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Capítulo 3

Julieta não conseguia reconhecer um centímetro ao seu redor. Tudo lhe era muito estranho: o local que estava sentada, o ambiente frio e meio azulado por conta das luzes artificiais. Aliás, haviam luzes demais para o gosto dela. E "para que tantos botões?", pensava. Revezava seu olhar entre o lugar e a mulher que trajava um jaleco branco e também a observava. Tentou colocar-se de pé, mas uma tontura a impediu de realizar tal manobra.

— Tenha calma, Julieta. – pediu Carmen, pondo-se ao seu lado e atraindo a atenção imediata da viúva. – Po... Posso chamá-la assim? Pelo seu nome?

Numa fração de segundos, ela desviou e retornou seu olhar para a cientista, respondendo a pergunta.

— Pode sim. – um leve e rápido sorriso passou por seus lábios.

— Vou ajudá-la a se levantar. Você deve ter muitas perguntas a fazer.

— Deveras... E imagino que a senhora também tenha dúvidas ao meu respeito.

— De fato. Ah sim, quase ia me esquecendo, pode me chamar de Carmen.

Ambas se posicionaram lado a lado. Julieta buscou um ponto de apoio no ombro da doutora, enquanto esta repetiu a técnica na cintura da ex-congelada. Por fim, uniram as mãos livres e aquele toque fez seus corações baterem de forma mais serena, como se estivesse distribuindo boas energias nos dois corpos. Em sincronia, tomaram impulso para deixarem a cápsula e se colocarem de pé.

Com cuidado, elas começaram a percorrer o corredor formado pelas outras câmaras em direção ao escritório anexo. Aquela visão despertou a curiosidade de recém-despertada.

— O que são essas coisas? E por que eu estava dentro disso?

— São câmaras hiperbáricas, muito utilizadas na medicina para auxiliar a cicatrização de feridas crônicas, queimaduras e procedimentos cirúrgicos. Dentro delas, os pacientes respiram oxigênio puro e numa pressão elevada, aumentando sua quantidade na corrente sanguínea. Mas no caso de vocês, serviu para que atingissem gradualmente a temperatura corporal do ser humano e preservassem o funcionamento de órgãos vitais.

Julieta ouvia a explicação atentamente e, apesar daquilo não pertencer à sua realidade, estava entendo o mecanismo. Quando finalmente chegaram à sala, sentou-se em uma das cadeiras, sempre recebendo o auxílio de Carmen, que se posicionou à sua frente.

— Sente alguma coisa?

— Não, apenas estou confusa. O que quis dizer com "no caso de vocês"?

A cientista respirou fundo, como se estivesse escolhendo as palavras.

— Antes de lhe explicar, preciso saber qual a última lembrança que você tem.

Ela estancou diante daquela fala. Sua mente girava e as lembranças pareciam colocar-se fora da ordem cronológica de propósito. Até que a imagem do navio fez-se nítida.

— A viagem... Embarcamos no... Rio de Janeiro... com destino à Europa... Mas o Oregon... colidiu com uma geleira na Patagônia. – iniciou com certa dificuldade, tentando clarear os pensamentos.

— Mas Europa e Patagônia são destinos opostos. Como isso é possível?

— A travessia do Atlântico seria a jornada final. A princípio, navegamos rumo a Argentina, mas antes não tivéssemos ido para lá, primeiro por causa do acidente e, depois, porque um antigo desafeto havia embarcado, provavelmente retornando à Inglaterra.

— Posso perguntar quem era esse "desafeto"? – Carmen não escondia a curiosidade.

— Lady Margareth Williamson. Ela me culpa por algumas divergências comerciais.

— Comerciais? Era uma mulher de negócios?! – agora a surpresa a dominava.

— Ainda sou! – respondeu orgulhosa de si. – Não há um fazendeiro ou político que não conheça Julieta Sampaio Bittencourt, a Rainha do Café! Recebi esta alcunha depois de selar o meu primeiro acordo internacional no ramo da agricultura. Minhas terras se estendem por diversas áreas do país, porém optei por consolidar meu império em São Paulo e no Vale do Café.

