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194 dias antes

--Emma--

"Ai foda-se." resmungo tropeçando no estúpido do degrau à porta. Ainda hei de cair aqui um dia. [spoiler alert: não se esqueçam deste degrau muahaha] Já há bocado quando voltei da escola ia caindo aqui, o que foi um motivo de muitas gargalhadas da parte do meu querido vizinho Luke.

Fui comprar bolachas com chocolate e sumo que é mais ou menos do que me tenho alimentado nos últimos dias. A verdade é que sou demasiado preguiçosa para cozinhar algo de jeito. E também emagrecer um bocado não me vai fazer mal nenhum.

Começo a subir as escadas e ao chegar ao primeiro andar encontro uma senhora mais velha a subir as escadas com sacos nas mãos. Eu acho que me lembro de a ver no supermercado.

"Precisa de ajuda?" pergunto. Apesar de estar nesta altura do mês não pretendo ser rude para as pessoas que não me fizeram mal nenhum, o Luke não conta, e a senhora parece já ter uma certa dificuldade.

"Oh, não é preciso, muito obrigada. Já estou habituada. Este elevador costuma-se avariar muitas vezes." ela dá-me um sorriso e consigo perceber que esta quase-idosa já foi em dias uma jovem bonita.

"Vá lá eu insisto. Apetece-me fazer uma boa ação hoje." digo com humor e a senhora ri.

"Obrigada então." ela diz entregando-me um saco e ponho as bolachas na outra mão "Estes sessenta anos não me deixam ser a mesma."

"Está bem conservada. Pensei que fosse mais nova."

"Bem de qualquer maneira a idade não perdoa, verdade? Já agora podes-me tratar por Natalie." [spoiler alert 2: não se esqueçam dela, também vai ter um papel importante]

"Eu sou a Emma. Em que andar mora?"

Ainda vamos no quarto andar. Devia ter-me informado desta manutenção antes de deixar a minha mãe mudar-me para aqui. Se bem que nem tudo é mau neste prédio.

"Por acaso, tenho quase a certeza que sou tua vizinha. Mora aquele jovem loiro, depois tu e depois eu, certo?"

Assinto e ela sorri.

"Ele é teu namorado?" olho para trás de olhos arregalados e vejo que ela se encontra com um sorriso "Fazem um casal bonito." ela diz antes de eu poder responder o que, aliás, me deixou sem resposta.

"Obrigada, Emma. Foi muito simpático da tua parte ajudares-me. Moras sozinha certo?" mordo o lábio mas aceno que sim com a cabeça "Não que seja a melhor companhia no prédio, de certeza que preferes o teu namorado, mas sempre que quiseres é só bateres." a Natalie dá-me um sorriso amável entrando em sua casa.

Porque é que toda a gente parte do princípio que tenho alguma coisa com o Luke? Não tenho a intenção de criar sentimentos desses por ele.

Pouso as minhas bolachas na mesa da cozinha e preparava-me para comer uma mas quatro batidas na porta interrompem-me.

Mal abro a porta vejo o meu suposto namorado a abraçar-se a mim. Sem mais nem menos.

"Luke." esfrego a mão nas suas costas e ele acaba por se afastar de mim e consigo ver os seus olhos azuis radiados de vermelho, que mostram que definitivamente ele não está bem.

"Hey. O que se passa?"

O seu olhar fixa-se em mim e sei que apenas passaram segundos mas pareceram-me horas o tempo em que ele esteve a observar o meu rosto.

Pego na mão dele e levo-o para o sofá e puxo uma cadeira para ficar à frente dele.

O meu coração parte-se de o ver assim. Triste. Como ele disse que não estava.

"Chora." ponho a mão numa das suas pernas e o seu olhar desvia-se para a parede atrás de mim "Eu choro contigo."

"Queres-me ver chorar?" ele fala e a sua voz parece tão partida como o seu interior agora.

"Eu não tinha muitos amigos porque os afastava. E quando se passava alguma coisa de mal na minha vida eu não tinha ninguém a quem contar e apenas olhava para o vazio até que as lágrimas decidissem cair. Mas isso magoa muito. Não quero que fiques mais magoado do que pareces estar. Por isso chora e eu choro contigo. Vais-te sentir melhor."

