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Capítulo 19

O ateliê poderia se passar por uma sala de aula convencional, não fossem as fileiras de cavaletes dispostos de três em três em frente ao quadro branco, ao invés das tradicionais carteiras. Na parede ao lado da porta de entrada, uma bancada comprida se estendia até o fundo da sala, virava e continuava acompanhando a parede branca até o final. Por cima, se espalhava uma bagunça organizada de copos com pincéis, ferramentas, blocos de argila, esculturas, algumas terminadas, outras de forma indefinida ainda, pedaços de madeira entalhados e, inclusive, uma peça de mármore meio esculpida no que parecia que ia virar uma silhueta feminina.

A fonte de luz natural não vinha de cima, como no salão principal e sim da última parede, vidro do chão ao teto, naquele momento cheio de pingos da chuva que tinha começado a cair, embaçando a vista do estacionamento do prédio e da Lagoa da Tijuca ao fundo.

Mas o que atingiu a Bia em cheio ao abrir a porta e se juntar a Chiara e ao resto do grupo, foi o cheiro de tinta. Um cheiro familiar e estranho. Um cheiro que costumava acalmar seus nervos, e que cumpriu o mesmo papel naquele dia. Seu coração imediatamente se desacelerou, reconhecendo que o que estava para acontecer era bom. Muito bom.

A Amanda e a Alícia vestiam um avental de plástico por cima da roupa, perto de dois cavaletes abaixados para ficar da altura delas, na primeira fila. Ao verem a mãe entrar, elas levantaram os olhos e sorriram, mas logo voltaram a examinar os vidrinhos de tinta colocados numa mesa ao lado delas, cochichando e rindo baixinho, as cabeças juntas como quando estavam aprontando alguma.

Já que as filhas não precisavam dela, a Bia foi para o fundo da sala, escolhendo o último cavalete perto da janela. Ela sempre preferiu pintar perto da janela. Espertos o suficiente para ver que ela precisava do isolamento, o Fred e o Lourenço ficaram perto da Mariana, na frente.

— Vamos começar? — A Chiara bateu palmas duas vezes para chamar a atenção deles, e as meninas se calaram, cada uma indo para trás da sua tela. — Na mesinha do lado de vocês, estão as tintas e os pincéis. A tinta é a base de água, por isso, não tem problema sujar a mão. Um pouquinho de água e sabão depois e tá tudo resolvido. Já na roupa pode manchar, então, quem quiser, pode colocar um avental.

Ela apontou um cabide perto da porta de entrada, com vários aventais de plástico iguais aos que as meninas estavam usando, mas nenhum dos adultos parecia preocupado com a roupa e a Chiara continuou.

— Nesses copinhos, vocês podem misturar as tintas. — Ela levantou um copinho de plástico branco, daqueles descartáveis de tomar café. — Um pouquinho de branco clareia a cor, e preto, escurece. Ou pode misturar duas cores pra fazer uma nova. Amarelo com azul, por exemplo, dá...

Ela derramou um pouco de tinta amarela e azul num dos copinhos, misturou com um palito de sorvete e levantou mostrando para a turma.

— Verde! — A Amanda e a Alícia gritaram juntas.

— Agora os pincéis. — A Chiara pegou um pincel de cabo longo e cerdas achatadas. — Cada um tem uma utilidade...

A Bia se desligou da aula. Ela já tinha tido todas as aulas de pintura que precisava.

Na sua primeira consulta com um psicólogo, depois que tinha ficado presa no elevador, a senhora de sorriso gentil tinha dado a ela um bloco de papel grande e uma caixa de lápis de cor, e pediu para ela desenhar, mas ao ver os frascos de tinta perto dos lápis, a Bia tinha pedido para pintar, no que foi prontamente atendida pela mulher, da qual ela não lembrava o nome.

A Bia também não se lembrava o que a perturbada mente infantil tinha colocado no papel, mas se recordava com clareza que, ao final da consulta, a psicóloga tinha sugerido à sua mãe que a deixasse continuar a explorar a pintura como um meio de extravasar as emoções.

E assim, ela tinha começado a dar asas ao seu lado artístico. Mas ela não precisou de muitas aulas, ela era uma garrafa de refrigerante chacoalhada, só esperando que alguém tirasse a tampa para cores e imagens voarem para todos os lados, fluindo de dentro dela, como se estivessem entranhados no DNA.

A Bia examinou um dos frascos de tinta na mesa ao seu lado. Elas não eram da mesma qualidade que ela costumava usar, claro. Ninguém ia dar tintas caras para iniciantes. Além do mais, as tintas a óleo que ela preferia, demoravam a secar, o que fazia da tinta acrílica a escolha sensata para uma aula de curta duração. Mesmo motivo da tela quadrada bem menor do que a Bia preferiria. Os pincéis, ao contrário, eram os melhores possíveis, e ela pegou um, testando a maciez das cerdas nas costas da mão, se reencontrando com a maneira como eles deslizavam de um lado para o outro.

Duas palmas na frente da sala recapturaram sua atenção.

— Chega de falar e vamos logo ao que interessa. Pintar!

