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CONFISSÕES DE UM VELHO LOUCO

O velho arrota xingamentos nos mendigos na rua.

Não é muito diferente deles, porém, vive na mesma miséria de mundo, com a diferença de que tem teto para dormir. Mas os mendigos, diferente dele, tem os cães por companhia.

Ele é um velho mal-humorado e amargo demais para bons dias. Sua aparência é medonha. Tem mãos suadas e grudentas, pés cambaleantes de embriaguez. O rosto parece um pedaço de papel amassado, rasgado e carcomido e suas banhas caem sobre a virilha. Uma crosta de suor se aloja sobre seu buço. Há tempo ele não faz a barba.

É inverno, e ele desce a ladeira esburacada e pedregosa até o bar da esquina. No caminho, passa pelo cortejo fúnebre que vem da rua de trás. Uma garotinha morreu. Era menina adorável, sempre lendo um livro na calçada. Apesar de estar quase morto de bêbado quando passava por lá, o velho a viu o suficiente para lembrar-se de sua forma: magrela, tranças balançando e vestidinhos de chita. Nunca parou para falar-lhe. Nunca a cumprimentou ou desejou um bom dia. Nunca houveram palavras iniciais entre eles, portanto, não havia porque ter palavras finais.

A mãe da menina morta adorava xingar o velho. Gritava aos ares que ele morreria cedo em um beco qualquer. Agora ali estava a filha dela, um amontoado de ossos em um caixão, enquanto o velho continuava cambaleando por seus becos. O velho pensou em rir — e até talvez tenha rido. Mas imaginou que a menininha merecia mais que isso. E calou-se.

O velho volta sobre o mesmo passo. Atravessa o beco fétido que leva à própria casa ao som dos latidos dos vira-latas, e as neblinas dos vapores das fábricas, os chinelos de solas gastas arrastando-se sobre poças de lama, urina e preservativos largados. Nas mãos esquálidas, traz o motivo pelo qual ele fora à rua: uma garrafa barata de whisky e três maços de cigarro.

Ele grita e espanta os cachorros para longe de sua grama, gira a chave na porta de madeira e abre: lá está ela. Sua velha casa. Tem quatro cômodos: sala, cozinha, quarto e banheiro. Se ele pudesse torná-la ainda menor, o faria. Ele não gosta de espaços demais, já basta seu vazio interno para lembrá-lo que ele morrerá sozinho, provavelmente caído no banheiro, de infarto ou overdose, vomitado e mijado. Ou talvez estirado no ar, flutuando, olhos esbugalhados. Uma morte nojenta para alguém que viveu de maneira nojenta. Nada mais adequado.

O velho rabugento afasta as garrafas vazias com os pés, fazendo o vidro tilintar e misturar-se a batida ritmada, rápida e agressiva que ecoa em sua parede, vindo da casa ao lado.

Ele xinga o vizinho. "Fica quieto, porra". Os vizinhos escutam, é claro, mas ligam tanto para ele quanto os outros. Ele também não liga. Xinga mais um pouco e se arrasta até a cozinha, onde vasculha os armários em busca de qualquer coisa em que possa despejar o whisky e beber até cair duro. Encontra na pia um copo americano lascado e um cotoco de lápis.

Ele volta à sala, garrafa na mão, um maço de cigarros debaixo dos braços e o cotoco de lápis entre os dedos. Afunda-se na poltrona. Deixa-se ser engolido por ela para simular um pouco de afeto e acende um cigarro. Depois o whisky. O primeiro gole desce queimando como uma cachoeira de fogo do inferno. Suga fundo um trago de fumaça para seus malfadados pulmões e lança um olhar afiado para frente. Seus olhos acinzentados e sujos recaem sobre a figura felina, branca e elegante, de pé sobre a cômoda. A gata é mais bonita que ele mil vezes. E quando o olha, aparenta seu mais digna. Ela fixa na silhueta miserável do velho um olhar que penetra como uma flecha. Quase dá pra ver o nojo em sua face.

O velho tem ódio daquele olhar. Mais do que os pivetes que picham suas paredes, os vizinhos que fodem gemendo alto, os mendigos com seus cães e a podridão onde vive; ele odeia aquela gata. Odeia-a, pois ela é a única capaz de fazê-lo sentir-se desprezível de verdade.

Como forma de vingança, às vezes, ele joga as cinzas de seus cigarros sobre ela. A gata se espana, sacode seus pelos brancos e volta a olhá-lo daquele jeito. E aí ele começou a chamá-la de Borralheira.

