O importante é acreditar
Isabelle nunca imaginou que estaria se desdobrando para cumprir seu trabalho, antes mesmo de se formar oficialmente. Mais um dia que ela saía de casa e o sol não havia nem se levantado. Entrou na garagem, colocou sua mochila no porta-malas e sentou-se no lado do motorista. Desde que havia decidido cursar medicina, nunca imaginou que estaria envolvida em um grande projeto tão cedo.
Ela estava distraída com seus pensamentos, enquanto dirigia rumo ao laboratório para continuar com as pesquisas que seu grupo estava realizando, em busca de uma vacina que promovesse a cura da nova doença que estava afetando a humanidade. Era uma corrida contra o tempo e eles não podiam perder tempo. Era tão triste saber que os profissionais da área que ela havia escolhido eram tão valorizados, Isabelle tinha escolhido a medicina por amor, sonhava em salvar vidas, mas nunca se imaginou exercendo a função de cientista. Ajudando nos bastidores.
— Bom dia, equipe! – Ela chegou cumprimentando seus colegas que já estavam no local. Todos acenaram de volta, e voltaram a ficar ocupados com seus afazeres.
Isabelle tomou seu lugar em uma das bancadas e começou a analisar frascos e mais frascos pelo microscópio. Usava a caderneta que sempre mantinha ao seu lado para fazer anotações de tudo o que observava, mesmo que a diferença entre um conteúdo e outro fosse mínima. Estava tão compenetrada em seu trabalho que acabou se assustando ao ouvir o chefe chegar, chamando todos para uma reunião urgente. Ele havia frisado a palavra "urgente" de modo que todos pudessem ouvi-lo mais depressa.
— Bom dia, salvadores da Pátria! – Ele havia apelidado a equipe carinhosamente. – Hoje tenho coisa muito importante para falar com vocês. A partir de amanhã ninguém volta para dormir em casa, tragam o que precisarem e passaremos a maior parte do tempo aqui. O tempo que vocês levam quando saem e voltam no outro dia, não podemos perder isso. Cada segundo é precioso e preciso de todos empenhados nessa missão. Posso contar com vocês? – Todos gritaram ao mesmo tempo que sim, e afirmaram com a cabeça.
Uma semana havia se passado e a corrida para encontrar a fórmula de uma vacina continuava intensamente. Isabelle dormia cinco horas por noite e comia quando realmente sentia fome. Não queria perder nenhum minuto, porque para salvar vidas ela fazia tudo o que estivesse a seu alcance. Ela não tinha tempo de ligar para os pais, mandava algumas mensagens durante o dia para avisar que estava bem, mas fora isso, mal lembrava que seu celular existia.
Um longo mês havia se passado de trabalho árduo, mas prazeroso, porque era isso que Isabelle e todos ali envolvidos sabiam fazer de melhor. Todos ficavam incansavelmente estudando cada mudança e detalhe que observavam. E, em um desses dias, o diretor-geral da pesquisa entrou correndo no laboratório e começou a falar desesperado, chamando a atenção e fazendo com que todos, sem exceção, olhassem para ele alarmados.
— Eu não acredito! Eu não a-cre-di-to! Isso não pode estar acontecendo! – Ele falava no celular, mas ninguém sabia com quem era. – O senhor só pode estar de brincadeira! Como quer que eu continue fazendo o trabalho desse jeito? CHEGA! Eu não vou mais discutir, pense bem na decisão que o senhor está tomando. Não faz sentido! Ouça o que está dizendo, pelo amor de Deus! – Dizem que a religião e a ciência são lados opostos e não se batem, mas Isabelle era católica desde que se entendia por gente e jura de pés juntos que Deus lhe entregou esse caminho na ciência para que ela pudesse ajudar quem mais precisasse.
Ela estava escutando, assim como todos os outros da equipe, e ficava cada vez mais apreensiva a cada palavra que o diretor dizia. O que tanto o incomodava? Quando ele desligou a chamada, todos o olhavam e muitos tinham seus olhos arregalados, com medo do que podia estar por vir.
— Vocês devem estar se perguntando o que está havendo não é mesmo? – Muitos balançaram a cabeça afirmativamente, em modo aleatório. – Pois bem, a notícia que vos trago não é nada boa. Nossa verba foi cortada. – Um burburinho começou a se formar, com várias especulações do que podia acontecer desse momento em diante. – Isso significa que nosso andamento vai ser muito mais devagar, teremos que reduzir compra de material e alguns infelizmente terão que sair da equipe. Não conseguirei manter todos vocês com o dinheiro que vamos receber. Chamarei um a um na minha sala para dizer quem fica e quem terá que ir embora. Eu vou dizer que dói em mim ter que me despedir, mas não há outro jeito. Aos que ficarem, espero que não se importe de trabalharem mais, mesmo com pouca grana.
