XXIV. About love
Henry fechou o porta-malas e deu a volta no carro para encontrar Jasper parado na calçada, seu amigo o encarava como se estivesse tentando se controlar para não falar algo, isso deixou o Hart em alerta.
- O que está acontecendo? - indagou um tanto hesitante, Jasper somente soltou o ar ruidosamente pela boca e começou a falar apressado.
- Sei que você não quer falar sobre isso, mas a Charlotte...
- Nunca disse que não quero falar sobre ela.
Não teve como não interromper, o Dunlop passou o fim de semana insistindo que ele conversasse com a Page, porém Henry insistia que não era o momento e pedia para ele mudar de assunto. Resultado, Jasper acreditava que ele nem queria que tocassem no nome dela, mal sabia que o Hart estava em um conflito interno tentando entender porque ela o estava evitando e porque isso o incomodava tanto. Afinal, eles não possuíam um relacionamento real, mas eram amigos apesar de tudo e Henry esperava que Charlotte não houvesse esquecido disso.
- Não? - Jasper indagou confuso, fazendo uma careta descrente para ele.
- No. - encostou-se contra o carro e observou o amigo que lutava contra a vontade de enchê-lo de perguntas. - Só disse que era pra você parar de fingir que ela não está me ignorando, provavelmente ela falou para a família que tínhamos terminado.
- Foi você quem disse isso.
Deu de ombros tentando parecer despreocupado com a acusação do Dunlop, porém estava um pouco receoso de Siren ter entrado em contato com Charlotte e deixado escapar o que ele havia dito. Era para ser uma terça-feira calma, era aniversário da cidade e portanto feriado, ele iria fotografar um casamento surpresa para criar algo para os noivos misteriosos. Parecia uma loucura ir para um local onde não conhecia ninguém, porém o noivo ofereceu um bom pagamento e no momento ele não poderia recusar. Além do mais, Jasper praticamente suplicou que ele aceitasse o trabalho, afirmou que seria uma experiência fora da caixa que iria ajudá-lo na exposição.
- Não queria falar sobre o que está acontecendo entre o Noah e eu. - voltou ao assunto principal e notou Jasper suavizar a expressão, mas logo encará-lo irritado.
- Então escolheu terminar com ela?
Quis revirar os olhos, ele não iria desistir tão cedo.
- Nós não terminamos.
- Então vocês estão tendo algo?
- Jasper. - se afastou do carro e começou a dar a volta, o Dunlop o seguiu enquanto ele abria a porta do motorista.
- Você gosta dela, Hen, não sei porque fica fingindo que não. - insistiu, o impedindo de fechar a porta.
Henry o cutucou na barriga, o que o fez se afastar sorrindo e o permitiu fechar a porta.
- Estou indo.
- Espera, só me diz uma coisa. - pediu, colocando a cabeça para dentro do carro, aproveitando que o vidro estava abaixado.
- O quê? - praticamente gemeu impaciente quando perguntou.
Um sorriso malicioso surgiu no rosto de Jasper e Henry sentiu sua espinha gelar.
- Então ela está livre?
- Do que você está falando?
- É que tenho um amigo que viu uma foto dela e ficou interessado, então eu pensei que...
- A vida é dela, Jasper. - o cortou um tanto seco, não queria que tivesse soado daquela maneira.
- Você a conhece melhor do que eu, será que ela dá uma chance pra ele? - forçou um assunto que claramente Henry não queria se envolver.
- Você está falando sério? Que merda, cara, não sou legilimente pra saber o que se passa na cabeça da Charlotte.
Tentou afastá-lo novamente, porém Jasper aproximou o rosto ainda mais do seu e abriu um sorriso vitorioso.
- Você está bem revoltado.
- Não estou não.
- Está sim.
Henry inclinou o corpo para frente e bateu a testa no volante, Jasper podia ser tão insistente que chegava a dar nos nervos quando queria.
- Não estou, olha, será que já posso ir?
- Quando a gente gosta de alguém sempre sabemos o que aquela pessoa pensa. - afirmou, afastando-se um pouco.
O Hart torceu o nariz e não conseguiu conter a resposta mal-humorada.
- Isso não é verdade, gostar de alguém não te dá passe livre aos sentimentos e escolhas dessa pessoa.
- Então a Charlotte talvez diga sim?
- Não faço ideia do que ela vai responder, só me deixa fora dessa. - ligou o carro, um claro sinal para Jasper se afastar, um sinal que ele prontamente ignorou.
- Por que você gosta dela ou por que ela gosta de você?
- Ela não gosta, espera, ela gosta de mim?