— Sinceramente... não sei o que dizer depois dessa história. – a expressão da cientista era de pura admiração. De alguma forma, deixou de lado o mantra da sua profissão que exigia que ela desconfiasse de tudo. Julieta falava com tanta segurança que era impossível duvidar de suas palavras e sentia que as investigações futuras só confirmariam o seu relato.

— Bem... Ainda sobre a viagem... – a viúva retomou o assunto principal. – Um dia após deixarmos o porto no sul da Argentina, uma colisão rasgou o casco do navio de fora a fora. A estrutura colapsou. Todos os passageiros estavam amontoados no convés quando a tripulação anunciou o naufrágio. – fez uma pausa, sentindo a força daquelas memórias vindas à tona, com algumas lágrimas represadas em seus olhos. – Eu... eu poderia ter entrado em um dos botes, pois deram preferência para mulheres e crianças... mas teria que deixar meu filho e Aurélio pra traz e...

Julieta interrompeu a fala no mesmo instante que se levantou quase em um salto. Com toda a confusão, havia se esquecido de verificar onde estava sua família e conhecidos. Andava desnorteada pela saleta, como um animal enjaulado, chamando por ele.

— Aurélio! AURÉLIO! O... ONDE ELE ESTÁ? Ele... ele... estava comigo quando a água nos atingiu.

— JULIETA! Olhe pra mim. – a outra mulher pediu, na verdade exigiu. – CALMA!

— Carmen, por quem é, me diga onde está Aurélio! Ele foi resgatado, não foi? ELE TEM QUE ESTAR VIVO! – As lágrimas rolavam livremente pelo rosto da rainha. Seu peito ardia em angústia e desespero. E se Aurélio não tivesse sobrevivido ao naufrágio? E se os outros tivessem sucumbido às águas geladas? Como viveria dali em diante sem a dose de felicidade que aqueles olhos azuis lhe davam todos os dias? Ou sem a companhia do seu único filho?

Numa atitude radical, a cientista colocou-se à frente da viúva e segurou-a pelos braços, forçando o contato visual.

— Julieta! Preste atenção! Eu preciso que se acalme e me escute! – falava pausadamente e com firmeza. Ajudou a ex-congelada a respirar fundo uma... duas... três vezes. Quando sentiu os ânimos mais amenos, prosseguiu. – Tudo que eu vou lhe contar, por mais ilógico que possa parecer, é verdade. Você confia em mim?

E agora? Poderia confiar nela?

De fato, era a primeira pessoa que vira depois de sabe-se lá quanto tempo inconsciente. Que se aproximou sem temores, apesar da imponência ainda presente da Rainha do Café. Que acalmou as batidas do seu coração ao colocar-se ao seu lado e atar suas mãos às dela. Que a fez contar uma parcela de sua história de maneira natural, como uma conversa de amigas...

Amigas? Estaria Julieta iniciando uma amizade pela primeira vez na vida?

Talvez fosse muito cedo para dizer, mas não poderia negar que a companhia de Carmen lhe fazia bem e era a única que poderia ajudá-la a encontrar Aurélio, Camilo e os demais.

— Sim! Eu confio!

Foi a vez da doutora colocar seus pensamentos em discussão. Por que sentiu-se bem quando a viúva disse que acreditaria nela? Que necessidade era essa de protegê-la?

Não tentou aprofundar os questionamentos, já que havia algo mais importante a tratar naquele momento. Tomou fôlego e começou a falar.

— Julieta, você e outras 16 pessoas foram resgatadas de um bloco de gelo à deriva. Estavam congelados.

Imediatamente, a mulher perdeu a cor em seu rosto, como se o sangue que deveria fluir por aquela parte simplesmente evaporasse.

— Con...gelados? Is... I... Isso não... não é... possível... É? – estava chocada demais para se preocupar com a dicção.

— Honestamente, eu não sei explicar o que aconteceu. Vocês desafiaram tudo o que a ciência acreditou durante anos. Não só sobreviveram ao congelamento, como estão bem, sem qualquer tipo de lesão. Poderia dizer que são a personificação de um milagre.