Isabelle se levantou do lugar onde estava e saiu do laboratório para tomar um ar. Ela não acreditava que aquilo estava acontecendo. De repente, o sonho que tantas vezes invadiu a mente dela, mesmo estando acordada, estava se tornando em um terrível pesadelo. Será que ela permaneceria na equipe? Ela era uma das mais jovens, nem havia pegado oficialmente o diploma, apesar de estar frequentando pouco a faculdade para se dedicar na melhor missão de sua vida. Sua melhor amiga passava o conteúdo para ela e os professores acabavam nem colocando falta, já que sabiam o motivo de sua ausência frequente.
Depois de três dias, Isabelle continua trabalhando, mas ao mesmo tempo, estava nervosa por saber qual seria a resposta. Ela seria escolhida por continuar a fazer parte do time, ou teria que sair? Se antes ela dormia pouco, agora ela dormir menos ainda, pois quando deitava a cabeça no travesseiro, a ansiedade tomava conta de seus neurônios e todo o seu corpo, fazendo-a se remexer por toda cama antes de finalmente conseguir desligar seus pensamentos.
No dia seguinte, ela entrou no laboratório bocejando e com uma xícara de café nas mãos. Olhou ao redor e viu que apenas quatro pessoas da equipe já estavam trabalhando. Voltou para o cômodo onde eles haviam montado uma cozinha, lavou a xícara e voltou ao dormitório para poder pegar seu jaleco. Quando estava chegando de volta ao laboratório, ouviu uma voz grave a chamando. Olhou para trás e viu o diretor-geral em pé, aguardando que ela o seguisse. Ela foi cabisbaixa, não queria de forma alguma deixar o que fazia e estava até disposta a renunciar o pequeno salário que ganhava para conseguir fazer aquilo que realmente gostava.
— Isabelle Pereira! Ainda é estudante, não é? – Ela confirmou com a cabeça, não conseguia falar, sua boca estava seca e seu estômago se revirava em uma angústia infinita. – Pois bem, eu tenho a minha decisão sobre quem fica e quem deve ir embora. Mas antes de eu dar minha palavra final, quero saber de você: por que eu deveria te manter na equipe? – Ele a olhava nos olhos. Ela respirou fundo, uma, duas, três vezes.
— Bom... Eu estou um pouco nervosa, mas meu sonho sempre foi poder um dia ajudar quem mais necessita e eu sinto que aqui eu posso fazer isso. Eu me sinto em casa, mesmo com toda a correria. É cansativo, desgastante, mas no final vale a pena todo o esforço. Simplesmente porque nós sabemos que o resultado pode salvar vidas. E essa motivação que me fez entrar em medicina e continuar no curso até hoje. – Ela terminou de falar com um sorriso nos lábios, mas ficou olhando para o chão. não tinha coragem de encarar o homem a sua frente e ver em sua expressão um "tchau".
— Você é tão jovem, mas já sabe exatamente o que quer. – Ele concluiu, a deixando ainda mais nervosa. – Pois bem, minha decisão final é que você deve permanecer na equipe. Você tem muito a aprender, tem força de vontade, sabe o que quer e eu vejo na sua carinha que não vai desistir até encontrar o resultado para a nossa pesquisa. É isso que eu quero. São pessoas como você que nós precisamos para seguir em frente, mesmo nas dificuldades. Obrigado por aceitar o desafio, e seja bem-vinda definitivamente no nosso time. – Ela estava sorrindo e quando estava prestes a abrir a porta para voltar o trabalho, o diretor a chamou de novo. – Antes que eu me esqueça! Parabéns, nova médica! Eu mesmo tomei a liberdade de conversar com o reitor de sua universidade e você está apta para receber o diploma até o final deste mês. – Ela mal podia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo.
Voltou ao laboratório, pois já havia perdido tempo demais e precisava fazer o que de fato importava. Salvar vidas. Ela encontraria a fórmula perfeita para combater esse vírus. Pediu a Deus que a guiasse nos caminhos certos, que iluminasse seus pensamentos e que permaneça a seu lado em todos os minutos possíveis. Analisava todo tipo de frasco que chegava a sua bancada, anotava cada detalhe e, o mais importante, nunca deixava de acreditar que todo o trabalho valeria a pena.
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