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Coisas que não se anotam na agenda

O e-mail lido naquela noite não deixava dúvidas. Embora eu insistisse em suspeitar que fosse algum engano, a mensagem era explícita e direcionada a mim: eu entraria para a universidade. Como se não bastasse, entraria para o curso que almejei há anos. Isso explicava o impacto daquele e-mail, já que eu idealizei aquele momento durante toda a minha adolescência e agora ele se tornava palpável. 

Entretanto, havia algo que eu não planejara, um pequeno detalhe que eu não escrevi em nenhuma de minhas metas ou agendas. Definitivamente, eu não idealizei ingressar na universidade três meses após o falecimento de meu pai. Semelhantemente, não planejei realizar as provas no mesmo dia de visita ao hospital e não cogitei ter de esperar o resultado das provas no mesmo dia do enterro. Isso não estava em meus planos. 

Talvez, eu tenha me enganado com a minha maneira metódica de ser. Eu me organizei e me preparei antecipadamente para muita coisa, mas deveria ter em mente que há coisas para as quais ninguém se prepara direito. Eu superestimei meus métodos. Sonhei a vida inteira com o momento universitário, porém não me preparei para o que viria depois. Isto é, o que vem depois que um sonho se realiza? Eu nunca havia chegado nessa parte. Ou, o que se faz com a dor da perda? Eu havia aprendido a organizar tarefas, mas não aprendi a organizar as emoções que agora me atropelavam. 

De todo modo, não era possível ficar em frente ao computador questionando a vida. A fase adulta batia à porta e não tinha tempo para me esperar ter uma crise existencial. Portanto, era o momento de separar os documentos e ir no dia devido me matricular. 

— Mãe, passei na universidade — informei-a ao vê-la passando para o seu quarto. 

— Legal, Cecília — respondeu e fechou a porta atrás de si. 

Bem, naquela noite eu pude constatar algumas coisas e dentre elas estava o fato de que teria de encarar esse processo um tanto sozinha. Meu pai não estava comigo para ser meu suporte e a minha relação com a minha mãe tinha lá as suas complicações. Logo, além de encarar os desafios dessa nova fase em minha vida, apresentava-se para mim um outro desafio igualmente difícil: conciliar o ingresso na faculdade e a realidade do meu lar. Dessa forma, como se já não fosse o bastante lidar com os medos de ser jogada na fase adulta, esse processo tinha como companhia um dano em meu coração por conta de uma perda recente. 

No entanto, não estava em jogo desistir da universidade — pelo menos não por ora. Então, eu separei os meus documentos naquela mesma noite e anotei em minha agenda o dia de ir à universidade me matricular. Não convidei minha mãe ou outra pessoa: iria sozinha. Além disso, comuniquei a poucos de meus amigos que isso havia acontecido. Eu era incrédula demais para crer que de fato um sonho estava se realizando e quis esperar até a realização da matrícula para, então, compartilhar com outras pessoas. 

O dia da matrícula chegou rápido, bem como chegaram rápido os dias iniciais das aulas. Assim, depois de algumas semanas do meu choque em frente ao computador eu já estava em sala, sentada entre outros universitários. Percebia como o curso da vida passava rápido, de modo que eu não acompanhava tão bem. Porém, não restavam dúvidas: eu estava na universidade e aquele era o curso dos meus sonhos. Todavia, todo o processo se apresentava doloroso demais. A universidade era demasiadamente longe de casa, os professores davam aula contando que todo aluno possuía o mesmo nível de conhecimento e, para agravar, eu pouco me comunicava com a comunidade acadêmica. Logo, a universidade era um lugar extremamente estranho a mim, o que me fazia ter dúvidas do amor que nutri por ela durante anos.

— Bom dia! Qual curso você faz? — perguntou-me uma veterana. Geralmente, o diálogo no restaurante universitário se restringia a isso. 

— Oi, eu sou caloura de Pedagogia — respondi e me silenciei em seguida.

— Que demais! Eu estou no quarto ano de Filosofia. Se precisar de alguma ajuda, pode me comunicar — informou a moça que eu nem sequer sabia o nome e se levantou da mesa. 

Alguns veteranos eram solícitos e insistiam em ajudar os assustados calouros naquele ambiente. Entretanto, eu não carecia apenas de ajuda no ambiente universitário. Isso porque a minha estava confusa em muitos outros aspectos. Eu estava aprendendo a lidar com o fato de chegar em casa e notar a ausência de meu pai e não saber como contar para a minha mãe como havia sido o dia. Tudo isso fazia os meus finais de tarde se resumirem a longos momentos de introspecção na mesa do jantar. 

Por que logo nesse momento? Por que partir num momento tão decisivo na minha vida, pai? Questionava-me todos os dias antes de fechar os olhos em minha cama. Quem diria? Durante os anos da adolescência eu almejei tanto a liberdade que viria com a maioridade e agora estava eu, com meus dezenove anos, odiando o que por anos eu jurei amar. Não era esse tipo de liberdade que eu tinha em mente e não era exatamente assim que eu queria me despedir da guarda de meus pais. Com certeza, quem lesse as minhas agendas de uns dois anos atrás riria por muito tempo. A imagem da fase adulta que um adolescente pinta é ridiculamente falsa.  

