Prólogo
Pinheiros, São Paulo - 1910
Escritório da Mansão Sampaio Bittencourt
Na mansão Sampaio Bittencourt, para ser mais exata, em um escritório rústico e com móveis contemporâneos, condizentes à época do século XX, Julieta, uma mulher com seus quase quarenta anos, em seus cabelos castanhos escuros, possui uma mecha branca na frente bastante nítida, dona da maior fazenda existente em São Paulo e ocasionalmente dona dos melhores cafés produzidos de toda a região e país, uma das poucas mulheres que trabalham e administram um empreendimento grande como esse sem a ajuda de um homem, também a primeira fazendeira a fechar um contrato internacional, estava sentada em sua cadeira de couro excepcionalmente confortável de seu escritório, aguardando as considerações do homem à sua frente, que lia atentamente o contrato de transporte para seu café pela maior fragata das américas, os navios Sabino Machado. Vez ou outra trocava olhares com Aurélio, um homem que tem uma personalidade rara e excêntrica para muitos homens da sua época, possui um cavanhaque mais grisalho do que seus cabelos, onde encontrava-se um fio ou outro branco, também presente na negociação, sentado ao lado de seu amigo e curioso pra saber o quê que o amigo achava da proposta.
— Então, Dom Sabino, o que tem a dizer?
— Realmente, é a melhor proposta que me foi apresentada em toda vida! Quando meu bom amigo Aurélio informou-me sobre essa oportunidade, não me passou pela mente que seria tão vantajosa, mas...
O sorriso confiante da Rainha do Café murchou diante da inesperada relutância do patriarca dos Sabino Machado acabara de demonstrar.
— Mas...? - indaga a mulher, curiosa pra saber o motivo.
— Com todo respeito que lhe devo, Dona Julieta, mas a senhora é uma dama. Não é de bom tom trabalhar, muito menos à frente de empreendimentos tão grandiosos. Se me permite, uma mulher deve cuidar da casa, do marido e dos filhos, como faz a minha Agustina.
— Esse é o motivo da senhora Sabino Machado ser mais maltrapilha que o Barão. – sussurrou para si mesma.
— Perdão, disse alguma coisa? – questiona Dom Sabino, procurando entender o que a rainha do café havia acabado de sussurrar pra sí própria.
A expressão de Julieta era um misto de incredulidade com raiva e pitadas de deboche. Apesar das circunstâncias que a obrigaram a assumir o comando da família, ela amava sentir-se útil e orgulhava-se de ser a mentora daquele império que a Rainha do Café conquistou com seu próprio esforço e suor. Aurélio, mesmo discordando totalmente das palavras machistas, pedia aos céus que o furacão que era sua noiva não passasse por cima do homem a sua frente. Conhecera Teotônio na mais tenra idade e, apesar de algumas divergências, construíram uma bela amizade e sabia que aquele era uma boa pessoa.
Mesmo preparada para uma guerra, a Rainha do Café decidiu adotar uma nova estratégia. Utilizando-se de um olhar desafiador e cabeça erguida, iniciou com calma e firmeza em sua voz.
— Dom Sabino, o senhor provavelmente não conhece a minha história, mas, saiba que não cheguei aonde cheguei acatando conselhos de homens que me mandavam lavar pratos e bordar toalhas. Felizmente, a minha natureza permite que eu desenvolva uma série de talentos, dos triviais às raridades, como conquistar a alcunha de Rainha do Café por mérito próprio, ser a mulher mais poderosa do país e a única cuja família pertence ao sistema matriarcal. Não consigo ser apenas mais uma dentre tantas. Posso lhe assegurar que seu futuro empreendimento na área da navegação renderá bons frutos com essa parceria. Imagine só: o café Sampaio sendo distribuído ao mundo pela fragata dos Sabino Machado.
— Omessa! Certamente, seria esplêndido! Não há mais o que discutir, dona Julieta! Negócio fechado!
Quando os contratos foram finalmente assinados, Dom Sabino, um homem de cabelos grisalhos e olhos azuis acinzentados, pai de três lindas filhas e dono da fragata mais bem sucedida das Américas por tantos anos, partiu, deixando os noivos a sós finalmente. Aurélio fechou a porta do escritório e caminhou em direção à empresária, que exibia um sorriso vitorioso enquanto se levantava da cadeira, também caminhando de encontro ao botânico.
