I. Last friday night
Charlotte tentava se concentrar na leitura de mais um artigo para a aula que daria dali a dois dias, porém, sua mente não parava de repassar os acontecimentos das últimas semanas. Havia acabado de desmanchar um noivado com alguém que pensava ser o amor da sua vida, certo, estava sendo muito imaginativa, alguém que pensava ser o futuro amor de sua vida. Conheceu James em uma escapada para um lago em um fim de semana, naquela época se encontrava estressada pelas exigências de seus superiores e irritada por mais uma discussão que havia tido com sua mãe, James apareceu como um sopro de ar fresco em meio a um verão escaldante.
O fim de semana foi mágico, nunca tinha sentido uma conexão tão instantânea e apaixonante com alguém antes, após voltar para casa começaram a conversar sem parar e se encontrarem quase todos os dias. Após três semanas ele a levou para o mesmo lago e a pediu em casamento, Charlotte hesitou, pensou na loucura que seria aceitar, porém, não soube o que a fez dizer sim. Talvez tenha sido a voz de sua mãe afirmando em sua mente que ela poderia conseguir mais, parte dos seus amigos casando e tendo filhos, as insinuações de que ela possuía um coração de pedra ou um delírio momentâneo, o fato foi que Charlotte aceitou o pedido e iria se arrepender dias depois quando encontrou James aos beijos com uma garota que o mesmo havia afirmado anteriormente ser sua prima.
Piper a consolou, a vingou e permaneceu ao lado dela quando Charlotte quis ligar para a mãe e dizer o que havia acontecido. Mas assim que começou uma conversa com a mulher, desistiu na hora de contar que tinha terminado o noivado, a prepotência no tom de sua mãe a fez continuar com a farsa. Resultado, para a sua família ela ainda iria se casar com um cara sem nome, até porque ela não tinha feito a mínima questão de informar o nome dele, que a pediu em casamento com duas semanas e do qual eles não faziam ideia de quem era. Mesmo sozinha, em seu apartamento que dividia com Piper, conseguia escutar o riso da amiga assim que contou sobre sua mentira. Não se sentia mais leve como no fim de semana que conheceu James, na verdade, se sentia a pior pessoa do mundo por mentir descaradamente para os seus pais.
- Ficar remoendo toda essa história só vai te deixar pior.
Escutou a voz da loira a aconselhar, olhou para Piper que estava deslumbrante em um vestido preto de alças finas e um salto com detalhes metalizados na ponta, nas mãos se encontrava uma tigela de sorvete que ela saboreava como se fosse seu último prato na terra.
- Ainda não sei porque inventei tudo isso. - declarou pela milésima vez, esfregando a testa como se magicamente a resposta fosse se formar em sua mente. - A minha mãe vai fazer aquele jantar na próxima semana e todos estão esperando que eu leve o meu noivo.
Informou, levantando-se para ficar longe da mesa lotada de trabalho que ela sabia que não iria conseguir terminar. Caminhou arrastada em direção ao sofá, se jogando contra o móvel cinza coberto por uma manta vinho, ao lado de Piper e roubando a colher da mão dela.
- Te diria pra arranjar um noivo falso, mas você nunca aceita as minhas ideias. - reclamou, pegando a colher de volta quando Charlotte iria começar a tocar no sorvete de chocolate.
- Suas ideias são loucas, não quero ir presa ou sofrer uma humilhação pública.
- Eu nunca passei por nada disso, meus planos são milimetricamente muito bem planejados.
- Sei. - não acreditava em nada do que ela estava falando, até porque lembrava muito bem de todas as enrascadas que teve que tirá-la em algum momento da vida.
- Você deveria ir comigo ao bar, a Babe e a Kenzie vieram especialmente para sair com nós duas.
Charlotte nem se deu o trabalho de encarar a amiga, ignorando as cultivadas leves em sua costela, somente levantou-se do sofá e começou a caminhar em direção ao quarto quando afirmou:
- Estou cansada, Pips, e ainda tenho que terminar de organizar as aulas da semana.
