XXXIV. Brother
- Hum, o que estou fazendo aqui mesmo?
Henry indagou um tanto perdido à Noah. Não se viam há quase dois meses, as semanas voaram após a última vez em que tinham se encontrado. O Hart mais novo estava com seus dias corridos, entre a escola e o adiamento de sua exposição, quase não sobrava tempo para pensar nas ações de Noah e Bianca, quase. Seu irmão cruzou os braços, descruzou e coçou a cabeça meio sem jeito. Henry ficou em alerta, nada de bom vinha quando Noah ficava nervoso.
- Bem, eu meio que preciso da sua ajuda.
O encarou confuso. Estavam sentados à mesa da sala de jantar da casa de Noah e Bianca; os dois moravam em um bairro residencial calmo e um tanto caro. Seu irmão ligou pedindo para ele ir jantar com eles, havia dito que tinha algo importante para falar e Henry foi, torcendo para que não fosse um pedido para ser padrinho de casamento. O que seria algo totalmente absurdo. Bianca tinha deixado os dois a sós após uma recepção um tanto desconfortável vinda dos três.
- Eu não vou mais te acompanhar a nenhuma festa, já deixei isso claro.
- Não é nada disso. - assegurou um tanto entediado. - E eu já falei que a culpa não foi minha.
- Eu estava de bermuda em um evento social que passou na televisão. - relembrou.
Não estava mais com raiva do irmão em relação àquilo, até porque isso havia acontecido há muito tempo atrás, porém, toda vez que lembrava da noite a vergonha vinha clara como no dia do ocorrido.
- Pensei que você não ligasse para essas coisas.
- E não ligo. - afirmou, cruzando os braços e se recostando na cadeira de espaldar almofadado. - Mas na hora liguei e foi bastante desconfortável.
- Não tinha nada explícito no convite em relação à vestimenta. - se defendeu automaticamente.
- Mas chegar me dizendo que era algo rápido e descontraído não ajudou em nada.
- Você colocou uma camisa florida porque quis.
A acusação fez o Hart mais novo quase rir de indignação. Isso sempre ocorria quando iam pedir favores ao outro, começavam tentando ser simpáticos e acabavam em acusações sobre histórias passadas.
- Você que me disse que eu estava bem.
- Eu só falei aquilo pra você não se sentir mal. - garantiu, em uma falsa inocência que fez Henry soltar inesperadamente uma risada baixa.
- Me levando pra um evento de gala?
- Você é muito dramático...
- Noah! - a voz alta de Bianca assustou aos dois, ela nunca gritava. - Vá direto ao ponto, lindo.
Ela estava de costas para eles, sentada sobre a pia da cozinha enquanto pintava alguns azulejos. Tentava dar privacidade aos dois e Henry quase esqueceu que ela estava por perto.
- Não precisa gritar.
- Se você acha que isso é gritar, torça para que eu não comece a gritar de verdade.
Prensou os lábios para não sorrir, ver Noah Hart envergonhado sempre o divertiria.
- Então... - deu a deixa para ele, que se remexeu inquieto na cadeira e lançou um rápido olhar em direção à Bianca.
- Tá legal, olha, eu preciso que você acalme a mamãe. - seu tom era nervoso e ele parecia pedir algo assustador. - Ela sempre te escutou mesmo.
- Isso não é verdade. - disse, desconfiado do rumo para onde aquela conversa estava seguindo. - Se ela me escutasse não tinha cortado todas as mangas da minha blusa quando eu tinha 12 anos porque era a "moda" da época.
Ignorou o riso de Bianca, a expressão levemente culpada no rosto do seu irmão o fez semicerrar os olhos para ele.
- Eu meio que tive um dedinho a ver com isso.
- E ainda me pede ajuda? - questionou, tentando ficar sério já que sabia que o rosto vermelho de Noah era o prenúncio de que ele iria começar a desenterrar o passado.
- Você fez ela me levar pra todos os chás de mãe e filha durante três meses. - levantou três dedos de sua mão para enfatizar.
- Ela queria alguém pra ir com ela e eu tinha uma banda pra ganhar o show de talentos. - deu de ombros o escutando murmurar algo inteligível. - E você tinha criado sapos embaixo da minha cama.
- Não teria feito aquilo se você não tivesse me acordado com um balde de tinta.
- Você que começou quando grudou chiclete no meu cabelo.
- Foi sem querer!
- Eu tive que raspar metade da cabeça logo no dia da foto do anuário.
Levou a mão aos fios em automático, fazendo uma careta ao lembrar que passou quase um mês usando gorro porque sua mãe era uma péssima cabeleireira, mas se recusou a dar o braço a torcer em relação à isso. Noah gargalhou alto e Henry teve que se segurar para não acompanhá-lo, tentava fingir uma irritação que não o convencia.
- Estão saindo do foco! De novo!
Bianca informou novamente, mas era clara as notas de sorriso em sua voz.
- Por que eu tenho que acalmar ela? - indagou meio que resmungando.
Noah coçou a nuca desconcertado, outro gesto interessante de se ver, abrindo um sorriso hesitante antes de responder.
- Não é bem acalmar, só fazer ela entender que eu ter me casado em Las Vegas no último fim de semana não é o fim do mundo.
