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Capítulo 5

— 2018? – repetiu atônita. Os poucos passos que conseguiu dar não tinham rumo certo e seu cérebro tentava processar o que havia acabado de descobrir. – Então eu... eu fiquei congelada... por 108 anos? – suas pernas falharam e precisou da ajuda de Carmen para não cair.

— Calma... calma. Sente-se aqui. – apontou para uma cadeira próxima a elas.

— Mais de um século! Eu dormi por mais de 100 anos! – constatou apavorada.

— 108, como você mesma disse.

— Não... nã... não... isso não possível... VOCÊ ESPERA QUE EU ACREDITE NISSO?

— Julieta, é a verdade. Eu me recusei a acreditar no início, mas as provas não mentem.

— Por quem me toma, doutora Carmen? Que teatro de mau gosto é esse? – respirava rapidamente e novas lágrimas surgiam em sua face. – Será que a senhora teria a decência de me explicar o que está acontecendo?

— Tente se controlar, por favor. – pediu, se aproximando da mulher.

— NÃO ENCOSTE EM MIM! EU A TOMEI POR UMA AMIGA E A SENHORA ME TRATA ASSIM! O QUE FOI QUE EU LHE FIZ?

Ignorando a ordem da rainha, a cientista repetiu a postura das outras vezes que precisou acalmá-la: colocou-se à sua frente, segurando-a pelos ombros e sustentando o contato visual.

— Você não fez nada. E da mesma forma que você tem em mim uma amiga, eu também a considero assim. Por isso estou lhe contando essas coisas.

Percebendo que suas palavras faziam efeito, Carmen foi até o balcão que separava a sala e a cozinha, pegou o controle remoto e acionou um dos equipamentos, fazendo com que imagens e sons fossem projetados em uma tela retangular.

A ex-congelada apenas observava. As informações não paravam de chegar e precisaria de tempo até compreender o que se passava.

— Isso é uma televisão. – a doutora explicou, como se pudesse ler os pensamentos conflituosos da rainha. – Você está no seu futuro, Julieta. E... no meu presente.

Era incrível como tudo parecia funcionar através da mágica no novo século. Originalmente, a viúva passaria dias remoendo aquelas sensações sufocantes, mas agora elas eram inexplicavelmente substituídas pela curiosidade e, porque não, encantamento.

Seguiu em direção ao aparelho e o tocou com uma das mãos. Piscou os olhos algumas vezes até acostumar-se com a luz que ele emanava.

— Parece uma pintura, como os quadros que os artistas produziam em minha época, só que em movimento!

— Sim... É mais ou menos isso... Aqui, fiz um chá de camomila para você. – disse entregando-lhe uma xícara.

— Ah, camomila eu conheço! Obrigada!

— As coisas boas são para sempre. Está se sentindo melhor?

— Estou. E... Carmen... Desculpe-me pela falta de modos. Eu não deveria ter gritado com você, que só tem me ajudado desde que acordei.

— Não se preocupe, minha querida. É normal reagir assim depois de um susto como esse. Pouco a pouco você irá se adaptar.

— O mundo que conheci não existe mais, não é? – questionou cautelosa, recebendo a confirmação da cientista. – Mercedes, Tião, Tenória, Estilingue... Todos se foram?

— Eles estavam no navio?

— Não... Mercedes era a governanta da mansão. Tião era meu motorista há muitos anos. Pedi que eles permanecessem em São Paulo para que a casa não ficasse vazia durante a minha viagem. Tenória e Estilingue são... ou eram... a irmã e o sobrinho de Aurélio. Não puderam embarcar conosco, pois o menino estava estudando e... OH, POR DEUS! AURÉLIO! Com toda essa confusão, quase me esqueci que ele havia despertado! Temos que ir agora! – afirmou dirigindo-se às pressas para a porta.

— Espera. Você vai sair assim? De roupão?

— Céus! Minhas roupas!

— Calma, criança. Estão na área de serviço. Pode voltar para o quarto que eu as levarei para você. Sairemos assim que estiver pronta.