A rainha fazia um esforço sobre-humano para compreender a situação. O que mais havia passado? No entanto, resolveu focar em um detalhe, antes que esse se perdesse no mar de revelações.

— Carmen, você disse que haviam outras pessoas... no bloco de gelo, não é? – recebeu um sinal positivo da cientista, confirmando a informação. – Quem são elas? E para onde foram levadas?

— Estão todos aqui, recebendo os cuidados necessários dentro daquelas cápsulas que você viu. Desde que chegaram, buscamos a maior quantidade de dados possíveis de cada um, mas mesmo assim não conseguimos identifica-los. Esperávamos que alguém despertasse e pudesse nos ajudar.

— Farei o que estiver ao meu alcance. – Julieta nem esperou um pedido formal. – Quando começamos?

— Se não se opor, agora mesmo.

Deixando o escritório anexo, ambas se depararam novamente com a sala de criogenia e, pela primeira vez, o coração da viúva acelerou o ritmo. Existia a possibilidade daquelas pessoas serem de seu convívio, mas também poderiam ser completos estranhos. Rezava internamente para que Camilo e Aurélio estivessem ali, porém temia pelo estado que se encontravam.

Por mais que se esforçasse, não conseguia dar um passo sequer. Seu peito subia e descia, tentando dominar a ansiedade crescente, e seus dedos se entrelaçavam com certa força. Não saberia precisar quanto tempo ficou ali, paralisada, mas afastou seus devaneios quando sentiu a mão de Carmen em seu ombro, lhe transmitindo a segurança necessária.

— Eles estão bem.

Os pés se movimentaram e Julieta rumou para o fundo do cômodo, enquanto lhe era explicado o porquê deles estarem divididos por grupos. Aproximando-se das primeiras cápsulas à direita, reconheceu os pacientes.

— Esta é a família Sabino Machado, dona de toda Freguesia do Ó. Senhor Teotônio Augusto, ou Dom Sabino, é um empreendedor no ramo do transporte marítimo. Havíamos acabado de selar um acordo comercial. As opiniões dele às vezes deixam a desejar, mas é uma boa pessoa. Já a esposa dele... – fez uma pausa, rolando os olhos e caminhando em direção a ela. – com tanta gente naquele navio, tinha que ser justamente a Agustina uma das sobreviventes?

— Parece que Lady Margareth não era seu único desafeto nessa viagem. – a cientista ria da frustração da mulher.

— Carmen, Carmen... você ainda vai engolir esse sorriso quando ela acordar. – deu de ombros e continuou a identificação. – Essas são as três filhas: Maria Marcolina, Marocas, e as gêmeas Maria Nicolina, Nico, e Maria Quitéria, Kiki.

Ao mesmo tempo em que a doutora digitava os nomes nos painéis de identificação, Julieta chegou perto do segundo conjunto.

— Esses são os Benedito. Dona Ofélia e Senhor Felisberto são casados há anos e têm cinco filhas: Elisabeta, a primogênita, destemida e segura de si. Adora vermelho e é preceptora das herdeiras dos Sabino Machado. Mariana é a aventureira, está sempre buscando uma nova emoção. Sua cor é laranja. Jane, a mais bela e doce das meninas. – chegou mais perto da jovem. – É esposa do meu filho e... adora azul... – ver sua nora daquele jeito lhe apertou o coração. Apesar do início controverso da relação das duas, Julieta aprendera a ter carinho e admiração pela loira. – Cecília é a que eu menos tenho contato, mas sei que é uma leitora voraz, especialmente de contos misteriosos. Está sempre com uma peça de roupa verde. Por fim, a caçula Lídia. É ousada e, por vezes, desastrada. Durante um jantar em minha fazenda, ela acertou um bolo no meu rosto. – riu ao lembrar-se da cena. – Eles moram na casa dos Sabino Machado. Ofélia é governanta, Felisberto, mordomo e Elisabeta, a preceptora das meninas como havia dito anteriormente.

— Vejo que tem uma boa relação com eles.

