Capítulo 30
Existe coisa melhor que uma manhã preguiçosa de domingo nos braços de um homem sexy depois de uma troca deliciosa de orgasmos?
Existiam coisas comparáveis. Escutar a risada das filhas, almoço de domingo em família, ou um pedaço de bolo de chocolate com sorvete de creme, pelo menos na época em que a Bia ainda tinha apetite para aquelas gordices.
A última vez que ela teve um domingo parecido foi... no dia em que o Lourenço foi preso.
Não.
Não podia ser.
Verdade que filhos restringem muito a espontaneidade e a liberdade do casal, e ela e o Diego começaram a vida de casados com uma criança pequena em casa, mas eles não tinham levado a Alícia na lua de mel, claro. Nas duas semanas que passaram no Caribe, com certeza, devem ter tido várias manhãs preguiçosas na cama. Engraçado como a Bia não se lembrava de nenhuma especificamente. Nem na lua de mel, nem depois. Não em tantos detalhes como sua última manhã com o Lourenço, mas também, grandes traumas tinham uma maneira toda especial de ficarem gravados a ferro e a fogo na cabeça da pessoa.
Se ajeitando no peito do Lourenço, e sendo apertada contra ele de volta, a Bia afastou as lembranças desagradáveis. Sua manhã de domingo, que estava indo tão bem, não ia ser estragada, nem pelos seus pensamentos, nem por nada.
A campainha, ou no caso, o interfone, não ia tocar. A polícia não ia invadir a sua casa. O Lourenço não seria arrancado à força da sua vida. Eles tinham a manhã toda e nenhum motivo para não ficarem juntos, ali mesmo, naquela cama.
A Bia deslizou a mão pelo peito e barriga do Lourenço. Só porque ele estava ali. Só porque ela podia.
— Se você tá querendo mais, vai ter que esperar. — A voz dele saiu mole e arrastada. — Eu também não tenho mais vinte e três anos.
— Ah... — A Bia suspirou com exagero. — Ser jovem e não precisar se preocupar com bobagens como vigor e potência.
— Me dá quinze minutos que eu te mostro o meu vigor e a minha potência. — Ele deu um beliscão de leve na cintura dela, que se retorceu rindo. — Aliás, eu vou precisar mais do que quinze minutos. Eu tenho que dar uma saída.
O Lourenço levantou os braços, se espreguiçando.
— Pra ir onde? — A pergunta pulou da sua boca, sem querer, e foi recebida com uma ruga se formando entre as sobrancelhas grossas. Na mesma hora, ela percebeu seu erro. — Desculpa. Claro que você não tem que me dar satisfação.
Ela sentou e jogou as pernas fora da cama. Ela já devia ter se acostumado a não ter nada, nem uma simples manhã de domingo, indo do jeito que ela gostaria.
— Bia... — O Lourenço tentou segurá-la, mas ela conseguiu se desvencilhar.
— Não tem problema, Lourenço. Eu tenho umas roupas sujas pra colocar na máquina de lavar.
Onde a porcaria do seu short tinha ido parar? Ela o avistou do outro lado do quarto e levantou, mas antes que pudesse dar um passo, o Lourenço a puxou pela cintura e os dois caíram juntos na cama, sua cabeça se chocando com a dele.
— Ai! — ela gritou junto do 'merda!' que ele soltou.
Ela se virou e o encontrou com a mão no nariz e sua irritação evaporou.
— Deixa eu ver. — Ela tentou afastar a mão que ele segurava na frente do rosto. — Tá sangrando?
— Não foi nada. — Ele massageou o nariz e olhou a própria mão. — Não tá sangrando. Sua cabeça é dura, mas nem tanto.
— Você tá me chamando de cabeça dura? — Já que estava tudo bem, ela tentou se levantar de novo, mas o Lourenço a virou e se deitou por cima dela, segurando suas mãos contra o colchão.
— Me escuta!
