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Elegia ao riso

Perdida em nada, em nada me encontro

No nada, me encanto, enquanto

Desencontrada ando, nas ferozes, frias vielas

Onde está todo mundo, se todo o mundo

Morreu com elas?


Elejo um culpado

Desejo que se enforque os responsáveis

Despejo uma torrente de termos malfadados

Velejo em braços velhos, miseráveis


Menina, menina, aonde vais?

Procuro pelo que resta de meus pais

Anseio por um descanso de paz

O mundo morreu com as donzelas

Mas ainda me recordo das risadas delas

Perdas e danos, perdas e danos

Perdidos andamos neste mundo voraz


Neste mundo sem janelas nem portais

Neste mundo cuja vida já se esvai

Que levou nossas irmãs, jovens e velhas

Mas não há uma manhã em que eu me esqueça delas

Sou a última que resta, sou vazia como tela

Perdas e danos, perdas e danos

Perdidos humanos neste mundo fugaz


Mas voo longe e mais, voo alto a todo gás

Abro  asas como águia e não olho para trás

Sou quente, sou crente, e minha mente me revela

Que ainda guardo em mim as risadas que são delas

No amor e no mar, nas velas das catedrais

Das perdas e danos, nas trevas dos anos

Perdida me encontro nos encontros que o mundo me traz


Elejo cantigas trágicas

Desejo meus versos funéreos

Despejo-me em doses homeopáticas

E velejo em meus próprios mistérios


Perdida em nada, em nada me encontro

No nada, eu canto, portanto

Desenfreada ando, nas ruas, minhas vielas

E quando acordo ainda recordo

Das risadas delas

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