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Como vem o Diabo

Entrou na casa já com a arma na mão, fechando a porta e encostando-se nela, respirando ofegante. Passou a curva da mão sobre os lábios, que estavam sangrando, assim como a testa. Sabia que não podia demorar, que logo ela chegaria. Precisava dar um jeito de se defender.

Mas o que estava pensando? Que era possível se ver livre dela assim, só por que tinha finalmente a devolvido para seu lugar? Era claro que ela viria atrás dele, como o próprio demônio, e era assim que ela vinha, rápida com o vento forte e a chuva que começava lá fora e abria as janelas todas da casa, fazendo-a ranger toda, enquanto ele subia as escadas, a arma carregada na mão.

Fechou a porta de seu quarto, bem como a janela, e sentou-se no chão, ao lado da cama, no escuro iluminado pelos relâmpagos intermitentes. Tudo rangia, tudo fazia barulho. Fechou os punhos e apertou com a maior força que pôde os ouvidos, gritando para ter certeza de que não escutava nada, enquanto seu corpo ia e vinha.

Quando fechava os olhos, conseguia enxergá-la melhor que com os olhos abertos, e a via lá debaixo da aroeira-vermelha, colhendo numa peneira a pimenta-rosa que envergava dos galhos carregados, o pai dela de pé ao seu lado, olhando para o pequeno curso d'água que corria ali, a camisa aberta até o meio do umbigo, um bigode branco e grosso encimando um sorriso e enquadrado por um chapeuzinho de palha.

Deslizando os punhos dos ouvidos, começou a bater contra o próprio rosto, querendo arrancar aquelas imagens de dentro de sua cabeça, que agora se confundiam com a imagem dela deitada no leito do córrego.

- Essa minha filha é o diabo! – O pai dela disse no dia do casamento, enquanto tomava uma dose de uísque, rindo. – Você não vai demorar pra ver!

Era o tipo de coisa que pais que criaram as filhas sozinhos diziam para fazer troça, não era algo literal. Ninguém acreditaria que ela era o diabo, Gabriela dos olhos doces, do sorriso fácil... Mas agora só conseguia pensar no que o pai dela tinha dito, como um aviso, enquanto tentava não pensar nela, urrando junto com os relâmpagos.

E no meio daqueles terrores todos, de barulhos e rangeres, uma coisa fazendo seu coração saltar ainda mais: uma porta batendo. Tinha fechado a porta quando entrou, como podia uma porta bater assim?

Tinham sido muito felizes, por muito tempo. Já era o sexto ano de casamento dele com Gabriela, a menina doce de olhos de raposa. Era tão linda e tão leve, sempre tão feliz, que ele não conseguia ver nenhum problema, nenhuma coisa fora do lugar... Tinham a casa, a fazenda, as coisas iam sempre muito bem, Gabriela sempre lhe fazendo muito satisfeito por ter deixado uma vida de solteirão para trás.

- Bem que seu pai disse que você era o diabo. – Hélio tinha lhe dito certa vez, depois de fazer amor com ela. – Você me enfeitiçou ou coisa assim?

E ela ria, divertida.

A porta bateu mais uma vez lá embaixo.

Estava agora trancado dentro de seu quarto, o quarto onde ele e a mulher tinham dividido sua intimidade durante todo aquele tempo. A arma na mão, derrubou com o cano dela do aparador e da penteadeira os retratos dos dois, do casamento e de outros momentos vividos na fazenda. Pisava-os com a raiva do espírito de um homem morto em combate, querendo que tudo aquilo desaparecesse. Como pudera ter caído naquilo!

- Meu pai tem lá um pouco de razão. – Gabriela tinha lhe respondido no mesmo dia, seus seios para fora, recebendo o calor da manhã.

Foi então que ela começou a bater com o intervalo de um segundo, entre uma batida e outra, no vidro da janela do quarto deles, e enquanto fazia isso dizia coisas muito doces e bonitas a Hélio, que o deixavam ainda mais radiante e feliz.

Fazia aquilo todo dia de manhã, depois de fazer amor com ele, e às vezes até sem fazer. Todos os dias, dia atrás de dia, e Hélio ia caindo naquele marasmo armado por ela, por seus dons habilidosos não de feiticeira, mas de quem consegue hipnotizar.

As coisas, na cabeça de Hélio, iam muito bem; a fazenda nunca fora tão bonita e Gabriela parecia, a cada dia que passava, cada vez mais contente e feliz. Era a vida perfeita a que estava levando.

E foi assim até aquele dia terrível em que ela simplesmente esqueceu das batidas no vidro da janela do quarto.

Quando isso aconteceu, Hélio como que abriu os olhos, saindo de um transe: levantando-se, saiu do quarto, vendo a casa num estado que nunca imaginaria, toda a sujeira e partes caindo, tinha virado um tugúrio, horrível e mal iluminado. Passeando pelos corredores da casa, foi até a abertura que dava para os fundos da casa, e sem fazer barulho, ficou atrás da porta, vendo aquela cena terrível: o sogro levantando o vestido da mulher enquanto lhe chupava os peitos com gosto, a mulher com a cabeça virada para trás.