— Eu tenho outra escolha? — Ela tentou usar o tom de voz e o olhar para mostrar a sua irritação, únicas armas que ela tinha, com ele daquele jeito em cima dela, grudado dos pés aos ombros e sem roupa e...
Foco, Bia, foco!
— Eu não me lembrava de você ser tão marrentinha.
— E eu não me lembrava de você ser tão mandão.
— Sério? Eu não ouvi nenhuma reclamação na hora que eu...
— Lourenço!
— Tudo bem! Me escuta? Eu preciso ir na farmácia.
— Farmácia? Você tá passando mal? — A preocupação da Bia voltou e ela tentou soltar sua mão. — É febre? Você tá muito quente mesmo.
— Biatriz... — Ele sorriu torto e correu a ponta do nariz pelo rosto dela. — Eu não tô quente, eu sou quente.
Ela rolou os olhos, e foi impossível não sorrir. Impossível ficar mais de um segundo irritada com aquele homem.
— O que você precisa da farmácia? Às vezes, eu tenho aqui.
— Camisinha? — ele perguntou e a surpresa da Bia fez que a única resposta que ela fosse capaz de dar fosse uma leve negativa com a cabeça. — Foi o que eu achei. E antes de você me perguntar porque eu não ando com uma camisinha na carteira, a resposta é que eu sempre ando com uma... tá certo! Três camisinhas na carteira, mas eu achei que se eu deixasse elas em casa, ia ser mais fácil evitar isso aqui de acontecer. Péssima ideia, eu concordo. E motivo de eu não querer confessar a minha mancada, mas pode me xingar.
— Você não queria que isso acontecesse? — ela não conseguiu evitar a vulnerabilidade de escapar pela voz fraca e baixa.
— Eu te disse, eu vim disposto a ser só o amigo que você precisava que eu fosse. Mas, como eu também te disse, planos precisam ser flexíveis e eu estava cansado de ficar de pau duro cada vez que você olhava pra mim.
Um calafrio passou pelo corpo da Bia com aquela maneira franca e direta de falar.
— Você gosta, não é? — o Lourenço perguntou, com uma pontinha de incerteza no olhar. — Quando eu falo assim com você? Ou puxo o seu cabelo e te seguro com força?
— Eu adoro. — A Bia afastou as dúvidas dele com um beijo que esquentou todas as partes certas do seu corpo novamente. — E eu achei que você não tinha mais vinte três anos? Ou já passou meia hora? — Ela se remexeu contra a ereção evidente apertada no seu quadril.
— Talvez, o problema não seja a minha idade. Talvez, o problema é que não era você na cama comigo — ele resmungou, como se a admissão fosse mais para ele que para ela, e a Bia preferiu se fixar no elogio que ele tentou lhe fazer e não na parte em que ele tinha outras mulheres na cama. — E então, onde é a farmácia mais perto? Ou uma loja de conveniência.
Ele soltou os braços dela e começou a se afastar, mas a Bia o enlaçou pelo pescoço.
— E se a gente não usasse camisinha? — ela propôs e o Lourenço se congelou, meio deitado meio levantado. — Eu sei! Eu sei que da última vez que eu te fiz essa proposta, eu fiquei grávida, mas eu tenho um DIU, não tem risco de acontecer de novo.
— Sem camisinha? — Ele não parecia convencido, mas relaxou o corpo e se deitou do lado dela, com um braço passado pela sua cintura.
— Isso. E depois que eu peguei o Diego com a Vivi, mesmo tendo muito tempo que... — Ela parou, incerta. Era estranho e desconfortável estar falando sobre sua vida sexual com o ex-marido na cama com o Lourenço, mas necessário. — Enfim, eu pensei que podia não ser a primeira vez que ele me traía, e eu fiz um exame de DST, que não deu nada. E pra um homem carregar três camisinhas na carteira, é sinal que ele é cuidadoso...
— Eu sou! — ele a interrompeu. — Muito cuidadoso. Eu só transei sem camisinha com uma mulher, na minha vida inteira.
