XXXI. Best part
- Então ela disse que sentia muito e você foi embora?
- O que mais eu poderia fazer?
Henry observou Charlotte fechar a porta do quarto e o encarar meio confusa, vinham debatendo a conversa que tivera com Bianca desde que havia ido buscá-la em seu apartamento. Após passar algum tempo tentando entender seus próprios pensamentos, no dia seguinte ficou de buscar Charlotte para dormir em seu apartamento e passarem um tempo que não haviam tido a sós. Mas, sendo sincero, ele não queria desmembrar cada pedacinho daquela conserva, tudo o que queria era puxar Charlotte para os seus braços e beijá-la até acabar com a saudade que estava sentindo. Não se viam há dias e só queria aproveitar aquela privacidade em seu apartamento sem ter Jasper por perto, porém, parecia que a Page tinha outros planos e analisar a conversa com sua ex estava no topo da lista.
- Não sei o que dizer. - confessou meio emburrada após sua pergunta, jogando sua mochila em cima de uma mesa de canto.
Henry escondeu o sorriso que queria abrir, percebeu que Charlotte detestava não ter uma reposta. Ao contrário dele que aceitava que certas coisas na vida não possuíam ou não precisavam de uma explicação, ela queria ir ao fundo de cada problema e conseguir encontrar inúmeras possibilidades de resolução. Charlotte o encarava como se estivesse debatendo algo internamente, Henry sentiu seu rosto esquentar, parecia que estava passando por uma análise minunciosa e se remexeu desconfortável diante do olhar que recebia.
- Eu não consegui ir embora, não podia deixá-la daquele jeito. - continuou o assunto, mesmo que não quisesse. Charlotte piscou algumas vezes como se estivesse se dando conta de que ele estava falando. - Mas também não fazia sentido ficar, sabe?
Ela assentiu letargicamente. Henry levantou a coberta de sua cama, Charlotte prontamente mergulhou entre ela e o travesseiro, parecia estar se protegendo de algo. O Hart parou, olhando meio hesitante para ela, sentiu que algo a incomodava só que não sabia muito bem se Charlotte queria conversar sobre. Estava ficando um pouco cansado de ter que fazer rodeios para falar com ela em algum momentos, por mais que soubesse que era só perguntar o que queria que ela iria responder. O problema era que não sabia exatamente o que o impedia.
- Fala, Hart. - pediu, sentando-se lentamente e prosseguindo após a expressão intrigada dele. - Você fica com uma ruguinha bem no meio da testa quando está pensando muito.
- E você vai pra outro plano quando está pensando de mais. - sentou ao seu lado, sorrindo quando ela ergueu a mão em direção à ele e massageou sua testa.
- Você primeiro.
- Às vezes não sei como perguntar o que você está pensando. - decidiu ser sincero, segurando a mão dela e a apertando levemente. - Somos diferentes nessa parte, eu não consigo guardar tudo pra mim enquanto você...
- Pareço que vivo a sete chaves. - o interrompeu, meneando a cabeça e se aproximando dele. - Em alguns momentos eu não vou querer falar o que está se passando na minha cabeça, não por não me sentir confortável ao seu lado, mas porque eu simplesmente não preciso. - disse suavemente, Henry percebia que ela não queria que ele entendesse errado. - Vamos conversar sobre os assuntos importantes, discutir sobre o que tiver que discutirmos, seremos sinceros um com o outro sempre que pudermos. Mas somos diferentes, como você disse, e digerimos as coisas de forma diferente... Temos tempos diferentes.
- Temos tempos diferentes. - repetiu em compreensão.
Charlotte sorriu meio aliviada, descansando uma mão em sua bochecha e acariciando a pele com o polegar.
- E existem algumas questões que preciso trabalhar sozinha. Mas. - inclinou a cabeça em sua direção, o canto de seus olhos enrugados por conta do sorriso. - Quando eu olho pra você, eu tenho a resposta para algumas questões.
- E qual seria ao menos uma delas? - a emcontrou no meio do caminho, colando suas testas enquanto suas mãos encontravam o caminho para a cintura dela.
A viu morder o lábio inferior levemente enquanto uma mistura de emoções passava em seus olhos castanhos. Por fim, assentiu de maneira quase imperceptível para si mesma e falou ao afastar-se um pouco.
- Quando o meu pai me contou sobre o caso que ele teve, ele tinha dito algo que ficou mesmo sem eu querer na minha cabeça. - afastando-se completamente dele, apoiou as costas na parede. - Ele tinha dito que quando conheceu a Eloise, sentiu que tudo era mais fácil, que toda a conversa e atenção que faltava com a minha mãe, ele havia encontrado nela. - soltou uma risada em meio a um suspiro exausto. - Acredito, pelo o que pude tentar entender, que ele projetou tudo o que queria em outra pessoa. Meu pai tinha encontrado a parte do relacionamento que faltava com a minha mãe em alguém mais leve e despreocupado. O meu receio era...