Não era possível que estivesse vendo aquilo. Um pai com a própria filha? Gabriela fazendo aquilo consigo? Devia estar completamente louco!

Correu até o lavabo, completamente nauseado, e ali vomitou, depois do que lavou o rosto, tentando esfregar dele a cena que tinha acabado de ver.

De volta até o quarto, olhando para fora, viu o sogro colocando o chapéu de palha e ir longe, enquanto Gabriela apareceu por trás dele, cheirando-lhe o pescoço como costumava fazer.

Tinha perdido ali todos os seus encantos, mas como poderia falar que agora tinha visto tudo como a clara luz do dia?

A mulher então estendeu o braço para começar a tocar o vidro da janela e, ao fazê-lo, Hélio resistiu o máximo que pôde, pensando em outras coisas e até mesmo naquela cena horrorosa, para não cair nas garras dela. Fingiu que ela tinha conseguido mais uma vez e, durante aquele dia, passando-se de abobado, percebeu que o mal que a mulher lhe fazia só aumentava: tinha gastado todo o dinheiro, vendido todos os bens, a fazenda agora era um restolho do que fora, e dois homens ainda vieram na casa para pegá-la na sala.

Depois de um desses momentos, como se nada houvesse, Hélio convidou a mulher a ir com ele, no fim daquela tarde, para um passeio na plantação de aroeiras-vermelhas.

- Mas está nublado, logo chove. – Gabriela disse.

Hélio, no entanto, insistiu, e Gabriela, considerando que aquilo fizesse parte da hipnose, foi com ele até lá, onde se sentaram debaixo de uma das árvores.

Em dado momento, ele se levantou e tirou da cintura o revólver que guardavam em casa, apontando diretamente para ela.

- O que é isso? – Gabriela disse, levantando-se e dando passos para trás.

- Isso é o que você merece, sua vagabunda! – Hélio gritava. – Sua bruxa, feiticeira! Você é o próprio diabo!

- Hélio!

Mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele já estava em cima dela. Gabriela, tentando se defender, pegou uma pedra e deu com ela em sua cabeça, fazendo-o sangrar profusamente, enquanto corria para longe. No entanto, antes que pudesse fazer muito mais, o marido lhe acertou as costas com um tiro, fazendo-a cair dentro do córrego.

Hélio, ainda zonzo, se levantou e foi até o curso d'água. Em um primeiro momento, quando a chuva já começava, nada viu, mas no primeiro clarão, a mão de Gabriela ergueu-se e lhe agarrou ao calcanhar, fazendo com que ele desse outro tiro.

Pareceu em vão e, quanto mais lhe desferia os tiros, mais ela saía do córrego, completamente ferida, mas feroz.

Foi então que ele correra para casa e agora estava ali, trancado no quarto, com a arma na mão e o medo lhe consumindo, porque sabia que ela podia tudo.

Sabia que ela podia.

Sabia que ela viria.

E sem que ele pudesse perceber, num lampejo da tempestade, ela estava ali dentro do quarto, sangrando o vestido e o chão, os olhos vidrados nele.

Abrindo a porta do quarto, sem grandes dificuldades, entrou então o pai.

- Vocês me enganaram! – Hélio gritava, apontando a arma. – Vocês me deixaram louco!

- A loucura é coisa que não se dá! – O pai esbravejou. – Não sou eu que estou vendo uma mulher morta diante de mim!

- Seu velho imundo! – O homem continuou a berrar, o revólver tremendo em suas mãos raivosas. – Como vocês puderam?

- Hélio, abaixe essa arma! – O velho disse, abrindo as mãos em direção ao genro. – Abaixe logo isso! Você está louco!

Quando o velho tentou se aproximar, Hélio então atirou, fazendo-o cair para trás. A imagem de Gabriela não trocava de lugar, parada, os punhos cerrados em direção ao chão, completamente ensanguentada.

- Vai embora daqui! – Hélio gritava. – Não te quero mais!

A mulher, como um vulto vermelho, correu até ele com força e o empurrou contra a janela, rompendo-a e o fazendo cair lá embaixo, de quatro metros de altura, encerrando-o numa escuridão de noite e espírito...

Sentado num canto, sobre as mãos, ouviu o ferrolho pesado da porta se abrir e escorregar para dentro do quarto uma bandeja com comida.

Do lado do prato, um copinho de plástico com dois comprimidos, um branco e outro laranja.

Erguendo os olhos, Hélio viu, do outro lado do quarto, Gabriela, ainda com os punhos cerrados em direção ao chão, sangrando no vestido branco.

E os gritos dele misturaram-se ao dela na ala do hospital.

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