— Quem foi a sortuda?
— A mesma que tá quase me fazendo gozar com uma conversa sobre usar ou não camisinha. — A voz saiu estrangulada, mas a decisão dele ficou clara quando ele voltou a se deitar por cima dela, se encaixando entre as pernas abertas. Ela estava tão molhada que ele se deslizou nela. — Quanto tempo?
Aquilo era delicioso demais e a pergunta demorou alguns segundos até penetrar no cérebro da Bia.
— Quanto tempo o quê?
— Não é a primeira vez que você insinua que você e o playboy ficaram muito tempo sem sexo. Quanto tempo?
— Meu Deus, Lourenço, você quer que eu pense em números agora? — A Bia mordeu o lábio quando ele aumentou a pressão do quadril, mas ele continuou a olhando com atenção esperando uma resposta. — Uns dois anos? Um pouco menos, talvez?
— Dois anos? Aquele babaca ignorou você na cama dele por dois anos?
— Não foi culpa dele. — Não era o caso de defender o Diego, mas ela precisava ser justa. — Eu estava passando por uma fase difícil, sexo era a última coisa na minha cabeça. E a gente pode conversar sobre isso numa outra hora?
— Tudo bem, não é problema meu. E eu não devia estar surpreso, a gente tá falando do babaca que conseguiu namorar você por seis meses sem te convencer a transar com ele.
Ele empurrou seus joelhos para trás, e voltou a se deslizar devagar, provocando, prolongando a tortura.
— Lourenço, por favor... por favor...
— O que você quer, minha linda? Me diz?
— Eu quero... — Ela arfou e fechou os olhos, porque ficava mais fácil falar. — Eu quero você dentro de mim... por favor...
— Tão impaciente. Eu já vou te dar o que você quer, mas primeiro me responde, como é que você se masturbava? — A pergunta do Lourenço fez a Bia abrir os olhos de novo. Ele não podia estar achando, de verdade, que ela ia responder. Mas ele estava. Ele a encarava com firmeza e seriedade e quando ela continuou calada, ele insistiu. — Você usava a mão ou você tem um vibrador? Porque se você tiver um vibrador, a gente pode brincar com ele e...
— Lourenço! — a Bia interrompeu a corrente de palavras que a fazia queimar de vergonha e desejo ao mesmo tempo. — Eu não tenho vibrador. Eu te disse, eu não pensava em sexo, eu não tinha vontade. Eu estava dormente. Adormecida. Sei lá.
Pelo menos, até dois dias antes quando tinha sonhado com ele, mas ela não ia admitir aquilo para ele, nem mortinha da silva.
Sua resposta fez o Lourenço parar tudo e olhá-la com a testa franzida.
— Você tá querendo dizer que não teve nenhum orgasmo em dois anos?
— Na verdade, um pouco mais. Tinha um tempo que eu não conseguia...
— Filho da puta incompetente! — Foi a vez do Lourenço interrompê-la. — Sério, Biatriz, não me deixa chegar perto desse playboy se você não quiser que eu quebre o nariz dele.
A Bia engoliu a repetição de que a culpa não era totalmente do Diego, por que quer saber? Talvez, fosse. E era tão bom ver a indignação do Lourenço por ela!
— Chega de conversa! — Ele inverteu a posição deles, colocando a Bia por cima, mas a segurando para que ela não sentasse onde ela queria muito sentar. — Por que você ainda tá de sutiã? — Ele nem esperou pela resposta e apontou o dedo para ela. — Tira. Agora!
Ela obedeceu. E antes mesmo de acabar de descer a alça pelos braços, o Lourenço agarrou a peça de roupa como se estivesse pegando fogo e jogou longe.
— Bem melhor — ele murmurou, envolvendo os dois seios nas mãos grandes e talentosas, massageando, dando atenção especial aos mamilos sensíveis.
