XXXV. Perfect
Eros: cupido, deus do amor. Para os gregos era também uma das sete formas de amor, o amor romântico, assim como as rosas vermelhas.
* * * * *
Henry mal se continha de tanta animação e orgulho. A exposição começara a poucos minutos, mas já foram o suficiente para que todo o nervosismo que sentia ao pensar que não gostariam de suas fotos evaporasse. Sabia que fazia um bom trabalho, amava cada parte da realidade que conseguia captar e congelar através das lentes de sua câmera, porém o medo de acabar não sendo reconhecido sempre o acompanhava.
- Está tudo tão lindo, querido.
Siren parou ao seu lado, lágrimas não derramadas brilhavam em seus olhos castanhos e o Hart torcia para a mãe não começar a chorar ou ele a acompanharia.
- Mal consigo acreditar que estou expondo minhas fotos.
- Nem seu pai. - Siren comentou, observando Jake.
O Hart mais velho olhava vidrado para uma das sete fotos que faziam parte da exposição de Henry; como haviam sete artistas apresentando seus trabalho naquela noite, Schwoz decretou um número limite que acalmaria seus nervos. A foto que Jake observava era uma que ele havia tirado no dia do casamento de Sofi; Siren, Suzy e Sofi estavam com as mãos unidas, a imagem em grande parte em preto e branco tinha somente a cor das pulseiras que elas usavam em destaque. O azul dos pingentes trazia a atenção para as mãos unidas, dando ênfase assim no tema de sua exposição, "O amor em cores".
- Ele está imensamente orgulhoso, querido.
Siren afirmou, apertando seu braço de maneira carinhosa e o beijando na bochecha antes de se afastar. Henry acreditou nela, principalmente pela expressão no rosto de seu pai, ele parecia tão feliz mesmo que não estivesse sorrindo abertamente e aquilo valia muito para Henry. Sorriu quando viu Faith se aproximar com os braços abertos, em questão de segundos estava sendo quase sufocado em um abraço apertado.
- Quem imaginaria que aquele garotinho remelento iria estar expondo fotografias tão sensíveis?
O tom forçosamente surpreso dela o fez rir. Conhecia Faith desde criança, brincavam juntos pelas ruas que circundavam as casas de suas avós e mesmo se distanciando ao longo dos anos, essa distância parecia não existir toda vez que se encontravam.
- Posso dizer o mesmo da garota que jurava que nunca iria se prender a convenções tão antiquadas quanto o casamento. - provocou, sabendo muito bem que ela estava se segurando para não lhe dar uma resposta mais ácida.
- E não vou, não importa quantos pedidos me façam. - assegurou, escondendo o anel de noivado dentro do bolso de seu vestido. - Acredito que não fui a única a ser acertada pelo cupido.
Seguiu o olhar dela, direto para as portas de entrada da galeria. Conseguiu vislumbrar somente um rastro de cachos escuros em meio a um vulto azul escuro, não entendeu muito bem o que ela queria insinuar e quando encarou Faith, a mulher somente abriu um sorriso misterioso e deu de ombros levemente.
- Daqui a pouco você descobre. - garantiu, soltando uma leve risada em seguida. - Estou muito feliz por você e as fotos estão maravilhosas.
- Obrigado. - agradeceu, ainda meio perdido pela atitude anterior dela.
Observou Faith se afastar a passos apressados, ela nunca andava devagar. Olhou então ao redor, parado ao lado de sua fotografia preferida. Noah e Bianca já tinham ido falar com ele e no momento analisavam as fotografias dos outros artistas; Chloe e Patina conversavam animadas com Anne e Julio, os quatro olhavam para uma fotografia da Hartman onde ela estava de perfil em frente à janela parcialmente fechada de seu apartamento, o anel rosê brilhava em seu dedo anelar da mão esquerda, mão qual repousava carinhosamente sobre sua barriga.
- Ela nunca mais vai sair dali. - Jasper comentou rindo, parando ao seu lado.
- Estou devendo uma foto pra ela, mas aquela já está vendida.
O Dunlop não conseguia esconder sua felicidade e encarou o amigo com o nariz vermelho e com os olhos brilhando. Henry balançou a cabeça em negação e tentou se afastar, porém o amigo logo o prendeu em um forte abraço.
