8 • Memórias
Katsuki não sentia mais o corpo quente de Eijirou envolto em seus braços. Era uma péssima sensação.
Abriu seus olhos lentamente, se levantando e olhando ao redor.
Eijirou não estava por lá.
Começou a andar e quando notou, não estava mais na caverna.
Estava em uma floresta a qual conhecia muito bem, mas não fazia o menor sentido ele estar lá.
Estava carregando uma espada de lâmina afiada.
Lembrava daquela maldita espada.
De repente, ouviu o rugido angustiado de um dragão. Correu em direção àquele rugido enquanto o cenário ao seu redor escurecia cada vez mais, já não estava mais na floresta.
Estava tudo escuro.
Mas os rugidos continuavam, se tornando cada vez mais angustiantes.
Sentiu as lágrimas caírem desenfreadas de seus olhos.
Estava chorando.
E muito.
Sentia o desespero consumi-lo.
Ao passo que também estava triste, era agonizante ouvir os gritos cada vez mais sofregos e, consequentemente, menos numerosos.
Começou a ouvir as lâminas de espadas cortando algo.
E, infelizmente, sabia exatamente do que esse sonho se tratava.
Queria se mover, queria correr na direção daqueles gritos e tirar aquele dragão de sua angústia, mas algo o impedia.
Alguma força o puxava.
Tentou forçar o corpo para frente, mas foi puxado bruscamente para trás. Como se alguém estivesse o contendo.
Então começou a ver possas de sangue formarem-se no chão, e por cima delas estava o dragão o qual rugia segundos atrás.
Seus olhos azulados estavam abertos, mas não tinham mais o brilho de antes.
Sua pele amarelada também estava molhada com seu próprio sangue, sem contar os rasgos enormes que as espadas tinham feito.
Ouviu uma voz gritando.
"ISSO É SUA CULPA"
E essa mesma frase continuava se repetindo.
Voltou novamente sua atenção para o dragão amarelado e ele já não estava mais lá.
Em seu lugar, estava um dragão vermelho escarlete, banhado em seu próprio sangue. Era...?
- Kirishima? - disse baixinho, as lágrimas atrapalhando sua visão.
Ele tinha...
Não, não pode ser. De novo não.
As íris cor rubi que chegavam a brilhar, aquelas que mergulhara enquanto ouvia o ruivo dizer que gostava de si depois de ter sido derrubado em meio a comoção daquele reencontro.
.
Elas estavam apagadas e sem vida.
- KIRISHIMA! - Começou a berrar desesperado.
Ele estava morto? Por quê? Como?
Como a voz dizia, foi sua culpa, não foi?
Sempre era.
Não foi capaz de protegê-lo.
Então a voz que gritava sem parar que a culpava daquilo tudo era sua cessou.
E em seu lugar, ouviu aquela voz já conhecida por si, aquela voz deliciosa qual tinha se viciado em apenas uma semana.
- Bakugou, acorda!
Abriu seus olhos abruptamente e se levantou rápido, Com a respiração desenfreada, tentava recuperar o ar em seus pulmões.
- Bakugou, você tá bem? - o ruivo questionou, se aproximando e ficando de frente para Katsuki.
Ao fita-lo, um enorme alívio invadiu seu corpo. Graças aos deuses, Eijirou estava vivo!
Ficou encarando-o com um misto de espanto e alívio em sua expressão, havia sido só um sonho, ou melhor, pesadelo.
Não tardou a envolvê-lo em um abraço apertado, como se precisasse protegê-lo.
- Hã? - ficou confuso com o abraço repetino. Ainda possuía muitas hesitações quanto aquele relacionamento, por ir contra tudo o que foi ensinado, mas não era hora de hesitar. Katsuki precisava dele, então retribuiu, apertando a capa vermelha do outro.
- Porra... - xingou baixo, reclamando da merda de pesadelo que havia tido.
Sempre tivera aquele tipo de pesadelo desde "aquele dia", mas este havia sido diferente, pois tinha a presença do ruivo.
- Teve um pesadelo?
Katsuki ficou em silêncio. Não queria ter que contar sobre o que aconteceu ou que nesse pesadelo ele estava incluso, não por enquanto.
Não deveria preocupar Eijirou com memórias angustiantes como aquelas.
O ruivo, por sua vez, aceitou o silêncio do outro, abraçando-o ainda mais intensamente, como forma de transmitir apoio.
*
Depois do episódio de manhã, ambos continuaram sua caminhada para aquela vila. Felizmente, não havia nenhum sinal de caçador.
Mas estava silencioso entre os dois.
Por um lado, Katsuki remoia-se pensando na possibilidade de que pudessem descobrir que o ruivo era um dragão.