A Bia arqueou o corpo para trás, se oferecendo para ele. Ele fazia exatamente do jeito que ela gostava, beliscando e puxando com força, mas sem machucar. Misturando dor e prazer na dose exata para ela até esquecer que tinha outra coisa que ela também queria muito.
— Humm — o Lourenço gemeu, satisfeito. — Você foi feita pra mim. Olha como você cabe direitinho na minha mão.
A Bia baixou os olhos para as mãos segurando seus seios encaixados com perfeição nas palmas curvadas, como se ali fosse mesmo o lugar deles, como se o seu corpo tivesse sido feito sob medida para ele. As palavras da noite anterior, ecoaram na sua cabeça.
Minha.
Seu.
Palavras que a Bia tinha recebido com tanta indignação, porque, claro, ninguém era dono de ninguém, mas quem sabe não fosse posse que o Lourenço quis expressar?
Talvez, um pouquinho. Domínio e poder eram características inerentes dele, difíceis de não se entrelaçarem em tudo o que ele fazia. Mas era possível que ele também quisesse dizer que eles tinham sido colocados naquele mundo, um para o outro.
E como duvidar, se depois de dez anos, eles ainda queimavam no mesmo fogo? Não. Por mais inacreditável que fosse, eles queimavam num fogo ainda mais quente.
— Sua... — a Bia sussurrou como uma promessa.
— Minha! — O Lourenço reagiu quase que com violência, levantando a parte superior do corpo com um braço passado pela cintura da Bia não deixando que ela caísse para trás e urrou. — Toda minha, porra!
As bocas se encontraram num beijo devastador, um querendo devorar o outro. O Lourenço puxou o elástico do seu rabo de cavalo e agarrou um monte de cabelos no punho fechado, segurando sua cabeça como ele queria, a Bia se grudando nele com as unhas cravadas nas costas. Eles tinham entrado em curto-circuito, eletricidade pura, sem controle, pensamento ou razão.
Ele apertou o braço na sua cintura e os manobrou pela cama, a cabeceira fazendo um barulho surdo ao se chocar com a parede quando o Lourenço se encostou. Ainda com os dedos enterrados nos seus cabelos, ele interrompeu o beijo, os olhos transbordando de calor e chocolate derretido.
— Senta aqui. Você queria o meu pau, não queria? — Ele fez um leve movimento para cima com o braço da cintura da Bia e ela se levantou nos joelhos.
Olhando para baixo, ela o viu se segurando para ela, uma pequena gota branca e viscosa ameaçando escorrer pela ereção impressionante. A Bia queria aquela gota, e sem perder tempo, ela se posicionou acima dele, se colocando na posição perfeita para recebê-lo. Seu ventre se contraiu de antecipação enquanto ele rodeava o pênis, misturando a umidade quente dos dois. Ela começou a se abaixar, e o Lourenço segurou seu quadril, dos dois lados.
— Devagar, Bia — ele pediu com a voz rouca e os olhos apertados. — Eu achei que isso nunca ia acontecer de novo. Eu quero sentir cada centímetro seu no meu pau. Devagar, por favor.
Como ela podia se negar quando ele pedia com tanto jeitinho?
Ela se abaixou um pouquinho e subiu. Nem que ela quisesse, conseguiria ir rápido. Não depois de ficar anos sem ser deliciosamente esticada daquela maneira. Ela foi devagar, subindo e descendo com a ajuda dele, cada vez um pouquinho mais fundo, ardendo, queimando tão gostoso! Até soltar seu peso, ele todo dentro dela, quente, vibrando, delicioso.
O que ela tinha dito que era a melhor coisa do mundo mesmo?
— Caralho! Cassete! Como você me deixa com tesão! — ele grunhiu com a cabeça apoiada na cabeceira. — Rebola, vai. Rebola essa bundinha pra mim.
Recebendo um tapa como incentivo, a Bia obedeceu, se movendo para cima e para baixo, para frente e para trás, com a ajuda das mãos afundadas no seu quadril. Recebendo as estocadas do quadril se movendo debaixo do seu. Bebendo os gemidos loucos que saiam direto da boca dele para dentro da sua.