A loira soltou um grunhido frustrado e não seu deu por vencida.
- Você trabalha de mais, só uma noite não vai te matar.
- É sério, estou atrasada em um monte de...
- Prometo que você não vai arranjar nenhum noivo. - disse apressada, deixando a tigela sobre a mesa de centro e caminhando até ela. - É só uma noite, Char, você precisa aliviar a mente um pouco.
Charlotte não queria ir, só queria passar o resto de sua noite debaixo de suas cobertas com uma música indie triste qualquer tocando ao fundo para aumentar sua tristeza por si mesma, mas definitivamente sua melhor amiga tinha outros planos.
- Por favor, por favorzinho.
Piper juntou as duas mãos e inclinou a cabeça para a esquerda, piscou os olhos lentamente quando um pequeno bico enfeitou seu rosto rosado.
- Você fica horrível fazendo essa cara.
- Por favor. - insistiu, derramando algumas lágrimas que irritaram Charlotte ao ponto de ceder.
- Argh, tá bom, vou me trocar. - deu às costas para ela e fechou a porta do quarto a impedindo de segui-la.
- Nada de moletom!
◇ ◇ ◇ ◇ ◇
O bar estava lotado, a música alta de mais para o gosto de Charlotte, Kenzie não parava de reclamar e havia declarado que não sairia da mesa do canto naquela noite, Babe já flertava descaradamente com o garçom e Piper tinha sumido com algum cara para a entrada do bar. Charlotte só queria ir para casa, mas sabia que Piper nunca a deixaria em paz se ela a largasse ali, então resolveu dar uma volta pelo local. Passou por bêbados irritantes, rodinhas de pessoas que usavam algo escondido, casais se pegando a vista de todos e outros discutindo a plenos pulmões, por fim encontrou um espaço calmo perto de uma porta verde descamado que dava para uma possível cozinha. Havia um banquinho na ponta do balcão de madeira, sentou satisfeita após fazer uma inspeção e constatar que estava o mais limpo possível, não ligou para o cara que estava sentando ao seu lado e olhava para a própria bebida de forma desolada.
- Cara, te procurei por todo lugar.
Um homem jovem apareceu ao lado do carinha triste e o encarou meio irritado. Charlotte fingiu prestar imensa atenção nos movimentos da bartender para que não notassem que ela não tinha nada melhor para fazer além de escutar a conversa deles.
- Jasper, já falei que não estou com vontade de ser feliz hoje. - o tom de voz arrastado dele a fez acreditar que os dois já deveriam ter tido essa mesma conversa antes.
- Essa foi uma das frases mais tristes que eu já te ouvi falar. - o outro cara, Jasper no caso, afirmou rindo.
- É porque é verdade.
Charlotte acenou discretamente em concordância, sabia bem como era o sentimento de não querer fazer mais nada além de ficar remoendo o que passou.
- Henry, aqui está cheio de garotas lindas, inteligentes e em parte sem um pingo de critério de escolha, não tem como você se dar mal.
Torceu o nariz para a fala e pôde escutar o som de protesto saindo da boca dele a cada palavra de seu amigo, desviou o olhar rapidamente para um painel espelhado que ficava na parede do outro lado do balcão e observou o reflexo dos dois.
- Eu não quero ficar com ninguém hoje, só me deixa quieto aqui enquanto tento acabar com o meu sofrimento através de doses de bebida.
Viu o carinha triste levantar o copo de bebida em frente ao rosto de Jasper, tentou controlar o riso quando reconheceu no rosto dele a mesma expressão que Piper fazia quando ela afirmava que não iria dar o braço a torcer pelo seu discurso.
- Já tentei de tudo, mas você não colabora! - resmungou irritado e depois disse impaciente - Pois pode ficar aí sofrendo pela Bianca que eu vou atrás de alguém.
- Boa sorte. - Henry desejou, mandando um beijo para o outro que caminhou para longe. Charlotte escondeu o sorriso levando o copo à boca. - Pode rir à vontade.
