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A Última Onda

Nas semanas anteriores ao diagnóstico, Luan sentiu o desconforto aumentar. Analgésicos e massagens não amenizaram as dores que sentia na perna. Achou melhor procurar o médico, que pediu uma série de exames, com certa urgência. 

Viu como exagero a preocupação do médico. Coisa dos ingleses, foi o que disse, por telefone, para sua mãe, quando ela indagou porque averiguar tanto. 

Luan fez os exames e foi para a reconsulta tranquilo, seria finalmente medicado e se livraria do incômodo que o perseguia há semanas. 

— Então, doutor, o que tenho? — perguntou, sereno

— Câncer no fêmur, perna direita — respondeu o médico.

Conhecia os ingleses, sabia que não rodeavam assuntos, mas julgou esse soco exagerado.

— Como?

— Câncer no fêmur, perna direita — repetiu o médico.

Entrou em certo torpor. Não sabia como comportar-se diante de uma notícia dessa. Ligou o piloto automático enquanto o médico falava sobre os próximos passos, o tratamento, a gravidade da doença e as chances de cura. 

Foi para casa caminhando, com uma calma aparente, como a que antecede a tempestade. Não pôde furtar-se a fazer a pergunta protocolar: 

— Por que eu?

Luan era alto, bonito, corpo de atleta. Entre os esportes que praticava, o que mais gostava era o surf. Personalidade forte, cosmopolita, mente aberta e inteligência rara. Sempre foi uma liderança nas diferentes tribos que frequentou. E não foram poucas. Não gostava de ver-se circunscrito a nada e nem a ninguém. Por isso nunca adaptou-se à sua família, restrita a mãe e irmão. Mal conheceu o pai, militar, que morreu quando ele era criança, mas dava sinais de que buscava se rebelar também contra ele. A mãe dedicava-se à Igreja e aos filhos. O irmão, dois anos mais novo, vivia absolutamente dentro do proposto. Luan não podia passar mais que duas horas perto deles sem se enervar. 

O mestrado na Nova Zelândia e o doutorado na Inglaterra foram consequências naturais da sua personalidade. Era o esperado dele, ele não se permitiria nada menos. 

A notícia de hoje não foi prevista, nunca esteve no script.

Foi pensando em tudo isso que chegou em casa, suando por baixo da roupa quente, exigência de um dezembro londrino. Tomou banho, comeu algo ligeiro e deitou. 

Foi uma noite estranha. Noite de sono raso, sonho repetido. Outra vez uma grande onda que vinha do mar e levava a todos. Era sonho sonhado desde criança. Não notou, ou preferiu não notar, uma diferença: daquela vez o sonho não acabou, ele não viu o fim, não sabe se foi salvo ou não do tsnunami.

No dia seguinte, seguiu a rotina e foi à faculdade. Havia feito as disciplinas exigidas e, para concluir o doutorado, dedicava-se à sua pesquisa. Graduado em Engenharia de Sistemas, mestre em saúde pública, estudava dinâmica de pandemias, analisando padrões e propondo modelos que permitissem ações para minimizar sua propagação. 

Sabia que algumas pessoas mereciam ouvir a notícia o quanto antes. De noite, telefonou para a mãe:

— Filho, vai passar, Deus sabe o que faz — ouviu, ela chorando, ele irritado.

A ligação durou três minutos, ele mais uma vez tratou a mãe com aspereza.

Ela o irritava profundamente. Sempre foi assim. Ele demorou a descobrir por quê. Precisou ficar adulto para perceber que era a profunda obediência da sua mãe que o incomodava. Obedecia à memória do pai, ao que dizia o padre, ao que propunha a vida. Assim, ouvi-la repetir o de sempre fez eclodir a irritação que julgava dissipada pelo tempo. 

Ligou para a namorada:

— Amor meu, estou contigo, sempre, você sabe disso — Agora, quem chorou foi ele.  

As conversas com Ema eram o momento que justificava seu dia. Nem podia ser diferente, Luan sabia que a presença dela no mundo o reconciliava com a vida. 

Ema é seu amor de sempre. A única pessoa que o compreende por inteiro. Conheceram-se no ensino médio, viraram amigos, começaram a namorar na faculdade. Um belo dia reparou nela com outro olhar, pela primeira vez achou Ema bonita. Alta, rosto redondo, muito magra e pele branca, ela nunca se achou atraente, adorou saber que ele pensava diferente. Um inesperado beijo na biblioteca marcou o início de um amor que só cresceu. Fizeram mestrado juntos, moraram juntos e o plano era repetir a dose no doutorado. Um problema de saúde com a mãe de Ema borrou o desenho. 