Ele largou sua boca e desceu pelo seu maxilar, a Bia empurrou os ombros para trás e empinou os seios, mas ele parou no seu pescoço, lambendo e mordiscando. Com um grunhido frustrado a Bia tentou puxar a cabeça dele só um pouquinho mais para baixo.
— Biatriz... — ele resmungou com a voz abafada contra o pescoço dela. — Qualquer dia desses eu vou te amarrar nessa cama e te ensinar a ter paciência.
— Por favor! — ela gritou, sem pensar, mas não se permitiu sentir vergonha. Mesmo nunca tendo feito nada tão ousado na vida, com o Lourenço, ela queria tudo. Experimentava qualquer coisa.
— Puta, merda, gata! Você acaba comigo. Eu faço tudo o que você quiser, mas antes... — Ele pegou a mão dela e, depois de beijar os dedos, colocou entre eles, perto de onde eles estavam unidos. — Se masturba pra mim, vai?
Ela rodou o quadril ao mesmo tempo que rodava a mão, e quando ele fez o que ela queria e sugou seu mamilo com avidez, ela voou. Com o coração espalhando fogo pelo seu corpo inteiro, sua cabeça se esvaziou, e só o que importava era continuar seguindo o passo do Lourenço, continuar se tocando, continuar sentindo a língua e os lábios na sua pele.
— Isso, minha linda. Bem gostoso, vai — ele mandou, trocando de lado, abocanhando o outro seio.
— Não para! Lourenço, não para! Eu vou...
E ela foi. Tremendo inteira, ela explodiu por dentro, chamando o nome dele, repetindo como uma prece, até cair, molinha, no colo do Lourenço.
Ele aliviou o ritmo do quadril, deslizando as mãos com suavidade pelas suas costas, espalhando beijos pelos seus cabelos.
— Gozou gostoso, foi? — ele murmurou no ouvido dela.
— Ahã. — Foi só o que ela teve forças para murmurar.
— Ótimo. — Apoiando as costas da Bia, o Lourenço a inclinou para trás, se movendo junto, a deitando no colchão e se ajeitando entre as pernas dela. — Agora, eu quero outro.
— Outro? — ela repetiu a palavra que tinha conseguido penetrar na sua mente enevoada. — Outro orgasmo? Eu não consigo, Lourenço. Impossível.
— Claro que consegue. Eu só vou gozar depois que você me der outro orgasmo, e você não vai me fazer esperar, vai?
Com as mãos apoiadas no colchão para evitar esmagá-la, ele voltou a se mover, primeiro devagar, depois aumentando o passo. A Bia se agarrou aos braços dele, tentando se mexer junto, mas ela não foi capaz, seus músculos não queriam cooperar e ela o abraçou com as pernas e aceitou o que ele estava lhe dando.
Ela realmente não se lembrava de ter conseguido ter dois orgasmos tão perto um do outro, mas talvez, o problema fosse que não era o Lourenço na cama com ela e, aos poucos, seu sangue voltou a correr como fogo nas veias, e gemidos e palavras desconexas e choramingadas saíam dos seus lábios sem que ela tivesse nenhum controle. Ao perceber que ela estava chegando lá, ele acelerou, se movendo num ritmo quase brutal.
— Anda, minha linda. Minha! Minha! — o Lourenço continuou repetindo, pontuando cada palavra com uma estocada.
De repente, aconteceu. Com os grunhidos dele se misturando com o som indecente dos quadris se chocando, o cheiro de suor e sexo no ar, e uma olhada para o rosto suspenso acima do seu, contorcido no esforço de esperar por ela e a Bia caiu e caiu num abismo que parecia não ter fim.
Misturando palavrões à sua repetição de minhaminhaminha, ele a seguiu, latejando e se derramando dentro dela. O Lourenço desabou, mas ela não se importou. Era uma delícia sentir o peso dele a apertando no colchão, escutando a respiração rápida ir se acalmando devagar.
