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A conversa

Assim que ele saiu do meu apartamento eu fechei a porta e fui escorregando na parede. Já fazia tempo que eu não o via e agora com ele perto de mim eu sentia meu corpo todo queimando. E por quê? Eu devia odiá-lo e apesar de toda decepção que nossa história foi para mim, eu não conseguia controlar minhas emoções. É tudo culpa da gravidez! Só pode ser os hormônios.
Nesses últimos meses minha família estava revezando para ficar comigo e estava sendo tão bom ter eles por perto. Meus pais estavam todos babões com a chegada de mais um neto e por mais indagações em relação ao pai surgiam, eu insistia em não dizer quem era. Já Helena e James vinham me visitar com frequência e estavam sempre presentes.

A minha próxima ultrassom já era daqui uma semana e era quando finalmente eu saberia se seria um menino ou uma menina. Eu ainda não sabia o porquê, mas toda vez que marcava o exame ele se tampava e não dava pra ver. Neném mais esperto. Esses meses passei muito mal, mas a primeira vez que a ele ou ela se mexeu, eu chorei litros. Cada dia era uma emoção diferente e não vou falar que foi fácil porque não foi.

Eu não abandonei o trabalho apesar da insistência do meu chefe. Recebi alguns prêmios e já estava pensando em voltar para a Itália, só estava esperando meu filho ou filha nascer.

Agora eu continuava pensando em tudo que aconteceu em alguns instantes porque eu sabia que uma hora ele iria saber a verdade. E tinha certeza que ele iria voltar querendo saber respostas. E eu? Não sabia o que iria fazer. Ainda mais quando percebi que ainda era afetada por ele. Mas não iria me render novamente, porque agora eu só queria saber de criar esse bebê e amá-lo incondicionalmente.
Me levantei e fui terminar de me arrumar. Guardei as roupinhas que eu tinha comprado e aproveitei para por os pés para cima e ligar o ventilador porque nunca senti tanto calor como ultimamente. Acredito que por isso eu acabei adormecendo e só acordei com o telefone tocando. Atendi ainda sonolenta e era a Helena me dizendo que eu estava atrasada para nosso encontro. O filhinho dela iria fazer um aninho e combinamos de olhar os itens para a festa. Levantei ainda sonolenta e tomei um banho refrescante. Me arrumei o mais rápido que consegui e quando eu ia sair, a campainha começou a tocar. 

Como eu estava esperando a Helena, abri a porta de uma vez, só para me deparar com um Henri nervoso, passando a mão pelo  cabelo e com a roupa toda amassada. Ele me encarou um momento e já foi entrando no apartamento. 
- O que... - Eu comecei a protestar.
Ele me interrompeu antes que eu pudesse completar a frase.
- Giovanna. Sei que tem todos os motivos para me odiar mas eu preciso saber a verdade.
- Henri...Eu já disse. - Respondi, sentindo raiva da invasão dele.
- Droga, Giovanna. Dá para deixar de ser teimosa só por esse momento. O assunto aqui é sério. É uma criança e se eu for o pai eu preciso saber. É meu direito. - Ele aponta para si mesmo.
- Era meu direito a sua lealdade! E o que você fez? Foi para a cama com outra mulher, na primeira oportunidade. Essa criança não merece um pai igual a você! Traiu minha confiança e não vai fazer isso com meu filho.
Eu o vi empalidecer e processar as minhas palavras.
- Então eu sou o pai!
- Você quer saber? É sim! E é, Infelizmente. Porque se eu pudesse escolher, você seria o último homem para ser o pai do meu filho.
Ele me olhou com raiva e passou as mãos pelos cabelos, nervoso.
- Por que não me disse antes, Giovanna?
- Você está perguntando isso mesmo?
- Isso não é sobre eu e você, Giovanna! - O tom de voz se eleva um pouco, e ele gesticula no ar. - É sobre uma criança e só de pensar que se eu não tivesse te visto talvez eu não soubesse a existência do meu próprio filho... 
- E quem ia me garantir que você não seria o mesmo bastardo com meu filho?
- Nosso, Giovanna! Nosso filho. Eu não me importo se me odeia porque eu já faço isso toda droga de dia, mas é meu filho ainda e eu já perdi muito.
Passei a mão pelo meu cabelo já nervosa com toda a situação.
- Henri, eu estou atrasada para um compromisso e realmente preciso ir.
- NÃO! Dessa vez você não vai fugir de mim, Giovanna.
Meu telefone começou a tocar e eu mostrei a ele em sinal o nome na tela.
- Viu? Helena está me esperando.
Ele pegou o telefone da minha mão e atendeu.
- Oi, Helena. Aqui é o Henri. Sinto muito, mas a Giovanna e eu temos muito o que conversar, por isso ela não vai poder ir ao seu encontro. - E desligou o telefone. 

Filho da... Ele simplesmente desligou o telefone. Assim que eu ia discutir, ele interrompe.
- Nem adianta, Giovanna. Você vai sentar naquela cadeira e me contar tudo sobre meu filho e quando eu falo isso eu estou dizendo tudo o que eu preciso saber.
Foi minha vez de bater na mesa.
- Desde quando você manda em mim, Henri?
- Desde do dia que eu soube que eu vou ser pai.
Ele balançou a cabeça meio que aderindo a ideia, me fazendo sentar na cadeira contra a minha vontade. Henri sentou do outro lado, cruzou as mãos e se virou para mim.
- Quando você descobriu que estava grávida?
- Há uns seis meses.
- Isso eu sei, Giovanna. Quero dizer como foi?
- Assustador. Confuso. Extasiante. Nunca fui mãe e quando caiu a ficha de que realmente tinha um serzinho aqui dentro foi o dia mais louco e mais feliz da minha vida.
Inconscientemente passei a mão pela barriga, para mostrar ao meu bebê o quanto eu o amava. Quando voltei a encarar Henri, ele estava com uma expressão de admiração e seus olhos brilhavam.
- É menino ou menina?
Suspirei fundo, sentindo um cansaço.
- Não sei. Em todas as ultrassons o bebê juntou as perninhas.
- Esperto...
- É...
Assim que passei a mão novamente sobre a barriga o neném chutou e eu vi Henri endurecer o corpo. Ele olhou assustado, apontando para a barriga.
- Isso...
- Sim. Agora está nessa farra. Chuta a mamãe, escolhe a posição para dormir e escolhe o que quer comer. - Respondo, conversando mais com o bebê do que com ele de fato.
Henri me encara por alguns instantes, olhando para a barriga em seguida, e ergueu os braços, um tanto trêmulos.
- Será que eu posso...
Olhei relutante para ele. Não sei o que isso tudo significava. Mas eu sei também que eu não posso privar ele por muito mais tempo, agora que ele sabe a verdade. Suspirando, cedi em um movimento com a cabeça. Ele se aproximou e colocou a mão na minha barriga, conversando com ela.
- Oi, bebê. Eu sou o papai... - A voz dele saiu embargada.
O bebê chutou novamente, no instante que Henri fechou a boca. Traidor.
Henri estava tão fascinado que continuou.
-Eu sei que demorei pra te... Conhecer mas estou aqui tá?
De repente eu comecei a chorar e o Henri me deu um sorriso terno, realçando ainda mais seus traços perfeitos. Droga de hormônios e droga maior ainda esse homem continuar essa perfeição. Ele podia ter ficado careca e ogro. Mas não. Estava ainda mais lindo.

Hormônios, Gio. Hormônios.

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