Carmen sabia que se houvesse algo na Criotec, sua assistente já teria avisado. No entanto, a certeza na fala de Julieta a deixou em alerta. Decidida a tirar essa história a limpo, ligou para o instituto, mas foi em vão. O telefone tocava incansavelmente até cair na caixa postal. Faltavam algumas horas para a troca de turnos e apenas uma pergunta ecoava na cabeça da doutora.

— Onde está Susana? – sussurrou para que somente a si mesma escutasse, ocasionalmente, externando os seus pensamentos

Estava tão absorta em seus pensamentos que não percebeu a presença de outra pessoa na casa, para ser mais exata, que havia acabado de chegar à residência.

— Licença! Mãe? Tô entrando! – diz Samuel, assim fechando a porta e indo em direção a mãe quando encontra a mesma no meio da sala com o seu olhar.

— Samuca! Que faz aqui há essa hora? – disse, beijando o rosto do filho em seguida.

— Aproveitei que os documentos da empresa estão em dia e resolvi fazer uma visita à minha cientista favorita. – respondeu carinhoso. – Mas, pelo visto, quase não te encontro em casa, não é?

— Vou mais cedo hoje. Ninguém atende na Criotec e Julieta está muito inquieta...

— Quem é Julieta?

— Carmen! – a rainha apareceu de surpresa. – Já podemos... – parou de repente, percebendo que a mulher não estava só.

— Meu filho... Essa é Julieta. Ela despertou ontem à noite e... bem... eu a trouxe pra cá.

— Você é uma das congeladas?! – perguntou surpreso.

— SAMUEL! Tenha modos! – repreendeu seu filho, não demorando pra dar um leve tapa em seu ombro.

— Não tem problema... Sim, eu estava no tal bloco de gelo. E sua mãe fez a gentileza de me abrigar e explicar algumas coisas desse novo século.

— Então a senhora já sabe que estamos em 2018?

— Sim, filho. Ela sabe. Vamos lá?

— Posso ir com vocês? É que... sei lá... eu ainda não matei totalmente a saudade da minha mãe. – o mais jovem admitiu, encantado as mulheres.

— Claro, meu bem! Será divertido!

Ao mesmo tempo em que a porta do apartamento de Carmen era fechada, outra era aberta, mas para Julieta: a de uma nova realidade, pronta para ser desbravada! O encantamento já começou pelo elevador, ou "caixa flutuante" como se referiu. Chegaram à portaria e ela pode, finalmente, conhecer o veículo em que fora transportada horas antes.

— Então este é o modelo de carro atualmente?

— Um deles, minha cara. Existe uma infinidade deles, em várias cores, tamanhos, potência.

— Eu possuía uma versão bem antiga. Creio que era a primeira existente no país. Mas era deveras desconfortável. – riu com a lembrança. – Exceto pelo funcionamento sem tração animal, não se notava a diferença entre ele e uma carruagem.

— Querida, você está preparada para as descobertas que fará a partir de agora?

— Decerto que sim! – sentenciou com o melhor sorriso que seus traços poderiam formar.

Já com os três devidamente posicionados, o carro deu partida e seguiu pelas ruas da capital paulista. Carmen estava na direção, Julieta no banco do passageiro ao seu lado e Samuca na parte traseira, entre os dois assentos dianteiros. A rainha mantinha o rosto próximo à janela, observando cada detalhe daquele infinito conjunto de novidades. Seus olhos brilhavam e sua expressão era facilmente comparada a de uma criança em um parque de diversões.

— Então esse é o futuro! – externou seus pensamentos. – Máquinas que se movem à toda velocidade!

Mãe e filho assistiam a cena encantados. Era interessante ver a surpresa, em sua forma mais genuína, estampada no rosto de alguém que se deparava com o que, para eles, já fazia parte da rotina.

— Quantas pessoas! E essa pavimentação lisa como um tapete, negra como a noite, de uma estranha beleza!

— Asfalto. – apresentou Carmen.

— As...falto. – repetiu. – Luzes que vêm e vão, acendem-se em cores mirabolantes!

— Esse é o farol ou semáforo. No verde, a gente passa. No vermelho, paramos.

— E o amarelo?

— Significa "atenção, pare". Mas para muita gente quer dizer "corre, que ainda dá tempo". – provocou olhando rapidamente para Samuca.

— É impressionante! Por isso você fez questão de me vendar.

