Êxtase
Eu tinha preparado uma noite excepcional, de prazeres sem igual. Sabia exatamente como levá-lo ao máximo de sua potência, e isso era tudo o que eu queria. O motel escolhido já era por nós frequentado quando desejávamos sair da rotina, e esse era o caso. Mas, para essa ocasião em especial, eu acrescentei algumas surpresinhas. Passei, no dia anterior, no sex shop para comprar acessórios estimulantes, bem como, um traje provocante. Tudo fora bem planejado.
Escolhi uma suíte com piscina, hidromassagem e uma barra de pole dance para extravasar na criatividade. Ele não fazia ideia de qual seria a personagem que eu usaria para provocá-lo, apenas pediu que me empenhasse ao máximo. Portanto, assim que chegamos, fui ao banheiro para realizar a transformação. Vesti uma fantasia sexy de policial, munida de algemas, venda e um chicote, ao invés de um cassetete. Deixei meu longo cabelo loiro solto, investindo apenas no batom e esmalte, ambos na cor vinho. Assim, a trilha prazerosa por mim percorrida estaria em destaque por onde eu passasse.
Pensei que ele nada faria para incrementar esse momento, mas, para a minha surpresa, o vi deitado displicentemente na cama, já sem a roupa trivial, apenas com uma boxer temática, versão smoking, aguardando-me. Ele estava ainda mais atraente e, dessa forma, eu precisaria de determinação extra para chegar onde pretendia. Sua ereção incontida já era visível, afinal, a pílula azul fora convenientemente usada para garantir uma noite de imensa luxúria e êxtase, além dos medicamentos de rotina para a sua cardiopatia.
Assim que seu olhar lascivo percorreu meu corpo, percebi que acertara nos detalhes. Animado e faminto, ele veio em ao meu encontro, com as faces rosadas, no claro intuito de irmos para o tudo ou nada. Mas, calma lá! O comando cabia a mim e, assim, fiz valer a roupa que personificava.
— Para trás ou terei que detê-lo.
Ele riu maliciosamente, achando que eu não resistiria por muito tempo.
— Afaste-se e coloque as mãos para cima!
— Você que manda, meu bem.
— Assim não, Roberto! Agora sou a policial Pamela e você vai passar por uma revista minuciosa.
— Como quiser, amor! Desculpa, é a força do hábito. Como desejar, policial Pamela.
Determinada, fui em sua direção, encarando-o. Quando estávamos frente a frente, fui direta ao ponto.
— Não se mexa!
— Como quiser, Pamela, mas aviso que tem partes que podem mexer sem o meu consentimento, ou mais ainda com ele.
— Comporte-se! Você está em sérios apuros.
Devagar, passei por ele e me posicionei atrás, em suas costas. Agachei, colocando minhas mãos na parte interna de ambas as pernas. Devagar, comecei a subir, sentindo sua pele quente, os pelos eriçados e a tensão alastrando-se conforme eu o ia mapeando. Parei o trajeto percorrido ao chegar na sua bunda. Reposicionei minhas mãos para a lateral do seu corpo. Subi delicadamente por seus braços estendidos até chegar às suas mãos. Trouxe-as para baixo e, retirando a fita de cetim vinho do bolso, uni-as em um laço frouxo.
Eu me posicionei novamente na sua frente, encostando meu corpo ao seu. Senti o volume entre suas pernas latejar, mas eu queria mais, portanto, não seria boazinha, resistiria. Coloquei minhas mãos em seu peito e sorri ardilosamente, antes de empurrá-lo com força. Confortavelmente, ele foi aparado pelo colchão macio da cama. Enquanto me olhava espantado e maravilhado, deixei-o vislumbrar meus passos até a bolsa, de onde tirei um jogo de dados.
Observando com atenção, ele viu que se tratava de um jogo onde posição e local eram apenas partes de um cenário escolhido ao acaso para proporcionar o prazer desejado.
— Porventura isso seria um jogo de azar, policial? E não constituiria uma grave contravenção?
Roberto sempre teve o bom senso de me instigar, sem contrariar, e isso era o ponto alto dos nossos diálogos.
— Sorte ou azar dependem do ponto de vista, Roberto. Vai se arriscar?
— Sim! Pode jogá-los.
E foi assim que começamos a nossa noite de descobertas. A primeira foi que muitas outras travessuras poderiam ser colocadas em prática, até que o desgaste físico nos tomasse. Havíamos chegado a esse momento, de intenso ofegar, quando propus uma última experiência, mais intensa.
— Agora vamos encerrar essa madrugada com chave de ouro.
— Não sei se aguento, Bea... desculpa. Não sei se aguento, Pamela.
— Prometo que será a última, inesquecível.
— Como você quiser, amor!
Coloquei-o vendado e, dessa vez, fiz uso das algemas, prendendo suas mãos na cabeceira da cama. As pernas, estavam igualmente presas. Montei-o e comecei a galopar. Ele estava eufórico, mas ainda não havia percebido onde eu queria chegar. Quando ele estava prestes a gozar, tirei-o de dentro de mim para inverter a posição. Encostei meu corpo ao seu e dei ré até ele perceber que estaria encarando minha bunda e todos os orifícios que tanto desejava explorar. Sua boca veio sugar-me com voracidade para, logo após, sua língua penetrar-me com intensidade, enquanto eu também o excitava com minha boca, devorando cada centímetro daquela ereção persistente e que já durava horas.
De repente, todo o seu corpo começou a se agitar. Havia um tesão imenso, mas também sofrimento. Era o ápice e o fim, tudo o que tínhamos vivido entrava em colapso ali. Seus batimentos estavam em descompasso acelerado. Seu corpo exigia a liberdade que não tinha mais como conquistar. E, em minhas mãos, seu pênis entumecido ejaculava, sorvendo os últimos instantes de prazer antes de ver-se sufocado pela barreira que minha bunda lhe empunhava. Sim, eu o matei enquanto o amava.
Quando constatei que não havia mais batimentos, pedi, aos prantos, socorro para os funcionários do motel. Polícia e ambulância logo chegaram ao local. Relatei com detalhes o que havia acontecido, a razão dele estar vendado e algemado à cama, bem como, todas as outras informações que constavam desse longo questionário. Nenhuma suspeita caíra sobre mim, afinal, éramos um casal sem histórico de brigas, que estávamos sempre unidos e sorridentes e, por diversas vezes, íamos ao motel para apimentar nossa rotina. Dessa forma, a constatação óbvia foi que ele havia falecido decorrente de sua cardiopatia crônica, aliada ao esforço físico promovido pela noite de intenso prazer com sua esposa.
Uma semana antes...
Estava, como de costume, trabalhando no hospital quando a enfermeira chefe, e amiga desde a época de escola, me chamou.
— Beatriz, você fará uso do equipamento de proteção individual para qualquer atendimento feito no hospital. Essa será a regra adotada a partir de agora.
— O que houve, Rita?
— Como somos um hospital de referência mundial, fomos um dos primeiros a notificar a morte por um vírus novo. O paciente era um homem, de 46 anos, internado aqui para uma videolaparoscopia, devido a sua hérnia inguinal, e que não apresentava nenhum outro problema de saúde que justificasse seu falecimento.
— Sim, eu lembro desse caso. Ele estava no meu andar.
— O que eu vou falar agora, Beatriz, é como sua amiga e, portanto, confidencial. O relatório que recebemos hoje cedo diz se tratar de uma pandemia, causada por um vírus modificado em laboratório e que só afeta os portadores do cromossoma Y. Ele é altamente contagioso e tem um período de latência assintomática de até um ano. Infelizmente, as notícias ficam mais perturbadoras ainda. Todos os representantes do sexo masculino estão infectados, portanto, condenados à morte, já que não há tempo hábil para desenvolver e testar um medicamento ou vacina.
— Rita, o que você está dizendo?
— Estou dizendo que todos os homens morrerão, Beatriz. O seu, o meu, qualquer um, de qualquer raça ou idade. E, ficará pior com a repercussão que isso causará. Já recebemos, em off, a informação de que os planos de saúde estão contestando a cobertura dada aos seus clientes. E isso repercute em outra esfera, a dos seguros de vida. O que sei, até o momento, é que esses dois setores de planos privados já entraram com recursos nos órgãos governamentais para cancelar os custos advindos de seus contratantes do sexo masculino. Imaginou isso?
