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Coisas do coração

Essa era um sensação inexplicável, e nenhuma palavra poderia traduzir o que eu senti. Acariciar a barriga de Giovanna e ver meu filho mexendo foi algo inexplicável, mas perceber Giovanna emocionada fez meu coração apertar. Ela estava ainda, mais linda grávida e seus olhos brilhavam ao falar do filho. E por isso ficamos um tempo nos encarando, sem dizer nenhuma palavra, apenas apreciando o momento.

Até ela enxugar as lágrimas, se desvencilhar das minhas mãos e afastar.
- Ok. Agora que você já está sabendo de tudo, já sentiu o bebê. Pode ir. - Me dispensou.
- Como é? Você acha que agora que descobri que vou ser pai eu vou embora assim? - Não escondi minha indignação.
- Henri, tudo que eu tiver que tratar com você sobre essa criança será por mensagens ou ligação. Não é porque estou grávida que mudará algo entre nós.
- Giovanna...
-Essa é a minha condição e com o tempo vamos acertando as coisas. Mas no mais é só isso mesmo.
Respirei fundo, me recompondo porque eu já sabia que seria difícil. Visto que a Giovanna não confia em mim e isso iria demorar um tempo para acontecer.
Sai da casa dela com um misto de sentimentos e nada me perturbava mais do que ter que ficar longe deles. Fui para a empresa na tentativa de trabalhar, mas nada me fazia concentrar na papelada que eu tinha que ler. Por isso peguei meu celular e liguei para a Giovanna. Ela não me atendeu logo de cara. Disquei três vezes e quando eu já estava desistindo ela atendeu.
- Alô?
- Giovanna, é o Henri. Eu estou ligando para saber como vocês estão.
- Ãn... Estamos bem. E Henri, faz menos de duas horas que você nos viu.
- Eu sei, mas...
- Henri, pode ficar tranquilo qualquer coisa eu te aviso. Agora tenho que voltar a trabalhar.
- Você está trabalhando?
- Lógico.
- Você está grávida, Giovanna!
- Estou grávida e não inválida.
- O James...
- Não, Henri. Se dependesse do James eu estava em casa, mas eu não quis.
- Você ao menos está se alimentando direito?
- Sim. Não precisa se preocupar, está tudo ótimo. Mas agora realmente tenho que ir.
E desligou. Que mulher teimosa. E linda. Balancei minha cabeça para tirar esses pensamentos, já que a Giovanna foi bem clara sobre nós. Se é que ainda tem um "nós". Encostei na cadeira exausto e pensando onde é que eu estava que deixei as coisas irem para esse rumo. Sai dos meus devaneios quando meu celular tocou. Era meu tio falando sobre a festa da empresa que ele foi convocado para receber um prêmio e que todos da família estariam. Eu também deveria estar presente, foi o que ele me disse.

Passei a mão pelo meu rosto nervoso. Droga! Tinha esquecido completamente desse evento. Estava tão preocupado com toda essas descobertas que nem me lembrei dessa premiação. Despeço dele, e pouso o aparelho na mesa, pensando no que fazer.
De repente meu celular toca novamente. O nome de Giovanna aparece na tela. Quando vi que era ela atendi o telefone apreensivo.
- HENRI! Preciso da sua ajuda.
Levantei já preocupado.
- O que foi???
- Eu estava tentando pegar uma pasta no arquivo e cai. Agora não consigo me levantar e já tentei ligar pra todo mundo e não consigo falar com ninguém.
Eu não sabia se eu ria ou morria de preocupação. Acalmei ela pelo telefone e peguei a chave do carro, dirigindo o mais rápido possível para o galpão. Já era horário de almoço e realmente tinha poucas pessoas trabalhando. Por isso abri a porta da sala de Giovanna e não encontrei ninguém. Aproveitei para perguntar um funcionário se ali tinha algum lugar onde ficavam os arquivos e ele me indicou a sala. Assim que entrei, me deparei com a seguinte cena: Giovanna caída no meio de um tanto de caixas e armário. Me deu uma vontade enorme de rir mas me controlei, porque isso só iria piorar meu lado.
- O que aconteceu aqui?
- Tentei pegar um arquivo e me desequilibrei. Agora dá pra me tirar daqui?
Tirei algumas caixas da minha frente e a ajudei a se sentar no chão.
- Você tem noção do quanto essa barriga pesa? Um dia desses eu não consegui ver o meu próprio pé. Isso é frustrante!
Eu ri e disse:
- Você continua linda.
Houve um momento de silêncio, e ela desviou o olhar, envergonhada.
- Obrigada, Henri. Não queria te incomodar, mas realmente ninguém me atendeu.
Sentei do seu lado.
- Você não tem que me agradecer e quando for assim prefiro que me ligue porque eu realmente não me importo e é meu filho também.
Houve mais um momento de silêncio, ambos sem saber o que dizer.
- Você já almoçou? - Questionei.
- Hum... Ainda não, estava caída aqui esperando ajuda. E no momento estou com preguiça de levantar.
- Já sei. Vou pedir uma comida italiana pra gente, aí você nem vai precisar sair daqui.
Ela riu e nossa! Que saudade dessa risada. Liguei para o restaurante, fiz os pedidos e depois que desliguei, percebi que ela estava lendo um artigo.
- O que você tanto procurava? - Perguntei, genuinamente curioso, depois de um tempo de silêncio.
- Precisava rever uma receita de um vinho.
- Por que?
- Bom. Fui questionada de onde eu tirei inspiração para os meus vinhos e não soube dar uma resposta concreta. Então pensei que se talvez eu lesse um pouco sobre minhas criações ajudaria.
- Entendi. E descobriu algo?
- Ainda não...
Estávamos distraídos quando um homem bateu na porta. Era o entregador com a comida. Assim que paguei, voltei a me sentar ao lado dela. Ela pegou o dela e começamos a comer em silêncio.
- Amanhã eu tenho que ir a um jantar de premiação e queria saber se você gostaria de ir comigo. - Quebrei o silêncio.
- Henri...
- Olha, Giovanna. Eu sei que fiz besteira e te garanto que eu nem me lembro de nada. Só de estar bebendo com raiva de mim. Sei que isso não justifica o que eu fiz, mas eu queria uma chance de talvez recomeçar.
- Henri, eu...Que tal isso? Eu vou com você nessa festa sem nenhuma pressão e nos divertimos. Pode ser?
- Claro! Sem pressão. - Voltamos a comer. - Minha família vai estar lá.
Ela parou de comer e me olhou espantada.
- O que?
- Meu tio vai receber um prêmio e pediu a presença de todos.
- E só para eu saber. Como você pretende me apresentar?
- Ãn... Eu não pensei nisso. Mas que tal a mãe do meu filho?
Ela olhou para a comida, depois para mim.
-Acho que pode ser. - Deu de ombros.
-Ótimo. Te pego amanhã às nove.
Terminamos de comer e eu a ajudei a levantar. Nos despedimos e assim que entrei no carro percebi que estava sorrindo, afinal eu tinha uma chance de reconquistá-la e não ia perder essa chance.

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