— Sim. Era muita realidade sem uma explicação prévia.

— Sábia providência!

O restante do trajeto seguiu o mesmo roteiro de descobertas e explicações. Apesar da agitação do trânsito, faltava algum tempo até a hora do rush começar de fato, por isso conseguiram escapar de possíveis congestionamentos.

Após 20 minutos de viagem, o carro estacionou em frente ao instituto, localizado na Avenida Paulista. A cientista foi a primeira a desembarcar, seguida pelo filho e, por fim, Julieta.

— Eu vou à frente. Preciso saber onde Susana está e vistoriar o prédio. Vocês podem ir para o meu escritório. Sabe o caminho, não é, Samuca?

— Sei, mãe. Pode ir.

Carmen adentrou o prédio, estranhando o fato de não ter usado seu cartão de acesso. "Se a porta está sem tranca, quer dizer que tem alguém aqui.", pensava. No corredor principal, passava por cada sala chamando pela assistente. Entretanto, não obtivera qualquer resposta. Faltava apenas um local: a sala de criogenia. Foi até lá, mas não havia qualquer sinal da presença de Susana.

Estava quase retornando quando um gemido, percebido graças ao silêncio magistral do ambiente, chamou-lhe a atenção. Seu olhar concentrou-se em uma das cápsulas vazias e, ao se dar conta de que não era a da rainha, aproximou-se rapidamente. No chão, bem ao lado da câmara, estava Aurélio. Os olhos fechados e o tremor pelo corpo indicavam que seu estado de saúde não era bom.

Pôs-se de pé no exato momento em que a porta da sala fora ultrapassada pelos dois acompanhantes.

— Samuel, peça uma ambulância e leve Julieta daqui! – ordenou de imediato.

— Mãe, o que aconteceu?

— Faça o que eu disse! - exigiu a cientista.

— Onde está Aurélio? - questionou Julieta.

— Depois eu explico!

Em hipótese alguma Carmen permitiria um encontro entre a rainha e o noivo naquelas condições. Seria um choque e, talvez, uma dor além do que Julieta seria capaz de suportar. Entre lidar com a preocupação ou o sofrimento, escolheria a primeira opção.

Enquanto a cientista travava uma batalha ética com sua consciência, os demais presentes na Criotec apenas seguiam recomendações. Samuca aguardava a chegada dos socorristas, ao passo que Julieta observava a movimentação, até então desconhecida para ela. Na sua época, o médico se deslocaria até a casa de seus pacientes para fazer o atendimento e, apenas nos casos mais graves, a família faria a remoção até o hospital. Mas os tempos eram outros e a realidade fazia questão de se impor.

Poucos minutos depois, um barulho crescente foi ouvido nos arredores da Criotec. Os dois se posicionaram na entrada do instituto, onde ambulância estacionava. Imediatamente, a equipe iniciou o desembarque de um sem número de equipamentos que a rainha não era capaz de reconhecer, exceto pela maca. Tudo foi encaminhado até a sala de criogenia, onde Carmen monitorava os sinais vitais de Aurélio. Ao mesmo tempo, a mulher era conduzida de volta ao escritório da cientista, não sem protestar.

Os socorristas eram ágeis e organizados, por isso não demorou para que o homem fosse colocado dentro do veículo utilizando um respirador. Havia apenas um problema: quem o acompanharia até o hospital?

Sabendo que não poderia deixar seu posto, muito menos permitir que Julieta saísse por aí sem a devida supervisão, a doutora tomou a única decisão possível.

— Filho, você poderia ir com eles, por favor?

— Claro!

— E não se esqueça de me manter informada.

— Fica tranquila, senhorita Tercena.

Não deveria, mas sorriu, pois sabia que aquela era a forma como ele a chamava quando queria dizer que tudo ficaria bem. Recebeu um beijo na testa e viu a ambulância sumir pela avenida, levando a irritante sirene consigo.

Assim que retornou ao seu escritório, encontrou Julieta de pé, com os braços cruzados na altura dos seios e com uma expressão que poderia ser traduzida por "Vai explicar agora ou mais tarde?". Sabendo o que passava pela cabeça da rainha, a cientista se adiantou na resposta.