— Bia? — ele a chamou baixinho, falando no seu ouvido.
Ela grunhiu sua resposta. Falar era impossível, mas, felizmente, sua audição estava funcionando com perfeição, ou ela teria perdido uma das melhores coisas que já tinha escutado na vida.
— Você é minha. Minha casa.
Eles esticaram a manhã o máximo que puderam. Entre conversas, risadas, silêncios sonolentos e mais sexo, as horas voaram e, só depois que o estômago do Lourenço roncou pela terceira vez, eles abandonaram a cama em busca do chuveiro. Que virou outra sessão de beijos e carinhos e orgasmos que a Bia não achava que seria capaz de ter, mas teve.
Eles foram para o restaurante de moto, claro, e a Bia não perdeu a oportunidade de se agarrar livremente na cintura do Lourenço. E era incrível como ele estava sempre em sintonia com suas emoções. Cada vez que suas inquietações ou inseguranças ameaçavam aparecer, ele a distraía com uma brincadeira, ou uma mudança de assunto. Sem contar o bem enorme que fez à sua autoestima e vaidade, ver como ele ignorou todos os olhares das mulheres em volta, focando todas as atenções só nela.
Quando o garçom devolveu o cartão do Lourenço (a Bia nem tentou pagar) junto do recibo, ele virou o papel para ela, mostrando o nome e o número do telefone rabiscados no topo.
— Será que é pra você? — ele perguntou com um cantinho dos lábios levantados.
— Não. Eu tenho certeza que é pra você.
Depois de estudar o papel por alguns segundos, o Lourenço levantou e guardou o recibo e o cartão na carteira.
— Melhor não jogar fora. Tá escrito Léo, mas eu tenho quase certeza que o nome dele é Roberto.
Os dois saíram do restaurante rindo iguais bobos. O bom humor do Lourenço só diminuiu quando ele checou o celular antes de subir na moto e viu uma mensagem da Mariana, dizendo que tinha terminado as compras e estava indo direto para a casa do Fred. Era comovente ver o cuidado e preocupação dele com a irmã, mas a Bia preferia que ele não tivesse aquela ruguinha entre as sobrancelhas, que ela fez o possível para tirar de lá, retribuindo o que ele tinha feito por ela, tentando distrai-lo até que ele pudesse conversar com a Mariana.
De volta em casa, mesmo sem terem combinado, os dois foram para a sala de televisão. Muito perigoso, com a Mariana prestes a chegar, se arriscarem a uma rapidinha. E a Bia também tinha certeza que ele tinha reparado no seu esforço para andar normalmente.
Dois anos!
Ele a puxou para os braços dele quando eles se sentaram no sofá, e a beijou com o gostinho da musse de maracujá que eles dividiram de sobremesa, que ela achou que não ia aguentar depois do pedaço de lasanha que comeu, mas não recusou nenhuma colherada que ele levou até a sua boca. Pelo jeito, não era só andar de moto que abria o apetite.
Ele passou a mão pelo rosto da Bia quando se separou dela.
— Eu entendo porque você quer manter segredo, e respeito a sua decisão. Eu tô aqui pra te ajudar, até nisso, se é o que você precisa, por agora.
— Obrigada.
Ao escutar o barulho da porta da frente abrindo, no final da tarde, a Bia se afastou do Lourenço e foi para a outra ponta do sofá. Ela se concentrou na tela da televisão, tentando ter uma ideia do que estava passando, se ela queria manter a farsa de que não tinha passado a última hora fazendo cafuné e estudando cada detalhe do rosto do homem dormindo do seu lado, com a cabeça caída no encosto do sofá.
A Mariana cumprimentou a Bia ao entrar na sala de televisão, seguida pelo Fred com as mãos cheias de sacolas. Ao ver o Lourenço cochilando, o Fred abriu um sorriso que só podia ser descrito como malévolo.