Ele parece surpreendido com as minhas palavras mas vejo os seus olhos a ficarem brilhantes e ele por instinto talvez tapa a cara com as suas mãos. Lentamente pego nas suas mãos e consigo retirá-las. As lágrimas correm pelo seu rosto e eu tento pensar o porquê de o Luke sorridente que eu conheço estar assim. Se tem a ver com a tal Scarlet juro que lhe parto os dentes.

Sinto os meus olhos a ficarem molhados. Não consigo ver pessoas com quem me importo a chorar sem automaticamente chorar também. Custa muito.

"A minha irmã." ele murmura "Ela vai morrer, Emma."

Luke soluça e eu olho-o confusa.

"O quê?"

Ele respira fundo tentando acalmar-se e pego na sua mão tentando acalmá-lo também.

"A Marianne tem cancro. Ela estava tão bem, Emma. Ela andava a reagir bem aos tratamentos e ela já estava bem. Ela estava feliz ." vejo os seus olhos lindos a encherem-se de lágrimas outra vez e vejo-me mais uma vez sem saber o que dizer "Ela teve um ataque de novo. O último que ela teve foi ha três anos. Todos pensámos que ela estava melhor. Mas sempre que estamos bem tem de vir alguma coisa atormentar-nos. É o ciclo da vida." ele começa a chorar de novo. É por isso que ele se importa imenso com a sua irmã. Porque não sabe se ela durará para sempre.

"Hey, Luke olha para mim. Eu tenho a certeza que ela é forte."

"Porra parem todos de dizer essas merdas!" ele grita levantando-se "Porque é que vocês gostam de se iludir?! Não percebes a rapidez com que o cancro suga a vida de uma pessoa? Tu vês a vida a sair dos seus olhos.""

Levanto-me também e fecho os punhos "Não te atrevas a gritar comigo, Luke."

«

"Mãe, mas disseste que ias trazer gelado de chocolate." faço beicinho e olho para os meus trabalhos de casa de terceiro ano.

"Ai Emma não me chateies." ela bate com a mão na mesa e eu dou um salto da cadeira.

"Que porra é que ela fez agora?" o namorado novo da mãe aparece na cozinha e olha para mim zangado.

" me começas a irritar Emma. O gelado não é a coisa mais importante da vida!"

Eu ia contra argumentar mas sinto uma mão a ir contra a minha bochecha com força o que me faz deixar cair o livro e o estojo no chão. Olho com lágrimas para ele . E de seguida para a minha mãe que sorria.

"Aprende a valorizar sua parva!" ele grita na minha cara e sai dali levando a minha mãe pela mão deixando-me sozinha. A chorar. Sem chegar a receber o gelado que tanto andava a cobiçar.

Ou a ajuda que precisava para resolver um exercício. Ou um abraço por ter chegado a casa.

Qualquer coisa que me fizesse sentir que gostam de mim.

»

"Tu não tens esse direito." grito "Percebo que estejas triste e abalado por causa disso mas se não acreditares que de facto ela consegue ultrapassar isso do que adianta tentar ajudar-te? Achas que tenho culpa disso? É por isso que estás a gritar? É que não posso ser culpada de tudo porra!" sinto as minhas lágrimas escorrerem também e o Luke olha para mim arrependido. Mas eu quero que o seu arrependimento se foda.

"Tu não percebes o que é ter um irmão a morrer." ele fecha os olhos e abana a cabeça negativamente.

"Não fales como se me conhecesses." uso a frase dele no outro dia e ele olha para mim de novo.

"Tu tens razão. Mas eu tenho medo." ele murmura e eu mordo o lábio.

"Se viveres com medo não vais de facto viver. Vais apenas passar a vida. Assustado." digo e não sei mesmo de onde apareceram estas palavras mas assim que o sinto a abraçar-me de novo e a chorar contra o meu pescoço sei que valeu a pena este meu momento de psicologia.

"Desculpa." ele diz contra o meu cabelo mas depressa se afasta e limpa as lágrimas. Ele não queria que eu o visse assim e eu sei disso.