— Não, Rita! Tem que haver algum erro nisso. Todos os homens irão morrer? Os planos de saúde e seguros de vida vão cancelar contratos de todos os representantes Y do planeta?
— Parece ser esse o movimento a seguir, Beatriz! Você imagina o que aconteceria se todas essas empresas tiverem que custear os serviços contratados? Por isso, pode aguardar que, em breve, essas notícias devem vir à tona.
Meu mundo perdeu o rumo depois que minha amiga me confidenciou essas novas perspectivas, indo de encontro ao meu pior temor. Meu marido não morreria por idade avançada, ou por agravamento de sua doença cardíaca, mas por não haver cura para o mal que ao mundo assolava. Essa seria a razão dele me deixar, sendo incapaz sequer de lutar pela vida e metas que pretendíamos alcançar.
Cheguei em casa arrasada. Não poderia dar essa notícia a ele. Seus problemas cardíacos já causavam preocupações diárias e, essa verdade inóspita em nada ajudaria, pois estávamos todos rendidos e impotentes. E, passar o resto do tempo vivendo de incertezas e medos, também não era um fim justo para quem eu tanto amava.
Mas uma preocupação maior começou a me atormentar. Como eu ficaria? Nem a casa em que vivemos eu conseguiria bancar com o meu salário de Auxiliar de Enfermagem. Estaria desprovida de toda a segurança que hoje tenho com ele sendo o provedor principal de nosso sustento, além de atolada em dívidas.
Eu não queria pensar nisso, mas a verdade crucial era inquestionável. Ele, de qualquer forma, morreria, era isso que minha mente afirmava constantemente. Mas eu sobreviveria, e, por isso, pensamentos que nunca imaginei ter passaram a me atormentar depois que falei com a Rita. E, se os seguros de saúde privados fossem alterados da forma como ela se referiu para evitar essa falência coletiva?
Depois de tanto tempo juntos, com nosso amor sustentando planos futuros, Roberto e eu fizemos um seguro de vida recentemente, sendo eu a única beneficiária se ele viesse a falecer devido aos problemas cardíacos que tinha. Essa era uma das preocupações dele, pois não queria me ver passando necessidade, caso viesse a me faltar, e isso aconteceria. O valor envolvido era considerável, me manteria estável por um bom tempo diante de qualquer infortúnio e, principalmente, da crise que a pandemia traria. Mas, e se essa estratégia das seguradoras tivesse êxito, eu nada receberia. Um empasse começou a corroer-me. Quanto tempo ainda nos restaria? Era injusto ou egoísta pensar em maneiras de garantir esse benefício antes que as regras mudassem?
Eu amava meu marido, muito. Sei que não estava correto arquitetar planos horrendos, mas isso foi se infiltrando, de tal forma, que não demorou para eu perceber uma estratégia plausível surgindo. E nele, eu faria Roberto feliz até o último momento, mas, eu não me perdoaria. Jamais estaria com a consciência tranquila e, todo o amor que me trouxe até aqui se transformaria em um implacável ódio de mim. Como eu iria lidar com isso? Não sei. Porém, pior seria chegar ao mesmo ponto, a despedida, tendo só despesas para conduzir minha vida.
Não havia tempo a perder. Até no hospital já se percebia uma lentidão para aprovar novas internações, mesmo que não fossem provocadas pelo novo vírus. O futuro era incerto e eu, temendo o que viria, pus meu esquema em ação.
Eu atrairia Roberto para um convite que ele jamais recusaria, pois era dessas novidades picantes que nosso amor se abastecia. Seria uma noite de fantasias sexuais, onde o desejo falaria mais. E ele se renderia a todos os meus apelos, disso eu tinha certeza. Nos instantes finais, o vendaria, pois não conseguiria lidar com seu olhar incriminatório me acompanhando pelo resto da vida. Seria esse o crime perfeito? Não mesmo! Para sempre haveria um rombo em meu peito, além da culpa pelo que escolhi fazer. Entretanto, para a investigação policial que seguiria, eu não seria sequer considerada suspeita, já que ele morreu por fatores intrínsecos à sua doença e notoriamente feliz enquanto me satisfazia.
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