Apesar de todas as minhas crises existenciais, não demorou, portanto, para eu receber o anúncio da primeira prova. Assim, nos dias que antecediam o exame, eu decidi não me demorar em meus pensamentos sobre o passado ou sobre a perda recente. O sonho de estar na universidade se realizara, logo, era necessário manter o foco e ter um bom desempenho para me tornar a profissional que sempre desejei. Então, organizei-me, separei os textos e estudei na biblioteca nos dias que pude. 

No dia da prova, eu não diria que estava confiante, mas estava certa que havia feito o possível. 

— Boa prova, Ceci. — Ouvi de uma colega de turma naquela tarde, uma das poucas pessoas que eu havia me aproximado. 

— Obrigada e igualmente. 

Enquanto fazia a prova, eu era invadida por pensamentos de todo tipo. Por que as relações aqui são tão diferentes? Como alguém consegue fazer amizade nesse lugar? Entre um pensamento e outro, eu escrevia uma longa resposta para as perguntas daquele exame. Com isso, terminada a prova, eu a entreguei ao professor e sai, sem muita cerimônia com os colegas da universidade.

Então, duas semanas depois eu recebi o resultado daquele primeiro exame e, enquanto os outros alunos conversavam entre si sobre as respostas distintas, eu encarava o papel em silêncio. De fato, o meu plano de ignorar os problemas do meu lar e tentar dedicar-me exclusivamente ao teste não deu certo. O resultado foi pior do que eu imaginei. Não quis, inclusive, partilhar com ninguém aquele momento. Guardei os papéis na bolsa e fui para casa em meu costumeiro silêncio. 

Durante o trajeto de volta, sentada no ônibus, eu decidi pegar um livro para ler. Amar a leitura de livros infantis foi um dos primeiros passos para eu decidir o meu curso. Peguei, então, o livro de fantasia "A montanha de Gion" para ler e tentar esquecer o desastre que foi aquela primeira prova. Entretanto, quando abri para ler, percebi a minha vista extremamente cansada; só de ler algumas linhas a minha cabeça já doía. Portanto, tentei ler algo mais curto, leria uma das poesias da antologia que carregava. Com isso, li alguns versos que diziam: "Nega-se assim um dano inevitável/A quem, sem medida, prova do luto". Aquele soneto sempre me trazia algumas reflexões, e naquele dia ele me trouxe uma em especial: eu estava negando o tanto que me doía a minha nova realidade, tanto na faculdade quanto em casa sem a presença de meu pai. 

Todavia, minha mente continuava cansada para qualquer leitura e fechei a antologia antes de ler o último verso daquele poema. Eu estava saturada. Até o meu amor pela leitura estava sendo posto em xeque. Foi, então, quando me questionei: será que devo trancar o curso e lidar melhor com a situação em meu lar ou devo trabalhar melhor as formas de conciliar a minha perda e a realização desse sonho? Eu nunca havia me questionado sobre o meu amor àquele curso, mas todo o processo me fazia sentir um ódio incontrolável a essa forma terrível pela qual eu fui inserida na vida adulta. Deveria ser mais simples, pensava.

Cheguei em casa com o choro entalado na garganta. Minha mãe estava no sofá, em silêncio. Assim, fui para a cama continuar minha reflexão e saber se iria continuar aquilo ou se desistiria, entendendo que a falta de meu pai causara em mim um dano muito maior do que a princípio eu havia notado. Então, dormi em meio a soluços e lembranças. 

No dia seguinte, acordei com minha mãe ao pé de minha cama perguntando:

— Cecília, você tem dinheiro para ir à escola? — Era engraçado o fato de ela ainda achar que eu estava na escola, e bem que eu queria realmente estar ainda no ensino médio. 

— Acho que sim, mãe. — Notei que, ao se levantar, ela havia deixado algumas notas em cima da cama. Peguei o dinheiro e decidi ir pelo menos aquele dia para a faculdade e, então, decidiria o que faria em seguida. 

Cheguei no campus, peguei o elevador para o andar de minha sala e dentro do elevador havia outras duas pessoas. Conversando dentro do elevador as conheci e descobri que eram da minha turma: Dandara e Henrique. Assim, chegando na sala, continuamos a conversar e em pouco tempo eu já sabia que Dandara também estava perdida na universidade e que Henrique vivia apenas com o seu pai. Pela primeira vez, desde que entrara ali na turma, senti que estava no lugar certo e que não estava sozinha. Então, combinamos de juntos nos localizarmos no universo que era o ambiente acadêmico todo final de aula. 

Naquele dia, voltei para casa lendo o livro de fantasia. Enquanto lia, eu afirmava para mim mesma: sim, Cecília, você ama isso, ainda que com alguns lapsos de ódio pelo processo difícil em sua vida pessoal. Cheguei, então, em casa, sentei do lado de minha mãe e disse:

— Mãe, a faculdade está sendo incrível!

Ela sorriu e eu escrevi na agenda: 

Aula amanhã às 7h.

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