Charlotte quase cuspiu a bebida, virou o rosto para o homem alto que estava com um sorriso discreto no rosto, engoliu rapidamente o líquido forte e fez de tudo para disfarçar o constrangimento e a careta ao sentir o álcool descer por sua garganta.
- Não sei do que você está falando.
- Sei muito bem que meu aparente sofrimento deve ser uma distração para você. - afirmou, levando o canudo de sua própria bebida à boca e ignorando o olhar afiado que Charlotte o lançou.
- Não me divirto com o sofrimento alheio e não preciso de distração.
- Você está sentada longe de toda a animação e com um copo quase cheio à sua frente.
- Isso não significa nada.
- Significa que você está com a cabeça nas nuvens, mas ao mesmo tempo não quer estar aqui para se distrair com eles. - insistiu, apontando com a cabeça o resto das pessoas que riam alegres ao redor do local.
- Você também claramente não quer estar aqui. - resmungou impaciente, o que o fez rir. - Então não precisa bancar uma analista superior.
- Pela minha conversa você já deve ter notado que estou em sofrimento e longe de ter moral para analisar a vida de alguém.
Franziu a testa observando o estranho de aparência desleixada. Ele estava com uma camisa xadrez amarrotada, o tom cinza e verde desbotado o deixavam ainda mais triste, sem falar nos fios claros desalinhados de seu cabelo e na sombreamento de uma possível barba em seu rosto. Contra todos os seus argumentos sobre conversar com estranhos em um bar, franziu os lábios ao notar um detalhe.
- E piña colada vai aliviar? - indagou, rindo baixo ao ver a bebida que ele protegeu com as mãos.
- Meu bebê é eficiente.
- Ok, senhor estranho.
Henry soltou uma pequena risada que se misturou com a dela, mas logo um suspiro saiu de sua boca e ele voltou a olhar para suas mãos que se movimentavam inquietas sob o balcão. Charlotte notou a mudança de atitude, travou uma pequena batalha interna, mas no fim resolveu tentar ajudar de alguma forma, afinal ela não estaria atrás de alguém para passar a noite e sim ajudando um cara que claramente precisava de alguém para conversar. Levantou-se do banquinho e o arrastou para mais perto de Henry, ele a encarou surpreso quando ela sentou ao seu lado novamente.
- Você claramente precisa conversar. - afirmou, e continuou a falar antes que ele a impedisse. - Sempre dizem que conversar com um estranho é mais fácil, acredito nisso, deve ser bem mais leve falar com alguém que é de fora e que pode lhe dar outra perspectiva do que está acontecendo em sua vida.
- Então você está querendo que eu me confesse com você? - perguntou, curioso por sua atitude, ela somente deu de ombros antes de responder.
- Não sou padre ou freira, sou somente uma mulher estranha em um bar com altas chances de promover algo ilegal.
O encarou tentando controlar sua ansiedade, ele obviamente estava pensando em sua proposta e Charlotte quase abriu um enorme sorriso aliviado assim que o viu balançar a cabeça em afirmação.
- Pode ser que valha a pena, mas quem começa?
- Como assim quem começa? - indagou confusa.
- Eu não vou contar o meu segredo sozinho. - deixou claro, a olhando divertido enquanto ela se mexia inquieta sob o banquinho.
- Certo, tá bom.
- A ideia foi sua.
Charlotte soltou um suspiro frustrado quando percebeu a situação em que havia se metido, mas era uma mulher de palavra e não iria voltar atrás. Essa sua vontade de nunca quebrar acordos a fez se meter em várias enrascadas, principalmente quando eram acordos propostos por ela e para ela.
- Eu sei, mas não vou começar.
Henry deve ter percebido que ela não iria mesmo ser a primeira a falar, então sentou-se de lado para o balcão e de frente para ela, apoiou o braço na madeira fria e a encarou como se fosse derramar seu coração, Charlotte sentia que era isso o que ele realmente iria fazer.
