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I. Um

Normalmente, Alice von Muhlen era uma das primeiras alunas a chegar ao Blasphemous Hampsher, sempre impecável em roupas em tons pastéis que destacavam a sua tão conhecida classe. Alice tinha uma postura primorosa, como se tivesse praticado balé por toda a vida, e andava com uma firmeza elegante de causar inveja em qualquer um que se importa com a impressão que causa nos outros.

Quando penso no Blasphemous Hampsher e na ideia que as pessoas de fora têm de nós que estamos dentro, é a imagem de Alice em seu uniforme azul e marrom o que brota na minha mente instantaneamente. Cheguei a me questionar várias vezes sobre como começaria esse livro – qual é o jeito certo de se começar uma chacina moral, afinal? –, mas não tinha como ser diferente do que narrando a entrada triunfal da Miss BH no primeiro dia de aula do segundo semestre de 2010.

Ela possuía todos os atributos que definiam um ilustre aluno do colégio de maior prestígio do país – muito bem-educada, usava um vocabulário extenso e difícil, tinha uma presença marcante e sofisticada e, é claro, era impecavelmente bonita – como é que poderia não ser, não é, com aquela conta bancária? Ela era tão bonita que, às vezes, as pessoas se perguntavam se era possível existir tamanha perfeição em forma de ser humano.

Era assim que as pessoas escolhiam nos enxergar, como a casca que contornava Alice von Muhlen. Não havia falhas em pessoas como ela, pois era isso o que o dinheiro podia comprar que mais nos distanciava do resto do mundo: a ideia da perfeição.

Dentro do carro da sua família, a garota contemplava a vista através da janela fechada enquanto o motorista subia a serra do Rio de Janeiro, em direção à cidade de Cosmo. Fazia silêncio lá dentro, apesar da música melódica que o homem escutava, mas que Alice parecia sequer notar. Nem a paisagem, ou o toque suave do couro do banco, ou o olhar constante do motorista através do vidro retrovisor pareciam surtir qualquer efeito na garota.

Fazia três semanas desde a última vez em que Alice pisara no colégio e, por três semanas inteiras, ela só conseguia pensar em uma coisa.

― Estava com saudade do colégio, menina? – o motorista perguntou, tentando quebrar o gelo e fazê-la dizer alguma coisa. Estava estranhamente calada, embora ela nunca tivesse sido uma pessoa de muitas palavras mesmo. Era reservada, desde a infância. Ele ainda se lembrava da primeira vez que conversou com a menininha assustada, de cabelos muito loiros e olhos muito arregalados quando ela chegou para morar na casa da avó mais de dez ano atrás.

Gelo era uma palavra que definia com maestria aquela garota de um metro e sessenta e quatro de altura. A expressão em seu rosto chegava a ser glacial, embora nunca deixasse de ser etérea. Ela era um anjo o qual você não desejava que cruzasse o seu caminho com aqueles olhos tão azuis que penetravam almas alheias e davam calafrios.

Eu me lembro bem de como é ser o alvo desse olhar que podia trazer um novo significado somente seu para "frio na espinha". Ela normalmente era o tipo de pessoa que exalava intimidação por onde passasse, mesmo sem estar, de fato, tentando fazer isso.

Mas naquele dia doze de julho de 2010, Alice von Muhlen estava furiosa.

Ela encontrou o olhar do seu motorista e as narinas dilataram enquanto respirou fundo. A raiva, assim como todos os outros fortes sentimentos, era algo que aprendera a controlar desde cedo na vida. Sua avó sempre dizia que demonstrar emoções era para pessoas fracas, que os verdadeiros vencedores eram aqueles que conseguiam manipular não só os outros, mas a si mesmos. Era isso o que separava uma pessoa comum – propensa a desesperos e inconstâncias – de uma rainha.

Alice, é claro, não estava permitida a ser uma pessoa comum.

― Não sei se saudade é o termo exato, Manuel – respondeu com a voz comedida de sempre.

― Pelo menos a senhorita vai reencontrar seus amigos. Achei estranho não terem passado as férias juntos esse ano.

Ah se ele soubesse o quanto aquele comentário foi lamentável.

A garota trincou os dentes e desviou o olhar para a paisagem de novo, na mesma hora. Tinha muito carinho por Manuel, pra falar a verdade, ele trabalhava para sua família há tanto tempo que ela nem conseguia se lembrar. Mas o bolo que se formou na sua garganta era um sinal de que aquela conversa deveria parar por ali.

Eles ficaram em silêncio até o carro parar no estacionamento da escola. O Blasphemous Hampsher era um grande palácio vitoriano no meio de uma cidadezinha onde não havia mais nada além dele, como se ao invés de o colégio existir dentro da cidade, era ela que existia ao redor dele. Aquela não era uma imagem que passava despercebida, não importava quantas vezes você já tenha visto o BH – como nós gostávamos de chama-lo – com seus próprios olhos. Os moradores de Cosmo ora encaravam a propriedade com deslumbre, ora passavam reto, como se até a mais distante visão daquilo fosse amaldiçoada – e de certa forma era mesmo.