— Sabe que eu adoro quando você faz isso? – disse o botânico, aproximando-se da amada.
— Isso o quê, meu amor? – ela retrucou esforçando-se para manter uma expressão inocente.
— Semicerrar os olhos, erguer uma das sobrancelhas e começar a falar com certo sarcasmo. Isso me enlouquece. – Explicou já tendo Julieta entre seus braços. A Rainha do Café, por sua vez, apoiava uma das mãos no peito do seu amado, enquanto a outra acariciava sua nuca.
— Devo adotar essa expressão com mais frequência, senhor Aurélio?
— Decerto que sim, especialmente na minha presença, senhora Julieta.
Ambos riram e se preparavam para selar seus lábios, quando batidas na porta interromperam o momento.
— Mãe? Já terminou a reunião? Preciso que a senhora e Aurélio venham até a sala.
— Já vamos! – responderam e rolaram os olhos em sincronia.
Saíram da sala em conjunto e igualmente desceram as escadas que tinha pisos de mármore e o corrimão era de carvalho muito bem polido e com uma camada de verniz que deixava-o excepcionalmente brilhante, chegando ao cômodo, encontraram Camilo, um jovem rapaz em seus 23 anos, cabelos castanhos escuros e olhos em um tom de mel, acompanhado da esposa Jane, uma jovem de 22 anos, têm cabelos em um tom de loiro escuro e olhos verde escuro,em pé ao lado de um sofá marrom escuro, Ema - que àquela altura já considerava a loira como sua irmã -, uma moça com cabelos e olhos castanhos escuros e em seus 24 anos, fazendo mais casais do que se preocupando com a sua vida amorosa, sentada no assento e o Barão, um senhor que tem um século inteiro de vida pra contar, calvo na frente, com cabelos mais concentrados na parte detrás a sua cabeça e uma longa barba encaracolada, em sua cadeira de rodas ao lado de sua querida e única neta.
— Bom, Jane e eu decidimos comemorar nosso aniversário de casamento em uma bela viagem pela Europa, começando pela Inglaterra. Gostaríamos de saber se vocês nos acompanham nessa viagem.
Ema quase saltou do sofá ao ouvir as palavras "viagem" e "Europa" na mesma frase. Estava mais eufórica que o próprio casal.
— Evidente que sim! Meu Deus, vocês sabem que Paris é meu sonho de consumo, não sabem?
— Minha neta, aquiete-se! Vai acabar com uma viagem só de ida para o céu desse jeito! Sobre o convite, acredito que minha velha carcaça aguente mais essa empreitada que me é fornecida.
— Aurélio e eu aceitaremos a primeira parte da viagem. Acabo de fechar um contrato com um estaleiro inglês e seria interessante conferir as instalações em Newcastle.
— Se Teotônio estiver disponível, talvez possa nos acompanhar, afinal ele é o proprietário.
— E minha família também poderá vir conosco. – manifestou-se Jane.
— Sim, sim. Faça o convite, Aurélio, por favor. – pediu Julieta ao seu noivo.
— Ah, meu Deus! Tenham a santa paciência! Estamos planejando uma viagem de lazer e vocês só pensam em trabalho! – resmungou o Barão.
— Vovô tem razão! Os dois deveriam aproveitar e comprar o enxoval para o casamento. – Ema falava aquilo enquanto levava o seu olhar e direciona o seu corpo ao casal, com uma expressão de indignação bem nítida em seu rosto.
Neste momento, Julieta só desejava que um buraco se abrisse sob seus pés e a engolisse. Apesar de ter uma vida conjugal com Aurélio, ela ainda sentia-se tímida com determinados comentários a respeito dessa vida em que levavam. Por sorte, seu companheiro a conhecia como ninguém.
— Teremos outras oportunidades, minha filha. Dessa vez, o dever nos chama. Camilo, já sabe qual será a data de embarque?
— Em 20 dias.
— Certo. Ainda hoje enviarei o telegrama. Agora, se me permitem, preciso voltar ao trabalho. Com licença.
Aurélio rumou para os estábulos. Enquanto isso, os mais jovens, sentados no sofá, traçavam planos e rotas que fariam naquela viagem que prometeria ser inesquecível para todos, ao passo que Julieta e Afrânio apenas observavam, sentados em duas poltronas acompanhados de uma bela xícara de café.
