A Fran não desistiu enquanto não me levou ao salão e assim que entramos um amigo dela veio nos atender, cheio de atenções. 
-Bi, o que você acha que pode fazer pra aumentar a autoestima da minha irmã? - Minha irmã disse.
-Menina! Sua irmã é um espetáculo com esse corpo. Um bom corte e talvez uma pintura iria dar um toque a mais.
Ele virou para mim e disse:
- O que você  acha, gata?
Pensei por alguns instantes.
-Que tal loiro? - Perguntei.
- Algumas mechas ficariam um show!
-Não. Eu estou falando no cabelo todo.
Minha irmã arregalou o olho, espantada, e o Bi bateu palminhas animadas.
- Eu gosto é dessas! Você vai ficar linda.
- Tem certeza, Gio? Vai ser uma mudança bem radical. - Fran perguntou, receosa.
- Eu tenho, Fran. Quero mudar e talvez isso me ajude a me reconhecer melhor. - Minha irmã me abraçou antes de se virar para Bi.
- Cuida da minha irmã tá? Volto daqui a pouco.
- Pode deixar que vou cuidar direitinho.
Assim que minha irmã saiu, Bi começou sua mágica. Nem vi o tempo passar. Nós conversamos por horas, sobre tudo. Ele me contou a vida toda dele me fazendo dar altas gargalhadas. E também não me deixou olhar no espelho até o final.
Quando ele ia me virar para que eu visse o resultado, minha irmã entrou no salão e me olhou, os olhos arregalados de surpresa.
- Bi do céu. O que você fez com minha irmã?
Passei a mão pelo cabelo um pouco mais curto, sentindo um nervosismo repentino.
- Ficou ruim?
Minha irmã me encarou, com os olhos brilhando de admiração, antes de responder.
- Você está maravilhosa!
Bi bateu palmas e finalmente me virou para o espelho.

Não era eu! Não podia ser. Eu estava... diferente. Meu cabelo estava no ombro, em um corte despojado e loiro. Na ponta tinha alguns cachos, me fazendo parece mais madura. Muito diferente da garota inocente que entrou no salão!

Algumas lágrimas caíram no meu rosto, me mostrando que eu era mais, que eu tinha que me amar mais! De repente, Bi apareceu do meu lado preocupado de eu não ter gostado e eu o abracei, e chorei muito. Me prometendo que essas seriam as últimas lágrimas que derramaria por qualquer pessoa. Eu dei um beijo no rosto dele, sentindo-me agradecida.
- Eu amei, Bi! Realmente suas mãos são mágicas.
Ele ficou todo feliz e  emocionado. Prometemos que marcaríamos de sair junto juntos e foi assim que me descobri mais forte e corajosa com a vida. .

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Lógico que foi estranho chegar em casa e ver todos me encarando, achando que eu tinha enlouquecido. E os comentários renderam muita risos. Meu pai não esboçou nenhuma opinião e esses dias tem estado bem estranho. Mas eu iria respeitar o espaço dele.

A semana passou voando com os preparativos do casamento. Eu trabalhava na parte da manhã e à tarde as mulheres da família se reuniam para resolver os últimos preparativos. Quando estava acabando de fazer anotações da colheita, meu pai me chamou e fui caminhando até onde ele estava. Reparei que estava conversando com um homem, muito bonito por sinal. Assim que me aproximei meu pai apresentou.
- Giovanna, esse é o James.
Nos cumprimentamos e meu pai continuou.
- Ele é um dos nossos clientes e da última vez ele comprou uma garrafa do vinho que você produziu.
O homem com traços bonitos me olhou com um sorriso no rosto.
- Sou responsável por uma linhagem de produção e exportação de vinhos da região e tivemos muitas encomendas do vinho que você produziu.
Nessa hora eu fiquei sem palavras. Ele estava falando do vinho que produzi mesmo? Daquele que eu  coloquei tudo o que eu estava sentindo por aquele homem que me tratou como uma qualquer? Será mesmo? Consegui formular uma frase depois de um tempo.
-Eu... Bom... Fico feliz...
- Minha bambina, você não está entendendo a proporção disso. - Meu pai disse.
James o interrompeu.
- Como eu disse eu sou um especialista em vinhos, sou enólogo e nunca em todo esse tempo experimentei tal sabor. Tive curiosidade e pedi outras garrafas de vinhos produzidos por você, que como seu pai me explicou são safras especiais. Cada sabor daquele demonstra um sentimento diferente e então vim aqui na intenção de convencê-la a trabalhar com a nossa firma como enóloga.
E foi aí que quase dei um ataque cardíaco!
- Mas eu não tenho estudo na área e... - Comecei.
- Não se preocupe, se você aceitar, começará o curso e poderá praticar. Com esse seu dom me atrevo a dizer que será uma das melhores! Mas precisa de técnica. - Ele me interrompeu.
- Mas senhor....
- James, por favor.
- James. Se eu entendi bem esse trabalho não seria aqui na Itália.
- Não. Você teria que se mudar um tempo para Londres, para cursar uma faculdade e depois de um tempo, podemos pensar em encaminhá-la para nossa sede aqui na Itália.
Olhei para o meu pai por alguns segundos, antes de responder o tal James.
- Posso pensar um pouco?
- Claro! Irei embora daqui dois dias e vou esperar sua resposta. Pode ser?
- Pode.
Nos despedimos e segui para a o escritório do meu pai. Precisávamos conversar. Assim que ele entrou, fechou a porta e respirou fundo para me encarar. Estava tão ansiosa que comecei a conversa.
- Pai. Por que trouxe esse homem aqui?
- Porque ele reconheceu seu dom.
- Pai...
Ele me interrompeu. Se aproximou de mim e segurou minha mão.
- Eu construí essa vinícola com muito trabalho e com ele veio sua mãe e depois cada um de vocês. Quando eu vi que eu tinha uma família eu queria proteger vocês de tudo e sempre os mantive por perto. Todos aceitaram isso, menos a minha menina. Quando você tinha quatro anos, eu costumava falar com sua mãe que de todos seus irmãos você era a mais parecida comigo. Você me encarava de frente desde pequenina. Defendia seus ideais como gente grande e aquilo me apavorava porque uma hora você iria crescer e esse dia iria chegar.
- Pai....
- Minha menina corajosa. Você cresceu no meio desse vinhedo, correndo por entre as árvores e sempre me perguntando sobre tudo. Você tem um dom especial, sempre teve. Eu poderia te pedir para ficar, mas seria o mesmo que engaiolar um pássaro. Você precisa voar e aprender  coisas novas e sua família sempre estará aqui para te proteger de tudo e todos. Mas você tem suas batalhas e tem que vencer uma por uma. Saiba que seu pai sempre estará aqui, no entanto, Giovanna. Pronto para te acolher.
No final das contas estávamos os dois abraçados e chorando. Meu pai e meu herói!