— Você estava certa. Aurélio realmente despertou.

— E por que não permitiu que nos encontrássemos?

— Porque... ai meu Deus... – suspirou. – Ele precisava de cuidados e aqui não temos uma base hospitalar. E eu não queria que sofresse vendo-o daquele jeito.

— Então é grave? Seja sincera, por favor.

— Acredito que não, mas para ter certeza é necessária uma série de exames. – deu alguns passos em direção à rainha. – Julieta, não se aflija. Tudo correrá bem e logo Aurélio estará indo para casa. Tenha fé.

Nenhuma palavra foi dita depois disso. E não fez falta, pois os gestos eram muito mais claros do que qualquer fala. Tanto que, ao ver os braços estendidos de Carmen, a viúva não teve dúvidas em se deixar envolver por eles, recuperando a força e energias positivas que precisava para seguir em frente.

**********

Já era noite quando Susana finalmente chegara em casa, depois do happy hour irresponsável. Deixou os saltos em algum canto próximo à entrada, jogou a bolsa sobre a mesa da cozinha e procurou pelo celular. Havia deixado desligado de propósito, como se estivesse realmente trabalhando, mas arrependeu-se ao visualizar as inúmeras chamadas da Criotec e de sua chefe. Respirou fundo, preparando seu tom de voz mais natural possível, e retornou uma das ligações.

"SUSANA! ATÉ QUE ENFIM!".

— Perdão pela demora, Carmen. Estava organizando a documentação dos congelados e perdi a noção da hora. Até pensei em te esperar para a troca de turnos, mas você demorou e eu fui embora.

Do outro lado da linha, a cientista caminhava em círculos na tentativa de se acalmar. A cara de pau da assistente não conhecia limites e, antes que perdesse o controle, ordenou.

"Esteja aqui amanhã, às 08 horas!".

E assim o telefonema foi encerrado, sem que Susana tivesse a chance de retrucar.

— Carmen Tercena terá desforra em breve! – prometeu a si mesma enquanto se dirigia ao quarto.

**********

Os primeiros raios de Sol anunciavam a chegada de um novo dia e, com ele, a primeira boa notícia. Após passar a noite em observação, Samuca foi informado que Aurélio receberia alta da equipe médica do Hospital São Bartolomeu ainda pela manhã. A internação fora motivada por uma crise nervosa, rapidamente controlada.

Deitado em seu leito, o mais velho começou a se mexer e com alguma dificuldade, abriu os olhos. Estranhando tantos fios e tubos ligados ao seu corpo, começou a retirá-los em movimentos bruscos.

— Calma, senhor. Pode se machucar. – interviu o rapaz.

— Onde é... que eu estou? E... que luz forte... é essa? – indagou, colocando a mão afrente de seus olhos, protegendo-se da claridade que tinha no local.

— Isso é um hospital. O senhor teve um mal estar e foi trazido para cá.

— Meu jovem, você mora em alguma propriedade nas cercanias?

— Err... Não... exatamente. Está se sentindo melhor?

— Agora sim. Mas... eu preciso encontrar minha família.

Samuca conhecia toda história daquele homem e o paradeiro dos seus, mas achou por bem não revelar naquele momento. Antes de formular uma resposta, o médico adentrou o leito onde estavam, autorizando a liberação do ex-congelado.

— Eu vou avisar a minha mãe e depois vamos embora. Pode aproveitar e trocar de roupa. – sugeriu com gentileza.

— Ah, obrigado. – levantou-se da maca. – Permita-me que eu me apresente: Aurélio Cavalcante. – estendeu a mão para cumprimentá-lo.

— Samuel Tercena. – repetiu o gesto. – Vou deixa-lo à vontade. Se precisar, estarei do lado de fora.

O jovem optou por passar as informações em uma troca de mensagens com Carmen e esta lhe pediu que levasse o homem para seu apartamento, mesmo que o imóvel não fosse tão espaçoso e já estivesse hospedando Julieta.

O relógio marcava 07 horas quando os dois cruzaram a porta do hospital. Infelizmente, Samuca não teve o mesmo cuidado da mãe, deixando Aurélio entrar em contato com a realidade sem saber do que se tratava. Incomodou-se com o barulho dos telefones, o ruído das inúmeras vozes se misturando, as luzes e cores fortes dos ambientes. Mas nada lhe assustou tanto quanto o trânsito de São Paulo.