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Freguesia do Ó, São Paulo
Fazenda Sabino Machado
— Quer dizer que você realmente se aliou àquela mulher, Sabino? – questionou Agustina, uma mulher bastante conservadora igual a tantas daquela época, possui cabelos e olhos castanhos escuros, algumas rugas e linhas de expressão formando-se em seu rosto há um certo tempo, encontrando-se de pé ao lado do marido, inconformada com a decisão do homem e com uma expressão nítida de insatisfação com um leve toque de irritação em seu rosto.
— Decerto que sim, minha esposa. O acordo será extremamente lucrativo para ambas as partes. Não compreendo tamanha resistência. – fala aquilo curioso, não demorando para que, após colocar seu casaco e chapéu pendurados no cabide perto da entrada, vira-se em direção à sua esposa, fingindo curiosidade, porém já sabe o discurso que a mulher irá fazer.
— Não se faça de rogado! Sabes muito bem o que penso de Julieta Sampaio Bittencourt. Uma mulher que criou o filho sem uma figura masculina ao lado, que trabalha ao invés de cuidar do lar e agora vive amasiada com aquele seu amigo, está em total desacordo com nossos valores e tradições. Se uma de nossas filhas agisse dessa maneira, não imagino qual seria minha reação.
— Agustina, por favor. Eu compreendo que dona Julieta não se encaixa nos perfis de uma dama, no entanto, devemos reconhecer que ela possui um talento inigualável para os negócios. – Dom Sabino anda em direção a uma mesinha onde continha umas garrafas de bebidas alcoólicas, servindo-se de um pouco de conhaque.
A mulher preparava-se para refutar a constatação do marido quando foi interrompida por dona Ofélia, governanta da casa, e seu marido Felisberto, o mordomo.
— O senhor vai me desculpar, Dom Sabino, mas a dona Agustina tem razão. A Rainha do Café pode ser poder de rica, mas não larga aquele luto, nem dá um sorriso. Ela é demasiadamente estranha.
— Ofélia, por favor, contenha-se. Os senhores desculpem minha esposa. – pediu Felisberto, nitidamente constrangido com o comentário da senhora sua esposa.
O falatório na sala chamou a atenção das filhas dos respectivos casais. Marocas (Maria Marcolina), uma jovem em seus plenos 24 anos, tem cabelos castanhos e levemente ondulados, olhos igualmente castanhos, constratando com a pele branca quase porcelana e lábios não tão carnudos que tinha um tom rosé perfeito, Nico (Maria Nicolina), uma garotinha com 9 anos, de cabelos e olhos castanhos que nem o de sua irmã mais velha, porém um pouco mais lisos, pele branca quase porcelana e uma boca mais fina, e Kiki (Maria Quitéria), uma garotinha também com 9 anos, porém totalmente diferente de sua irmã que deveria ser gêmea, a garota tem cabelos em um tom de castanho mais claro do das irmãs, o tom de pele igual das outras e a boca um pouco mais carnuda do que a de Nico, herdeiras dos Sabino Machado, amontoavam-se próximas à porta, juntamente com Cecília, tem 23 anos, cabelos ondulados castanhos escuros, olhos da mesma cor, umas covinhas muito lindas todas vez que sorri e uma pele mais bronzeada, Mariana, a jovem aventureira possui 25 anos, cabelos castanhos não tão cacheados, olhos da mesma cor e uma boca mais fina se comparar com o das outras moças, e Lídia, uma jovem formosa que tem seus 19 anos, a mais nova do grupo tem cabelos em um tom aloirado mais escuro nas pontas, a única que tem um cabelo mais cacheado e uma certa energia extra, propícia a fazer umas besteiras por conta desse entusiasmo extra, da família Benedito.
— Eu não consigo ouvir nada. – iniciou Nico.
— Temos que chegar mais perto. – declarou Lídia.
— Não podemos. E se nós flagrarem? – argumentou Cecília.
— MUITO BONITO, MENINAS!
— AI, ELISABETA! QUE SUSTO! – responderam em uníssono, imediatamente virando-se em direção a Elisabeta, a mais velha do grupo, tem 27 anos, um cabelo castanho médio e olhos escuros, um sorriso fino estava a se formar no rosto da mulher enquanto que ela cruzava os braços e arqueava uma das sombrancelhas.