Uma semana após receber a notícia, Luan foi buscar a namorada no aeroporto. Ela não poderia deixar seus pais e seu trabalho, não tinha dinheiro para a passagem. Ouviu de todos o apelo para que não viajasse. Decidiu que não poderia estar em outro lugar do mundo que não ao seu lado, superou as dificuldades com conversas, coragem e cartão de crédito.

Naquela noite, conversaram até tarde, compartilharam choros, ouviram medos, esperançaram um ao outro e dormiram abraçados. 

No dia seguinte, começou o tratamento, três dias internado. Luan saiu do hospital com o mesmo sorriso assustado com o qual entrou. 

Falava com a mãe todos os dias. Recebeu a visita de amigos, que vieram de longe para vê-lo. Eram momentos bons, mas cansava-se de vender uma alegria falsa, de demonstrar uma confiança que não existia, uma aceitação que não sentia. 

Sem eles, a sós com Ema, podia extravasar o que de fato sentia: raiva por estar doente, incompreensão por ter sido o escolhido, injustiçado pela vida. Ela não falava nada. Ouvia um pouco, colocava um dedo nos seus lábios, dava-lhe um beijo terno e um abraço aquecido.

Após três meses em Londres, ela teve que regressar. Foi o instante mais difícil para os dois, durante todo o processo da enfermidade. No dia da viagem, ela o deixou no hospital e foi para o aeroporto. 

Ema, sentindo uma dor incontrolável no peito, só parou de chorar em casa, 24 horas depois. 

Luan seguiu o protocolo à risca. Quimioterapia e radioterapia, em ciclos alternados. Os seis meses de tratamento foram integralmente cumpridos. Perdeu cabelos e músculos, mas ganhou uma boa notícia: o tratamento deu resultado, os exames mostravam que o tumor estava sendo debelado. 

Decidiu regressar ao Brasil. Turbinado pelas boas notícias, optou por fazer o acompanhamento final em casa. Estar ao lado da namorada era a real motivação. O doutorado poderia ser terminado a distância, voltaria para receber o título.

Chegou no Rio de Janeiro em um sábado de maio. Ema, a mãe e o irmão o esperavam. Em seus olhares pôde ver o amor de uma, a alegria de outra, a pena do terceiro. Sentiu-se abraçado pelos três, chorou seu regresso. Em meio ao choro, o riso, fruto da sensação de estar de volta, não só no espaço mas também no tempo. Regressou a casa, regressou também da enfermidade. Em meio a um abraço quádruplo, sentiu-se forte outra vez. 

Nos dias seguintes, exames, encontros divertidos com suas tribos, conversas pesadas com a mãe e o irmão.

Dois meses mais de tratamento e Luan estava curado. 

Sentia-se feliz. Havia sido uma onda forte, mas ele soube passar por ela, agora tudo voltaria ao normal. 

Reorganizou sua vida, não queria perder tempo. Convidou Ema para morar com ele, alugaram uma casa no Leme. Começou a frequentar o laboratório de informática da Federal do Rio de Janeiro. Precisava seguir seus trabalhos. 

Em agosto, os exames mostraram que estava tudo ok. Deveria regressar em outubro. 

Voltou a surfar. Todas as vezes com Hugo, o amigo de sempre, o único que transitava com ele por todas as tribos, que passou dois meses em Londres, depois que Ema se foi. 

Um dia antes dos exames marcados, foi à Praia da Macumba. Era dia de mar grosso. Ondas fortes, pouca gente na água. Nem pensaram em ouvir os conselhos para não cair. Foram, depois de algumas ondas perderam a mão. O mar subiu ainda mais. Só eles na água. Levados para lá da arrebentação, não conseguiam voltar. 

— Merda, fugi do câncer para morrer no mar — gritou Luan, Hugo não ouviu.

Não se viram mais. Luan só se recorda da onda gigantesca que veio na direção deles, na percepção que era tudo ou nada, em lembrar dos seus sonhos, em dropar nela, em perder a prancha, em beber água. 

Depois disso, acordou no hospital.

Ao seu lado, Ema.

Naquele instante soube que Hugo estava bem. 

Luan foi socorrido pelo salva-vidas e tirado do mar inconsciente. Havia quebrado o fêmur.