Naquele dia, o coração de Alice bateu mais forte no primeiro vislumbre do colégio, que podia ser visto de longe com toda a sua glória e imponência de mais de cem anos de história e riqueza. Toda a rua onde ficava a gigantesca instituição era arborizada e muito bem pavimentada, anunciando o presságio do conto de fadas que se escondia por trás dos portões de ouro.

Mas Alice não estava impressionada com nada disso, com nenhum desses símbolos vazios que não diziam nada para ela há muito tempo. Eram as situações deixadas em aberto desde o início das férias de inverno o que agitaram seu coração e a fizeram precisar de dez segundos a mais para sair do carro quando eles chegaram.

Não havia mais nada entre ela e o seu objetivo. O cronômetro havia zerado.

Respirando fundo, a menina alisou o terninho azul escuro do seu uniforme, livrando-o de qualquer imperfeição, e ajeitou o cabelo loiro curto. O motorista fez menção de ajudá-la com a pequena mala que carregava, mas ela o impediu com um simples gesto de mão.

― Obrigada, Manuel. Mas daqui por diante eu me viro sozinha.

Alice von Muhlen empinou o queixo levemente e saiu andando em direção ao prédio do alojamento masculino. Ela era o tipo de pessoa que deixava uma impressão por onde passava, aquele tipo de gente que abria multidões e sempre era visto, mesmo que não estivesse necessariamente querendo atenção. Alice von Muhlen não tinha escolha quanto a isso, ela já havia conquistado um status naquele colégio que nem o dinheiro era capaz de comprar.

Talvez a sua avó estivesse certa sobre rainhas. E talvez Alice não soubesse se gostava ou não de ser uma.

― Olha só quem chegou – a voz masculina a atingiu ao mesmo tempo em que o braço passou pelos seus ombros pequenos com uma intimidade que a fez encolhê-los. Havia sempre uma distância mínima entre ela e as outras pessoas e Alice não se sentia confortável quando era tocada por terceiros, principalmente se fosse inesperado.

Ela encarou o rapaz de soslaio.

― Holden – cumprimentou, embora estivesse focada demais no que precisava fazer para socializar naquele momento. Removeu o braço dele de cima do seu corpo gentilmente, mas Holden não pareceu se importar. Eles haviam parado praticamente em frente ao prédio tão vitoriano, pretensioso e refinado quanto o principal, o que deixou Alice angustiada por poder vê-lo, mas estar impedida de chegar até lá por causa do garoto que a parou.

― O que você está fazendo? Se perdeu? – disse com bom humor.

Holden McDounagh sempre foi uma pessoa extrovertida que dificilmente causava animosidade. Ele é o tipo de personagem que jamais protagonizaria esse livro justamente porque vivia em paz – quem é que quer ler sobre uma pessoa rica quem não tem vontade de se matar às vezes? Ele e sua irmã gêmea, Jean, sempre estavam metidos com contrabandos dentro do colégio e eram conhecidos por darem as melhores festas do ano – incluindo o seu aniversário no fim do mês de julho, que era o marco inicial da volta às aulas.

Ao contrário de Alice, os gêmeos não eram os alunos modelo de uma escola como o Blasphemous Hampsher, oh de jeito nenhum. Eles não eram herdeiros de um império multinacional ou de políticos poderosos, mas sua família fazia parte do show business, que, vejam só, não era visto com olhos tão bons assim pela nata da sociedade. Talvez o fato dos irmãos McDounagh terem tanto carisma estivesse no sangue, pois a primeira coisa que aprendemos quando pisamos no BH é a jamais subestimar o poder da genética.

― Preciso resolver uma situação – Alice não deu mais informações, embora, a julgar pelo modo como ele parecia querer mantê-la fora do alojamento, Holden soubesse exatamente do que ela estava falando. – Eu gostaria de ficar e conversar, mas preciso ir.

― Não sei se é uma boa ideia você fazer isso agora, Alie – disse ele, hesitante.

Mas a garota não estava nem mais ouvindo, porque era isso o que rainha faziam: o que diabos queriam fazer. Ela apenas assentiu e o deixou para trás, indo em direção ao prédio com o coração acelerando novamente. O hall ainda estava praticamente vazio, salvo por dois rapazes conversando na saleta comunal. O prédio se estendia por mais três andares – cada um com os dormitórios dos rapazes de cada ano do ensino médio – e era expressamente proibida a entrada de qualquer garota.

― Alice!

Em teoria.

Os braços de Frankie puxaram a loira e a abraçaram apertado, mas dessa vez Alice não se esquivou. Frankie fez um barulhinho de deleite e alívio por encontrar a amiga de novo e a afastou em seguida para poder fitá-la. Seus cabelos pretos em um corte moderno estavam amarrados por uma faixa azul, o que foi a primeira coisa que Alice reparou. A segunda foram as sardas que cobriam seu rosto ainda mais destacadas do que ela se lembrava.