- Nossa, Henry. - Jasper soluçou, não conseguindo falar mais nada.
- Não ouse chorar. - pediu, piscando rapidamente para conter as próprias lágrimas.
Seu amigo deve ter notado que ele não queria começar uma sessão de lágrimas em meio a sua exposição e logo se afastou, o dando as costas quando outras pessoas vieram falar com Henry. Após alguns minutos de explicações sobre a origem do nome da exposição, uma conversa antiga que tivera com sua avó paterna quando ela era viva, e o preço de seu trabalho, o Hart encontrou Jasper olhando boquiaberto para uma de suas fotografias preferidas. Caminhou até ficar ao lado do amigo, iria falar algo, mas Jasper fez uma alegação que o tirou de foco.
- Essa é uma das declarações mais incríveis que já vi.
- Que declaração? - indagou confuso.
- Essa. - o Dunlop apontou para a fotografia, gesticulando impaciente quando o amigo continuou com uma expressão desentendida no rosto. - Você praticamente está dizendo que a ama.
Henry riu, negando com a cabeça.
- Claro que não.
- Óbvio que sim.
- Não viaja.
- É só olhar. - Jasper insistiu.
Henry parou, se sentindo meio nervoso ao analisar a fotografia. Charlotte praticamente brilhava mesmo a única cor viva da foto sendo seu casaco laranja. Com os olhos fechados e um enorme sorriso aberto no rosto ela parecia tão calma, tão... ela. Seu coração saltitou em seu peito, seus lábios formando um sorriso ao observar os detalhes da Page. A realização de seus sentimentos veio naturalmente, como um sopro de ar frio em uma tarde de outono. E Então, tão súbito quanto um piscar de olhos, percebeu que amava Charlotte Page antes mesmo de saber que era amor.
- Aonde você vai?
Perguntou à Jasper quando o mesmo começou a se afastar de costas com uma expressão encantada no rosto. Henry então sentiu um leve toque em seu ombro e virou-se para ver quem era, um buquê de rosas vermelhas bloqueou sua visão. Encarou surpreso as rosas, elas então foram abaixadas e o rosto sorridente de Charlotte tomou seu lugar.
- Feliz noite.
Ela declarou contente, o entregando o buquê e rapidamente o beijando. O Hart não sabia muito bem o que dizer, então somente a puxou para um abraço, tomando cuidado para não amassar as flores, e aproveitou a sensação de casa que sempre o invadia quando estava na presença de Charlotte. Ela escondeu o rosto em seu pescoço e o beijou delicadamente perto da orelha, ele riu pelas cócegas que ela provocou e se afastou sem querer.
- Já viu a exposição? - perguntou, já que passara uns bons minutos no início conversando com os visitantes e potenciais compradores.
- A maior parte, porém sua mãe me parou no meio do caminho, então ainda não tive tempo de ver a última foto. - respondeu, colocando um cacho teimoso atrás da orelha. - Você está literalmente brilhando.
- Estou sentindo tanto nesse momento que nem sei como resumir em uma só palavra. - confessou, previa que ao fim da noite estaria com o rosto dolorido de tanto sorrir.
- É maravilhoso ver você conseguindo realizar seus sonhos.
- É só o começo, Char, ainda tenho muito pela frente.
- Mas é um começo lindo, meu amor. - assegurou, acariciando sua bochecha carinhosamente. - Agora onde está essa última foto magnífica que todos estão falando?
Henry então percebeu que estava parado em frente à fotografia da Page, ela tentava ficar na ponta dos pés para olhar por sobre seu ombro de maneira discreta. O Hart não sabia muito bem o que esperava que ela fizesse ou entendesse quando visse seu rosto naquela exposição, mas reuniu toda a sua coragem e deu um passo para o lado. Charlotte abriu a boca supresa, seus olhos passando por cada detalhe da fotografia enquanto levantava o braço e esticava os dedos como se fosse tocá-la.
- Eu. Nossa, nem sei o que dizer.
