[46]
163 dias antes
Observo as pessoas à minha volta para depois voltar a poisar o meu olhar no jogo que a Emma tinha instalado no meu telemóvel.
Toda a gente o fazia e quem não o fazia estava a mandar papelinhos. A Mrs Lindsay limitava-se a ler o seu livro empurrando os óculos para cima de vez em quando. Ah, deus abençoe o último dia de aulas.
Pelo canto do olho vejo a ruiva levantar-se ao meu lado e dirigir-se à professora o que me faz ficar desconfiado.
--Emma--
Nem acredito que estou prestes a fazer. Eu odeio fazer-me de coitadinha usando o meu passado como desculpa mas deus, eu preciso mesmo de passar de ano.
"Mrs Lindsay." sussurro e a senhora levanta o olhar retirando os óculos.
"Emma." ela sorri e por momentos sinto-me verdadeiramente mal por ignorar algumas das suas aulas e das respostas tortas que lhe dei.
"A minha mãe falou-me sobre si." baixo o olhar mas ouço a professora a poisar o livro na mesa e a levantar-se.
Olho para a senhora que me olha com um sorriso que transmitia ternura e me faz sinal para que a siga.
" Como está ela?" Mrs Lindsay pergunta-me encostando-se à ombreira da porta já do lado de fora da sala mas ainda com visão para os seus alunos.
"Pior. Pensei que soubesse." encolho os ombros.
"Sabes, ela nem sempre foi assim. No sétimo ano quando a conheci, a tua mãe era uma rapariga problemática."
Não percebo o que mudou.
"Até ao dia em que ela levou o meu casaco por engano e eu tive que falar com ela. Não me leves a mal mas todos éramos uns preconceituosos, era ridículo e depois de adulta percebo que não devemos julgar ninguém sem a conhecermos porque toda a gente tem um lado que merece ser visto. Primeiro ela foi muito rude até perceber que o pacote de lenços que estava no bolso do casaco não cheirava a rosas." a mulher à minha frente dá uma pequena gargalhada e eu não consigo evitar sorrir.
Desde que me lembro que a minha mãe compra lenços com aromas pois diz que isso disfarça a peganhice do ranho.
Abano a cabeça em divertimento. Se se resumisse apenas a momentos felizes...
"No momento a seguir ela deu-me um abraço e eu achei super estranho. Quero dizer, tinha acabado de falar com ela pela primeira vez e a Lilianne deu-me um abraço. Vou-te ser sincera, pela primeira vez senti um abraço verdadeiro e não um abraço que fosse só por dar."
Lembro-me de Luke e mordo o lábio. Ele não tinha nada que me ter ajudado. Será que o fez por pena?
"A partir daí começamos a andar juntas e eu comecei a ser chamada de estranha com ela, já não me importava ao menos eu tinha uma amiga verdadeira e eles não."
"É difícil de imaginar a minha mãe feliz agora." sussurro e baixo o olhar.
Sinto a mão dela no meu ombro e sinto-me ainda mais culpada por não prestar atenção às aulas.
"No décimo ano conhecemos o Mark que era um amor de pessoa e era bom para toda a gente. Mas a tua mãe não gostava que tivessem pena dela só por ter sido diagnosticada com uma bipolaridade fora do normal. Não era isso que o teu pai estava a tentar fazer, obviamente que ele queria fazer com que ela se sentisse especial. Mas a Lilianne não queria ser especial. E muito menos queria que os rapazes se aproximassem dela porque tal como as outras raparigas, eles só a faziam sentir pior. As pessoas são cruéis, Emma."
"Eu sei disso." murmuro mas julgo que a Mrs Lindsay ouviu embora tenha decidido ignorar.
"Senti-me muito de parte quando ele finalmente conseguiu passar pelas barreiras dela porque até aquele dia eu tinha sido a única digna disso. Senti-me egoísta por a querer toda para mim pois quando eles começaram a namorar eu vi-me sozinha pois muitas vezes a Lilianne esquecia-se de mim ou do que combinávamos. Aos 19 anos ela foi diagnosticada também com Alzheimer e fomos nós os dois que choramos com ela nos corredores do hospital. Parece que a tua avó nunca lhe tinha contado que tinham havido complicações no parto e ela havia ficado com mal-formações no cérebro. Segundo a Delilah ela não a queria preocupar ao dizer-lhe que ela era diferente dos outros. Ainda me lembro do que ela disse nessa noite enquanto chorava comigo pelo telemóvel pois o teu pai tinha ido para fora com os pais contra vontade dele. "Ter-me contado não me teria feito mais ou menos diferente. "."
Por momentos apetece-me chorar. Eu sei que a vida da minha mãe não foi fácil mas infelizmente até agora a minha também se está a revelar difícil e há muitas coisas que gostava de mudar.
"Gostava de ter visto a minha mãe adolescente." solto uma pequena gargalhada e a senhora à minha frente sorri.
"Quando eu fiz 19 anos, sou 1 ano mais nova que a tua mãe, eu tomei a decisão de que iria voltar para Inglaterra, suponho que a tua mãe te tenha dito que sou natural de cá..."assinto e ela repete o meu gesto dando uma espreitadela para dentro da sala "Ela ficou terrivelmente chateada, presuponho que ela continue assim pois, tu sabes, a cabeça dela não percebe o porquê de eu ter vindo. A Lilianne ficou mesmo furiosa, achou que eu a estava a deixar. "Que raio de melhor amiga és tu que nem tem a coragem de ficar comigo?! De aceitar os meus problemas?!" A tua mãe humilhou-me em frente de toda a escola, sabes? Gritou comigo e depois empurrou-me para o chão e foi-se embora porque o Mark a conseguiu agarrar depois de me mandar um olhar de desculpas. Mas um olhar de desculpas não chegava." Mrs Lindsay suspira e eu sinto as lágrimas a chegarem-me aos olhos.
"Um olhar de desculpas nunca resolve um coração partido pela nossa melhor amiga." afirmo e a minha professora sorri.
Gostava de não a perceber mas percebo.
"Bem, chega de lamechices." a senhora recompõe-se limpa as suas pequenas lágrimas que estavam para cair, limpa as minhas que já caíam e faz-me uma festa na cara sorrindo.
"Fico muito feliz que não sejas uma rapariga problemática." e dito isto volta para dentro da sala impondo a ordem.
Não faz sentido. Eu farto-me de lhe dar problemas e de lhe responder mal e a mulher diz que não sou uma rapariga problemática?
O trabalho.
O trabalho sobre o amor impossível.
Volto para o meu lugar onde Luke se encontra a olhar para o seu telemóvel.
"O que foste fazer?" a sua voz soa e reparo que ele não está a tocar no ecrã apenas o tem ligado onde vejo uma foto que o Michael tirou no outro dia quando fomos ao parque. Eu estou no wallpaper dele.
"Seria muito estranho se dissesse que descobri que a minha mãe e a minha professora de literatura já foram melhores amigas?"
***
PS. primeiro que tudo peço imensaaas desculpas por ter demorado milénios a atualizar mas em minha defesa, eu tinha um capítulo de 1325 palavras já escrito que o meu caro wattpad resolveu carinhosamente apagar [FDP O MEU BELO E EMOCIONANTE CAPITULO QUE ESTAVA TAO MILAGROSO E QUE TU RESOLVESTE MATAR]
PSS. agradeçam eu ter ido à praia por este capítulo porque ter uma gaivota assustadora na minha toalha quando voltei do mar foi um momento muito inspirador
espero que gosteeeem xx
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro