As únicas que se livraram disso foram as crianças até os seis anos. 

Hades, antes de falecer, em 2049, mostrou para o seu filho mais velho a Cidade das Sombras e o modelo do seu negócio. As gerações mantiveram o segredo e se beneficiaram da "herança", aprimorando os métodos desumanos, e enriquecendo cada vez mais. 

Cinco séculos depois, em 2607, o mundo enfrenta uma nova epidemia de coronavírus. Dessa vez, mais violenta e aniquiladora do que a suportada no século 21. O vírus é conhecido por CRN 01. O Covid-19 sofreu várias mutações, ao longo dos séculos, e chega matando todos à sua volta. As pessoas morrem, em questão de horas, com falta de ar. Nas cidades, dentro das casas e espalhados pelas ruas, estão milhares de corpos sem vida. Os hospitais, - com médicos e enfermeiros caídos no chão e com os pacientes imóveis nos quartos -, parecem um cemitério macabro. 

Os herdeiros do Hades não são poupados. A fortuna não os salva. Na verdade, acelera as mortes simultâneas e coletivas. É época de férias e boa parte da família curtia o período em lugares paradisíacos e distantes. A pandemia deixa um rastro de desolação pelo planeta. Por outro lado, a natureza reina majestosa e vibrante. 

Os caseiros, da fazenda Jacarandá, conseguem se refugiar na igreja.  Eles procuram pela Bíblia e se deparam com uma porta fora dos padrões: alta e larga. Rose coloca as mãos no queixo e avisa:

— Gilberto, um "portão" desses só pode esconder um segredo. O meu sexto sentido me diz que, por trás dele, há muita dor. Por isso, devemos... 

— Ah, mulher! Deixa de frescura. O mundo acabou, todos se foram, estamos só nós e a nossa bebê aqui, e você com essa conversa fiada de intuição. Tenha dó, né?

— Então, "sabichão", o que faremos? — Ela disse com as mãos na cintura.  Ele não responde e abre a porta. Os dois se espantam com tamanha facilidade. Rose fica ainda mais desconfiada, mas resolve não comentar nada. 

O casal desce as escadas, e a Paola começa a chorar. Rose balança os braços e a aconchega no peito. No último degrau, encontram um menininho, cheio de hematomas, desacordado. Gilberto o pega no colo, e eles se escondem dentro de uma sala. Os dois escutam um o coração do outro. Uma gritaria os deixa apreensivos. Escondem-se, por trás do que restou da persiana, e veem várias pessoas brigando por comida. O grupo faminto estraçalha, em segundos, o que parece ser um porco do mato. 

Rose, com os olhos arregalados, afirma:

— Essas "criaturas" parecem humanos, mas não são. Em pleno século 27... comendo carne? São uns monstros!

— Rose, você acha que as "criaturas" estão a quanto tempo aqui? Aposto que há séculos, e arrisco dizer que nunca tiveram qualquer contato com a nossa civilização. Você não espera que eles se alimentem como nós? Eu não os imagino ingerindo uma pílula proteica por mês. 

— É. Você tem razão. Parece que voltei no tempo e dei de cara com os homens das cavernas! — Ela deu um sorriso amarelo. — Ainda bem que tomamos a nossa pílula ontem. O meu estômago fica revirado só de pensar o que comerei para sobreviver. 

— Acho bom você ir se acostumando com o novo "lar". Quando a fome aperta se come de tudo. Lembra-se do que estudamos em História? No ano de 1972, caiu o avião Força Aérea Uruguaia 571, nos Andes. Os sobreviventes, depois de muito relutarem, aderiram ao canibalismo. — Gilberto relata com pesar. 

Em seguida, várias "criaturas" ligam as máquinas e começam a trabalhar. Ficam por horas na mesma posição como se fossem uns robôs. São bem "adestradas", porém aquelas que fazem "corpo mole" são punidas. Criaturas com rosto de porco, corpo humano e garras de águia chicoteiam os transgressores. Gilberto fica apavorado com o que vê e propõe:

— Estamos em perigo aqui, mas temos chances de sobreviver. Se voltarmos, estaremos mortos antes mesmo de chegarmos em casa. Acredito que essa "Cidade das Sombras" seja grande. Vamos procurar um local longe dessas "criaturas". Ouvi barulho de água e isso é um bom sinal: onde há água, há vida. Poderemos viver com um pouco mais de paz longe deles. — Ele tenta injetar um pouco de ânimo para si e para a esposa.