- Tudo bem, o meu segredo na verdade é bem rápido. - começou, mordendo levemente o lábio inferior antes de continuar. - Eu conheci essa garota a uns meses atrás, me apaixonei completamente e queria apresentar ela para a minha família, mas ela falou que não estava pronta para nada sério.
- Bem na contramão do que aconteceu comigo. - o interrompeu suavemente, Henry somente continuou.
- Só que ela havia me dito que não queria terminar com o que estava acontecendo entre a gente, eu concordei e continuamos saindo. Mas depois de um tempo ela disse que tínhamos que terminar, eu obviamente quis saber o motivo e ela me disse que já estava na hora, que não via futuro em nós dois e aquilo meio que acabou comigo. - declarou, levando a mão ao cabelo e puxando alguns fios levemente de maneira nervosa.
- Por isso você está assim hoje. - concluiu, gesticulando em sua direção, porém, ele somente inclinou a cabeça para o lado e tamborilou os dedos no tampo do balcão.
- Sim e não. - disse, o que a fez encará-lo confusa o fazendo ter que explicar melhor. - Depois de uns dias que havíamos terminado, minha mãe marcou um jantar especial porque meu irmão tinha alguém para apresentar a família. - parou, deixando no ar para que ela tirasse suas próprias conclusões.
Charlotte arregalou os olhos e levou a mão à boca quando a realização a atingiu.
- Ah, não.
- Ah, sim. - confirmou a suspeita dela, a voz em um tom de pesar. - Era ela, toda sorridente e simpática, fingindo não me conhecer e depois pedindo para que eu não falasse nada sobre nós dois.
- Mas por quê? - perguntou, estranhou toda a situação. - Está na cara que você está apaixonado por ela ainda, nem adianta. - o cortou antes que negasse. - Mas o que vocês tiveram não foi nada sério, ela mesmo deixou claro.
- Não tínhamos nada sério porque quase no fim desse "nada" ela estava tendo um relacionamento com o meu irmão. - informou, a vendo se segurar no balcão pois quase havia caído do banquinho após a informação. - É, é uma merda.
A Page levou uma mão ao braço dele que estava sobre o balcão, deu um leve aperto e falou com sinceridade:
- Sinto muito. Deve estar doendo.
- Não queria, mas está mesmo. - admitiu, soltando uma suave risada que Charlotte sabia não conter uma nota de humor. - Por mim, falava tudo para o Noah, mas ele está tão feliz, é como se eu nunca tivesse visto esse lado dele antes. - abriu um sorriso sincero ao lembrar do irmão, mas logo o fechou quando recordou o motivo. - A Bianca faz bem pra ele e eu não quero ser o culpado por estragar isso.
- Entendo. - era só o que conseguia dizer, até porque realmente entendia o lado de Henry.
- E agora você. - falou, seu tom de voz forçosamente mais alegre, o que fez Charlotte soltar um resmungo contrariada.
- Não é algo tão grande assim. - avisou, se preparando para começar uma história que já conseguia recitar de cor e sem pausas.
◇ ◇ ◇ ◇ ◇
- Eu, eu não sei o que te dizer.
Henry encarou Charlotte sem reação. Após terminar de contar sobre sua pequena mentira, que a princípio não era uma mentira, esperou paciente que ele terminasse de assimilar a situação.
- Sem julgamentos. - pediu, uma expressão apreensiva tomava conta de seu rosto.
- Sem julgamentos, mas eu posso dizer uma coisinha pequena? - perguntou, tentando soar desinteressado. Ela somente assentiu para ele continuar. - Você é meio louca. - definitivamente não era o que ela esperava ouvir, ao ver a irritação brilhando nos olhos dela, completou rapidamente. - Sem ofensas.
- Dizer sem ofensas não diminui a ofensa. - afirmou seca.
- Mas mostra minha intenção de não ofender.
- Idiota.
- Acho que somos dois. - riu da própria frase, mas parou diante do olhar feroz que ela o lançou. - Desculpa.