Declarou, se aproximando um pouco mais e lendo o nome da fotografia que se encontrava na parede ao lado. Exposição "Amor em cores"; Quadro "Eros". A Page piscou lentamente, um sorriso emocionado se abrindo aos poucos em seu rosto. Ela então se voltou para ele, Henry notou o quanto ela queria falar algo, porém não conseguia.
- Parece que nos declaramos sem perceber.
Brincou, balançando as rosas vermelhas e aproveitando os segundos de confusão dela antes que Charlotte arregalasse os olhos e alternasse a atenção diversas vezes entre o quadro e as flores.
- Eu juro que não lembrava do significado das rosas vermelhas. - rapidamente falou, o olhando sem jeito e visivelmente nervosa.
- Então você não sente nada por mim? - Henry levou a mão ao coração, em uma falsa tristeza que a fez cruzar os braços e franzir o nariz. - Tudo o que estamos vivendo não passou de uma ilusão? Ou você só fez isso para se aproveitar do meu corpo?
- Não vou dizer que te amo por meio de chantagem emocional. - empinou o nariz, tentando disfarçar o que realmente queria dizer e o sorriso que teimava em não deixar transparecer.
O Hart riu e passou um braço por sua cintura, aproximando seus corpos quando sussurrou baixo e de maneira conspiratória como se estivesse contando um grande segredo.
- Eu não disse que você me amava.
A viu inspirar profundamente e olhar para os lados antes de beliscá-lo na cintura. Henry se afastou um pouco, rindo já que a única coisa que ela conseguiu provocar fora um leve ardor.
- É só dizer, Charlotte. - insistiu, com uma voz melodiosa.
- Não vou ser a primeira a dizer. - declarou, o olhando em um claro desafio.
- Aposto que vai, Page.
- Veremos, Hart.
Os dois se entreolhavam confiantes e teriam ficado um bom tempo assim, logo se perdendo no outro, se Piper não tivesse aparecido com Jack ao seu lado.
- O que vocês apostaram agora? - a Manchester perguntou com uma voz arrastada.
- Nada de mais. - Charlotte respondeu, abrindo um imenso sorriso que fez Henry olha-la desconfiado. - Agora vejam que foto maravilhosa. Hen, meu pedacinho de céu, explique o nome da fotografia.
O Hart a encarou incrédulo, sentindo seu peito borbulhar em antecipação a uma risada. Charlotte Page era incrivelmente engenhosa e ele não resistiu em puxá-la para os seus braços e beijá-la carinhosamente.
- Eu não entendo vocês. - Piper declarou perdida, puxando o namorado, que ria, pela mão para longe do casal.
- Eu.. não vou dizer primeiro. - Charlotte afirmou, após quebrarem o beijo.
- Veremos, Pumpkin, veremos.
Henry declarou, beijando a ponta de seu nariz antes dela se afastar com um sorriso provocador nos lábios. A Page foi à procura de Chloe e Patina enquanto Henry fora dar atenção aos novos visitantes. Uma música antiga era tocada através dos alto falantes, a melodia envolvia a todos que ali estavam, trazendo uma nova sensação que se somava a áurea de expectativa que envolvia os artistas. Era um novo começo para muitos, a segunda chance que tanto esperavam e até o fim da noite descobririam que recomeços sempre vinham acompanhados de um toque especial do destino. Para Henry Hart, esse toque especial apareceu em uma noite aleatória, em um bar conhecido, na forma de Charlotte Page.
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Bom, foi isso, pessoas. Agradeço por cada comentário e estrela, vocês foram incríveis e me sinto imensamente honrada em poder ter escrito algo que teve esse alcance todo. Sério, nem sei direito o que dizer, essa fic saiu completamente fora do que eu havia planejado, porém ficou bem melhor do que eu queria. Um universo novo para Charlotte e Henry, amei escrever sobre uma realidade diferente para eles e como o amor entre os dois cresceu a medida que eles conheciam a si mesmos.
Obrigada novamente e feliz Natal. Se cuidem, tanto mentalmente quanto fisicamente. Desejo sempre o melhor que esse mundo estranho pode oferecer e por mais que sejam tempos difíceis, espero que sempre possam contar com um apoio tanto nas fics quanto nas pessoas que estão ao seu lado.
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