A Chiara arrastou uma mesinha de madeira escura para o centro da sala, obrigando todo mundo a rearranjar os cavaletes para ficar de frente para ela. A Bia puxou dois dos cavaletes vazios, desobstruindo sua visão do vaso que a Chiara colocou em cima da mesinha.

Um vaso comum, de cerâmica azul clara, alto, com a base redonda se alargando até chegar ao gargalo, onde se estreitava novamente e virava para fora, numa borda ondulada.

— Cada um de vocês está numa posição diferente em relação ao vaso, por isso, nenhuma pintura vai sair igual a outra. Lembra do que eu expliquei sobre luz e sombra. — Ela apontou o esquema no quadro branco, mostrando como funcionava a fonte de luz e a sombra que ela produzia, feita enquanto a Bia viajava nos pensamentos. — Mas o mais importante de tudo. Arte é uma mistura do que os olhos veem com o que o coração sente. Sejam livres, criativos. Não existe certo ou errado, desde que vocês estejam fazendo o que o coração manda. Mãos à obra!

A Bia abriu o frasco de tinta marrom, derramou um pouco num pratinho de plástico e inspirou devagar, antes de pegar um pincel largo para preparar o fundo. Quando as cerdas tocaram a tela pela primeira vez depois de anos, um nó desatou dentro dela. Uma barragem se rompeu. Alguma coisa clicou de volta no lugar. A sensação de novas possibilidades abertas na sua frente foi tão forte e intensa que um soluço involuntário escapou pelos seus lábios.

— Bia?

Ela olhou para trás da sua tela e encontrou o Fred a encarando, meio levantado do banco alto, pronto para correr para o seu lado.

— Tá tudo bem — ela o tranquilizou. — Eu engasguei.

Mesmo parecendo não acreditar muito, ele sentou de volta, mas não tirou os olhos dela. A Bia ignorou o irmão e deu toda a sua atenção à tela na sua frente.

O mundo sumiu. Era só ela, o quadrado branco e as cores assumindo imagens que fluíam do seu subconsciente, sem raciocínio ou razão, sua mão, estranhamente firme, em ligação direta com suas emoções. Nem parecia que ela tinha ficado tanto tempo bloqueada, tudo vindo com naturalidade, o belo e o escape trabalhando juntos, ajudando a lidar com a realidade que, às vezes, era mais que ela podia enfrentar. Alguns recorriam ao álcool e a entorpecentes, outros, a passatempos menos destrutivos como ler ou escrever poesias. Ela mesma já tinha tentado alguns daqueles métodos de fuga, mas o que sempre funcionou para ela, o que a fazia voar com os pés no chão, eram a tinta e a tela se unindo num casamento eterno.

A não ser que fossem atacados por uma louca com uma tesoura.

Ela terminou a pintura com um pincel fino e seu tradicional B de assinatura, e levantou os olhos. As filhas estavam sentadas num cantinho da sala, distraídas, jogando no celular do Fred, e os adultos conversando num grupinho.

— Eu fui a última a acabar? — Ela nem tinha percebido o tempo passar ou a movimentação a sua volta.

Uma mulher com a pele cor de café, vestida num macacão comprido preto, monocromática, soltou o braço passado pela cintura da colorida Chiara e se aproximou da Bia, sorrindo.

— Você estava, como a gente costuma falar, in the zone. O mundo podia acabar que você nem ia perceber. — Ela estendeu um pacotinho de lenços umedecidos para a Bia. — Eu sou a Bianca.

— A minha mãe dizia a mesma coisa. — Ela aceitou os lencinhos e limpou os poucos espirros de tinta da mão, o velho aperto no peito costumeiro por precisar o verbo no passado para falar dos pais. — É um prazer, Bianca. Eu sou a Biatriz.

— Dá pra perceber que você já fez isso antes. — A Bianca fez um gesto circular em frente a tela da Bia. — Você pinta muito bem.

— Algumas vezes, obrigada. — Ela sentiu o rosto queimando enquanto se concentrava em passar o lencinho por baixo das unhas, envergonhada como uma adolescente ao receber o elogio.

— Você quer se juntar à nossa exposição?

A Chiara também se aproximou, apontando para o fundo da sala, onde a bagunça da bancada tinha sido empurrada de lado e os outros quadros estavam encostados na parede.

Expor seus quadros, mesmo que para poucas pessoas, era o oposto do que a Bia tinha feito toda a sua vida, mas ela se viu sem uma boa desculpa para ser a única a se negar. E se ela tinha conseguido sair da sua zona de conforto para pintar, por que não tentar aproveitar a coragem e ir um pouco além?

— Claro — ela aceitou e colocou sua tela junto das outras.

— Vem cá todo mundo? — a Chiara chamou e continuou quando todos se juntaram a elas. — Essa obra-prima aqui é de quem?

A pergunta foi retórica. Ninguém ali tinha dúvidas sobre quem tinha coberto a tela de tinta cor-de-rosa e traços infantis passando longe de se parecerem com o vaso que tinha servido de modelo.

— Minha. — A Amanda levantou a mão.

— E a senhorita quer falar um pouco sobra a sua pintura? — a Chiara perguntou, com o rosto sério, como se estivesse numa exposição de verdade.