Virou-se confuso e um tanto perplexo para o amigo, porém Jasper riu e resolveu que aquela era a melhor hora para ir embora.
- Tchau, Henry.
- Jasper! - gritou, se inclinando sobre o banco de carona observando o Dunlop se preparar para correr para dentro do prédio.
- Boa viagem, cara!
- Mas. - ficou sem fala quando o viu sumir, porém não teve tempo de pensar direito já que um carro parou atrás dele e começou a buzinar enlouquecidamente para que Henry saísse da vaga. - Já estou indo!
Saiu para a rua com os pensamentos a mil. "Ela gosta de mim? Mas por quê?" Pensou que talvez Jasper estivesse enganado ou exagerado nas palavras. Charlotte não gostava dele, Henry sabia, tinha certeza. Ela não gostava porque não poderia gostar, se ela gostasse ressignificaria tudo o que estavam fazendo e iria aumentar a importância de cada momento que passaram juntos, significaria que o que antes era falso iria se tornar real. Que o frio em sua barriga quando ela se aproximava iria ser correspondido ou que ele não precisaria mais passar tanto tempo longe dela. Talvez não fosse tão ruim sentir algo por ela, sua mãe estava certa em dizer que Charlotte o fazia bem, ele se sentia em casa sempre que ela estava presente. Parou seus devaneios, não deveria estar tendo essa linha de raciocínio, Jasper falou sobre ela gostar dele e agora Henry estava pensando o contrário. Ah, não, ele estava gostando de Charlotte Page?
◇ ◇ ◇ ◇ ◇
- Então, precisamos falar sobre Henry?
Charlotte soltou uma risada anasalada após a pergunta de Piper, esticou as pernas sobre o painel e virou o rosto para a janela ao seu lado, o vento que a atingia por conta do vidro aberto era frio e relaxante. As duas estavam na estrada há duas horas, conversaram sobre tudo o que estava acontecendo em suas vidas e dos planos para o futuro. Por mais que Piper estivesse orgulhosa por ela ter retomado as sessões com a doutora Margot e enviado uma mensagem para a mãe a fim de descobrir em que ponto da vida estavam, a Manchester torceu para que Charlotte falasse sobre Henry, porém nada saía da boca dela em relação ao Hart.
- Char, você ainda não falou com ele? - indagou descrente, desviando a atenção rapidamente da estrada e esticando a mão para dar um tapa na coxa da amiga.
Charlotte riu da cara que ela fez e deu de ombros, não queria falar sobre Henry porque falar sobre ele aumentaria a saudade que estava sentindo. Faziam quase dez dias que não se falavam, o que parecia pouco, mas a presença dele fora tão constante em sua vida por semanas que passar tanto tempo longe deixava em xeque seus sentimentos por ele. O Hart respeitou seu silêncio após ela mandar uma breve mensagem de voz, não podia mentir e dizer que não estava um pouco irritada por ele não ter insistido. Sabia que era injusto com Henry, mas custava ele ter mandado pelo menos mais uma mensagem após ela desistir de tê-lo ignorado?
Custava você não o ter ignorado?!
Sua consciência rebateu enérgica, o que a fez se sentir mal. Porém, ela tinha tanta coisa acontecendo no momento que se convenceu que pensar em um romance somente iria atrapalhar a resolução de seus outros assuntos.
- Eu iria falar com ele, mas o Henry não mandou mais nenhuma mensagem.
- Às vezes eu realmente quero te dar um tapa. - a ruiva resmungou, acelerando o carro para ultrapassar um verde que estava andando muito devagar. - O que custa você ligar se quer tanto? Deixa de lado esse pensamento estranho que você tem de que não vale a pena insistir em alguém, existem certas pessoas que só precisam de uma chance para nos fazer feliz.
- Você fala como se eu fosse me declarar pra ele assim que o vir.
Não precisava olhar para saber que Piper revirava os olhos dramaticamente, concentrou sua atenção nas unhas pintadas de azul marinho e começou a retirar o esmalte com os dentes. Clarice iria ter um ataque se a visse assim, soltou um suspiro cansado ao lembrar de sua mãe. Piper a olhou de esguelha e interpretou seu suspiro de outra maneira.
- Você gosta dele, Charlotte, não precisa nem falar. Te conheço há anos, seus olhos brilham quando fala dele, seu rosto praticamente se ilumina toda vez que você volta de um encontro. - pontuou, rindo quando a viu ficar sem jeito. - Nunca te vi assim, na verdade vi, mas aquele-que-não-deve-ser-nomeado não merecia um único sorriso seu.
Soltou um bufo frustrada ao lembrar de Elliot, o casamento dele com Sabine se aproximava e ela ainda teria que procurar uma desculpa para não comparecer, por mais que não precisasse. Piper lhe dizia direto que ela deveria simplesmente fazer o que precisa sem esperar por aprovação, e como a ruiva detestava Elliot, com toda a certeza iria apoiá-la se Charlotte quisesse fugir para bem longe no dia.
- Sabe.
Parou indecisa, ainda não havia verbalizado seus sentimentos por Henry em voz alta e como estava presa em um carro com sua amiga, ainda teria que aguentar mais alguns minutos de surto.
- Sim? - a incentivou, tentando criar um ar indiferente, mas por dentro seu coração batia em um ritmo enlouquecedor.
Charlotte mordeu o lábio inferior e olhou para frente, tentando organizar seus pensamentos. Balançava os pés nervosa e logo os retirou do painel, batendo forte no chão do carro e cruzando as mãos sobre o colo como se fosse proclamar uma sentença.
- Eu ferrei com tudo. - um suspiro trêmulo escapou de seus lábios. - Ferrei sem nem precisar abrir a boca, a única coisa que eu precisava fazer era não me apaixonar por ele, só que...
Deu de ombros desolada. Piper continuou em silêncio, observando a estrada à sua frente, não expressou nenhuma opinião e ao encará-la, Charlotte notou o rosto da amiga franzido em concentração. Sentiu uma sensação incômoda tomar seu corpo, uma Piper calada era pior do que uma Piper tagarela.
- Fala alguma coisa, caramba.
- Falar o quê? - perguntou com a voz firme. - Tudo o que eu disser você vai ignorar. Nem adianta, Char. - a interrompeu antes mesmo da Page pensar em retrucar. - Você pode tampar os ouvidos para os meus conselhos, fechar os olhos para a verdade e até fugir pra uma gruta escondida no fim da porra do mundo, a questão é que nada disso vai adiantar porque você não pode mudar o que sente. Seu medo não é contar que está apaixonada e ele não sentir nada, na verdade é o contrário. Mudanças são difíceis, eu sei, mas você não pode paralisar a sua vida em um determinado ponto e cruzar os dedos torcendo para que fique eternamente assim. Mudanças vêm mesmo que você não queira, Char, então por que não aceitá-las quando elas irão te fazer feliz?
Sentiu um nó se formar em sua garganta e seu nariz arder, era o prelúdio de novas lágrimas. O ar saiu em uma lufada por seus lábios e ela virou o rosto para a janela ao seu lado, não queria olhar para Piper porque detestava o quanto ela a conhecia. Detestava saber que ela estava certa e, pior, que o seu medo estava mesmo a afastando das coisas boas. A Manchester mordeu o interior da bochecha, não queria chatear a amiga, mas sentira que Charlotte precisava de um choque de realidade, não aguentava mais observá-la fugir quando as situações se tornavam difíceis ou afastar quem se aproximava de mais do seu coração.
- Olha. - a ruiva parou, não sabia exatamente como retomar a conversa, mas sentiu que era melhor esquecer por enquanto. Ligou o rádio em uma estação qualquer e abriu um sorriso quando escutou a música que tocava, aumentando o volume rapidamente. - Blame it on my juice, blame it, blame it on my juice.
Charlotte piscou incrédula quando escutou a voz baixa de Piper, virou-se para ela e a encontrou olhando para a estrada com um sorriso provocador no rosto. Negou com a cabeça, não estava no clima para cantar, porém sua amiga começou a aumentar a voz e a Page se preparou para as notas desafinadas, que vieram rápidas.
- Somebody come get this man
I think he got lost in my DMs.
- What? - não conseguiu se controlar e soltou uma risada quando começou a sentir a energia de Piper a contagiar.
- My DMs.
- What?
- You better come get your man
I think he wanna be way more than friends.
- What?
Gargalhou ao vê-la tentar dançar sem causar um acidente, era bom quando se tinha pessoas ao seu lado que a faziam se sentir bem só em ser você mesma.
* * * * *
Eis a questão, Henry Hart é transparente em relação aos seus sentimentos, até para ele mesmo, ou seja, é bem mais fácil para ele tomar consciência do que sente, digerir e aceitar. Charlotte é quase o oposto, ela vive uma negação para depois se acostumar com a ideia do que está sentindo. Os dois estão em etapas diferentes do que sentem, mas garanto a vocês que eles sempre irão se encontrar no meio do caminho.
Preparem o coração para o próximo capítulo. Até domingo.
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