— O que é, caralho? — pergunta o velho, apoiando os pés na mesa de centro. Ergue o olhar para a parede, para o barulho que parece ainda mais rápido. Pega uma das garrafas vazias e lança-a contra o barulho. A garrafa se estilhaça numa chuva de cacos de vidro. A gata balança a cabeça enquanto ele traga o cigarro novamente e apanha o cotoco de lápis e o velho caderno na mesinha de centro. — O que acha de escrevermos um poema erótico agora, Borralheira?

A gata se eriça. O velho ri, uma risada rouca, um grasnar de dentes amarelos, gengivas escuras, fumaça de cigarro e lábios murchos.

Na folha, ele começa a escrever e recitar alto:

— Ela enfiou a mão nas minhas calças, massageando meu p-

A gata rosna e salta para o chão, o corpo todo arrepiado como um tigre preste a atacar.

— O quê? — pergunta o velho. — Não gosta de poemas eróticos? Eles vendem bastante no exterior, sabia? — O velho suspira. Outro gole de whisky. — Todo mundo gosta dessa porra de ficar imaginando duas pessoas fodendo. Se chama hot. — Erguendo a cabeça, ele observa as vigas do teto. São excelentes. São ótimas mesmo para amarrar uma corda. 

Ele pensa no que fará amanhã. Descer a ladeira de novo por uma garrafa de whisky, com aquelas merdas daqueles mendigos pedindo esmola, mesmo que esteja todo mundo fodido na mesma proporção. O mesmo cheiro de urina, o mesmo ambiente abafado, o mesmo céu cinzento e envelhecido. Talvez alguém mais tenha morrido, o que seria uma nova novidade.

— Se bem que bastante gente tá morrendo ultimamente, então isso meio que tá virando rotina — ele fala pra si mesmo.

Às vezes, quando o velho se senta ali naquela poltrona, ele tem a impressão de ouvir mundo parar. O próprio tempo. O vento. Os pássaros. Tudo quieto. Tudo esperando. Esperando o quê? Amanhã seria igual a ontem, que foi igual a hoje, que será igual a depois de amanhã. O mundo girando, sempre traçando a mesma rota sem nunca se cansar. Ou talvez cansado, mas obrigado a seguir. Sem nunca esperar por ninguém. Esmagando cada garotinha bonita e velho asqueroso em seu caminho.

O velho então aproveita suas goladas de whisky, e vodca, e tequila. E tudo junto. A embriaguez, ao menos, é mais surpreendente. Cada tontura, é uma rota diferente. Cada queimação é nova. Os vômitos, as lágrimas, a ressaca e a dor de cabeça. Qualquer coisa era melhor que a sobriedade de uma casa vazia e os ecos dos corredores. A parte viva de seu coração que ainda pulsa, enterrado sob fumaça de cigarro e xingamentos toscos. E fodas em noites quaisquer, com quaisquer putas que encontrasse em uma esquina.

O velho se estira e olha o caderno por muito tempo antes de começar a rabiscá-lo de novo. Para um instante. Olha para a gata.

— Uma palavra que rima com segundo?

A gata suspira. Serpenteia pelo chão aos pés da poltrona e depois salta, lançando-se para a mesinha de cabeceira. 

— Vagabundo — ela diz. O velho lhe mostra os dentes com desgosto.

— Nos íngremes instantes de um segundo — ele recita, o olhar denso e cinza sobre a página amarela que agora se converte em uma página de garranchos ininteligíveis.

— Resvalo um suspiro vagabundo — completa a gata. O velho a olha de relance e volta a escrever:

— E deixo a poesia partir.

A gata se deita, branca como neve, imperiosa como uma rainha, e se aconchega aos pés calejados e de unhas quebradiças do velho. Seus olhos amarelos se levantam com cuidado e ao recair sobre a figura medonha do velho, já não demonstram nojo ou desprezo. Ao contrário, é com admiração que ela o olha.

— Do alto de minha mesquinhez — ela ronrona

— Ela plana no céu uma vez — ele completa.

— E voa pra longe daqui.

— Do alto de meu embaraço e do meu velho cansaço, converso com minha gata — o velho ri, uma risada de fumante.

— Converto cigarro e maço em um verso que faço, em poesia barata. — A gata se estica, boceja. Então, salta da mesa. — Você é um caso perdido, velho. Mas ainda pode ser achado.