Mas todos temos um momento de vulnerabilidade de vez em quando.

"Parece que os papéis se viraram." ele dá-me um fraco sorriso e olha para o chão.

"Olha para mim. Tu agora tens que te acalmar e acreditar que ela vai conseguir."  digo e ele penteia o cabelo. A verdade é que nem eu própria acredito no que estou a dizer. Ele falou-me disto apenas hoje, eu não sei o quão mal a irmã dele possa estar mas tenho que o tentar consolar de alguma maneira.

"A minha mãe... Ela..." ele põe a mão na cara frustrado "Eu falei-lhe mal quando ela me contou. Mas eu fiquei tão preocupado porque não quero que passemos por esta angústia outra vez. Eu respondi-lhe mal e vim-me embora mas fui um egoísta porque ela deve estar pior do que eu." ele lamenta-se e a qualquer momento ele vai começar a chorar outra vez por isso limpo-lhe as lágrimas secas e puxo-o pela mão.

Abro a porta e ele olha para mim.

"Estás à espera do quê?" pergunto e ele sai dirigindo-se a sua casa.

"Tu consegues Luke. Basta pedires desculpa." tento acalmá-lo quando vejo a sua mão a tremer ao pegar na chave de casa.

"E se ela estiver chateada comigo?"

"Ela não vai estar. Vai ficar tudo bem. Ela está preocupada contigo também." encorajo-o com um sorriso e ele abre a porta.

"Mãe?" ele chama e eu entro atrás dele.

"Luke?" ouvimos uma voz chorosa de lá de dentro e a Liz aparece abraçando-se logo ao filho "Oh filho, desculpa. Eu não te devia ter contado daquela maneira eu sei que gostas muito da tua irmã mas..." o Luke aperta-a mais contra ele e de repente sinto uma necessidade de chorar também. Não devia estar aqui a invadir o seu momento familiar.

"Desculpa eu mãe. Não devia ter gritado contigo. Temos que pensar que ela vai ficar bem."

Eu sei que o abraço carinhoso deles não está a acontecer pelo melhor dos motivos mas , tirando o pouco tempo que tinha com o meu irmão, nunca ninguém me deu este tipo de abraços. A minha família sempre me menosprezou.

"Eu vou ter de voltar para a Austrália de novo. Tencionava ficar mais tempo Luke, mas ela não pode ficar sozinha."

"Porque é que não posso ir contigo?" ele faz um beicinho fofo e eu dou por mim a sorrir sem saber porquê.

"Luke Hemmings! Mas esqueceste-te das aulas e que tens que passar de ano?" a mãe dele repreende-o parecendo esquecer-se do que tinha acabado de acontecer.

"Eu quero que a escola vá para o..." ele não acaba a frase pois recebe um olhar de morte da Liz e não consigo evitar que um pequeno riso saia da minha boca.

"Oh Emma, desculpa-me nem me apercebi que estavas aí." ela dá-me um sorriso triste "Eu sei que tu vais pôr o meu Lukey na linha."

O Luke revira os olhos tentando esconder um sorriso.

"Descanse que quando voltar o Luke nem vai parecer o mesmo." digo na brincadeira.

"Quando é o avião mãe?"

"Logo à noite."

O Luke pousa o olhar no chão mas força um sorriso.

"Eu vou acabar de fazer a mala." a Liz dá um beijo na bochecha de Luke e sei que ele se partiu por dentro.

"A vida é muito injusta connosco." o Luke diz levando-me à porta depois de me assegurar que ficava bem sozinho.

E após abrir a porta só dei mais razão ao que ele tinha acabado de dizer.

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como sou muito vou acabar o cap aqui e ninguém vai saber o que do outro lado da porta muahahah
1- eu fiz um trailer, eu não sei bem foi o primeiro trailer  que fiz e pessoalmente acho que não ficou nada de jeito mas bem vejam e chorem comigo
2- eu comecei a escrever este cap ontem as duas da manhã e o meu quarto parecia o oceano antárctico
3- quem vai ao meet dia 5 de setembro?

espero que gostem deste cap tanto como eu gosteii xx

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