XIII. Lucky
Henry olhou ao redor do cais, aproveitava a calma que podia ser sentida na ilha, sempre amou visitar sua avó e há tempos não via a pequena senhora. Tentou não se sentir mal por não ter ligado muito para ela. Após o término se distanciou de todos que poderiam o fazer se encontrar com Bianca. Sabia que ela e Noah iam para a ilha quase todo fim de semana e aquela era a primeira vez que ele pisava ali há mais de dois meses, esperava não se arrepender, mas sabia que não era justo descontar sua frustração em quem não tinha culpa e a saudade de sua avó era grande de mais para o Hart conseguir passar mais algum tempo sem vê-la.
- Estamos esperando alguém? - Jasper se colocou ao seu lado e perguntou enquanto comia alegremente um pacote de pipocas doces.
- Meu pai ficou de vim nos buscar.
Respondeu, arrumando a alça da mochila e olhando para trás à procura de Charlotte. Ela estava a alguns passos de distância, conversando em um tom baixo ao celular e pela expressão meio angustiada em seu rosto não parecia ser uma conversa tranquila. Seus olhares se encontraram por um segundo, ela estava com uma expressão fechada e Henry podia jurar que a tinha visto relaxar um pouco quando ele abriu um sorriso ao piscar um olho em sua direção.
- Seu pai chegou.
Desviou a atenção de Charlotte quando escutou a voz levemente divertida de Jasper. Seu amigo o encarava como se tivesse acabado de ganhar um grande presente, Henry o olhou em uma pergunta muda que o Dunlop fez questão de ignorar.
A caminhonete azul bebê de sua avó parou no meio fio alguns metros à frente, seu pai saiu do veículo e se encostou na porta fechada à espera deles. O Hart tentava identificar a expressão no rosto de seu pai, podia ser algo entre impaciência e frustração, ou sono e tédio, o que só podia significar que algo grande estava acontecendo. Ou que a TV estava quebrada, até porque aquelas eram expressões diárias do velho Jake.
- Eu sento na frente! - o Dunlop gritou animado, dando um tapinha no ombro dele antes de correr em direção à caminhonete.
Henry riu, começando a ir ao encontro do pai, mas parou para olhar para Charlotte de novo e a viu terminar a ligação com um sorriso carinhoso enquanto se aproximava. Ela parou ao seu lado e olhou para além dele, deu breve aceno para Jake e encarou Henry tentando transparecer alegria, mas ele sabia que o sorriso brilhante que Charlotte abriu era uma máscara para esconder seus verdadeiros sentimentos.
- Podemos ir. - avisou, o puxando pela mão antes que ele pensasse em abrir a boca. - Era o meu pai, ele teve alguns problemas com a minha mãe, mas eu converso com eles quando voltar.
Soube que ela não falaria mais nada, então se absteve de perguntar qualquer coisa.
- Se você está bem, então está tudo bem.
- Claro que está tudo bem.
Henry não gostou do tom de Charlotte e novamente resolveu ficar calado, mas ao que parecia sua língua decidiu algo antes de seu cérebro.
- Se você está dizendo, querida.
Charlotte parou de andar e olhou para ele de uma maneira que fez o Hart engolir em seco pelo tom irônico que havia usado.
- Se eu estou dizendo é porque sei que estou bem, meu amor.
- E eu nunca disse o contrário, linda. - esclareceu, sem conseguir desviar dos olhos dela que continham uma leve irritação.
- Seu tom diz o contrário, meu bem.
- Você que está entendendo o contrário do que estou dizendo.
- Não sou eu que fico falando algo que claramente não quero falar.
- Bom, obviamente nós temos uma falha grande de comunicação. - afirmou, rindo quando ela soltou sua mão bruscamente e começou a caminhar a passos apressados. - Sério mesmo que você está com raiva? Char? Baby?
Sabia que rir dela piorava a situação, mas não conseguia se conter. Charlotte chegou até Jake primeiro e após uma breve conversa se encaminhou para a parte de trás da caminhonete, subiu rapidamente com uma agilidade que o impressionou.
- Pelo visto não sou só eu que estou com problemas.
Seu pai observou, dando um tapinha em suas costas que o Hart descreveria como um toque de apoio, antes de dar a volta no carro. Henry balançou a cabeça levemente e subiu na parte de trás, soltou um leve bufo divertido quando viu a Page sentada de costas para ele observando a rua. Sentou próximo dela, mas com uma distância segura e bateu duas vezes com o nó dos dedos no vidro que os separava de seu pai e Jasper.
◇ ◇ ◇ ◇ ◇
Charlotte apoiou o rosto nos braços cruzados, observava a paisagem por onde passavam, casas simples, comércios pequenos, famílias comuns, mas toda a ilha transmitia uma calma que se tornava quase mágica. Percebia que a renda local deveria vim da pesca e do artesanato, passaram por várias lojas de quadros, cerâmica ou tapeçarias. Era tudo tão delicado e muito lindo, sentia vontade de levar algo dali para Piper e sua mãe, dona Clarice possuía uma queda por tapeçarias.
Lembrar dela a fez sentir um incômodo, a ligação de seu pai fora tudo o que ela menos precisava, saber que sua mãe o tinha expulsado de casa a fez ser tomada por uma raiva renovada. Parte sua dizia que ela deveria esperar para conversar com sua mãe, entender o seu lado, porém outra a lembrava do quão injusta ela poderia ser e que seu pai havia sido vítima de algum plano louco dela. Inspirou o ar que cheirava a maresia e chuva, o céu nublado a relaxava e se fez outra promessa, não iria pensar em seus pais enquanto estivesse ali.