— Meu Deus! Eu morri e vim parar no inferno! 

Caminhou sem rumo entre os carros, obrigando-os a frear. Aquilo o desnorteava cada vez mais.

— Senhor Aurélio, cuidado! Tem que olhar para os dois lados antes de atravessar!

— De forma alguma! Esta máquina desgovernada é que deve parar!

Como um milagre, o dono da SamVita conseguiu levar o mais velho inteiro até o ponto de taxi, já que estava sem o seu carro. Assim que o veículo solicitado estacionou, ambos embarcaram.

— Para Pinheiros, por gentileza. – indicou o mais novo.

Pinheiros... A casa de sua amada. Era o pensamento de Aurélio durante a viagem.

**********
Instituto Criotec

Susana chegou pontualmente, apesar do rosto inchado denunciar a noite mal dormida e a consequente ressaca. Por questão de segurança, Carmen pediu que Julieta a aguardasse na sala de criogenia enquanto estivesse em reunião em seu escritório.

— Susana, vamos direto ao ponto. Onde você estava ontem?

— Não entendi. Estava aqui, trabalhan...

— MENTIRA! – levantou-se de imediato, dando um tapa na mesa. – Eu liguei inúmeras vezes e ninguém atendeu. Vim para cá horas antes da troca de turnos e o prédio estava vazio! Vou refazer a pergunta e espero que fale a verdade: Onde você se meteu?

— Err... Carmen... perdão por esta falha, mas eu pensei que estando tudo tranquilo por aqui, eu poderia...

— NÃO! A ÚNICA COISA QUE NÃO EXISTIA AQUI ONTEM ERA TRANQUILIDADE! VOCÊ TEM NOÇÃO DE QUE ENQUANTO A SENHORITA PASSEAVA, UM DOS PACIENTES DESPERTOU?

— C... como? – A cor fugiu do rosto da assistente.

— Aurélio estava sozinho e inconsciente quando cheguei.

— Mas como ficou sabendo que um dos congelados acordara?

— Não é da sua conta! Eu faço as perguntas aqui. Limite-se a respondê-las! Tem ideia da gravidade deste erro, Susana? Ele quase morreu! – falava entre dentes.

— Sinto muito. Prometo que não acontecerá novamente.

— Claro que não! Você sabe muito bem que eu não tolero esse tipo de irresponsabilidade, por isso está desligada do caso.

— ISSO É UM ABSURDO! – foi a vez de Susana se erguer.

— ABSURDA É A SUA FALTA DE COMPROMETIMENTO! Recebeu uma chance única para sua carreira e a desperdiça dessa forma. Arrume suas coisas e volte para a equipe do laboratório. É uma ordem!

Sob o olhar furioso de Carmen, a mulher deixou o prédio repetindo mentalmente o seu mantra de vingança. A cientista também estava em maus lençóis, uma vez que teria de cuidar sozinha daquelas pessoas. Antes de encontrar Julieta, reforçou o sistema de vigilância da empresa para que fosse notificada sobre qualquer acontecimento.

— Podemos ir. – avisou, chamando a atenção da rainha.

— Mas e os outros? Ficarão sozinhos?

— Ficarei de sobre aviso. – explicou levantando o celular.

— Essas engenhocas modernas... – soou divertida.

— Chama-se smartphone, porém, é mais conhecido aqui no Brasil como celular. Assim que puder, te ensinarei a usar. É muito útil.

Entre sorrisos, as duas deixaram o instituto e seguiram o caminho que as levaria para casa. O congestionamento atrasou a viagem, mas nada que tirasse o encantamento ainda existente em Julieta. "Poderia admirar aquelas maravilhas para sempre.", pensou.

Assim que chegaram, perceberam que não estavam sozinhas no apartamento. Porém, reconhecendo a figura à sua frente, o coração da rainha foi tomado por uma emoção que há muito não sentia. Lá estavam eles: o par de olhos azuis que mais amava e o dono deles, sorrindo surpreso.

— Aurélio!

— Julieta!

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