— O que faz aqui? – questionou Mariana.
— Como preceptora das três Marias e irmã mais velha de vocês, eu faço as perguntas! O que estão espionando?
— Nossos pais estão reunidos na sala. – esclareceu Marocas.
— O que será que está acontecendo? – perguntou Kiki.
— Vamos descobrir!
Liderando o grupo, Elisabeta adentrou à sala, fazendo-se notar aos mais velhos.
— Perdão por interrompê-los, mas as meninas ouviram ruídos vindos daqui e ficaram preocupadas. Está tudo bem?
— Ah, decerto que sim. Era apenas um assunto trivial, nada que possa tirar o sono das jovens mais belas de São Paulo. – concluiu Dom Sabino.
Todos estavam descontraídos quando o mensageiro anunciou a chegada de um telegrama endereçado ao patriarca da família.
“Caro Teotônio,
Minha família planeja uma viagem para a Europa e, em decorrência dos recentes laços comerciais, gostaríamos de estender-lhes o convite. Partiremos em 20 dias, no Rio de Janeiro.
Meus sinceros cumprimentos,
Aurélio Cavalcante.”
— Meus queridos, preparem-se! O velho continente nos aguarda!
Após o anúncio, quase todos foram para seus aposentos eufóricos, a fim de arrumarem as bagagens, exceto dona Augustina, que preparava as malas suas e de seu marido totalmente indignada com essa boa nova.
— Trancada em um navio com aquela messalina...
— Acalme-se, dona Agustina. Não vá jogar Julieta no mar!
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Rio de Janeiro, 20 dias depois...
Não seria um exagero dizer que o porto da cidade era cercado por dois mares: um de água e outro de pessoas. O navio Oregon era a materialização do poder e do luxo, nas cores branco, azul marinho e preto, contava com 90 metros de comprimento e o título de embarcação mais veloz do mundo. Todos estavam encantados, mas ninguém se comparava a Dom Sabino.
— Vejam que espetáculo, meus caros! Esse será o padrão da fragata dos Sabino Machado. Em breve, meus barcos estarão cruzando os quatro cantos do mundo!
As famílias foram recepcionadas pelo Capitão Smith e guiados para as melhores cabines, previamente reservadas a eles.
— Antes de partirmos para a Europa, faremos um breve contorno pela costa da América do Sul até a Patagônia e, de lá, seguiremos em direção ao porto de Londres. – informou o comandante enquanto que andava com Dom Sabino pelo navio, no finalzinho da tarde desse dia que será eternamente lembrado.
Uma hora após o embarque, Oregon iniciou sua trajetória. Na sala de chás, os passageiros da primeira classe se reuniram para conversarem enquanto que desfrutavam dos melhores chás disponibilizados no cardápio do navio.
— Mal posso acreditar que estou diante de Julieta Sampaio, a Rainha do Café! – iniciou Marocas com em sua voz empolgação.
— Também é um prazer conhecê-la, Maria Marcolina, principalmente agora que sou a nova sócia de seu pai.
— Pode me chamar de Marocas. Essas são minhas irmãs Nico e Kiki. Acredito que a senhora já conheça minha mãe e a família Benedito.
— Sim, querida. – Julieta retribuiu com gentiliza.
— É tão emocionante ver uma mulher tão poderosa como a senhora. – disse Mariana.
— Fico lisonjeada com suas palavras. É fato que pouquíssimas mulheres ocupam posições de destaque e que isso demande muito mais esforços, mas se eu pudesse escolher, trilharia o mesmo caminho. O trabalho enriquece a alma, dá prazer aos dias.
— Mas existe um limite para tudo, não? Uma verdadeira dama deve dedicar-se à casa, aos cuidados com o marido e os filhos. – disparou Agustina.
— Sou viúva há 18 anos, então a vida encarregou-se de libertar-me dessa obrigação. Quanto ao meu filho, tenho ciência de que fui a melhor mãe que poderia ser para Camilo. – Este acenou positivamente.
— Mas, ao que parece, essa viuvez não a impediu de engraçar-se com outro homem.
— Agustina, por quem é, não seja deselegante! Julieta, além de minha sócia, é noiva do meu melhor amigo.