Charlotte resolveu deixar os comentários para lá, se fosse admitir, até que não detestava a companhia dele.
- Quer mais uma? Eu pago. - convidou, Henry viu como uma forma dela demonstrar que não estava irritada com ele.
- Vou aceitar porque estou realmente precisando. - disse, o que a fez rir, os dois sabiam que não era só por esse motivo.
- Você se embebeda mesmo só com piña colada?
- Não duvide, da última vez eu passei o resto da madrugada cantando One direction em cima daquela mesa. - afirmou, franzindo o cenho ao lembrar dos lapsos de memória que tinha daquele dia.
- Ah, mas isso é algo que eu preciso ver. - falou rindo, quase pulando no lugar de animação. Virou para a bartender e gritou animada ao apontar para os dois. - Ei, traz mais uma rodada, por favor!
Após algumas rodadas de bebidas, o suficiente para deixá-los animados, mas não bêbados ao ponto de não lembrarem de nada, danças estranhas com seus grupos de amigos que no fim resolveram se juntar, competições aleatórias criadas especialmente por Piper e tendo Jasper perdido todas; Henry e Charlotte voltaram para seu lugar inicial, ignorando os olhares sugestivos que lhe foram lançados no caminho.
- Pensei que você ia cantar pra mim. - a Page tinha a voz levemente embolada, mas sentia seu corpo bem mais leve do que quando havia chegado.
Henry riu e iria se inclinar para contar algo à ela, mas assim que seu olhar caiu na entrada da porta, o Hart congelou.
- O que houve? - perguntou preocupada pela súbita mudança, virou o rosto na direção em que ele ainda olhava e franziu o cenho preocupada. - Você fez algo?
Como se tivesse sido reanimado, Henry começou a balançar a cabeça em negação e escorregar no banquinho para ficar longe do campo de visão de quem entrava. Olhou ao redor e percebeu os detalhes que havia deixado passar durante toda a noite, o nome do bar, que no caso era "The end line", o bartender que trabalhava só na parte mais discreta do balcão, os círculos privativos de pessoas estranhas e principalmente um singelo aviso de seu pai para não seguir as ideias de Jasper aquela noite. Aviso qual ele nem havia dado ouvidos, sentiu seu corpo tremer em nervosismo.
- Eu não deveria estar aqui, se ele me encontrar justo aqui todo o mísero respeito que tem por mim vai acabar.
Henry afirmou agitado, começou a olhar para todos os lados à procura de uma saída. Charlotte o encarou confusa, não entendia o porque dele estar tão desesperado para sair do local, mas a voz alta e autoritária que cortou a animação do ambiente em questão de segundos respondeu às suas perguntas.
- Parados e desliguem essa música!
- Ah, merda, merda, merda.
O Hart praguejou baixo e de forma nervosa, escorregou para o chão e se ajoelhou atrás do balcão para que ficasse longe da vista de quem entrava. Charlotte estava ficando assustada, viu os quatro policiais começando a caminhar pelo local, Olhou para Henry e viu como ele buscava com o olhar um local de fuga, se juntou à ele encolhida no chão por instinto.
- O que eles estão fazendo aqui? - perguntou em um sussurro apressado.
- Batida policial, esse lugar meio que é ilegal. - respondeu rapidamente, sentia que seu coração a qualquer momento iria sair de seu corpo.
- O quê?! Não, não, não, eu não posso ir presa. - afirmou desesperada, o que o fez se virar para ela e dizer em claro pavor:
- E você acha que eu posso?! Meu pai é um daqueles policiais, se ele me vir aqui eu tô morto.
- Como vamos sair daqui?
Os olhos de Henry brilharam quando notou a porta da cozinha aberta a alguns metros deles, desviou a atenção para os policiais e percebeu que eles estavam abordando as pessoas que se encontravam ali. Pegou a mão de Charlotte e a puxou para correr para fora, muitos outros os acompanharam, o que chamou a atenção de dois policiais que começaram a correr atrás do pequeno grupo. Atravessaram a cozinha e saíram para um beco escuro, Henry e Charlotte não pararam de correr, ignorando totalmente os gritos e ordens de prisão. Por sorte conseguiram sair para a rua movimentada, se misturaram com os pedestres e deixaram para trás seus amigos e algumas pessoas que foram paradas.