— Essa é a nossa árvore de Natal. — Ela apontou um lado da tela e depois, o outro. — E esse é o Papai Noel deixando os presentes.

— Excelente! Palmas pra nossa artista. — A Chiara puxou o coro de aplausos que abafou o 'mas não era pra pintar o vaso?' da Alícia.

— Não tem certo ou errado, lembra? — A Bia abraçou à filha mais velha pelos ombros enquanto o som das palmas morria.

— O próximo? — a Bianca pediu, e o Fred deu um passo à frente.

— Sou eu. — Ele se aproximou da tela que só podia ser descrita como metade branca, metade marrom, com um borrão de tinta azul clara no meio. — Eu usei uma técnica moderno-futurista-orgânica que deixa a interpretação por conta da individualidade da visão subjetiva de cada um, ou, em outras palavras, ainda bem que eu sei segurar um bisturi com mais habilidade que um pincel, ou eu ia morrer de fome.

O sorriso de menino bagunceiro, acostumado a se safar de tudo, que ele deu no final da explicação, arrancou uma gargalhada geral, junto das palmas que se seguiram.

— Quem é o próximo? — a Bianca pediu, novamente.

— É meu. — A Mariana levantou um dedo na altura do ombro.

Os traços na tela estavam mais distintos que os do Fred, embora fosse claro que aquela devia ser a primeira tentativa dela com pinceis e tintas desde o jardim de infância. Ela tinha pintado o vaso apoiado na mesa marrom, contra um fundo azul-escuro e um monte de florzinhas coloridas dentro.

— Eu achei que o vaso precisava de flores? — A Mariana fez uma pausa, retorcendo as mãos na frente do corpo. — E eu pintei o vaso do lado de fora, porque eu achei que as flores precisavam ficar do lado de fora?

— Perfeito. — O tom de voz tranquilo e sem reprovações da Chiara afastou a incerteza da Mariana que ensaiou um meio sorriso com as palmas que recebeu.

— Agora sou eu. — O Lourenço foi para a frente do quadro dele sem precisar ser chamado.

As linhas da pintura dele eram definidas e firmes, embora um tanto infantis e, como a irmã, ele tinha pintado o vaso ao ar livre, embora as proporções e perspectiva estivessem completamente diferentes. A mesa, com o vaso cheio de flores amarelas que podiam, ou não, serem girassóis, estava num dos cantos inferiores da tela. No canto superior oposto, um sol enorme em tons de laranja dominava o quadro, esparramando os raios em direção as flores viradas para ele, ávidas pela luz que ele derramava sobre elas.

— Eu também pintei meu vaso do lado de fora. — Ele estreitou os olhos para a Mariana, bravo por ela ter ousado roubar a ideia dele. — Mas eu coloquei o sol, porque todo mundo precisa de luz e calor.

Ele mesmo começou sua própria salva de palmas, fazendo a Bia apertar os lábios para não sorrir. Será que existia alguma situação capaz de constranger ou envergonhar o Lourenço? Ali, de sopetão, ela não conseguiu pensar em nenhumazinha só.

— E a próxima, de quem é? — As palavras da Chiara fizeram com que os braços da Alícia voltassem a se enroscar na cintura da Bia.

Claro, a penúltima pintura era dela. E ao fixar o olhar na pintura da filha, a Bia perdeu o fôlego.

Era evidente que o quadro tinha sido pintado por um amador, mas para alguém que só tinha segurado um pincel nas aulinhas de arte da escola e tinha escutado uma breve explicação antes de começar a pintar, a Alícia tinha feito um trabalho excelente. Ela tinha usado o jogo de luz e sombra com perfeição. Perspectiva e proporções se balanceavam com harmonia.

— Eu só pintei o vaso — a Alícia explicou com um levantar de ombros.

A Bia encontrou o olhar do Fred do outro lado da rodinha. Com a mão espalmada no peito ele mexeu os lábios: ela puxou você.

Realmente, parecia que a genética da Bia estava querendo provar que talento podia ser passado de mãe para filha, mas enquanto os quadros da Bia eram feitos de alma e sentimento, o da Alícia era quase que frio em sua racionalidade. O que dizia tanto sobre a personalidade de sua criadora quanto se ela tivesse enchido o desenho de simbolismo e metáforas.

A Bia tentou recapturar as imagens das suas primeiras tentativas com tintas e pincéis, mas não conseguiu lembrar se tinham ido para o lado técnico ou se começaram logo a revelar os segredos mais escondidos do seu subconsciente. Talvez, fosse a hora de deixar a Alícia também tentar explorar a pintura como um meio de extravasar as emoções.

Outro item para acrescentar à lista de proezas do Lourenço. A Bia poderia, ou não, voltar a pintar como antes, irrelevante diante de outra chacoalhada que tinha aberto seus olhos, de novo, para como ela estava deixando de prestar atenção a pequenos detalhes de grande importância na vida das filhas, e só por aquilo, ele merecia receber outro agradecimento.

Com o som das palmas enfraquecendo, a voz da Chiara ecoou na sala.

— Biatriz, acho que você é a próxima.

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