Os anos se passaram, estamos em 2622, e o mundo continua o mesmo: sem os homens e sem os animais. De vez em quando, Paola e Davi, sem os adultos saberem, vão até o "portão" e dão uma olhada pelo janelão da igreja. Eles ficam encantados com o sol, com a natureza e com a chuva. Assim como antes, a natureza reina absoluta. O maior sonho deles é saírem da "Cidade das Sombras" e viverem uma vida normal.  A Rose se preocupou em ensiná-los sobre a civilização. Desenhava na terra e contava um pouco de tudo que sabia. Ela fazia questão de ensinar o Davi a honrar as suas origens e salientava que eram sua família de coração, tipo uns tios especiais. 

Paola está com quinze anos. Ela tem os cabelos cacheados, negros, e a pele morena. Os seus olhos são cor de mel e a sua boca é delicada e rosada. O corpo já é o de uma mulher. Davi tem dezenove anos, cabelos loiros e olhos castanhos escuros. É clarinho e, às vezes, fica com as bochechas coradas. Os dois, desde que se conheceram, não se desgrudam. Eles brincaram por muito tempo, mas, ultimamente, o que mais gostam de fazer é ficarem juntos usufruindo um a companhia do outro. 

Davi é mais quieto, introvertido. Paola é mais falante e comunicativa. Ela sempre decide o que farão no dia. Ele topa tudo que ela propõe estando a fim ou não. O que importa é estar perto dela. Logo que acordam, correm e se exercitam ao lado do Gilberto. Perto da hora do almoço, os homens vão para o lado proibido atrás de algum animal para a refeição do dia. 

Rose, a cada saída dos dois, fica com o coração na mão. Ela e o marido escolheram o fim do túnel, lugar desabitado e pouco atrativo, para evitarem a visita indesejada das "criaturas" e dos "homens-porco". Essa "invisibilidade" os fez viverem todos esses anos sem serem notados. O que, por si só, é um grande feito. Ao contrário da mãe, Paola gosta de uma aventura e faz de tudo para aumentar a adrenalina. Conta os minutos para, depois do almoço, chamar o amigo para explorarem os labirintos do túnel. O local é enorme, cheio de surpresas e desafios. No último passeio, eles encontraram vários esqueletos espalhados em um grande buraco. 

Paola serve o almoço, e o cardápio do dia é frango com tomate. Rose, com o olhar distante, assevera:

— Isso é o mais perto que podemos chegar da vida que tínhamos. Há anos, esse pesadelo sem fim roubou as nossas vidas.  — Ela quer chorar, mas as lágrimas secaram.

— Rose, o que seria de mim sem vocês? Eu viraria comida dos homens-porco ou, se tivesse sorte, trabalharia como escravo. — Ele se lembrou do dia em que os seus pais foram mortos, pelos homens-porco, por não terem mais forças para trabalhar. Depois, um deles bateu nele, chutou a sua cabeça, e só parou porque achou que ele estava morto. 

— Meu querido, desculpe-me. Eu te amo e sei o quanto sofre pela perda dos seus pais. Você foi o nosso maior presente. Eu faria tudo de novo para salvar você. — Eles se abraçaram e ela, finalmente, conseguiu chorar. Uma enxurrada saiu dos olhos dela e molhou o peito dele. 

Paola e Davi saem para uma nova aventura. Despedem-se dos adultos e vão desvendar os mistérios do túnel. Andam de mãos dadas e cantam as músicas que a Rose lhes ensinou. De repente, Davi para de cantar e olha para as estátuas de dos anjinhos se beijando. Ele fica corado, tenta disfarçar. Paola olha nos seus olhos, o abraça, e lhe dá um beijo apaixonado.

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