― Tentei te ligar que nem louca desde que voltei de Paris. Por que você não atende essa droga de telefone, sua biscate? – bronqueou.

― O que você está fazendo aqui no alojamento dos meninos? – Alice quis saber, achando a situação estranha.

A menina morena estufou o peito e uma expressão vitoriosa surgiu em seu rosto sardento.

― Olha, eu acho que você vai descobrir isso em breve.

Alice assentiu, mas sua mente ainda estava longe dali, e a tensão era visível em seu semblante mesmo se você não a conhecesse muito bem – o que não era o caso de Frankie. A garota morena mordeu o lábio inferior, sem saber se devia ou não perguntar sobre o elefante cor de rosa no meio da sala que era tão óbvio, mas, ao mesmo tempo, todos evitavam.

É claro que, como grande amiga de Alice, Frankie não podia simplesmente ignorar o que acontecera antes das férias de inverno. Ela mesma havia sido afetada diretamente e ela mesma também perdera alguém, mas era inegável que fora Alice a pessoa mais atingida e justamente quem não estava falando agora.

Frankie odiava ter que ir visitar a mãe na França todas as férias de julho (um grande problema, de fato) e odiou ainda mais ter que deixar Alice sozinha no Rio em um momento tão delicado. Por três semanas tentou entrar em contato com a amiga, sendo totalmente ignorada de todos os jeitos possíveis. Mas Franccesca Boaventura não era o tipo de pessoa que desistia facilmente de nada.

Isso as duas tinham em comum.

― Quem mais já chegou? – Alice perguntou.

Frankie piscou seus olhos cor de mel, pensando antes de responder. Ela não sabia o que esperar de Alice naquele momento, mas era a ela a quem devia lealdade.

― A pergunta que você quer fazer é outra – disse, provocando um brilho fugaz no olhar glacial de uma das suas melhores amigas. Franccesca sempre foi boa em provocar os outros; talvez essa fosse a sua maior qualidade e também o seu pior defeito. – Oui – completou em sua segunda língua. – A resposta é sim.

Alice sentiu o coração tamborilar e passou pela francesa sem dizer mais nada. Saiu escada acima do prédio com sua mala até o terceiro e último andar, guiada pela revolta que vinha crescendo dentro do seu peito e incendiando as suas veias há três semanas. Ela não sabia se estava preparada para encarar a pessoa que estava prestes a ver, não sabia como reagiria quando olhasse para ele depois de tanto tempo. Parou em frente ao seu quarto, num momento vacilante em que lembranças dolorosas e inquietantes que o envolviam tomavam conta da sua mente.

Ela balançou a cabeça, afastando-as para longe. Havia coisas mais importantes a serem resolvidas no momento do que seus sentimentos.

Ela abriu a porta do quarto sem nenhuma cerimônia e entrou no aposento com a graça e a confiança de uma rainha.

O único rapaz do quarto se virou para ela e, quando seus olhos se encontraram, Alice von Muhlen se sentiu fraquejar pela primeira em vez em muito tempo. Era uma sensação estranha nos seus joelhos, como se ela precisasse se sentar imediatamente, pois não havia mais estabilidade. Havia apenas o vazio onde ela se encontrava, caindo sem nenhum lugar aonde se agarrar, sendo consumida pela espiral de ressentimentos que a devorava pouco a pouco.

Os olhos castanho-esverdeados do rapaz penetraram nela como uma faca e, ao mesmo tempo em que foi doloroso e devastador, ao mesmo tempo em que a fez se sentir horrivelmente vulnerável, a impulsionou para frente com ainda mais determinação.

Ela apertou as mãos em punho e respirou fundo para controlar as batidas desenfreadas do seu coração. Nos seus ouvidos, as palavras de aprovação da sua avó sussurravam.

Então ela disse:

― Bom dia, Sebastian.Eu vim saber o que foi que aconteceu com a Clarice e não sairei daqui até quevocê me conte tudo.    


Olha o milagre de páscoa acontecendo AO VIVO E NA ÍNTEGRA, folks! O capítulo de BH finalmente saiu hahahaha *glorificando de pé* Tudo bem que ele não é 100% inédito pq eu já tinha postado antes, mas modifiquei várias coisas pra deixar ele 10/10 então espero que todo mundo tenha lido esse lindo.

Bom. It's here!!! O Blasphemous abriu suas portas de novo e Alice já chegou causando do jeito que só ela sabe. Já vou adiantando que esse livro passeia pelo universo de quase todos os meus outros livros (o Bash é primo da galera de Platônico, Duque é descendente da realeza do país de Terceiro Tempo, o Holden é primo do Luke de La La Land etc) então qualquer semelhança não é mera coincidência hahaha

Espero que vocês tenham gostado do meu querido e ilustre autor, que já começou colocando suas garrinhas pra fora. A música do capítulo é Castle - Halsey. Tenham um bom fim de semana de páscoa <3

Beijos e queijos, câmbio desligo.

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