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Eterno

A minha vida poderia ter sido bem diferente, mas eu não tinha a consciência que tenho agora, portanto, ferrei com tudo que seria a razão da minha felicidade, a verdadeira.

É fácil perceber isso, começando pelo que todos esperavam de mim. Eu era um rapaz de família humilde, morando em uma cidade pequena do interior do Estado. Estudava em colégio público e trabalhava no moinho. Minhas irmãs faziam o mesmo, pois o sustento familiar era arduamente conquistado, não sobrando recursos para esbanjar em itens supérfluos. 

Um dia, bastou uma frase, dita à minha mãe, para que tudo mudasse.

— Seu filho nunca será nada! Passará a vida como funcionário desse moinho, ganhando esse salário indigno. 

Nessa hora, ela empertigou-se e proferiu o que seria a minha nova meta de vida.

— Você está enganada! Meu filho será doutor, e você ainda ouvirá falar muito dele. 

Dali em diante, esqueci o significado de tempo livre. Tudo girava em torno dos meus estudos e da profecia imposta a mim. E, para que ela se tornasse real, eu deveria, obrigatoriamente, entrar em uma faculdade pública, a melhor delas, pois, de outra forma, não havia como bancar o curso. Esse feito exigiria outras mudanças. Teria que me mudar para a capital e morar de favor na casa dos meus tios. A pressão sobre meus ombros já era imensa, desde que meu pai falecera, anos atrás, em um acidente de carro. Cabia a mim, o primogênito e único varão, ser bem sucedido nesse intuito, carregando, de forma digna e honrada, o sobrenome da família. 

Não escolhi ser médico, mas essa profissão casou muito bem comigo. Já na faculdade, comecei a ter destaque e, logo após me formar, a visibilidade e reconhecimento me fizeram prosperar mais rápido do que julguei ser capaz, dando imensa notoriedade e credibilidade ao ofício abraçado. Eu estava maravilhado com o que havia conquistado em tão pouco tempo, levando-me a outro patamar social e de relacionamentos. Da mesma forma, ter o poder de curar era algo apreciado e endeusado por aqueles que me procuravam, ou a minha volta estavam. Passei a ser visto com outros olhos, o cara que havia vencido as adversidades, e minha mãe fazia questão de propagar isso a todos. 

O dinheiro não era mais um problema. Nessa nova fase, havia conseguido comprar meu primeiro carro e alugar um pequeno imóvel na cidade. Percebi que as pessoas com quem me relacionava, no pessoal e profissional, me bajulavam, esperando de alguma maneira serem beneficiadas, seja ao indicar um colega amigo ou com atendimentos particulares sem ônus, e acrescidos de amostras grátis nas medicações receitadas. Logo, meu ciclo de amigos e convites festivos tornaram-se fartos, expandindo exponencialmente o público-alvo que a mim recorria. 

Foi em um fim de semana, fazendo meu habitual plantão no posto de saúde, que conheci Catarina. Ela veio acompanhando uma paciente que eu atendia há algum tempo, mas que sempre vinha às consultas com a filha. De porte médio, curvilínea, com pele bronzeada, longos cabelos negros, lábios volumosos e um olhar selvagemente hipnótico, sua forma simples e delicada capturaram minha atenção. 

Ficou difícil manter o foco durante a anamnese e avaliação clínica e, nada antes, havia me tirado do controle enquanto executava minhas funções. Eu estava me envolvendo com outra pessoa, mas isso não mais importava, não depois dela ter mexido comigo dessa forma, portanto, não a deixaria partir sem tentar conhecê-la. Marquei o retorno da paciente para dali uma semana, na esperança de revê-la, mas, para meu desespero, ela não veio. Então, busquei saber o óbvio.

— Vejo que já está bem, Dona Guilhermina, pois até dispensou a companhia de sua amiga ou ela pegou a mesma virose que você?

— Não, Dr. Carlos! Minha amiga está bem. Ela só não pode me fazer companhia porque está trabalhando, assim como a minha filha.

Realmente, disfarcei muito mal o meu interesse, pois o sorriso que a senhorinha me deu deixou evidente que ela havia entendido o que se passava comigo. Mas, o destino resolveu conspirar a meu favor e Catarina não passou ilesa diante do vírus influenza. Dias depois, era ela que estava em meu consultório, abatida, com febre alta, coriza e tosse produtiva, queixando-se de cansaço e dores pelo corpo. Essa era a oportunidade que eu precisava, e iria agarrá-la. Foi assim que começou o nosso relacionamento, que pareceu turbinar ainda mais a minha trajetória, afinal, eu estava feliz como nunca antes percebera. 

Catarina não tinha completado o Ensino Médio, pois a necessidade do ganha-pão falou mais alto também. Mas, vê-la trabalhar na padaria, não era algo que eu queria, ainda mais com todos aqueles homens cobiçando-a diariamente, com explícito interesse. Aquela mulher era só minha e eu precisava tê-la sob minhas vistas. Foi nesse instante que resolvi exercer o controle que me cabia. Estava abrindo um consultório próprio, uma vez que a procura por meus cuidados estava além do esperado para a pequena clínica em que eu atendia. Dessa forma, precisaria contratar uma secretária, portanto, lhe ofereci o emprego. 