— O filme tá bom, hein?! — ele gritou, fazendo o Lourenço dar um pulo, olhando em volta, confuso, franzindo a testa ao enxergar o Fred às gargalhadas.
— Quantos anos você tem? — a Bia brigou com o irmão.
— Ninguém nunca é velho demais pra colocar pilha nos outros — ele respondeu e se virou para a Mariana. — Você quer que eu leve suas sacolas lá pra cima?
— Não precisa, obrigada, Fred. Eu mesma levo.
— Eu levo. — O Lourenço ficou de pé ainda tonto de sono e estendeu as mãos para o Fred.
Por alguns segundos, pareceu que ele continuar a implicância, entrando numa competição sobre quem era mais forte para carregar meia dúzia de sacolas até o segundo andar, mas deve ter visto alguma coisa na expressão do Lourenço que o fez entregar tudo para ele, em silêncio.
— Vem comigo? — o Lourenço pediu à Mariana, que deve ter visto a mesma coisa e, com um pedido de licença, o seguiu sem argumentar.
O Fred se jogou do lado da Bia no sofá, pegando o controle remoto.
— O que você tá vendo?
— Um documentário sobre a caça aos elefantes e o tráfico de marfim. — Pelo menos, era o que ela tinha entendido nos dois minutos que assistiu.
— Tem razão o pobre coitado cair no sono. — Sem pedir permissão, ele começou a passear pelos canais. — Como foi o seu dia? Muito chato?
— Normal. — Ela conseguiu manter a voz inalterada. — O Lourenço levantou tarde, a gente foi almoçar, e ficou vendo televisão, depois.
Não era como se ela não soubesse que o irmão ia fazer aquela pergunta e não tivesse ensaiado a resposta umas mil vezes dentro da cabeça, trabalhando a verdade para não precisar mentir. Muito. Porque, de normal, seu dia não teve quase nada.
— Nenhum piercing, então?
— Ah, você quer saber do piercing? Eu posso te contar, mas não dá pra mostrar.
— Meu Deus, Bia! — O Fred colocou a mão na frente dos olhos. — Você é minha irmãzinha. Não pode ficar colocando essas imagens na minha cabeça. Não tem nenhum piercing, tem?
— Se você se sente melhor pensando que não, então, não. — A Bia se encostou no irmão e deitou a cabeça no ombro dele. — E o seu dia? Você disse que tinha pouca coisa, mas demorou a tarde inteira para terminar com a papelada da clínica.
— Ah, a gente terminou com os documentos há um tempão. Eu e a Mariana estávamos rolando pelo tapete da sala. Eu nunca tinha transado com ninguém naquele tapete, até que não é dos piores.
A Bia se desencostou do irmão como se tivesse levado um choque e se virou para ele com a boca tão aberta que o queixo estava arrastando no chão, mas assim que viu sua cara, o Fred caiu na gargalhada.
— Tá vendo, maninha? Eu também sei brincar.
— Palhaço! — ela devolveu o xingamento que ele tinha feito de manhã e voltou a se deitar no ombro dele, o coração se desacelerando no peito.
— A gente ficou conversando um pouco — o Fred respondeu, sério, à pergunta da Bia. — Ela me pergunta sobre você e as meninas. Nada de mais, coisas comuns, tipo aniversários e escola. Você não se importa, né? Que eu conte pra ela?
— De jeito nenhum. — Ela confiava no irmão. Ele nunca ia falar nada que ela própria não falaria. — Mas deve ter sido um bom dia. Você tá de bom humor.
— Eu posso dizer a mesma coisa de você. Que bom, que os nossos dias foram parecidos. Ainda que você não tenha desfrutado da minha incrível companhia.
— Você sentiu minha falta, foi? Tadinho. — A Bia se virou e deu um beijo no irmão. — Mas é verdade. Foi um bom dia.
Ela escondeu o sorriso que quis sair junto com a sua resposta. Além do mais, se ela tinha uma certeza na vida, era que o dia deles não foi nem um pouco parecido.
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