Na realidade, isto era bem difícil, mas há exceções. Por exemplo, na situação anterior, onde os caçadores ouviram os rugidos de dragão e vieram em sua direção. Caso encontrassem um garoto por lá, ele seria um suspeito em potencial, até porque, tinham consciência de que dragões poderiam assumir formas humanoides.
E isso é apenas mais horrível, visto que matam qualquer dragão por motivo algum.
Por outro lado, Eijirou buscava encontrar algum assunto confortável para ambos, ao passo que também processava todo o acontecimento anterior.
Havia acordado com o loiro chamando por si. Em sua voz, o desespero era abundante, o que alertou o ruivo de que Katsuki não estava tendo bons sonhos.
Ficou assustado. Era simplesmente devastador demais ver o loiro daquela forma, então não tardou a chamá-lo e acudi-lo na intenção de acordá-lo daquele pesadelo.
E aqui estavam, lado a lado depois de alguns minutos em um abraço que tinha o fim de acalmar o loiro.
Ainda estava preocupado, mas preferia não perguntar.
Talvez fosse incomodá-lo.
*
Bakugou estreitou para conseguir enxergar o pedaço de uma casa.
Haviam chegado.
Adentraram a vila, que infelizmente, estava bem movimentada, cheio de comerciantes, turistas e afins.
- Nossa, aqui é bem diferente da minha vila! - exclamou, extasiado com as casas bem construídas e o ar animado do local.
- Como era a sua? - indagou, vendo o rosto de ruivo contrair-se em remorso, calando-se logo em seguida.
Avistou um bar qual bem conhecia e puxou o ruivo com si, adentrando o local e se deparando com uma figura que já lhe era conhecida.
Seus olhos se encontraram, e logo foi capaz de ver a expressão desta figura mudar para uma de surpresa, felicidade, preocupação. Tudo misturado.
- KACCHAN! - a figura, que possuía madeixas esverdeadas, íris de mesma coloração e sardas nas bochechas levemente coradas, gritou enquanto corria em direção ao loiro, deixando seu posto de barman.
Se jogou em Bakugou e o abraçou fortemente, um abraço de saudade.
- Porra, Deku, não aja como se eu tivesse morrido! - tentou desvencilhar-se do aperto do mais baixo, enquanto era fitado intensamente pelas íris avermelhada do ruivo. Era ciúmes? Talvez.
- Mas eu pensei mesmo que tivesse morrido! - exclamou - Depois do dia da caçada você sumiu e depois apareceu por aqui, mas eu não estava. Onde você esteve? O que aconteceu com você, Kacchan? - e lá vinha ele com seu interrogatório incessante.
- Não interessa que merda tenha acontecido comigo - bufou.
- "Dia da caçada"? - o ruivo indagou confuso com o termo.
- Ah, é uma tradição na vila dele onde para os garotos se tornarem verdadeiros homens, teriam que matar algo grande, tipo um dragão - o esverdeado explicou - Aliás, quem é você?
A mente do ruivo havia parado na parte de "tipo um dragão". Quer dizer que Katsuki havia de fato matado um dragão? Não, não poderia ser...
Mas e se fosse? Ele era ágil, forte e inteligente, poderia sim ser capaz de acabar com um dragão. Disso não duvidava.
Mas ele era tão cruel a este ponto?
Matar um dragão apenas por um título?
Do que adiantara toda essa caminhada fugindo dos caçadores então? E se fosse uma armadilha como havia cogitado...?
- Puta merda, Deku. Você fala demais! - Esbravejou irado. Agora Eijirou estava supondo coisas horríveis sobre si. Mas estas suposições estavam erradas, não era exatamente uma mentira o que o esverdeado acabara de contar, mas também tinha coisas que não havia feito.
- Bakugou, você...? - o ruivo perguntou com a face pálida, deu um passo para trás quando o loiro tentou se aproximar.
- Não é isso, não entenda errado - falou mansamente - Eu vou te explicar mais tarde, prometo. - Implorava, buscando não se aproximar demais para não deixar o ruivo desconfortável.
Ainda com o temor estampado em sua expressão, se aproximou hesitante, voltando-se para o esverdeado que observava a cena se desenrolar confuso.
- Sou Eijirou Kirishima - Responde fitando o chão.
- Izuku Midoriya, prazer! - tirou a cara de espanto e buscou ser educado, estendendo a mão que logo foi apertada pelo ruivo.
A suposição de que Katsuki estava o enganando era cada vez mais provável para Eijirou, mas se manteria alerta, sempre hesitando em qualquer situação.
Sua mente estava uma confusão.
Havia se apaixonado por um homem, sendo um ato altamente condenável.
Este mesmo supostamente poderia ser um caçador de dragões que estava o manipulando, mas também foi um dos únicos que o aceitou e tratou amavelmente.
Estava uma completa bagunça, mas teria que se virar com ela.
[...]
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