Passaram por mais ruas calmas, cheias de pais, avós, crianças e animais. Parecia que estavam atravessando toda a ilha e ela não duvidava disso. Henry se mantinha calado, mas por vezes ela sentia suas costas queimarem diante do olhar dele. Quando percebeu já entravam em uma rua florida e sem saída, ao fim havia uma modesta casa de dois andares, pintada de um amarelo claro e com uma árvore grande e florida a sua frente. Perto de uma caixa de correios se encontrava uma senhora de cabelos brancos presos em uma trança, vestida com uma saia longa cor creme e uma blusa verde claro, inúmeros colares de contas coloridas enfeitavam seu pescoço assim como seus braços. Ela tinha um sorriso tão animado e mesmo a distância sentia sua energia, era maravilhoso olhar para ela.
- Chegamos.
Henry falou, descendo da caminhonete e a esperando. Charlotte aceitou a ajuda dele, descendo com um pulo da caminhonete e quase se desequilibrando por encontrar Henry tão perto. Ele a segurou pela cintura, o calor de suas mãos invadiam as camadas de roupas provocando sua pele. Charlotte prensou os lábios para impedir o ar de sair em um suspiro, levantou o rosto para encontrar um Henry levemente atordoado. Ele demorou mais alguns segundos para se afastar, seu olhar nunca a deixando. Soltou lentamente o ar que segurava quando o viu dar às costas, mas logo tentou se recuperar e o seguiu em direção à senhora que abraçava um Jasper eufórico e não teve como se conter ao sussurrar para o Hart.
- Você não me disse que sua avó era a Luna Lovegood.
Ele somente riu e passou um braço ao redor dos seus ombros, um tanto hesitantemente. Charlotte não admitiria que se inclinou um pouco em direção à ele e nem que inspirou feliz quando sentiu o perfume amadeirado a envolver. A senhora olhava para ela com uma expectativa que a desconcertou, quando pararam em frente à ela, Charlotte se viu sendo puxada dos braços de Henry para um abraço apertado de sua avó.
- É tão bom, tão, tão, tão bom te ver, minha querida! - exclamou feliz, afastando-se um pouco para olhar melhor para a Page.
- Eu agradeceria se você não parecesse tão animada. - Henry reclamou, tendo a gargalhada de Jasper como plano de fundo.
- Como não vou me animar, Prudence? - Charlotte se voltou para Henry com a boca aberta em choque, o que o fez ficar completamente vermelho. - É a primeira namorada sua que você traz e não quer que eu fique feliz?
Era tanta informação, mas a Page só conseguia pensar no nome do meio de seu amigo. Antes que conseguisse conter, uma risada alta escapou de seus lábios. Ao ver o olhar incrédulo de Henry, levou a mão à boca em uma falha tentativa de abafar seus risos. Jasper somente riu ainda mais quando a viu naquela situação, o Dunlop apertava a barriga já dolorida, mas a expressão de Henry valia a pena.
- Eu já trouxe outras namoradas aqui, vovó!
A senhora somente abanou a mão como se não tivesse importância e continuou sua fala.
- Aqueles desejos não foram nada, essa...
- Será que dá para você parar de chamar elas de desejo, por favor? - pediu nervoso, porém ela somente riu.
- Você queria ter fé em algo e o universo o entregou a Faith, queria esperança e veio a Hope, queria alegria e veio a Rainbow. - enumerou nos dedos, Charlotte parara de rir e a fitava atenta. - Agora estou curiosa para saber o que você tanto quis.
O olhar que a senhora lançou para Charlotte parecia desvendar sua alma, ela se mexeu desconfortável, dando um passo inconsciente em direção à Henry, que passou um braço por sua cintura em um meio abraço.
- Essa é a Charlotte. - apresentou como se seu nome colocasse um ponto final naquela história.
- Olá, meu bem. Eu sou Sofi, mas pode me chamar de vovó.
Ela a estendeu a mão e Charlotte aceitou o claro convite, trocaram um rápido abraço e a Page voltou para o lado de Henry. Abriu um sorriso que esperava ser caloroso, mas por dentro tentava não se sentir culpada. Acrescentou Sofi a lista de pessoas para quem estava detestando mentir. A avó de Henry parecia ser tão legal e carinhosa, a família dele a estava recebendo muito bem ao contrário do que a sua fizera com ele. Era bem mais fácil mentir para quem não gostava de você.
- Vamos entrar, sua mãe já deve estar querendo saber o que tanto fazemos aqui fora. - bateu palmas animadas e saiu na frente.
- Vó, será que você pode me dizer o que viemos fazer aqui?
- Também quero saber. - Jasper falou, correndo para alcançar a senhora e enrolar seu braço ao dela.
Começaram a caminhar lado a lado e Charlotte pensou que iriam entrar pela porta da frente, mas os dois viraram em direção à lateral da casa e Henry apressou o passo para segui-los.
- Vó!
Chamou novamente, tentando conter uma impaciência que a Page identificou em sua voz, Sofi então desacelerou o passo e olhou por cima do ombro com os olhos cintilando em emoção.
- Vocês vieram para um casamento, meu bem.
Henry estancou no lugar, assim como Jasper que arregalou os olhos e encarou o amigo apreensivo. Charlotte viu Sofi olhar para os dois homens de maneira confusa e passou um braço pela cintura de Henry, o dando um leve beliscão na costela que o fez recomeçar a andar. Ela deveria dizer algo.
- Que notícia maravilhosa!
O tom encantado em sua voz pareceu distrair Sofi. Lançou um rápido olhar repreensivo para Jasper, que recomeçou a andar, mas com uma clara energia diminuída. Olhou de relance para Henry, ele estava irritado e ela não poderia culpá-lo se estivesse pensando o mesmo que o Hart. Pelo visto o domingo de calma que tanto ansiava estava acabado.
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