Ela já trabalhava comigo há dois meses e, um belo dia, pediu para conversarmos. Disse-me que gostaria de fazer um supletivo à noite, avançando nos estudos, mas não estimulei essa ideia, afinal, a função por ela executada estava de acordo com os conhecimentos que tinha e, os que por ventura necessitasse, eu os ensinaria. E, assim, a convenci a se dedicar mais, a nós.

Ainda que nossa relação evoluísse bem, não estava contente em ter que deixá-la no apartamento que dividia com outras amigas nos dias em que comigo ela não dormia. Já estava cansado dessa situação e resolvi isso convidando-a para morar comigo. Ela relutou por um tempo, mas não muito. Meus argumentos foram únicos, afinal, estaríamos ainda mais juntos. Mas, não foi exatamente assim que ocorreu porque, sempre que chegávamos na minha casa, ela tinha as tarefas domésticas para executar, enquanto eu ia ampliar meus conhecimentos na área. E, ao nos dirigirmos para o quarto, o sono normalmente era o primeiro a chegar. Sabia que estávamos nos dedicando ao máximo, que o retorno de todo esse investimento havia sido imediato, mas andávamos mais distantes do que quando começamos a namorar. Nos convites recebidos de colegas e amigos, sempre a levava comigo para integrá-la ao grupo que agora me rodeava, mas o foco das atenções era eu e, dessa forma, via-me cercado de inúmeras pessoas, enquanto ela conversava com uma ou outra.

Em um desses dias de consultório entupido, apareceu meu primo, Rodrigo. Pedi que aguardasse um pouco, logo o atenderia, mas antes precisaria dar sequência às consultas previstas. Terminei dois atendimentos mais urgentes e pedi à Catarina que o deixasse na sala anexa a minha e, por ali, também saísse a última paciente por mim atendida. Teria uma pausa de poucos minutos para descobrir o que trazia meu primo aqui.

— Oi, Carlos. Quanto tempo! Não pensei que tivesse que esperar tanto. Ainda bem que você contratou uma bela e simpática secretária. Só ela para tornar suportável esse tempo infernal de espera. Por acaso, você saberia me dizer se ela seria comprometida?

Puta merda! Meu sangue subiu na hora. Eu até simpatizava com o Rodrigo, mesmo achando ele esnobe e metido, simplesmente por pertencer, até então, ao único ramo abastado da família. A partir disso, fui curto e seco no trato.

— Sim, ela está comigo.

— Muito simpática e graciosa a sua nova namorada, meu primo.

Aquele olhar de cobiça, que eu julgava ter extirpado, trouxe uma inquietação ao meu peito. Será que ela estaria me traindo? Isso justificaria o nosso atual distanciamento. A pergunta seguinte não tardou a aparecer... Como? Com quem? O único momento em que não estávamos juntos era aos sábados de manhã, quando visitava meus pacientes no hospital ou prestava atendimento em domicílio para aqueles dispostos a arcar com esse luxo.

Voltei minha atenção para os pequenos detalhes da nossa rotina. Percebi que ela estava mais séria, calada, e pouco sorria. Havia uma tristeza ali que eu não compreendia. Será que ela tinha encontrado alguém melhor? Então, por que permanecia comigo? Devia estar interessada no meu status social ou novo poder aquisitivo. Estaria me roubando? Não duvido.

Já estava cogitando colocar um detetive particular para segui-la, para acabar com essa dúvida que me consumia, impedindo sequer que a olhasse com brandura e carinho, quando ocorreu uma reviravolta inesperada. Uma pandemia fora deflagrada e eu estava contaminado por esse novo vírus. Isso não podia estar acontecendo comigo!

Vinte dias depois, eu jazia em um caixão de pinus no cemitério municipal. Como eu sei? Eu estava lá, um espectro que ninguém via. Assim acompanhei os eventos desse dia, e, mais atentamente, as lágrimas correntes que Catarina não escondia. Da mesma forma, sentia a vibração de seus pensamentos e sentimentos, tendo ciência de que ela sofria. Inexplicavelmente, toda a minha crença do além se desfez. 

Despertei sozinho em um quarto similar ao do isolamento psiquiátrico. Minha mente fazia um flashback de tudo por mim vivido, em um rebobinar infinito, mostrando, em câmera lenta, os momentos em que eu havia me corrompido. Minha consciência fora amargamente ampliada. Percebi que, na relação que mantive com Catarina, apenas ela verdadeiramente amava enquanto eu, eu nada lhe entregava, pois estava deslumbrado com a prosperidade alcançada.

Queria poder voltar atrás, arrumar meus erros, mas não era esse o meu novo destino. Agora, meu tormento e raiva se intensificavam à medida que eu revia a minha história, a versão de mim que esteve cega para o que de fato importava. Eu amava a Catarina, mas, por ambição e cobiça, estraguei tudo. Meu sentimento era um só: ódio. Eu tinha ódio de mim, dos caminhos que escolhi e do quanto a feri. Esse seria o meu purgatório e o autoperdão não me beneficiaria, não quando eu próprio me culpava por tantas falhas cometidas.

Desculpa, Catarina! Eu a amo e sempre vou amar, mas você merece ser feliz, viver plenamente e, para isso, você precisa me tirar de onde eu nunca mereci estar.

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