- Isso é... loucura, eu acabei de fugir da polícia e não levei um... tiro. - declarou em um alívio misturado com surpresa.
Inspirando fundo para acalmar seu coração, colocou a mão livre sobre o peito sentindo as batidas que mais se pareciam com marteladas sob sua palma.
- Eles... não iam atirar na gente. - falou, parando um pouco para recobrar o ar.
O Hart curvou o corpo para frente, a mão esquerda aberta sobre o joelho enquanto seus olhos estavam fechados por conta da leve tontura.
- Aham, claro que não. - ela rebateu descrente.
Continuaram caminhando de mãos dadas até chegarem a um ponto de ônibus, se encontravam ofegantes e nervosos, com o coração a mil sentiam a adrenalina sair de seus corpos aos poucos. Parados, finalmente a realização veio como um balde d'água fria sobre eles, se encararam antes de falarem ao mesmo tempo:
- O Jasper vai me matar.
- A Piper vai comer meu coração.
- O que você vai fazer agora? - perguntou preocupado.
Charlotte soltou sua mão da dele e se afastou um pouco para conseguir pensar na sua situação. Não poderia voltar e procurar por Piper porque obviamente ela havia acabado de fugir da polícia, estava preocupada com a amiga, mas sabia que ela se sairia melhor com toda aquela situação do que ela própria.
- Tentar ir pra casa, mas minha bolsa ficou com a Kenzie. - respondeu, começando a mordiscar o lábio inferior, um péssimo hábito que possuía e que se intensificava quando estava nervosa.
- Minha casa é aqui perto. - o convite saiu antes que ele tivesse a chance de pensar. - E-eu durmo no quarto do Jasper, ele não ia voltar essa noite mesmo. - garantiu, gaguejando um pouco quando o olhar intenso dela caiu sobre ele.
- Como vou ter certeza de que você não é um assassino ou algum sequestrador de mulheres indefesas?
- Você definitivamente não me parece uma mulher indefesa. - disse, rindo quando ela cruzou os braços e o encarou impaciente. - Olha, já é quase três horas da madrugada, você quer voltar para o seu apartamento e esperar sua amiga voltar com a chave ou passar o resto da madrugada em uma cama quentinha?
A Page ponderou suas opções, voltar para o apartamento estava fora de cogitação, até porque ele fechava as duas da manhã e só abria às cinco. Essa regra era o único motivo de sua mãe ter a deixado em paz quando Charlotte havia dito que iria morar naquela parte da cidade, dona Clarice Page detestava o fato de sua filhinha ter que pegar um ônibus para ir ao trabalho ou frequentar lugares "deselegantes" todos os dias, mas uma vida escutando às reclamações de sua mãe eram melhores do que passar o resto de seus dias às escutando sob o mesmo teto.
Fechou os olhos, massageando as têmporas com as pontas dos dedos quando começou a cogitar a proposta. Ela ainda devia estar bêbada para sequer pensar em passar a noite na casa de um cara branco desconhecido. Culparia o álcool em seu sistema, mesmo que não tivesse bebido muito, e a adrenalina em seu corpo que passou e deixou em seu lugar somente um enorme desgaste. E talvez, quando acordasse, torcendo para ainda estar viva, encontraria outras inúmeras desculpas para a decisão que resolveu tomar.
- Saiba que se você me matar eu volto e te assombro pelo resto dos seus dias. - ameaçou em um tom de voz que não deixou dúvidas.
- Não duvido, realmente.
Garantiu um pouco nervoso, o que a fez rir antes de começar a caminhar ao lado dele em direção ao apartamento.
*****
Grandes planos para essa, espero que dê certo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro