O Caminho do Exilado
O homem que fazia o papel de juiz bate o martelo na mesa, fazendo o barulho escoar por todo o grande salão, enquanto toda a multidão observa em silencio o desenrolar dos fatos.
— Todo O Conservatório agradece por seus grandes feitos em prol de toda a comunidade, porém alguns de seus atos não são justificáveis. Devido as circunstâncias, não posso condena-lo a morte, mas também não posso deixar que fiquei aqui. Então sentencio ao exilio. – Com outra martelada ele encerra a cessão, e desce até o homem exilado.
O povo ali reunido começa a se dispersar em silencio absoluto. Ninguém questiona. Apenas deixam a sala, e se dirigem para as saídas.
— Caro amigo, gostaria que as coisas fossem diferentes. Espero que entenda minha posição. Não poderia tomar outro caminho que não fosse esta. – O Juiz fala para o ex-membro da sociedade, que o responde prontamente.
— É o seu papel Peter, você tem que cuidar desse lugar. Pode ser o único lugar com vida que sobrou do mundo até onde sabemos.
— Pedi para que os Rapazes façam uma boa mochila de suprimentos para que leve ao sair James. – Seu único amigo sorri para ele.
Os dois caminham em silencio para fora da sala de julgamento. E Seguem para o portão principal, cruzando toda a cidade sob o olhar de vários cidadãos. Alguns com bons olhares, e outros com ódio.
Ao chegaram a frente da grande barreia que dividia O Conservatório do mundo devastado do lado de fora, um grupo de soldados os espera, com uma grande mochila.
— Acho que é aqui que nos despedimos. Espero que meu sacrifício tenha valido a pena de alguma forma. Sei que não era certo Peter, pois muita gente morreu, mas caso contrário, poderíamos ter perdido todo o que nós resta. – James fala com um olhar perdido.
— Não existia caminho melhor ou pior. Os dois levariam a situações delicadas. – O Juiz fala evitando o olhar de seu amigo.
— Bom, eu tenho um caminho sem rumo a seguir agora. Desejo que esse lugar um dia se torne o berço da humanidade. E que daqui possa florescer a vida por toda a terra novamente. – O exilado começa a ajustar a bolsa em sua costa para que possa seguir sua viagem.
— Ei, leve isto com você. Pode ser que você precise. – O Juiz lhe entrega uma bussola, um caderno e uma arma.
— A arma eu até entendo. Mas o que vou fazer com o resto destas coisas Peter? – O rapaz fala desanimado.
— A arma está carregada, e não apenas com um tiro apenas, como é de costume do exilio. O diário é para que você tenha alguém a quem recorrer em meio a sua solidão. E a bussola é para que o guie em meio aos seus pensamentos mais revoltos. Para quando não souber para onde ir, ela possa te guiar para o norte, e seguir o nosso sonho de infância e desvendar o desconhecido. – Peter fala deixando um lagrimas cair.
E sem rumo James segue, deixando o lugar que fora sua casa durante anos.
DIA 1
James Khalican
Pelo menos ainda sei escrever meu nome. Tanta coisa mais útil para me dar, e ele me dá um papel.
DIA 5
Eu acho um grande desperdício de espaço guardar essa tranqueira aqui, porem foi um presente de Peter, então acho que vou deixar por mais um tempo, até achar algo mais útil para colocar no lugar.
Os ermos são mais frios do que eu me lembrava, e quase não tem comida por aqui. Meus estoques estão cheios ainda, mas não sei até quando.
Estou indo para o norte, mas não tenho certeza disso. Quando era criança isso fazia mais sentido. Se aquele garotinho soubesse como é andar por esse lugar abandonado com a sensação de ser devorado vivo, ele pensaria duas vezes antes de ter esse sonho.
DIA 7
Acho que fiz uma péssima escolha. Achei alguns itens interessantes, mas para leva-los, eu teria que deixar esse diário.
Na hora me parecia uma boa ideia, mas agora já não. Droga, eu poderia tê-los usados para consertar essa porta. Teria um lugar coberto para passar a noite. Agora só tenho esse livro. Pelo menos eu tenho algo pra registrar minha indignação.
DIA 10
Já estou mais longe do que qualquer excursão que o conservatório já vez. Precisei fazer um grande desvio, que me fez perder muito tempo, mas eu estou com o plano firme.