- Você tá brincando né? - olhou descrente para o irmão que negou um pouco envergonhado. - Noah, diz que tá brincando.
- Achamos que era a decisão mais sensata. - explicou rapidamente, o que fez Henry rir.
- Fugir e casar escondido da dona Siren? Essa foi a decisão mais sensata?
- Só queríamos nos casar sem toda a pressão.
Noah confessou. Henry o compreendia, após tudo o que passaram fazia sentido eles quererem um pouco de calma em um momento daqueles; também não podia negar que ficava aliviado por não precisar ser chamado para ser padrinho de casamento. Por ele, e por Noah, ainda estava muito cedo para algo assim, mas sua mãe surtaria se ele não fosse convidado e responder as perguntas de Siren e provavelmente Sofi, não iria ser nada agradável.
- Eu entendo. - falou após alguns segundos, notando o sorriso agradecido do mais velho. - Mas tenho a plena certeza de que a mamãe vai surtar. - afirmou, rindo novamente só em pensar na cena que ela iria fazer.
- Isso não é engraçado. - resmungou impaciente. - Ela vai me matar.
- Você é o mais velho, o primeiro bebê dela, é óbvio que ela vai ficar magoada. - falou, o vendo levantar da cadeira como se não aguentasse mais a antecipação. - E como ela é ela, deve ficar dez vezes mais irritada.
- Ela ainda tem você. - declarou como se aquilo resolvesse tudo. - Com toda a certeza seu casamento vai fazer ela esquecer o meu.
Henry o encarou descrente, seu irmão claramente se apegava a algo incerto.
- Você prefere esperar anos até ela...
- Anos não. - o interrompeu, com um sorriso malicioso no rosto. - Acredito que não vá demorar muito.
O Hart mais novo revirou os olhos para o tom provocador de Noah, uma mania um tanto infantil que tinha certeza ter pegado de Charlotte. E por falar nela.
- Você fala como se eu fosse me casar com a Charlotte amanhã.
O sorriso de Noah aumentou e uma risada baixa de Bianca pôde ser ouvida.
- Eu não disse o nome dela. - Henry já estava se arrependendo de ter aceitado ir até ali. - Interessante, então ela é a primeira pessoa que vem a sua mente?
- Eu estou com ela, seria estupidez pensar em outra. - garantiu um tanto aborrecido, mas obviamente envergonhado.
- Sei.
- Você é um completo idiota. - afirmou, o vendo dar de ombros com o sorriso ainda no rosto. Mas logo esse sorriso sumiu ao som alto da campainha. - Ela chegou.
- Henry. - seu nome saiu em um tom de aviso assim que ele se levantou.
- Não vou falar nada. - assegurou, dando passos rápidos em direção à porta.
- Prudence.
Noah logo aumentou a velocidade dos próprios passos enquanto os dois disputavam para ver quem chegava primeiro à porta. Bianca olhava um tanto divertida para os dois Hart, o coração mais leve por ver que a cumplicidade entre eles não fora totalmente perdida.
- Crianças. - decretou rindo quando a porta foi aberta e os dois rodearam Siren. - Duas crianças.
◇ ◇ ◇ ◇ ◇
Henry estava sentado em um banco de madeira que ficava na varanda da casa de Noah, observava os detalhes da rua tranquila à sua frente e das casas iluminadas. Seu irmão saiu de dentro da casa, caminhando meio hesitante para sentar ao seu lado. O Hart mais novo não sabia muito bem o porquê de permanecer ali após a saída de seus pais, bom, sabia exatamente qual era o motivo e era a falta que sentia de seu irmão. Era estranho não conversar com Noah durante a semana, não marcar algo para fazerem ou ter que alternar os dias que passariam na casa da avó. Não tinha noção do tamanho da presença dele em sua vida até que teve que se afastar.
- Eu, bem, só queria agradecer por você ter vindo. - Noah falou, esticando as pernas e olhando para frente.
- Mesmo a minha ajuda ter sido filmar a "calma conversa"?
Noah riu baixo e o empurrou levemente com o ombro. Os dois então caíram em um silêncio reconfortante, sem pressão, pesos ou palavras não ditas.
- Ficaria feliz se você fosse na minha exposição. Você e a Bianca.
Henry esperou que ele falasse algo, porém quando escutou somente o silêncio, virou o rosto na direção de Noah que mantinha a cabeça projetada para frente, um sorriso singelo crescia em seu rosto e um brilho diferente iluminava seu olhar.
- Não perderíamos por nada.
Declarou, o encarando em agradecimento. Henry somente riu e tombou a cabeça para trás, apoiando a nuca no encosto.
- Você fica igualzinho a mamãe quando se emociona.
- Fico nada. - retrucou, arranhando a garganta quando sua voz saiu meio embargada. - Quer dizer. Ah, cala a boca.
Henry riu ainda mais e Noah fechou um pouco a expressão. Sabia o quanto o irmão ficava incomodado quando demonstrava seus sentimentos, com certeza tinha puxado aquela linha "cara sério que não chora em público" de Jake. Portanto, sempre implicava com ele para que mudassem de assunto, conhecia o mais velho bem o suficiente para saber que ele sempre agradecia por aquela interrupção.
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