— Por que não trocamos de assunto? Afinal, essa é uma viagem de lazer. – Ema interveio. – Meninas, nos contem quais lugares desejam conhecer.
Nessa hora, Aurélio levantou-se, afirmando que gostaria de passear pelo convés do navio. Julieta, que estava prestes a fazer Agustina engolir as próprias palavras, decidiu acompanhá-lo e esfriar-lhe os pensamentos. O casal pediu licença e se retirou.
Os primeiros metros da caminhada foram silenciosos. As provocações ainda faziam eco na cabeça da Rainha do Café, o que não passou despercebido pelo botânico.
— Meu amor, não dê ouvidos ao que disseram. Sabe que a mente da maioria dessas pessoas ficou presa no século X. – disse, fazendo Julieta rir.
— Aurélio, você realmente não se incomoda por eu não seguir essas tradições?
— Julieta, eu te amo justamente por ser diferente de qualquer outra mulher no mundo. Você me deu um novo sentido na vida, me fez amadurecer e me deu coragem para lutar pelo que eu desejo. Como não iria me apaixonar pela pessoa mais linda, inteligente, digna, forte e poderosa que existe?
Os olhos da Rainha do Café brilhavam pelas lágrimas represadas. Desde que Aurélio entrou em sua vida, ela sabia que ele era seu ponto de paz, ainda que não admitisse. Quando o abraçava, sentia-se como uma guerreira, que após uma intensa batalha, poderia finalmente voltar para casa.
Sem se importarem com quem estivesse olhando, uniram seus lábios da forma mais doce e carinhosa possível. Um era a medida perfeita do outro: as bocas encaixadas, os movimentos sincronizados, os corações ritmados, os corpos vibrando na mesma intensidade. Ao sentir que o beijo ameaçava tomar outras proporções, Julieta ousou.
— Vamos terminar isso em outro lugar. – ordenou, puxando o noivo para sua cabine.
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Havia uma semana que estavam navegando, quando o navio atracou no sul da Argentina. Lá, uma mulher chamada Margareth Williamson embarcou. A família dela era uma das mais respeitadas na Inglaterra e a única palavra que poderia descrevê-la era INTRAGÁVEL.
Na noite seguinte, Oregon iniciou a travessia pelas águas frias da Patagônia, cercada pelos imensos blocos de gelo. Dentro do navio, os passageiros ocupavam seus lugares no salão de jantar, enquanto o quarteto de cordas produzia uma agradável atmosfera com sua música ambiente.
— Dona Julietinha, a senhora sumiu com Aurelinho depois do chá da tarde. Aproveitaram bem o passeio? – Ofélia iniciou as provocações.
— Sim, obrigada pela preocupação. Mas saiba, dona Ofélia, que Aurélio e eu já atingimos a maioridade. Não precisamos de uma babá. – revidou com todo deboche possível. – Esse cardápio está perfeito. Devemos parabenizar o chef. – desviou o assunto.
— Aproveite e aprenda a cozinha como ele. É isso que uma dama de verdade faz. – foi a vez de Agustina alfinetá-la.
— JÁ CHEGA! EU NÃO AUTORIZO QUE NINGUÉM SE INTROMETA NA MINHA VIDA! É BOM QUE SAIBAM QUE QUANDO A RAINHA DO CAFÉ É ATACADA, ELA REAGE EM DOBRO!
Assim que Julieta terminou de falar, um intenso tremor atingiu a embarcação, como se a fúria dela reverberasse em cada canto. Mas o real motivo era muito pior: Oregon havia se chocado com uma geleira e perdido o rumo. A parte submersa do navio fora danificada em toda extensão e a água invadia os compartimentos com extrema violência.
Os passageiros iniciaram uma corrida em busca de sobrevivência. Haviam poucos botes salva-vidas. Mulheres e crianças tiveram a prioridade no embarque. Alguns atiraram-se no mar. Outros se recusavam a deixar seus pertences para trás. O pânico era geral. As quatro famílias deixaram de lado as diferenças. Uniram as mãos. Rezaram. Nada mais poderia ser feito. O navio mais rápido do mundo estava prestes a afundar.
"Santa Maria, mãe de Deus,
Rogai por nós, pecadores
Agora e na hora de nossa morte
Amém."
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