— O fêmur?

— Sim, o fêmur.

Preferiram silenciar.

No dia seguinte, souberam que a preocupação guardada pelo silêncio era fundada. O câncer havia voltado, de forma bastante agressiva.

O tratamento deveria começar imediatamente. O tumor espalhara-se por outros órgãos. 

As notícias vieram velozes. Para esse estágio da doença, não havia protocolo. Sucederam-se vãs tentativas, diferentes quimioterápicos, resultados pífios. A piora era visível. 

Uma madrugada, quarto em silêncio, Luan desperta sobressaltado. De novo, foi atingido por uma onda. Ainda ofegante, vai ao banheiro. Com celular na mão, começa uma busca que vinha postergando: artigos que explicassem qual possibilidade de cura em casos como o seu? Sem muito esforço, encontrou o que buscava, mas não o que desejava: chances de cura menores que 5%. Ficou ali, sentado, mão apoiando o queixo, lágrimas descendo lentas. Ouve a voz da namorada: 

— Amor?

— Estou indo.

Ele deita-se. Ela, no escuro, ouve as lágrimas. 

— Fica assim não.

— Li sobre minhas possibilidades de cura. Vou morrer. E eu ainda tinha tantas coisas por fazer...

Agora é ele quem ouve lágrimas. Em silêncio, abraçam-se e não dormem até amanhecer. Levantam sem mencionar o assunto. Tomam café, conversam amenidades. 

Luan havia passado a noite refletindo. Andou por toda sua vida, mas sentou-se em uma conclusão: é a vida que decide, nós obedecemos. Lembrou da sua mãe. Ela sempre viveu isso, sempre viveu de acordo a essa verdade, ele nunca entendeu. Julgando-se mais inteligente, não viu a sabedoria que emanava do aceite da mãe às situações que eram a ela apresentadas, pela vida, ao longo dos anos. 

Contou essa conclusão à namorada e sugeriu mudarem-se para a casa da mãe, queria passar uma temporada com ela e com o irmão.

Assim foi feito.

Desse dia em diante, pouca novidade. Luan fez o tratamento por mais seis semanas. Outra vez perdeu peso, cabelo e cor, mas não vivacidade. Seguiu trabalhando na sua tese. Em dezembro deixou o tratamento. Não via sentido em seguir, seu corpo não respondia mais. Aprendeu a conviver com dores e analgésicos. Em casa, dedicava-se a novas modelagens que apontavam saída para a pandemia que, era um certo consenso científico, chegaria a qualquer instante. Estava atento a um novo vírus, que surgiu na Europa e agora circulava pela Ásia. Contou para Ema que, caso esse vírus se espalhasse na velocidade que ele imaginava, a única salvação seria todos trancarem-se em casa por um bom tempo.

Luan passou seu último réveillon com a família e alguns amigos. Conversou pouco, participou da festa com frases curtas, emolduradas em um sorriso cândido.

Passou o dia primeiro de janeiro no quarto, com Ema. Ela seguia sendo a razão para ele querer viver umas semanas a mais. Cada minuto com ela se justificava, sempre foi assim. 

Em dado momento, Luan vai à cozinha. Sentado na mesa, estava seu irmão. Luan pega um copo de água. Senta-se. Os dois em silêncio. Ele pensa em quanto tempo perdido na sua presunção de achar-se melhor do que outros, de julgar-se melhor do que o irmão, que via-se feliz por trabalhar em uma boa empresa, namorar, frequentar a igreja e morar com a mãe. 

— Desculpa, acho que nunca fui um bom irmão.

O caçula não responde, está embargado. Passam ali, juntos, em silêncio, por longos minutos.

Também emocionado, Luan, brincando com o copo sobre a mesa, ergue os olhos e comenta:

— Maior bom ficar em casa, né?

— Eu sempre achei — diz o irmão.

— Eu não, só descobri agora.

Naquela noite tiveram um lindo jantar. Luan comeu mais que na noite anterior, estava faminto, sentia-se bem disposto. Fez planos com o irmão de verem um filme no dia seguinte. 

Foi dormir feliz, beijou a mãe e o irmão, foi para o quarto de mãos dadas com Ema, sentindo-se em paz e fazendo planos para os próximos dias. 

Não houve próximos dias. Naquela noite, Luan sonhou outra vez com o mar, mas não veio nenhuma grande onda, era mar calmo. 

Quando Ema acordou e olhou para o lado, viu que seu grande amor havia morrido.

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