Ela desliza pelas sombras do cômodo e enfia-se para fora da casa através da portinhola. O velho se mantém ali por algum tempo ainda, encerrado no abraço de sua velha poltrona, ouvindo dela sussurros doces. De que ele não morrerá sozinho e decrépito, de que alguém gentil virá. E afagará seus cabelos. Mas o velho está velho demais para acreditar nas mentiras que ele conta a si mesmo.

Ele é um velho. E toda sua carcaça enrugada e bêbada é cheia de sérios poemas mentais.

O velho se levanta, cambaleando. Enfia a folha com Poesia Barata na velha gaveta de suas decepções, para mais tarde juntá-los em um livro e vender no exterior para senhoras ricas e mal-amadas. Ele tropega até o quarto, apoiando-se cá e lá nas paredes do corredor e lá está ele: o cômodo frio de uma luz azul-fantasma, uma cama já meio afundada, mesa de cabeceira, uma janela aberta que dá para o matagal da rua de trás e um cadeira. Ele enfia a mão no guarda-roupas e puxa uma corda trançada. Sobe na cadeira, amarra a corda aos caibros expostos como as costelas de um mendigo e põe o nó no próprio pescoço.

De pé, do alto de sua cadeira e sua mesquinhes, e sua embriaguez, ele encara a própria figura no espelho do outro lado do quarto. Sua aparência é medonha. Quem o amaria? Quem sequer suportaria tocá-lo? A última vez que esteve com uma mulher, foi uma puta feia a quem pagou cinquenta pilas. A última mulher que ele amou disse que não sabia como é que ela o havia amado.

Antes de saltar para a liberdade, porém, ele encara com olhos leitosos a figura pálida ao pé da janela. Apesar de estar quase morto de bêbado, conseguiu vislumbrar sua forma: magrela, tranças balançando e vestidinho de chita.

— Às vezes caio em tuas graças — recita ela. — De graça. Desgraça. Às vezes, caio em teus assombros. E teus ombros. E tua sombra. Às vezes, caio. E isso dói. E machuca. Às vezes, caio e fico lá, vendo. Às vezes, levanto e lá vento. Às vezes, às vezes.

— Às vezes, levanto sem graça — ele completa. — Dês graça. De graça.

— É um dos seus, não é? — pergunta a menina. O velho assente.

— Não é um tipo de literatura pra crianças.

— Eu leio todo tipo de coisa — diz ela, dando de ombros. — Eu me lembro que tinha nome de mulher na capa.

O velho estala a língua e soluça.

— Não gosto que saibam que eu escrevo.

— Mas eu sei.

— Mas você está morta.

A menininha ri, encolhendo-se entre seus ombros ossudos, bochechas enrubescendo.

— Então — pergunta ela. — Tem alguma coisa da qual você se arrepende?

— Eu é que deveria estar fazendo essa pergunta pra você. Eu tô vivo.

— Você não parece muito vivo pra mim.

O velho suspira, livra-se do nó e se senta na cadeira, dura como o mármore do inferno.

— E você? Tem alguma coisa da qual se arrepende?

A menininha acena:

— Se eu tivesse morrido amanhã, poderia ter visto desenho hoje. Se eu morresse daqui a um ano, poderia ter lido seu novo livro. — O velho assente. — Mas se você morrer hoje, não poderá publicá-lo. O que seria do mundo sem seus poemas?

— O mesmo, só que mais chato.

A menininha ri.

— Como é isso? — pergunta o velho. — Você sabe... morrer...

— Ah... é frio. Um pouco escuro no começo. Mas depois... depois foi tranquilo. Morrer é fácil. Difícil é viver.

O velho suspira e retira a corda dos caibros. Guarda-a no mesmo lugar. Deixa ela lá para lembrá-lo que se ele morrer hoje não poderá tomar vodcas amanhã. E se morrer hoje não precisará fazê-lo mesmo. Uma tentação venenosa sussurrando entre as frestas de seu armário. Uma tentação que ele adia há muito tempo. E que vai adiar por mais um dia, pelo menos.

A menina se aproxima e o toca sobre o ombro. O velho, porém, não sente seu toque, senão uma brisa fria lapeando seu corpo carcomido.

— Qualquer vazio que haja em seu peito, ele sempre pode ser preenchido. Mas se desejar juntar-se a mim, eu ouvirei seus poemas quando estiver pronto.

A menina já não está mais ali. Não disse olá, nem adeus. Sem palavras iniciais, sem palavras finais. O velho, porém, fica. Pelo menos por essa noite.

Os mendigos cantam lá fora, através da janela, nas companhias de seus cães e no miserere de sua estadia terrena.

O velho se levanta e arrota xingamentos para eles.

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