Sua hesitação o preocupou. Henry se aproximou novamente, pegando as mãos dela entre as suas. Charlotte olhou para ele, dando de ombros enquanto o esperava entender onde ela queria chegar. O Hart soltou suas mãos, a puxando para os seus braços.
- Você ficou com medo de eu estar projetando o que sentia por Bianca em você?
- É compreensível. - declarou, apoiando a lateral da cabeça em seu ombro. - Você sentia falta dela, era visível, e nosso falso relacionamento foi tão natural que pensei que talvez você não sentisse nada realmente por mim, só estava se apegando a algo que havia tido com ela.
Henry se afastou um pouco, a segurando gentilmente pelo queixo para que o encarasse.
- O que eu sinto por você não tem nada a ver com a Bianca. A forma como meu coração acelera ao pensar em te encontrar e se acalma a cada toque seu é único, Char. - declarou sério, a sentindo derreter em seus braços. - O que estamos construindo agora não teve início em uma projeção de sentimentos e sim no encontro de duas pessoas que se enxergaram desde o primeiro minuto. - levou a mão dela ao seu coração qual as batidas soavam altas, a apertando contra si para que sentisse o que ele estava sentindo. - Eu sou seu, Charlotte Page, e acredite quando digo que não planejo ir a lugar algum.
Se inclinou em direção à ela, sorrindo ao sentir seus lábios se tocarem enquanto fechava os olhos para se perder na sensação de ter Charlotte em seus braços. A vibração constante de seu celular no bolso do moletom os separou momentaneamente. Um pouco ofegante, resgatou o aparelho observando ser uma mensagem de Jasper o avisando da tarefa que o tinha deixado. Rapidamente deu a volta na cama e abriu a porta, olhando para a esquerda e encontrando o termostato na parede.
- Hum, o que você está fazendo?
Charlotte perguntou em um tom confuso, Henry meio que congelou, tinha esquecido totalmente de fazer A pergunta quando a levou para lá. Virou devagar, um sorriso tranquilizador em seu rosto enquanto fechava a porta. Charlotte com toda a certeza notou que ele escondia algo já que sentou com as costas apoiadas na parede e cruzou os braços, em seu rosto um olhar que o Hart estava começando a ficar familiarizado.
- Uma rápida pergunta. - engoliu em seco antes de reunir um resquício de coragem e indagar - Você por acaso tem medo de cobra?
◇ ◇ ◇ ◇ ◇
Charlotte sentiu seu corpo estremecer e seu estômago gelar. Henry claramente tentava soar desinteressado, como se aquela fosse uma pergunta normal a se fazer antes de ir dormir. "Ah, por acaso você tem medo de répteis que podem se enrolar ao redor do seu pescoço e sufocá-la até a morte?"
- Como assim, Hart?
Quis soar mais segura do que parecia, porém escondeu suas mãos que começavam a tremer embaixo do edredom cinza. Ela odiava cobras.
- História engraçada. - Charlotte sabia que não ia achar nada de engraçado naquilo. - O Jasper pediu pra aumentar a temperatura do termostato agora a noite porque ele espera que a Edith volte pra casa.
- Que Edith? - perguntou lentamente, o sorriso de Henry diminuía a cada segundo.
- Uma filhote de jibóia que ele adotou e sumiu algum tempo atrás.
Aquilo foi a gota d'água.
- Ela está aqui?!
Praticamente pulou da cama ao gritar. As cobertas caíram aos seus pés e Henry correu para acalmá-la, as mãos dele em seus ombros tentando passar algum conforto.
- Aqui, aqui não, mas em algum lugar por aqui. - apontou para seu redor, um gesto que dava a entender abranger o prédio todo. - Parece que ela anda sendo vista com frequência e temos que sumir com ela antes que descubram quem a trouxe pra cá.
- Então vocês estão tentando fazer com que ela volte pro apartamento? Aqui? Nesse apartamento onde estou agora? - as batidas de seu coração começavam a soar mais altas a cada frase.
- Talvez ela só sinta falta de casa e está perdida.
O Hart deu de ombros, tentando fazer graça com um assunto que claramente Charlotte não achava hilario.
- Ok. - disse, passando por ele e pegando sua mochila antes de Henry a parar.
- O que você está fazendo? - perguntou confuso, se colocando entre ela e a porta.
Charlotte cerrou os olhos para ele e levantou o queixo ao afirmar decidida.
- Eu não vou ficar em um apartamento com uma jibóia.
- Uma filhote. - a corrigiu, como se aquele detalhe mudasse tudo.
- Que cresce! Você acha mesmo que ela vai estar do mesmo tamanho de quando escapou?
Henry mudava o peso do corpo de um pé para o outro, em uma busca por uma reposta que a fizesse ficar.
- Talvez a Edith seja diferente.
- Então descubra sozinho. - declarou séria, o empurrando para longe.
- Charlotte.
Ele falou seu nome em uma impaciência que a teria feito começar uma pequena discussão, porém ela paralisou quando algo passou por sua mente, a mão presa ao redor da maçaneta fria.
- E se ela já estiver lá fora? E se só estiver esperando o momento de...
Não conseguiu completar a frase, sua mente dando voltas igual seu estômago. Deu dois passos para longe da porta quando direcionou o olhar para o espaço entre ela e o chão. Será que daria para algo entrar rastejando por ali? Era impossível, saiba que era, porém a sensação de que algo realmente poderia entrar por aquele estreito vão fez seu suas pernas gelarem.
- Pumpkin. - Henry a chamou, a voz em um tom carinhoso enquanto retirava a mochila de sua mão e a virava pelos ombros para encará-lo. - Vamos dormir e esquecer um pouco da Edith.
Charlotte se desvencilhou dele e pulou para cima da cama.
- Como se esquece que tem a porcaria de uma cobra rastejando dentro de casa?
Henry resmungou algo que ela não entendeu enquanto esfregava os olhos com a palma da mão. Ele estava cansado, bom, ela também estava, mas não ia conseguir dormir enquanto um réptil conhecido por matar as pessoas por meio de um abraço infernal estivesse rastejando dentro daquele prédio!
- Olha. - Henry pegou uma blusa sua que estava dobrada em cima de uma cadeira, a enrolou e colocou no vão da porta. - Prontinho. Agora ela não pode entrar e...
- E se ela já estiver aqui? - perguntou de maneira insolente, mas logo levou as mãos ao rosto em um claro desespero. - Ai, meu Deus, Henry. E se ela já estiver mesmo aqui dentro?
- Ela não. - Henry parou, rindo quando ela começou a olhar para cada canto do quarto como se milhares de monstros fossem aparecer a qualquer momento.
- Por favor. - pediu, piscando os olhos lentamente enquanto juntava as mãos em frente ao rosto.
Charlotte notou que ele queria negar, provavelmente sentaria com ela e conversaria sobre o fato dela não estar realmente em perigo, porém ela estava e não iria conseguir fechar os olhos enquanto ele não revistasse aquele quarto todo. Esticou a mão para ele que se aproximou, então se inclinou e segurou o rosto dele entre suas mãos, colando seus lábios em um beijo profundo que o pegou de supresa. Sentiu suas pernas fraquejarem e se afastou antes de cair ajoelhada na cama, não conseguia esquecer de Edith. Ela iria matar o Jasper.
- Caramba, Charlotte. - Henry estava ofegante, seu rosto avermelhado enquanto a encarava com um sorriso abobalhado no rosto.
Ela o empurrou, erguendo as sobrancelhas para que ele entendesse a mensagem. O Hart revirou os olhos e começou a inspeção.
- Embaixo da cama. - mandou, ainda em pé sobre o colchão.
- Eu sei. - murmurou distraído.
- Dentro do banheiro. - avisou, após alguns minutos de busca já terem se passado. - Ela pode estar atrás do vaso!
- Eu sei! - gritou meio impaciente de dentro do cômodo.
- No closet. - mordia o dedão ainda um pouco nervosa.
Henry parou no meio do caminho, abrindo um sorriso sarcástico que a fez querer acertá-lo com um travesseiro.
- Não sei se você percebeu, mas eu sei como uma busca funciona.
Abriu a boca em uma leve indignação e acusou ao apontar um dedo em sua direção.
- Você quem me trouxe até aqui.
Henry tombou a cabeça para trás, uma reclamação saindo de seus lábios em um sussurro. Ele logo terminou a busca e se aproximou dela que estava sentada sobre os joelhos em cima da cama, de onde não havia saído por nada.
- E te garanto que não tem nada vivo dentro desse quarto além de nós dois. - afirmou, recebendo um olhar meio desconfiado por parte da Page.
- E morto?
- Sério? - soltou uma risada um tanto incrédula e passou um braço por sua cintura, a puxando para mais perto. - Eu não vou começar a dar uma de caça fantasmas agora.
Charlotte riu, mais relaxada e imensamente agradecida. Não tinha como mentir, amou o fato de Henry revirar um quarto inteiro só para fazê-la se sentir segura. Segurou novamente o rosto dele entre suas mãos, distibruindo beijos por sua face.
