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Nossa rotina

Acordei com um cheiro de queimado no ar e me levantei depressa. Eu estava na casa do Henri, com meu vestido de festa e eu nem imagino como deve estar meu estado nesse momento. Me levanto com dificuldade e vou na direção da fumaça. A origem do cheiro é na cozinha e encontro o Henri xingando algo que eu não entendi muito bem e colocando uma frigideira queimada na pia. Resolvi aparecer e só então reparei que o descarado estava somente com um moletom e sem nenhuma blusa. E mais uma vez me peguei pensando porque ele tinha que ser tão bonito. Eu chamei sua atenção e disse:
- Você está querendo matar nos dois aqui?
Ele me encarou e disse frustrado:
- Só queria fazer algo para o café, mas acabei de constatar que sou um desastre na cozinha.
Aquilo me bateu com força. Ele estava preparando o café? Não importava que não tinha dado certo, mas sim que ele estava tentando e que o que ele me disse talvez não fosse uma mera  brincadeira. Voltei do meu devaneio e disse:
- Vou te dar uma lista de coisas para comprar e enquanto você vai no supermercado eu vou tomar um banho e depois faço café, pode ser? Ou você vai chegar atrasado no serviço?
- Giovanna, hoje é domingo e eu sou um simples mortal que precisa descansar de vez em quando.
Ri do seu comentário e perguntei onde era o banheiro. Ele me indicou e pegou a lista das coisas para comprar.
Aproveitei para tomar um banho bem quente na intenção de pensar no que estava acontecendo e no final cheguei a conclusão de que não queria pensar em nada. Dessa vez deixaria acontecer e se no final não desse certo eu me virava como sempre. Sai do banho e fui até o seu closet.  Enorme por sinal. Peguei uma blusa social, vesti ela que mais parecia um vestido em mim e amarrei o cabelo em um coque.
Assim que desci os ingredientes já estavam no balcão e nenhum sinal do Henri. Comecei a arrumar o café, quando dei de cara com ele com os braços cruzados me observando. Aproveitei para dizer:
- O que você está olhando?
- Até que você ficou bem com minha roupa.
- Eu acho que eu fico linda de qualquer jeito.
- Convencida.
- Pode parar de enrolação e vá arrumar a mesa.
Ele saiu de perto de mim resmungando algo. Quando levei as panquecas para a mesa, peguei um copo e coloquei um pouco de suco de laranja. Esperei ele experimentar e perguntei:
- E aí? Estou aprovada?
- Nossa! Isso está incrível.
- Receita de família.
Nós rimos e começamos a conversar amenidades. Quando eu resolvi lembrá-lo :
- Temos que ir ao hospital.
- Verdade. Acho que antes poderíamos passar em alguma loja e comprar algum presente.
Parei de beber meu suco e o encarei, ele fez o mesmo e disse :
- O que foi?
- Nada. Eu não disse nada.
- Mas fez essa expressão de espanto.
- Agora você faz leitura facial?
- Sou bom em muitas  coisas, Giovanna.
Houve um minuto de silêncio e quando menos eu esperava, lá estava nós, nos atracando. Não sabia se era saudade ou vontade, mas estávamos em um ritmo acelerado e no final das contas eu me encontrava deitada em sua cama aconchegada em seus braços. Ele acariciava minhas costas e disse:
- Estava com saudade de nós dois.
Eu o encarei e tomei a rédea da situação. Sentei no seu colo e disse:
- Acho que ainda tenho muita saudade. 
No final das contas estávamos os dois suados e ofegantes com tanta saudade. Se é que me entendem. Mas ainda tinha uma visita pra fazer e eu estava doida pra conhecer o anjinho Miguel. Tomamos um outro banho e assim que eu ia vestir a blusa dele novamente ele disse:
- Você não está pensando em sair assim, não né?
Resolvi provocar um pouco e disse:
- Sim. Qual o problema? Já parece um vestido em mim mesmo.
- Capaz que eu vou deixar uma coisa dessa acontecer.
Me aproximei dele e disse:
- Está com ciúmes da minha roupa?
Ele beijou a ponta do meu nariz e disse:
- Não. Estou com ciúmes de um monte de abestado que vai olhar pra você. Agora se você quiser ir para sua casa trate de tirar essa roupa e vestir algo que tampe essas pernas.
Sai de perto dele e vesti minha roupa de festa da noite anterior.
Saímos de lá e passamos no hotel onde eu estava estabelecida e aproveitei para vestir algo leve. Optei por um short e uma blusa de seda. Calcei uma sapatilha e fui em direção ao carro, o Henri estava conversando algo no telefone e assim que me viu abriu um sorriso e disse:
- Ainda esta mostrando as pernas.
Dei um tapa nele que me abraçou e disse:
- Está linda. Sempre linda.

Passamos em uma loja e eu fiquei indecisa no que comprar, quando vi o Henri com um urso enorme na mão e decidimos que era algo que com certeza o Miguel ainda não tinha. Brigamos para dividir o dinheiro e depois de muita insistência deixei ele pagar sozinho. Ao chegar no hospital, nos indicaram o quarto e assim que entramos, lá estava a Helena com o neném mais lindo no braço. Ficamos horas conversando até o Henri conseguir autorização para trazer o urso. Eles adoraram o presente e fiquei lá observando aquele serzinho minúsculo nos braços da mãe. Ela me disse para pegá-lo e fiz sem reclamar. Que coisa mais fofa era ele. O Henri se aproximou e ele agarrou o dedo do Henri. Esse fez alguma brincadeira e todos rimos e foi assim durante a visita. Só descontração. Saímos de lá tarde e assim que o Henri me deixou em casa eu percebi que talvez aquilo fosse um sonho e eu não queria acordar.

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