— O pai e as irmãs são boas pessoas. A mãe implica comigo por não ser uma dama tradicional, mas me parece mais uma influência de dona Agustina do que outra coisa.

— Entendo... Bem, faltam apenas quatro pessoas para serem identificadas. Você quer continuar?

— Quero! Eu preciso saber se Aurélio ou Camilo estão aqui. – a angústia já se fazia presente em sua fala.

Direcionou-se lentamente até últimas câmaras. Apenas o som de sua respiração descompassada ecoava pelo ambiente. Dessa vez, não só reconheceu o paciente, como reagiu surpresa.

— Até o senhor está aqui, Barão? – poucas lágrimas escorriam sem a sua permissão. – Este é Afrânio Cavalcante, o Barão de Ouro Verde. Foi o primeiro habitante do Vale do Café, desenvolvendo a atividade na região. Recebeu o título do imperador Dom Pedro II. É o pai de Aurélio e avô de... EMA! – gritou ao ver a jovem deitada na máquina ao lado. – Ema! Ema! Pode me ouvir? – batia no vidro, tentado acordá-la.

— Julieta, por favor, fique calma. Ela está a salvo, todos estão. – Pela segunda vez, Carmen a segurava pelos braços e forçava o contato visual, enquanto a viúva chorava em silêncio.

Antes que pudesse encerrar o processo, observou a rainha caminhar para as duas últimas cápsulas com uma expressão aterrorizadas. Aquele momento era decisivo e o tempo, deliciando-se com aquela tortura, não queria passar.

E lá estavam eles! Serenos... como se estivessem dormindo. Apenas respiravam. Nenhuma reação. Deveria sentir-se aliviada, afinal sobreviveram ao naufrágio, mas não conseguia. Quanto tempo ficariam naquele estado? E ela? Poderia seguir com a vida sem seus dois maiores amores? Não! Em hipótese alguma!

— Ca...milo... Au... rélio... – pronunciou usando um fio de voz restante. – Por favor, eu preciso que vocês despertem. Eu não quero ficar sozin... – o choro aumentava e ela já sentia dor física diante da situação.

Não muito distante, Carmen se esforçava ao máximo para segurar as lágrimas, até que um pedido chamou-lhe a atenção.

— Abra essas câmaras. – Julieta a encarava.

— Eu não posso!

— Por que não?

— Porque eles devem acordar no momento certo.

— E qual é o momento certo?

— Não sei dizer. Só eles sabem.

— Não posso esperar. CARMEN, FAÇA ALGUMA COISA!

— Nada pode ser feito!

— POR QUÊ? Se estão bem...

— PORQUE QUALQUER INTERFERÊNCIA PODE MATÁ-LOS!

— O QUÊ? NÃO! NÃO! ISSO NÃO É POSSÍVEL! – Aquilo era muito mais do que ela poderia suportar.

— Julieta... lembre-se do que eu falei, eles precisam voltar ao normal aos poucos. Uma atitude impensada pode custar-lhes a vida.

Destruída!

Era assim que se sentia.

Sua mente perguntava aos céus o motivo de tanto sofrimento.

Por que a felicidade sempre lhe escapava pelas mãos?

Sem forças, escorregou lentamente até seu corpo atingir o chão.

Permitiu-se chorar como nunca antes.

Tudo doía.

Estava frágil, pequena, arrasada.

Rendeu-se ao turbilhão de sentimentos que a invadiam.

O medo era o pior de todos.

O que faria dali em diante?

"E agora?"

O que é isso? O que está acontecendo?

Foram as últimas perguntas feitas por sua mente antes de ver Carmen se aproximar e ajoelhar ao seu lado. Seu corpo foi embalado pelo abraço da mulher. Agora não só chorava como também soluçava.

Naquele instante, o profissionalismo deu lugar ao ser humano. Liberou as lágrimas represadas e também se permitiu sofrer por um momento, na esperança de aliviar o fardo daquela que estava em seus braços, sua amiga.

Sim, não haviam julgamentos, restrições ou dúvidas.

Julieta era sua amiga!

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