- Você é muito dramático.
- Eu sou dramático? Você quem me fez revirar todo o quarto atrás de um filhote.
Charlotte franziu o nariz, se deixando ser puxada para mais perto e sentando no colo do Hart, uma perna de cada lado de seu corpo.
- De cobra. - o corrigiu mal humorada. - Filhote de cobra. Não gosto nem de pensar.
Estremeceu quando uma imagem do réptil se arrastando no piso do quarto veio vívida em sua mente. Henry apertou sua cintura, sua mão descendo até sua coxa nua a provocando um arrepio. Estava com uma blusa que havia roubado da última vez que estivera ali e somente um short por baixo a impedia de um contato maior com o Hart.
- Então não pense. - ele sugeriu, um sorriso provocador em seus lábios enquanto sua mão subia e descia por sua coxa.
Charlotte sentiu a energia mudar, seus batimentos acelerarem e seu corpo esquentar. Arranhou a garganta para conseguir falar, o brilho nos olhos de Henry eram a prova de que ele sabia de seu efeito sobre ela.
- É difícil esquecer que tem algo rastejando em alguma parte desse prédio e que pode...
Parou perdida quando sentiu os lábios dele tocarem a pele de seu pescoço, seus dentes modiscando levemente, provocando inúmeros arrepios. Fechou os olhos, sua respiração ficando desregulada quando a mão esquerda do Hart subiu de sua coxa até sua barriga.
- Pode?
Ele ria contra sua pele, o som ressoando por todo seu corpo, descendo os beijos a medida que sua mão subia. Arrepios percorriam seu corpo, a sensação borbulhante em seu estômago descendo a cada segundo. Sua mente nublava ainda mais e sabia que estava perdendo o controle quando sentiu a ponta dos dedos de Henry encontrarem a base de seu seio. Ele a estava provocando e ela não podia negar que estava adorando.
- Hum. Hen?
Tentava em vão continuar a conversa, suas mãos puxavam os fios louro escuros do cabelo do Hart, arqueava suas costas em busca de mais contato.
- Ainda está pensando? - perguntou de maneira provocadora, modiscando o lóbulo de sua orelha e a deitando de costas na cama em seguida.
Charlotte abriu os olhos e o viu pairar acima de seu corpo, nos olhos um desejo que quase a deixou sem ar, mas que refletia o seu próprio.
- Não muito, na realidade. - respondeu, sorrindo quando o escutou resmungar e beijá-la. - Agora... menos. - falou entre o beijo, contornando a cintura dele com suas pernas e colando seus corpos o máximo possível.
- E agora?
Henry perguntou em seu ouvido, sua mão entrando por sua blusa e envolvendo firmemente seu seio. Charlotte mordeu o lábio para impedir um suspiro de satisfação e pelos minutos que se seguiram esqueceu completamente do que deveria esquecer.
◇ ◇ ◇ ◇ ◇
- Hen.
O Hart dormia de barriga para baixo, o braço por cima da cintura de Charlotte. Estava em um sono profundo e aguardado, porém foi acordado por uma unha o cutucando no ombro. Escutou a voz da Page, porém preferiu ignorar torcendo para ela voltar a dormir.
- Henry.
O tom mais insistente quase o fez abrir os olhos, mas ele só resmungou algo inaudível e virou o rosto para o outro lado. Escutou o bufo impaciente dela e sabia que ela deveria estar com a testa franzida em uma expressão irritada.
- Prudence!
Suspirou alto, rolando para ficar de frente para ela. Charlotte o encarou com os olhos arregalados em pavor e falou mais baixo, em um tom que deveria ter usado para acordá-lo.
- O que foi? - perguntou com a voz rouca e grogue, os olhos meio fechados.
- Acho que ela tá aqui. - disse alarmada, se encolhendo contra ele.
- Ela quem? - estava semi consciente, o sono o puxando de volta rapidamente.
- Edith.
O nome saiu em uma velocidade que o fez despertar um pouco. Charlotte o encarava da mesma maneira que o fez ter que revirar o quarto mais cedo, tinha valido a pena, porém ao olhar para além dela viu no relógio de cabeceira que eram três da manhã. Ele não iria procurar a droga de uma cobra pelo apartamento às três da manhã.
- Baby. - ela o cutucou delicadamente na bochecha. - Vou te amar pelo resto da vida.
Não sabia se ela estava falando sério, porém o que sabia era que ela não o deixaria mais dormir enquanto não tivesse a certeza de que Edith não estava no apartamento. Henry rolou de barriga para cima e ao encarar o teto do quarto, que só era iluminado pela luz dos postes que atravessavam uma fresta da cortina, fez uma promessa de que faria Jasper pagar por seu sono perdido.
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