É difícil ficar sozinho o tempo todo, mas pelo menos esses linhas me ajudam a esquecer um pouco todo os problemas.
Eu estou irritado hoje. Minha comida já está acabando, e eu devo ter derrubado um enlatado quando pulei por alguns escombros.
Eu sou um inútil mesmo!!
DIA 13
Minha situação não é das melhores. Eu sou um imbecil. Qual é o meu problema? Estou desaprendendo a sobreviver? Minhas latas de comida devem ter atraído algo, que está me caçando agora.
Vou montar uma armadilha para ele hoje. Ele pode até ser esperto, mas não tanto com eu. Vou mostrar quem é que manda.
DIA 14
Eu peguei o desgraçado que estava me seguindo. Um lopos, estava me seguindo, mas eu fui mais esperto que esse bicho peludo. É estranho pensar que os Lobos de antigamente se tornaram essas coisas horríveis.
Bom, feio ou não agora é comida. Melhor ele na minha barriga do que eu na dele.
Pela manha vou continuar minha jornada, rumo ao norte. Agora está mais fácil seguir, pois tem uma montanha bem grande ao longe. É só ir ao encontro dela, e quando chegar lá eu penso no próximo passo.
DIA 15
Agora eu tenho um amigo. Ele se chama Lupus, ele não costuma falar muito, até porque ele é o crânio daquele bicho feio que eu matei ontem, mas ele tem um rosto mais a amigável que o outro. Ele fica no meu ombro, e me faz companhia.
Não é muito, mas é o único que me dá atenção.
DIA 17
Minha comida acabou hoje. Mas pelo menos essas bandas não foram tão exploradas assim, mesmo que eu ainda não tenha visto nada que seja comestível ainda. A montanha já está mais perto. Pelo menos isso me ajuda a manter no meu caminho.
Minha tinta já está acabando, e eu não sei quando irei poder escrever novamente. Na verdade, nem sei até quando...
DIA 19
Eu achei um lápis, isso vai me dar oportunidade de escrever mais um pouco.
Mas não hoje. Quero descansar um pouco. Lupus já está torrando minha paciência para pararmos.
DIA 21
A fome dói, ando fraca, mas tenho que continuar.
Lupus me ajudou a achar um córrego com água, ele vem caçoando muito de mim esses últimos dias. Disse que não deveríamos subir a montanha, mas não temos escolha, vários destroçadores estavam pela área.
Talvez estejam atrás de mim.
DIA 25
Ainda estou vivo, mas não sei por quanto tempo.
A fome corta minhas entranhas, e quase toda minha força já se foi. E também estou em dúvida, pois acho que Lupus quer me comer. Acho que terei que mata-lo
DIA 26
Quero me matar. Matei meu único amigo. Seus ossos estão pelo chão agora.
Coloquei a arma sob minha cabeça, mas não consegui puxar o gatilho.
Para piorar, os destroçadores estão me seguindo montanha a cima. Criaturas malditas. Porque não me mataram antes.
DIA 27
Decidi continuar. Mesmo que talvez seja meu ultimo registro. Já não sinto a fome, apenas uma dor intensa, que corrói meu corpo, e agora está corroendo minha cabeça.
Acho que estou ficando louco.
Mas antes vou chegar aquela cabana no topo. Um último esforço.
DIA 30
Sim, existe luz no fim do túnel. A cabana pertencia a um sobrevivencialista, que estocou muita comida, e eu estou comendo e me recuperando.
Essa não foi a única descoberta. Aquelas criaturas nojentas que estavam me seguindo devem ter me rastreado pelo cheiro de Lupus.
Ainda bem que o matei. Agora vou voltar a me recuperar.
DIA 39
Minha vida nas montanhas seria boa, tenho comida, uma casa, e como criar meu sustento, mas não me vejo vivendo aqui para sempre. Eu não conseguiria viver com o pesa das minhas ações. Vou continuar, para trás das montanhas, e de suas nevoas.
Dia 48
A vista daqui é linda.
Aqui se encerra minha jornada. Eu possibilitei um novo recomeço para O Conservatório, e isso que importa.
Além disso, cheguei onde aquele garotinho pensava chegar um dia. Então acho que cumpri meu propósito.
Engraçado como as coisas são, ter me sobrado apenas um única bala...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro