Deixe-me te Amar
Eu não imaginava que a veria depois de tantos anos, jamais imaginei que nos encontraríamos novamente. Eu tinha dezesseis anos e ela quinze quando nosso amor foi destruído por palavras que machucaram ambos. Eu a humilhei diante de seus amigos e familiares, estava com tanta raiva por ter descoberto um segredo que ela guardava a sete chaves e que mudou a forma como eu a via, não dei chances dela se explicar, para mim não havia explicação e apenas peguei minhas coisas e fugi, fugi dela, fugi de mim mesmo e cabei caindo em um lugar pior do que ter ficado lá e enfrentado meus demônios. Foram três anos sofrendo naquele pesadelo. Sentia ódio dela e de mim por ter sido tão idiota, em ter acreditado em suas palavras e juras de amor, mas eu deveria ter percebido que algo estava errado, ela sempre fugia quando nossas carícias ficavam mais quentes ou quando eu tentava falar sobre sexo e ela dizia não estar pronta, decidi esperar o tempo dela, até que em um dia ouvi sua conversa com Dr. Claudio e descobri o motivo dela tanto se esquivar de mim, aquilo me deixou louco, não consegui raciocinar e fiz a única coisa que me veio na mente, ir embora para nunca mais ter que olhar para ela, não me importei com ninguém, nem mesmo com meu tio que havia me criado desde que meus pais morreram por causa do vírus, eu simplesmente desapareci da vida deles.
Quando fui libertado daquele lugar horrível, não imaginei que nossos caminhos se cruzariam outra vez e quando nos aproximamos da colônia e vi os imensos portões por qual sair sem me despedir, senti medo de reencontrá-la e ao entrar ela foi a primeira pessoa que vi. Carolina brincava de pega-pega com algumas crianças e sua risada se entornava por todo o local quando uma das crianças a pegava. Fiquei paralisado vendo-a, ela estava ainda mais linda do que antes, seus cabelos cacheados e pretos voavam conforme ela corria. Sua pele branca estava avermelhada por causa do sol e seus olhos ainda tinham o mesmo brilho de que eu me lembrava, meu coração bateu mais forte e me recusei a aceitar que eu ainda sentia algo por ela, ela não merecia meu amor, ela havia me enganado e me feito de idiota, eu sempre a odiaria e esse ódio aumentou mais quando vi um homem se aproximar dela e lhe beijar o rosto, não fui capaz de me segurar e quando percebi já estava indo em direção a eles. Carolina arregalou os olhos quando me viu e deu dois passos para trás quando me aproximei.
— Leonardo? — Sua voz era quase um sussurro.
— Estou de volta, Carol. — Fiz questão de chamá-la do mesmo jeito que a chamava antes — Seu amigo já sabe do seu probleminha de saúde? — O que eu estava fazendo não era certo, contudo minha raiva por vê-la com outro homem era imensa, ali eu percebi que ainda a amava e que o ódio que eu insistia em dizer ter por ela era a mais pura mentira, eu queria enganar a mim mesmo.
— Todos sabem, Leonardo, você fez questão de contar a todos três anos atrás, mas diferente de você, eles me apoiaram. E se está aqui apenas para me humilhar mais, pode voltar para onde estava. Estou muito melhor sem você por perto. — Ela foi embora e suas palavras fizeram um estrago em meu coração. Ela estava melhor sem mim, ela não me queria por perto.
— Você é um completo idiota — disse o cara que a beijou. — Perdeu uma mulher incrível por um preconceito ridículo.
— Ela me traiu, foi ela que me perdeu — retruquei.
— Carolina jamais trairia você.
— Então como ficou doente? — questionei.
— Se você tivesse dado a chance dela se explicar saberia. — Ele também saiu de perto de mim e fiquei confuso.
— Então é você o rapaz que destroçou o coração da Carol? — Evy, a garota que nos salvou parou ao meu lado e perguntou.
— Ela me destroçou primeiro.
— Fiquei muito amiga dela depois que você partiu e ela me contou tudo. Você já se perguntou como ela adquiriu essa doença? Você foi cruel, Leonardo, mas sua sorte é que ela ainda te ama, talvez se você se redimir ainda tenha uma chance.
— Quem disse que quero uma chance?
— Seus olhos disseram no instante em que a viu. — Evy foi embora e me deixou ainda mais intrigado.
Sentei em um banco e me lembrei da nossa briga. "— Você não vale nada — eu gritei no meio da rua, enquanto ela chorava desesperadamente.
— Leo, por favor me deixe explicar — ela implorava.
— Você tem HIV. HIV! Você transou com outro enquanto eu implorava para ser seu primeiro.
— Não é isso. Foi transmissão vertical — ela disse, mas não dei atenção.
— Eu nunca vou perdoá-la. — E essas foram as últimas palavras que eu disse a ela."
Transmissão vertical, agora fazia todo o sentindo, eu não havia dado atenção ao que ela falou, eu a humilhei na frente de todos, eu a perdi por ter sido um idiota, eu a odiei sem ela ter culpa, a fiz sofrer por não ter lhe dado a chance de explicar e agora eu já não sabia se um pedido de perdão seria o suficiente.
— Leo? Leonardo, meu filho? — Me virei e vi meu tio, corri e o abracei chorando pela saudade que sentia dele e por saber que talvez nunca mais teria Carol de volta.
Fomos para casa e ele me contou a história de Carol, disse que após minha fuga, dona Célia mãe de Carol contou a verdade a todos, ela havia sido estuprada por um desconhecido e engravidou, porém não quis tirar a criança, como estavam no meio de uma pandemia não fez pré-natal e só descobriu a doença no final da gravidez, não havia o que fazer e Carol nasceu com HIV e se trata desde então, ela não adquiriu a AIDS e vive uma vida normal desde então, seguindo à risca o tratamento. Fiquei ainda mais arrasado, eu a acusei de algo que ela não fez, não bastava a doença para ter que conviver diariamente, eu causei nela a pior das dores, a desconfiança
Não dormi direito naquela noite, fui atormentado pelas palavras que eu disse a ela anos atrás, me deixando com mais ódio de mim mesmo por ter feito a mulher que amo sofrer. Eu precisava reverter isso e assim que amanheceu fui procurar por ela.
Carol estava sentada no chão rodeada de crianças, ela contava uma história sobre uma garota que foi humilhada por seu namorado e sofria por isso. Era a nossa história. Fiquei ali parado vendo ela contar a história e senti um aperto em meu peito em notar o sofrimento em suas palavras.
— Tia Carol e se ele voltasse e pedisse perdão, ela aceitaria, não é? — perguntou uma garotinha.
Carol me viu e olhando nos meus olhos respondeu: — Não, ela jamais o perdoaria, o que ele fez com ela foi cruel e isso não se faz com quem se ama. Ela o odeia e odiará para sempre. — Aquilo foi o suficiente para eu saber que não seria fácil conquistar minha garota de volta, eu teria um longo e árduo caminho pela frente.
Esperei todas as crianças saírem para tentar conversar com ela, me aproximei e ela me ignorou.
— Carol, eu preciso falar com você — eu disse receoso.
— Agora quer falar com aidética? Quando eu quis falar você não me ouviu, agora é tarde demais, Leonardo.
— Por favor. Eu sei o que aconteceu e o porquê de você ter HIV. Me perdoa por tudo o que falei a você, por ter desconfiado da sua lealdade.
As lágrimas começaram a escorrer de seus olhos e me senti um lixo por isso.
— Você me machucou muito, desconfiou de mim e não me permitiu explicar, foi embora e ficou anos sem dar nenhuma notícia. Todas as noites me lembrava de suas palavras duras e cruéis e aprendi a te odiar por isso, então por favor, vai embora e me deixa em paz. Não posso perdoar o que você fez. — Ela se virou e foi embora e daquela vez foram as minhas lágrimas que escorreram.
— Pedir perdão não será suficiente. Você tem que mostrar que se arrependeu e que ainda a ama, só assim ela vai voltar para você. — Me virei e vi Evy atrás de mim. — Você a humilhou em público, agora é sua vez de se humilhar por ela — disse e foi embora. Pensei sobre o que ela falou e tomei uma decisão, se depois do que eu fizer ela não me perdoar, terei que aprender a conviver com seu ódio, mesmo a amando incondicionalmente.
Ao entardecer fui até a praça e vi Carol conversando com Evy, passei por elas e subi em um banco.
— Boa tarde a todos. — Comecei e a vi me olhando. — Meu nome é Leonardo, vivi aqui por muitos anos e fui embora três anos atrás por causa de uma burrice que eu cometi. Humilhei e desconfiei da mulher que eu amava e amo até hoje. — Carol fez menção de sair, mas Evy a segurou e a fez ficar. — Eu descobrir que ela tem HIV e achei que ela tinha me traído, por isso a humilhei, mas sem saber a verdade, a verdade é que ela contraiu a doença no parto, não dei chances dela se explicar, a fiz sofrer e me odiar e hoje estou aqui para me redimir, sei que nada do que eu disse vai apagar o que fiz, eu fui um otário, um idiota e perdi uma mulher maravilhosa. Carol quero que saiba que eu te admiro, você é uma mulher forte, guerreira e essa doença não difere você de ninguém, pelo contrário, a torna ainda mais digna de admiração. Eu sinto muito por todo o sofrimento que te fiz passar e me arrependo profundamente em não ter dado a chance de se explicar, eu era um moleque, fui burro, cego, deveria ter te escutado, deveria saber que você jamais me trairia. Hoje tenho dezenove anos e perdi três anos da minha vida longe da mulher que amo, sei que tenho muito o que aprender e quero fazer isso ao seu lado. Infelizmente não posso voltar no tempo, só posso lhe pedir perdão e que me deixe mostrar que meu amor por você ainda é o mesmo. Carol deixe-me te amar. — E meu coração se quebrou em mil pedaços quando Carol saiu correndo sem ao menos me dar uma resposta.
Deixei a praça desolado com todos me olhando, sentindo pena e algumas pessoas rindo, ali eu soube exatamente o que Carol sentiu e mais uma vez me arrependi do que fiz.
Cheguei em casa e ao colocar a chave na fechadura senti uma mão em meu ombro, aquele toque, aquela pele fizeram meu coração parar uma batida, eu nunca esqueceria aquele toque e quando olhei para trás vi Carol com seus olhos vermelhos devido ao choro, mas um sorriso lindo em seus lábios.
— Eu te perdoo, Leo e deixo você me amar por toda a eternidade. — E nossos lábios se uniram em um beijo cheio de saudade e amor.
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